Filhos do North Shore

The Game

O renomado fotógrafo californiano Pete Frieden há anos vive na estrada seguindo o Circuito Mundial. Além das imagens que ilustram inúmeras revistas de surf, Frieden produz anualmente um vídeo com as melhores sessões captadas pelo globo. Assim como em "The Circus" e "Back in Town", "The Game" é repleto de surf de alta performance protagonizado pelos melhores do mundo. Destaque para os irmãos Irons, Taj, Mick e Parko destruindo tudo nos beach breaks franceses; Jamie O'Brien no Hawaii; Dane Reynolds na Califórnia; Koby Abberton em Sydney e Shane Dorian em Teahupoo ─ na sessão que lhe rendeu o já famoso Tubo do Ano em 2006. Frieden mais uma vez apostou na fórmula que tem dado certo ─ surf de alta qualidade e trilha sonora empolgante ─ e acertou na mosca. Com mais de 50 minutos e uma infinidade de extras, "The Game" tem surf de sobra para empolgar e instigar qualquer um.

SUP, com mais respeito

Muita gente já descobriu que surfar de longboard é um grande barato. Afinal, os pranchões proporcionam boa remada, o que resulta em mais ondas surfadas. Também não é novidade que os longboards são um pouco mal vistos pela galera das pranchinhas. O principal motivo para isso é a grande quantidade de ondas surfadas pelos longboarders durante uma queda, que se aproveitam das vantagens do pranchão para fazerem a cabeça.

Com esse crescimento, o crowd de longboarders aumentou consideravelmente e, para piorar, agora eles têm a companhia dos adeptos do Stand Up Paddle (SUP) ─ modalidade onde o surfista vai em pé, em cima de uma prancha, com o auxílio do remo. Aí você pode pensar: “pô, mas com o SUP os caras caem quando não tem onda!”. Engana-se quem pensa assim, já que hoje as pranchas de SUP estão bem evoluídas e é possível surfar ondas grandes e até cavadas com elas: Paúba e Teahupoo foram tomadas dessa forma por Carlos Bahia e Laird Hamilton, respectivamente.

Sendo assim, os longboarders ganharam um concorrente de peso na disputa pelo melhor posicionamento no outside. A galera do SUP fica bem mais no fundo, esperando pela “boa”, pois o equipamento permite isso. Essa situação já está causando desconforto na Califórnia, onde o SUP tem se difundido rapidamente e está tomando conta dos picos antes dominados pelas pranchinhas e pranchões. Como resultado, conflitos acontecem a todo o momento.

Em novembro passado, estava acompanhando em San Clemente, Califórnia, o Oxbow Pro Longboard (etapa final do Circuito Mundial de Longboard) e percebi um número absurdo de praticantes de SUP numa bancada ao lado da área de competição. Mas ali os caras respeitavam os longboarders, limitando-se a surfar apenas na área mencionada. Mas na maioria dos lugares isso não acontece.

Todos sabem que o longboard tem vantagens no crowd e cabe a nós, praticantes, tomar cuidado para não fazer mau uso do equipamento. Até agora, pelo que fiquei sabendo do Guarujá pelo menos, a galera do SUP vem respeitando bastante os outros surfistas. Nomes fortes do longboard profissional, como Amaro Matos, Luís Juquinha e Neco Carbone, além dos big riders Haroldo Ambrósio e Jorge Pacelli, têm se divertido muito com a modalidade e sabem exatamente como se comportar em cima de suas pranchas. Utilizam seus longboards a remo com educação, curtindo sem interferir na diversão dos outros.

Lembre-se que seu direito termina quando começa o do outro!

SOUL

O filme da Hot Buttered, que chegou recentemente às lojas, é um envolvente mergulho no passado do surf. As imagens foram recolhidas de clássicos como "Sultans of Speed", "Morning of the Earth", "A Winter's Tale", "Fantasea" e "Storm Riders" e conta com comentários dos jornalistas especializados Andrew Kidman e Derek Hynd. Destaque para as sessões de Joel Fitzgerald na Irlanda e na Indonésia, além das imagens alucinantes do "Sultão da Velocidade", o fundador da HB, Terry Fitzgerald, nos anos 70 ─ em Uluwatu, Jeffrey's Bay, Hawaii e picos isolados da Austrália ─, mostrando por que ele é considerado um dos surfistas mais influentes do planeta. Tem ainda uma viagem da família Fitzgerald (o pai Terry e os filhos Joel e Kye) a J-Bay, onde surfam com as pranchas mais variadas. A trilha sonora foi produzida especialmente para o filme por seis integrantes da banda White Horse, com destaque para o guitarrista Tim Gaze, que gravaram uma faixa de 59 minutos enquanto assistiam às imagens do filme. Pode até parecer redundante, mas o "Soul" é um filme realmente "Muito Soul", que conta parte da trajetória do surf, em especial a história da HB. Confira.

Livre, leve e solto

COMO UM DESBRAVADOR da sua própria essência. Assim o soul surfer Rob Machado, 36 anos, ícone do surf norte-americano, abdicou da convivência com a família e sua rotina de surfista profissional para imergir em seu novo e brilhante projeto cinematográfica, The Drifter. Machado passou um ano pela Indonésia, na busca por respostas e ondas perfeitas. Suas descobertas foram registradas pelo amigo e diretor Taylor Steele junto a uma equipe que contou com o cinematógrafo hollywoodiano Todd Heater, o fotógrafo Dustin Humphrey e assistentes. A ideia, que deu certo, seria documentar o cotidiano do surfista sem interferir na sua jornada. O Errante (tradução em português) não se trata apenas de ondas, mas uma maneira de questionar o modo como era conduzida sua vida. Para Machado, é uma cura ou "transformação íntima de autodescoberta". No Brasil, a estreia ainda não tem data definida, mas já é mais do que aguardada por seus admiradores.

Alice in Chains

APÓS SETE ANOS da morte do vocalisa Layne Staley, ninguém esperava que o Alice in Chains voltasse à ativa. E, oriundo da escuridão sugerida no título, surge um dos melhores álbuns da carreira do grupo. Produzido pelo competente Nick Raskulinecz (com Rush e Foo Fighters no currículo), Black gives way to blue soa como um tributo à altura do falecido, com músicas que trazem à tona as principais marcas da banda: a melodia cantarolada que antecede os riffs ultrapesados, o andamento lento, os refrões densos e os solos que se intercalam. Tudo isso conduzido pelo estilo inconfundível do guitarrista Jerry Cantrell e do novo vocalista William DuVall, com timbre de voz incrivelmente parecido com o de Layne Staley. Talvez a surpresa venha do mesmo com a participação de Elton John emprestando seus enfáticos teclados na faixa título. De resto, é o bom e velho Alice in Chains iniciando uma nova etapa e provando que apesar de todos os revéses ainda consegue superar expectativas.

Colbie Caillat

NATIVA DA PRAIANA Malibu e fã declarada de Fleetwood Mac (banda a qual seu pai, Ken Caillat, já foi produtor), Colbie Caillat foi um dos casos em que um artista acaba fazendo sucesso na internet antes mesmo de ter um CD pronto. E foi assim, sem pedir licença, que acabou conquistando milhares de fãs ao redor do mundo e teve seu talento reconhecido, inclusive pelo público brasileiro. Munida de canções com tonalidade pop, suaves, quase acústicas e voz doce e melódica, Colbie agora apresenta seu segundo trabalho com a mesma unidade do disco anterior. Os destaques dessa vez vão para Falling for you e Lucky, em parceria com Jason Mraz.

Eddie Would Go

Para quem é do surf, não há dúvida de que já ouviu falar no Quiksilver Big Wave Invitational in Memory of Eddie Aikau. Porém, se o conhecimento sobre o famoso homem do mar havaiano se limita ao campeonato, a leitura de Eddie Would Go pode ser interessante.


Juntando entrevistas da família Aikau, dos amigos de Eddie e de vários ícones do Surf, Stuart Holmes Coleman faz uma crônica da vida ─ e da morte precoce ─ desta lenda do North Shore havaiano. O livro vai das histórias de seus incríveis resgates como salva-vidas em Waimea às enormes festas na casa da família Aikau para comemorar os feitos dele como big rider. No caminho, o autor pinta um intrigante retrato do North Shore durante os anos 60 e 70, detalhando o crescimento do Surf profissional, o aparecimento do localismo, e sessões históricas em Waimea.

Como os leitores logo se dão conta, a vida de Eddie não foi toda de agitos e tubos. O livro de Coleman descreve com precisão tanto as coisas boas quanto às tragédias que marcaram a vida de Aikau e moldaram o quieto e introspectivo homem. Tudo culmina em 1978 com a trágica história do naufrágio da canoa Hokule’a e dos esforços heróicos de Eddie para salvar seus companheiros da tripulação. Quando a canoa ficou à deriva numa tempestade em alto mar, ele decidiu pegar sua prancha e remar para ir a busca de ajuda, e nunca mais foi visto.

Surf 3D

O surf é um esporte de grande apelo visual. Filmes e mais filmes são lançados anualmente, contando a vida do Zé da esquina ou de um grupinho de surfistas arruaceiros. Algumas coisas boas e outras ruins, mas tudo bastante parecido. O filme “Ultimate Wave Tahiti” promete, no mínimo, quebrar esse paradigma em alguns aspectos. Com uma super produção, o filme será lançado exclusivamente nos cinemas, o que já não é novidade para nós. Mas, pela primeira vez, terá um formato I MAX 3D, uma tela gigante com projeção feita para assistir com óculos 3D e imagem de altíssima qualidade. Nesse formato, a experiência visual e sonora é prioridade, por isso, não podia demorar a alguém explorar o mundo do surfe.

Stephen Low é o nome do cineasta por trás da produção, que além do apelo da alta qualidade e projeção tri-dimensional, chamou nada mais nada menos que o nove vezes campeão mundial Kelly Slater para surfar nada mais nada menos que o Tahiti. As honras da casa ficaram por conta de Raimana Van Bastolear, uma espécie de embaixador do surfe local e, o melhor de tudo, tem um barco animal, três jets e conhecimento apurado de todas as bancadas, ondulações e vento. A receita tem alguns dos ingredientes mais finos.

O filme não abordará só o surfe, mas também o oceano e sua frágil interação com o ser humano. As produções começaram por volta de agosto de 2008, e estarão finalizadas em alguns meses, quando será exibida nas telas gigantes ao redor do mundo (não sabemos ainda quando será exibido no Brasil). “Esse projeto será incrível”, disse Slater. “Minha vida surfando e viajando ao redor do mundo é uma aventura constante e tenho a esperança de traduzir isso para as pessoas nesse filme. Tivemos alguns grandes desafios para filmar com as câmeras especificas nos lugares certos. Mas tivemos ótimas idéias, ótimas locações, equipamento de primeira e uma equipe de produção fantástica. Os desafios fizeram parte da diversão.”.

O filme tem patrocínios de peso e se realmente capricharem na produção, pode se tornar uma experiência inesquecível para o espectador, surfista ou não-surfista.

O Sultão da Velocidade


Alguns poucos surfistas na história foram apelidados assim: “Sultão da Velocidade”. Alguns poucos merecem esse título (o último foi Rob Machado), mas o protótipo original chama-se Terry Fitzgerald, notável fera dos anos 70 e “um dos primeiros estilistas das ondas”*. Local de Narrabeen, pico ao norte de Sydney, Austrália, o garotão cabeludo cobria largas áreas da face das ondas com inesperadas linhas e ainda transformava em velocidade cada cantinho do oceano. Tradução? Ele ia aonde poucos tinham ido numa onda e fazia isso com uma mistura única de radicalidade e abandono, num estilo fluido e excêntrico; os joelhos dobrados distantes um do outro, os braços estendidos retos simetricamente desde os ombros. As manobras eram iniciadas através dos quadris e pélvis, com os joelhos, ombros e cabeça vindos em seguida em perfeita sincronização.

E pensar que quando criança, aos 10 anos, uma osteomelite, doença degenerativa nos ossos, quase lhe custou à perna esquerda, embaixo do joelho. Uma série de enxertos de ossos salvou seu membro. Terry era o mais jovem, mas não menos talentoso que seus compatriotas que chocaram o mundo com um surf mais agressivo na metade dos anos 70 (Michael Peterson, Pete Townend, Wayne Bartholomew, etc.).

Outro fato importante: ele semeou “multi surfistas” em seu país. Foi tanto um mestre nas ondas grandes no Hawaii, como um caçador de secret spots paradisíacos, shaper e empresário (criou a famosa Hot Buttered). E, culto e articulado, ainda conseguia traduzir a mágica do surf em belos artigos para revistas especializadas.

Visionário, Fitzgerald sabia onde devia estar para evoluir. Por isso mudou-se para Kirra quando tinha 19 anos (1969) para aprender com mestres do shape e das ondas aussies, como o mago construtor, Bob McTavish e os futuros mitos, Michael Peterson e Pete Townend, entre outros. Logo voltou para Sydney, onde fundou a HB, em 1970. No mesmo ano hipnotizou a comunidade das ondas ao desenhar as mais variadas linhas em Sunset. Esse desempenho brilhou no clássico filme Morning of the Earth. E Terry ainda aproveitou para se aprofundar na arte das pranchas com o lendário Dick Brewer, que o convidou para conhecer sua casa e oficina de shape em Kauai. Isso resultou numa grande colaboração de design que incluiu Reno Abellira, San Hawk and Owl Chapman. Surgiram as modernas bases como a “v” espiral (um concave duplo básico) e wings.

De volta à sua Narrabeen, Terry trabalhou os novos designs com os surfistas e shapers mais quentes do pedaço, feras como Simon Anderson, Col Smith, Derek Hynd, Steve Wilson, Greg Day, Greg Webber, entre outros. Suas pranchas, em geral estreitas, vigorosas e experimentais (como as monoquilhas acrescidas de duas canaletas laterais, como se fossem mini quilhas), ainda eram verdadeiras peças de arte moderna psicodélicas: os loucos e belos desenhos com spray feitos por Martin Worthington, de golfinho a entardeceres mágicos. Foi ele ainda o primeiro surfista pró a ter um quiver, com pranchas para diferentes condições de ondas, algo raríssimo na época.

A carreira competitiva de Terry, mesmo com belas vitórias (campeão australiano em 1975, vencedor de eventos do mundial no Hawaii e Indonésia), não o seduziu muito. O chamado da onda perfeita e outros interesses o apanharam cedo. Foi um dos primeiros a desbravar Grajagan, junto de Gerry Lopez, em 1973; depois, Sumbawa.

No início dos anos 80, sua empresa espalhou-se pela Inglaterra, EUA, Japão e Tahiti, onde ele apoiou muitos jovens promissores como Vetea David. Terry seria ainda um dos responsáveis pela revitalização do circuito júnior de seu país, que voltou a ser uma fábrica de revelar talentos.

Hoje, Terry Fitzgerald, que perdeu o filho caçula, Liam, falecido há seis anos em um trágico acidente, segue vivendo em Narrabeen, com a esposa, Pauline (com quem se casou aos 21 anos, em 1971). Ele curte a carreira dos filhos, Joel e Kye, que cavam lá embaixo e aceleram o máximo que podem honrando o pai, o legítimo e eterno Sultão da Velocidade. O cara que produzia tanto barulho, visual e faísca na água que era como se o estilo mais potente do rock da época, o heavy metal, se materializasse nas ondas. “Se surfistas pudessem ser bandas de rock, Fitz era o Led Zeppelin!“, afirmou Drew Kampion.


*O apelido supersônico de Terry é obra do célebre jornalista australiano, Phil Jarratt, ao assistir sua fantástica exibição nas longas direitas de Jeffrey’s Bay, em 1977.

Música, amigos e surf

Lançado em CD, DVD e Blu-ray, o primeiro trabalho ao vivo de Jack Johnson é um verdadeiro presente para os amantes da música e do surf. Concebido para ser um registro da turnê do disco “Sleep through the static” pelo verão europeu de 2008, En Concert tornou-se maior que sua própria concepção.


Passando por cidades como Londres, Manchester, Paris e Berlim, e recheado de imagens de shows, bastidores, encontro com fãs, além de algumas sessões de surf, o documentário é, na verdade, um retrato do que parece ser o auge da carreira artística do cantor. Devidamente acompanhado de sua eterna banda ─ Adam Topol (bateria), Merlo Podlewski (baixo) e Zach Gill (teclados) ─ Jack se diverte dividindo o palco com seu “padrinho” Ben Harper na belíssima High tide or low tide, de Bob Marley. Fica muito à vontade na parceria com Eddie Vedder em Constellations, encontra amigos como Matt Costa e o gaitista G. Love e ainda mostra seu lado mais íntimo em Angel, música feita para a esposa, onde transcreve a energia positiva que ela consegue lhe trazer.

Imagens belíssimas, excelente trabalho de edição e fotografia ─ que nos leva de um sol radiante em Londres a um palco estrelado em Paris ─ além de todos os hits cantados em uníssono pelo público. Momentos marcantes pontuados com muita sensibilidade pelo diretor Emmett Malloy, neste que já é o melhor DVD do ano.