História de Surfista


Ondas pequenas enfileiravam-se pelo oceano em direção a praia. O tempo no início radiante piorou com o passar dos dias, contudo não alterou significativamente as condições. Muito menos o entusiasmo dos surfistas da região. Era feriado e a todo o momento carros e mais carros aproximavam-se trazendo mais uma leva de surfistas admirados e loucos pra surfar aquelas ondas. Afinal, não era pra menos, mesmo sem um bom tamanho, era fato: que terral maravilhoso acariciava essas ondas, delineando-as perfeitamente.

Mesmo com o crowd intenso nada tirava o ânimo de um casal que caminhava em direção ao pico vindos da outra ponta da praia. Num papo animado, de mãos dadas, passando um pouco de frio, cada um levava uma prancha. Provavelmente imaginando e idealizando as ondas que os esperavam. Droparem, dando o melhor de cada um e depois contarem um ao outro, com a mesma animação da primeira onda de suas vidas.

O que relativamente aconteceu: ela após um ano longe das ondas, dedicando-se aos estudos tentava voltar ao ritmo dos oceanos. Com um misto de empolgação e aflição já não via a hora de voltar aos velhos tempos de suas boas esquerdas e belas direitas. Ele um surfista nato daqueles que para por dez anos e volta como se tivesse surfado todos os dias de sua vida, seria seu professor.

E lá foram eles
ela ansiosa, ele tranquilo
ela medrosa, ele corajoso
ela empolgada, ele centrado
ela eufórica, ele decidido
ela o amando, ele a amando
ela esquecera o que é surfar, ele sonhava em reacender o surf nela.

Passando a arrebentação, uma situação muitas vezes crítica para sua "princesinha do mar", desta vez foi tranquila ao lado do mais novo mentor. A primeira onda surgindo no horizonte, ela rema, ele a apoia "rema, rema não para"

Segunda onda... "rema mais forte"
Terceira... "não esqueça: remadas lentas e profundas"
Quarta... "vai, vai... levanta!"
Quinta...
Sexta...

Após tantas tentativas a contagem já tinha sido abandonada. Não se sabe ao certo quando foi, mas enfim, aconteceu. Ela rema, seus braços já não mais acostumados a tantas remadas dão seu máximo. Ele grita "vai, não pára", ela ergue o peito, respira fundo, as pernas levantam todo o corpo, olha bem para aquela parede lisa abrindo-se para sua passagem e então dropa.
A sensação é fantástica, quase que uma "segunda primeira onda" de sua vida. Ele vibra, a felicidade é imediata, vê-la passando com um sorriso no rosto e sentir-se bem por ter feito parte disso é maravilhoso. Depois de todo o êxtase, ali mesmo, em meio a zona de arrebentação, os dois ignoram por um minuto toda a grandeza do oceano ao redor e se beijam.

Enfim,
Ele um surfista dedicado, interessado, sobre o surf ninguém sabe mais do que ele.
Ela uma menina, meio mulher, surfista de alma, na prática? Apenas em potencial.

Ninguém sabe ao certo como e nem porque. O fato é que com uma ilha mágica como cenário, estes dois se encontraram e lá iniciaram uma história. Escrevem-na como a linha de surf sendo desenhada nas ondas. Lenta e calmamente, aproveitam cada detalhe, aprendem com cada curva, crescem a cada drop e reerguem-se após cada caldo.

Hoje? Vivem seu feliz pra sempre, obrigada.
Obs.: Marcando o retorno a realização de um sonho. (é pra sempre)