Crise total!

O mundo vive uma de suas maiores crises econômicas. Milhares de trabalhadores são demitidos diariamente, muito dinheiro foi perdido na bolsa de valores, a indústria automobilística foi afetada, os alimentos sofreram aumentos...

E como não poderia ser diferente, o surfe também foi atingido por esta onda.

Atletas, que já figuraram no principal cenário do esporte, o WCT, estão hoje "na lama": sem patrocínio e com muitos sonhos ameaçados.

Entre os "desempregados", nomes como Raoni Monteiro, Leo Neves, Pedro Henrique, Leandro Bastos, Everaldo Pato, Ordiley Coutinho, Rodrigo Dornelles, Diana Cristina e Simão Romão. Estes últimos, campeões da etapa carioca do WQS em 2008.

Mas, de quem é a culpa? Será que a crise é mesmo a responsável por este cenário que assola o mundo do surfe? Ou será que os atletas não estão correspondendo às expectativas de seus patrocinadores?

Escritório na praia, literalmente.


Marca de surf fazendo grandes campanhas publicitárias você já viu. Bancos, fabricantes de bebidas e grandes montadoras de automóvel também. Mas o que dizer de uma tacada de marketing do governo australiano para atrair turistas e que se espalhou como praga nos sites de notícia do mundo todo? O governo do Estado de Queensland, na Austrália, está oferecendo a um cidadão de qualquer país o que considera "o melhor emprego do mundo": o de zelador de uma ilha paradisíaca.

Não, não é mentira e a grana faria muito advogado, empresário e até político largar a rotina urbana para uma temporada na ilha Hamilton, uma das 600 ilhas da Grande Barreira de Coral ─ o maior recife de coral do planeta, um ecossistema rico e fragilíssimo. A vaga é para um contrato de seis meses e o salário é de US$150 mil (R$235 mil) pelo semestre ─ o que representa pouco menos de R$40 mil mensais.

As tarefas não parecem ser complicadíssimas e o candidato não precisa de qualificações acadêmicas, mas saber mergulhar, nadar e ter espírito aventureiro, coisa que surfista têm de sobra. O governo não informou se há boas ondas por lá, mas com esse reef fantástico alguma hora deve entrar um swell forte e alinhado, não é mesmo?

Até 22 de fevereiro os candidatos devem preencher uma ficha de inscrição e enviar um vídeo de 60 segundos para participar do processo de seleção.

Mais informações: http://www.qld.gov.au/

História de Surfista


Saindo de casa em Ilhabela, rumo ao fervor da cidade de São Paulo, já, como sempre, atrasado e com certeza esquecendo alguma coisa que só iria me dar conta no meio do caminho, senti a brisa descendo do lado da montanha, não quente, mas menos fria do que o normal para o inverno. O vento tinha virado para leste. A próxima balsa iria zarpar em dez minutos, e se eu não quisesse esperar mais meia hora por outra depois daquela, não podia vacilar, era entrar na caminhonete e acelerar. Mas agora eu queria surfar, o vento tinha virado minha cabeça também. Calculei, uma horinha na água, pegando pelo menos uma onda a cada dez minutos. Seriam seis no mínimo. Mais um chorinho na hora de sair e, quem sabe, eu completasse oito. Se o mar estivesse muito bom mesmo, inventava uma prorrogação e fechava com dez, quantia bem suficiente para chegar em Sampa mansinho, com um sorriso maroto na cara e um brilho de felicidade no olhar. Deixei o carro ligado e corri para o suporte das pranchas na garagem, retirando a que estava mais fácil. Voei até o varal no quintal e peguei a roupa de borracha, ainda molhada do dia anterior, e a toalha ao lado, joguei tudo na caçamba e parti. Cinco minutos para a balsa, quatro, três, dois, um. Ufa! Em cima da hora. Soou o apito e os cansados motores a diesel foram postos em movimento. Primeiro dei uma checada em Guaecá, da estrada mesmo, pequeno mais indicando potencial para Maresias. Em Maresias, dei uma olhada no mar passando pela pracinha e resolvi arriscar no Bar do Meio. Ninguém na água e uma vala bem delineada produzindo direitas e esquerdas de um metro mais ou menos. Bingo! Diversão garantida. Visto a roupa de borracha, acabo com um restinho de parafina, escondo a chave entre os escombros de um dos muros tragados pela última ressaca. Pulo no mar e saio remando pelo canal. Calculo mal, remo pra dentro do pico antes de ter realmente passado a linda das ondas e tomo uma série na cabeça, retardando um pouco minha chegada ao outside. As ondas estão lisinhas e fortes, e enquanto desvio de volta em direção ao canal, lamento mentalmente não ter pegado uma delas logo de cara. E vou lamentar ainda muito mais. Chego ao outside e sento na prancha olhando pro horizonte. Não, não acredito no que estou vendo, no que estou sentindo. Em questão de segundos entra um vendaval de sul, enchendo o mar de carneirinhos, amassando as ondas, dobrando os coqueiros da praia, arrancando os guarda-sóis da areia. Saio sem ter surfado sequer uma mísera marola, quanto mais dez, oito ou seis boas ondas, como havia imaginado. Ainda escuto um figura descrever, amarradão enquanto se enxuga, como o mar estava de gala meia hora atrás: "Rolavam até uns tubinhos". No início da serra entre Maresias e Boiçucanga, dou de cara com uma viatura do departamento de trânsito de São Sebastião. Estou atendendo uma chamada no celular e fico na dúvida se percebem. Paro no acostamento para continuar falando e sou abordado por dois sujeitos que vinham empurrando uma bike ladeira acima: "Pô senhor, dá uma carona aí, tamu indu trabaiá im uma obra im Boiçucanga". Fiquei meio cabreiro, calculando o risco, mas acabei orientando os caras pra se ajeitarem com a bicicleta na caçamba sem estragar minha prancha. Fomos trocando uma idéia pela janelinha e o mais falante dos dois me contando que já tinham tomado várias logo cedo que era pra "fica du jeitu". Não paravam de agradecer, já que eu os salvara de subir uma serra a pé debaixo do sol e certamente de se acidentar feio tentando dropar o asfalto ingrime do outro lado, os dois, zoados, na mesma bike. Agradecem mais uma vez na hora que os deixo do outro lado, na frente do posto da PM. "Fica na moral", ouço o mais calado resmungar pro parceiro agitado ao se afastarem. Duas hora e pouco depois estou no meu destino. Entro no escritório, dou um "oi" pra geral, bato um pouco de papo e vou pra minha mesa. Ligo o computador e busco no Internet Explores um dos meus sites favoritos de previsão de ondas. Da minha sala não sei dizer de onde o vento está vindo. Mas consigo saber para onde ele está indo. Daqui a dois dias vai virar pra leste de novo, e a ondulação que o vento sul trouxe vai começar a baixar, mas ainda apresentando um bom tamanho. Pronto, o vento já virou minha cabeça de novo. Quem sabe na próxima tentativa eu tenha mais sorte, ainda que a verdadeira sorte, aquela que temos que agradecer todo dia, esteja em poder de continuar tentando.



P.S.: Dois dias depois, voltei e peguei 14 ondas em 1h e 45min. Uma a cada sete minutos e meio.

Freakside


O segundo vídeo estrelando Jamie O'Brien mostra sem rodeios toda a sua versatilidade e talento nato do jovem Pipe Master. Assim como em seu primeiro DVD, O'Brien colocou a mão na massa, participando ativamente da edição e produção do vídeo. Sua filosofia é a de que o surf deve ser sempre o prato principal ─ com o mínimo possível de entrevistas e "skits". Ou seja, a produção é uma seqüência quase ininterrupta de ação. Mas isso não tira o mérito de "Freakside" ─ até porque seu objetivo é mesmo exibir o talento de O'Brien nesse formato. Como se espera de um produtor que mora em frente a Pipeline, o foco do DVD é nas ondas havaianas ─ mas sem esquecer o surf hot dog. De drops suicidas em Pipe gigante e quase todas as variações de aéreos até hoje inventadas, ele faz de tudo um pouco ─ provando ser um dos surfistas mais completos e empolgantes da atualidade. A edição é limpa e a trilha sonora bem variada ─ com reggae, rap, punk rock e até Jack Johnson. Vale destacar a sessão de Bali, John John Florence quebrando tudo apesar dos apenas 16 anos de idade e O'Brien botando pra baixo em Pipe de base trocada. Isso sem falar nos tubos com uma prancha sem quilhas e dezenas de kerrupt flips completadas com tranqüilidade. Os extras são uma comédia, com direito a uma aula de surf hilária em Kuta. Um vídeo que além de trazer o surf mais radical da atualidade, é pura instigação antes de uma queda. Confira.

Liberdade e movimento


Quando começou a pintar, a artista Maria Cecília Seabra não imaginava que um dia o surf passaria a ser um de seus temas preferidos. Foi depois de uma visita a Florianópolis, em 2001, que a paulista formada em Artes Plásticas e decoradora, se deparou com a beleza da linha que um surfista faz na onda. Coincidentemente, enquanto esteve na ilha acontecia um campeonato de surf na praia Mole, e, a partir daí, a artista teve um "encantamento visual" com o esporte. Esses foram os elementos que deram vida para a coleção "Liberdade e Movimento" que totaliza 15 telas.

Maria Cecília iniciou seus primeiros traços ainda garota, mas foi em 1986, ano de sua formatura, que passou a pintar "profissionalmente". Entretanto, acredita que a pintura seja um dom inato.

Apesar de não surfar. Maria Cecília diz que se apaixonou pela grandiosidade do mar. "A beleza para mim está mais no visual, sinto a emoção pelo visual", ilustra. Sua lembrança das ondas e referências de fotografias foram inspirações que ela precisou para criar seus painéis. " Os pontos essenciais para mim são o movimento da onda e a liberdade que ela tem, pois nunca são iguais. A nuance das cores do mar através da luz do sol, a coragem do surfista... Isso tudo me dá um encantamento visual", explica.

Além do surf, a artista, hoje com 42 anos, sempre teve grande paixão por pintar flores, peixes, pores-do-sol: "gosto de flor, surf ou mesmo um abstrato. Árvores, natureza morta e figura humana não são meus fortes", comenta sobre suas preferências.

Com sutileza ao representar a realidade das formas da natureza, no caso o mar, Cecília encontrou no estilo figurativo moderno seu formato de arte, e na técnica acrílico sobre tela, sua concepção.

Stranger Than Fiction


Dirigido por Taylor Steele, Stranger Than Fiction é o mais novo filme de surfe da produtora Poor Specimen. Focado na performance de alguns dos melhores atletas da atualidade desde Campaign 2, desta vez Taylor apresenta feras nunca antes exibidas em suas produções. Como, por exemplo, os autralianos Dion Agius e Josh Kerr, os havaianos Clay Marzo e Ian Walsh, além de nomes sempre presentes em projetos anteriores, como os irmãos Hobgood e Irons. Por outro lado, STF é o único filme do diretor californiano que não conta com uma session do Kelly Slater, deixando a responsabilidade nas mãos de Dane Reynolds, que não decepciona com seu repertório de manobras inovadoras para fechar o filme. Shane Dorian, apesar dos seus 36 anos, está no auge da sua forma e mostra isso com aéreos, tubos e seu tradicional power surfe. Taj Burrow e Joel Parkinson também são destaques quando se trata de velocidade e estilo, deixando claro porque são constantemente top 5 do WCT. Porém, o momento mais inspirador fica por conta do jovem sul-africano Jordy Smith, que completa alley oops estratosféricos e rodeo clowns com uma facilidade impressionante. Com mais de uma hora de produção, traz bandas com pegadas de techno, como CSS, Van She e Pnau. Simplesmente o melhor filme de surfe performance já produzido.