WETSUITS


Deveríamos canonizar o cara e rezar a cada manhã gelada para "São Jack do Corta Friaka". Cansados de ouvir seus comparsas de mar e passar ele mesmo por momentos horripilantes de frio, Jack resolveu inventar uma roupa apropriada para surfar mais tempo em baixas temperaturas. O cara era inovador. Até o começo dos anos 50, as session lá pelos lados da Califórnia não duravam muito. Neguinho tentou de quase tudo para se aquecer, desde blusa de lã com óleo, whisk goela abaixo e sabe-se lá mais o quê. Em 1952, Jack abriu sua primeira loja, diga-se de passagem, a primeira realmente nomeada surf shop. As outras, como de Dale Velzy e Hobie Alter, só vendiam pranchas, mas a dele já começou vendendo algumas vestimentas feitas com pedaços de neoprene colados. Sim, roupas de borracha. Daquela época até os dias de hoje seu invento tornou possível o surf de Santa Mônica, na Califórnia, a J-Bay; da Tasmânia às geladas ondas de Maverick's. Graças a ele é sempre verão dentro de um wetsuit.

Como o próprio nome já diz (wetsuit = roupa molhada) a idéia é conservar a temperatura e não manter o cara seco, como muitos podem pensar. Isso acontece porque mesmo ao criar uma película de água entre a roupa e o sujeito, o que importa é o ar que fica retido dentro do material unicelular (espuma) de forma que o corpo esquenta a água e a temperatura não escapa dali. Ou seja, não aquece, mas não deixa esfriar, contanto que não haja um grande fluxo de água. Testando diferentes tipos de espumas flexíveis, nosso mestre inventor chegou ao PVC. Era moldável e tinha propriedades térmicas, mas ainda teria que confrontar as agruras do meio. Mr. Jack colou plástico sobre o PVC e pronto! A primeira "roupa de borracha", se assim podemos chamar, estava no outside. Mas o material era difícil de trabalhar.


VALE QUANTO PESA
Jack parecia saber onde estava pisando! Acarpetando o chão de um avião DC-3, descobriu o neoprene. Era térmico, boiava e se moldava facilmente. Logo surgiram os modelos long, com ou sem mangas, short johns e aquelas jaquetas com uma alça que passava entre as pernas e abotoava na frente. Muita gente torceu o nariz e tirava a maior onda dos caras com aquelas roupas esquisitas no mar. A verdade é que logo as "vests" de borracha voaram da loja e Jack O'Neill estava no mercado.

Hoje a tecnologia chegou ao requinte de permitir roupas sem zipers, sem costura, muito mais flexíveis, leves e, lógico, mantendo cada vez mais eficácia o tão desejado e necessário calorzinho. O único problema é que ainda não inventaram roupas mais baratas, especialmente por aqui, onde dependemos na maior parte do tempo da importação. Mesmo assim, acredite, esse item é mais que um acessório indispensável, especialmente se você mora da Bahia para baixo. Normalmente damos graças a Deus por cada centavo que deixamos na loja.

Por isso mesmo mandamos aqui alguns toques que podem fazer seu investimento durar mais que um inverno.


CUIDA QUE É CARO!
As roupas vêm sempre com etiquetas dizendo o que pode e não pode ser feito. Tá, eu mesmo, devo confessar, sempre gostei de jogar as minhas na secadora ou de deixá-las ao sol. Nada bom. Isso acaba com a flexibilidade delas e promove o encolhimento das bolhas de ar que mantém o calor. Seja mais responsável, siga as instruções de uso. Vão aí algumas dicas.

O certo é secá-la num local aberto e à sombra. Não deixe fritando no carro, fica um cheiro desgraçado e acaba com a maciez da borracha. Lave sempre com água fresca. Isso tudo vai manter a parte de fora dela com boa aparência e a borracha macia. Ah! O cloro das piscinas também não ajuda em nada a vida do seu wetsuit. Isso pode doer, mas a verdade é que a água quente detona a elasticidade, portanto entre no chuveiro e tire a roupa na água fria antes de transformar seu banheiro naquela sauna.
Se você ainda está em fase de crescimento, compre uma roupa que não seja tão justa e use uma lycra para dar uma enchida, assim você não perde a roupa tão rápido. Roupas apertadas são um inferno, especialmente na zona do... Bem, você deve imaginar. Se ela veste perfeitamente, não precisa a tal da lycra. Quando for comprar, pergunte qual a porcentagem de laciamento quando molhadas. Existem roupas que ficam bem mais largas dentro d'água.
Não faça xixi dentro delas. Eu sei, a sensação é ótima. Quentiiiiinho! Mas do mesmo jeito que não entra muita água, também não sai. O ácido úrico da urina compromete o material e a roupa fica com um cheiro miserável.
Se ficar com a roupa "meio vestida", enrolada ou com as mangas penduradas enquanto dá um rolê pela praia, cuidado com o velcro. Essa indispensável parte da roupa pode facilmente grudar e danificar o tecido sobre a borracha quando em contato com ele.
Quando sua roupa for descansar durante o verão, vale a pena jogar um pouco de talco (pó) sobre ela antes de dobrar e guardar no armário, de preferência pendurado. Quando a friaca atacar novamente ela terá escapado ao ressecamento que pode criar pequenas "rachaduras" na borracha.
Areia na roupa. Um saco! Não leve para casa, não deixe na roupa. Tente sempre tirar seu wetsuit nas pedras, grama ou na canga da gata. Bom, talvez ela te xingue. Nenhuma das alternativas é possível? Vá até a beira do mar e saia dela ali, dando uma lavada na areia que ainda vai ficar. Cuidado, dependendo do tipo de roupa (shorts ou pernas longas) é necessária uma certa habilidade. Seu carro, sua mão e você mesmo vão agradecer depois.
Não tem jeito, parafina suja mesmo. Os caras dizem que dá para limpar assim e assado, mas na real nada parece funcionar, você vai ter que conviver com isso. E mesmo que conseguisse limpar não adiantaria nada. Você vai colocá-la novamente na parafina, não?
As cores da roupa não mudam em quase nada em seu funcionamento. Acredite, é só uma questão de moda. Mas o preto clássico pode fazer você passar mais despercebido entre um crowd não familiar e as meninas na praia não saberão diferenciar entre um e outro caso você seja prego. Pense nisso.
Como entrar naquele ambiente ainda gelado do fim de tarde do dia anterior? Não tem jeito, roupa molhada é um caso a ser enfrentado. Quanto mais rápido, melhor. Portanto, entra aqui o velho golpe do saco plástico no pé ou nas mãos. Ele faz deslizar com mais facilidade, diminuindo o tempo e o choque térmico. Tenha sempre um a mão, inclusive é bom para guardar a roupa molhada na hora de ir embora.
As roupas variam de preço pela tecnologia ou por pura sacanagem do logista. Fique atento. Veja o tipo de costura (invisível, zig-zag, soldada, tosca...), se são seladas com um fino material sobre as costuras, quanto de material flexível existe no modelo, que tipo de materiais e suas espessuras. As roupas mais usadas no Brasil devem ter no máximo partes com 3 milímetros. Não vá na onda de ninguém, é uma escolha que deve ser muito bem pensada. No fim, é você quem vai passar um bom tempo ali dentro.


BOX
Em 1950, Hugh Bradner, da universidade de Berkeley, na Califórnia, (também) inventou a roupa de borracha. Foi uma pesquisa em parceria com a marinha e a empresa Rubatex, que fabricava um material unicelular (neoprene) que viria a ser a principal fornecedora do mercado de wetsuits durante anos. O material foi indicado pelo engenheiro de pesquisas, Willard Bascon. O problema é que a patente e o uso comercial da roupa desenvolvida levaram anos num vai e vem burocrático de falta de visão de ambas as partes. Ninguém realmente se interessou na manufatura em pequena ou larga escala e a liberação do uso e patente vieram em 1967, quando as ondas geladas já conheciam muitos surfistas emborrachados. Está tudo documentado: Sunset Magazine, publicada em maio de 1998.

OS FAVORITOS


NESTE TEXTO VOU FALAR DAS PÁGINAS MAIS ACESSADAS PARA PESQUISA, CONSULTA OU SIMPLESMENTE CHECAGEM DE INFORMAÇÕES PARA ELABORAÇÃO DO MEU TRABALHO NO BLOG.


RECEBO DIARIAMENTE DEZENAS DE E-MAILS DE USUÁRIOS COM TODOS OS TIPOS DE SOLICITAÇÕES, SOBRETUDO PEDIDOS DE ORIENTAÇÃO DE PÁGINAS DA WEB SOBRE CAMPEONATOS, PRANCHAS, TRIPS ETC. DESTACO ALGUNS SITES MANEIROS QUE DÃO UMA FORÇA NO MEU DIA A DIA DE TRABALHO. COMO NÃO QUERO PREENCHER MUITO O ESPAÇO, LANCEI APENAS ALGUNS POUCOS SITES, SENDO TODOS DE ORIGEM ESTRANGEIRA. EM OUTRO MOMENTO EU DIVULGO SITES DO BRASIL E DA AMÉRICA DO SUL, ALÉM DE PÁGINAS EXCLUSIVAMENTE PARA LONGBOARDERS, GAROTAS E BODYBOARDERS. ATÉ LÁ!



ASP WORLD TOUR Uma das páginas mais acessadas por mim. Resultados, rankings, perfis de atletas, blogs, fotos, vídeos, enfim, neste site a galera encontra tudo que se refere ao Circuito Mundial da Association of Surfing Professionals ─ a Fifa do surf. Jornalistas especializados também podem se cadastrar para receber os boletins da entidade, bem como baixar fotos e vídeos. No Brasil, a página da ASP South America é dirigida pelo assessor de imprensa João Carvalho, responsável pela divulgação dos eventos e pelo relacionamento com a mídia especializada para cessão de imagens, credenciamento para cobertura dos campeonatos e meio-campo com atletas e patrocinadores. O site da ASP também direciona os usuários para as páginas dos demais escritórios regionais na Europa, Ásia (incluindo Austrália) e África. Detalhe, o webmaster é o brasileiro Mano Ziul, carioca de Niterói, responsável pela popularização do Circuito Mundial pela internet, graças ao seu extraordinário trabalho de cobertura em vídeo pela web.

ISA É o site do surf amador, dirigido pelo uruguaio Pablo Zanocchi, media-manager da entidade. Além do conteúdo semelhante ao do site da ASP, a página da International Surfing Association também possui loja online e programas de treinamento.

SURFLINE Um dos melhores sites do mundo. Com base na Califórnia, diante do tradicional píer de Huntington Beach, além de trazer informações de qualidade, possui webcams localizadas nas praias mais estratégicas do surf internacional, como Pipeline. O conteúdo é de primeira, mas não está totalmente disponível ao usuário. O filé é só para quem paga a assinatura de US$ 5,82 por mês. Aí sim o internauta pode acessar webcams em sistema HD, previsões detalhadas no litoral e que também podem ser baixadas no celular, além de outros privilégios como descontos nas compras em pacotes de surf trips em sites parceiros, descontos nas compras de produtos no site Swell.com etc.

SURFERS VILLAGE Trata-se de um site europeu, com base em Biarritz, França, dirigido pelo inglês Bruce Boal, pai do competidor Tim Boal. O forte do site é o volume de informação, com notícias do mundo todo em inglês, francês, espanhol e também em português, principalmente notas relacionadas à indústria do esporte.

TRANSWORLD BUSINESS Aqui a galera encontra um site completamente diferente, filhote da conceituada revista “Transworld Surf”. Não espere por altas fotos ou vídeos de ação. O negócio aqui é número e os usuários surfam por notícias que envolvem acionistas, investimentos, lucros e outros assuntos financeiros de quem surfa entre quatro paredes.

SURFER MAGAZINE Tida como a mais completa e influente publicação do surf internacional, a página da “Surfer Mag” é realmente irada. A revista atualmente comemora 50 anos de bons serviços prestados ao esporte e a versão online não deixa por menos, com muitas histórias, notícias, vídeos e tudo que se pode esperar de um site completo e abrangente.

SWELL A surf shop online Swell é realmente grandiosa e oferece cerca de 100 marcas com uma formidável linha de produtos para homens, mulheres e crianças. Particularmente, eu nunca comprei um produto. Mas gosto de navegar neste site para ter referências de valores e para estar em dia com os lançamentos para compras no exterior para os meus amigos, que estão sempre fazendo encomendas.

NOAA O site da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) traz informação vital para a elaboração das previsões de ondas, pois fornece os dados que dão vida às previsões que fazem a alegria ─ ou tristeza ─ do surfista. É um site útil também para todos que vivem do mar ou que moram no litoral e que, de uma maneira ou de outra, dependem das condições climáticas ou do oceano. O trabalho do NOAA começou em 1807 e hoje as agências estão baseadas em todas as regiões dos Estados Unidos.

LEGENDARY SURFERS O site dos surfistas lendários tem informações valiosas e perfis de dezenas de caras maneiros. Porém a página anda meio largada, com muitos links quebrados e com um visual anos 90. Mas o que vale é o conteúdo, a história de surfistas fundamentais como Duke Kahanamoku, Tom Blake, Woody Brown, Rabbit Kekai, Dale Velzy, Mickey Dora etc. O site tem fotos, vídeos do YouTube, relatos irados, histórias sensacionais dos surfistas e dos picos igualmente lendários como Malibu, Waimea e Sunset, além de artigos assinados por grandes nomes da mídia internacional como Nick Carroll ou Drew Kampion.

O antidoping deve ser obrigatório no Circuito Mundial?


A MISTURA DE SURF COM DROGAS É UMA BARREIRA PARA A PROFISSIONALIZAÇÃO DO ESPORTE. E O ASSUNTO TÃO RECORRENTE FICOU ESCANCARADO DEPOIS QUE O LAUDO DA MORTE DE ANDY IRONS FOI DIVULGADO



SIM:
Acho que o exame antidoping deve ser feito em qualquer competição. Das amadoras até profissionais. Parto do princípio de que todos devem competir em igualdade de condições. E a participação num esporte usando apenas seus dotes físicos e mentais, sem nenhuma ajuda extra é um legado que deve ser passado a todos, principalmente aos atletas em formação.

Ser honesto começa principalmente no esporte, sabendo perder ou ganhar, desde criança. Ainda mais no estágio em que o surf se encontra atualmente, com bilhões de dólares rolando num mercado que praticamente está em todo o globo. Não há desculpa. Qualquer droga, seja ela de origem química ou natural, se ajuda alguém a ter uma performance superior, deve ser vetada e seu usuário punido. Se o surf quiser ter um status de esporte sério, precisa parar de ser visto como hobby de um bando de hippies. Uma coisa é você ter um estilo de vida, gostar de usar drogas recreativas e ir fazer seu freesurf, outra é ir disputar uma premiação em dinheiro contra outro atleta e vencê-lo.

Acho que a ASP deveria ser a entidade mais preocupada em exercer este tipo de fiscalização, pois é quem movimenta mais dinheiro no âmbito esportivo da modalidade. Até hoje, apenas o Neco foi punido por doping, o que soa totalmente hipócrita, quando é sabido que diversos surfistas que correm o Circuito Mundial usam drogas, que sabidamente estão na lista de componentes químicos proibidos pela WADA.

Exemplo maior foi Andy Irons, que faleceu por circunstâncias ligadas ao uso de drogas. Será que se ele tivesse sido pego num exame desses, quando ainda estava no início do vício, ele estaria morto? É uma suposição, mas pelo menos ele seria punido ou levaria a sério seu problema, para seu próprio bem. Não é apenas uma questão de ética esportiva, mas sim de saúde e bem estar.

Nesse tipo de situação, não dá para começar de baixo e sim de cima. Os dirigentes esportivos que querem que seus esportes sejam levados a sério precisam colocar um ponto final na forma antiga de enxergar as coisas.

Por mais que o surf profissional seja manipulado pelas empresas de surfwear, está na hora de grandes marcas como Sony, GE e Walmart entrarem no negócio. E para isso, vão querer botar seu dinheiro num evento honesto e sadio, não numa festa onde 32 fazem o que querem sem nenhuma fiscalização. O surf não é mais adolescente, já é adulto. Pena que ainda não quer amadurecer.


NÃO:
Você ouve alguém avisando que vai falar abertamente sobre drogas na TV e imediatamente tem certeza que vai ouvir mentira. Lê uma manchete na capa da revista, “tudo sobre as drogas”, e já sabe que é pura enrolação. No surf nem sempre foi assim.

O final dos anos 60 foi um tempo de experiências psicodélicas, dentro e fora d’água, tudo muito bem documentado pelos filmes, revistas e canções da época. As drogas davam impressão de não fazer tão mal quanto no final dos anos 70, com a chegada arrasadora da cocaína.

Muita gente se perdeu antes, lá no LSD, mas o pó escravizou quase uma geração inteira de surfistas. Isso sem contar com a heroína, uma droga bem menos popular, mas muito mais destrutiva. Alguns desempenhos sob efeito da droga são notórios, como, por exemplo, a bem documentada vitória do Jeff Hakman no campeonato de Bell’s em 1976 ─ ele estava completamente alucinado de ácido.

Com o boom comercial dos anos 80, as histórias que incluíam drogras foram rareando. Revelar os hábitos de determinados surfistas tornou-se assunto proibido nas revistas por uma simples questão de mercado. Um belo dia chega Slater e sua turma, um bando de bons garotos que prezam a imagem acima de quase tudo.

Os anos 90 já começam com duas notícias, uma boa e uma ruim. A primeira, boa, é que surge um jovem australiano com o surf ao mesmo tempo tradicional e moderno, Shane Herring. Esse rapaz será o primeiro grande rival do Slater da nova geração. A segunda e má notícia é que Herring em menos de dois anos depois de liderar o Circuito Mundial e bater Kelly Slater numa final sensacional no Coke, estará totalmente entregue ao vício e longe do Circuito. Pouco se falou, ou nada.

Sou contra o antidoping porque acho uma covardia com essa molecada arrancada de casa ainda adolescente e jogada no mundo à própria sorte. Ao invés de ajudar um possível drogado, apenas irão estigmatizá-lo para o resto da carreira. Pouca gente consegue manter seus patrocínios depois de passar por tamanho constrangimento. Neco passou por isso publicamente. Os outros 4 surfistas punidos no mesmo teste foram preservados porque a droga achada era recreacional.

A mentira da punição prejudicou só o mais ingênuo. Antidoping é lavar as mãos para um problema que é bem maior do que uma mera punição.

Jay Moriarity — O anjo que surfava


Jay era o cara mais feliz do mundo. Sempre, não importava a situação em que ele estivesse, sua face exibia um sorriso quilométrico. Com seus olhos azuis brilhando intensamente, era o garoto de ouro do surf de ondas grandes californiano. Ele não tinha defeitos, ou nenhum de seus amigos pode se lembrar de um. Era tão perfeito que sua morte se torna ainda mais absurda. Por que justo ele, um anjo que surfava Mavericks rindo? Com apenas 15 anos de idade, Jay estreou na temida onda que faria sua fama correr o mundo. Aos 16 protagonizou a vaca mais famosa da história do pico, e possivelmente do surf, quando despencou direto do lip até a base de uma morra de mais de 30 pés. Bateu no fundo, voltou pra superfície, remou até o barco e, diante dos olhares aterrorizados, pediu outra prancha. Regressando ao outside, surfou por mais cinco horas, pegando oito ondas incríveis nas quais teve uma performance irrepreensível. O wipeout épico ficou eternizado na capa da revista SURFER e do jornal New York Times, tornando-se depois um pôster, o qual ele volta e meia autografava mesmo sem gostar do mesmo ─ era prova de um erro seu, o que incomodava profundamente um perfeccionista como ele. Na véspera de completar 23 anos de idade, em 15 de junho de 2001, já consagrado por seus companheiros como o melhor surfista de Mavericks, ele morreu num acidente de mergulho, em águas absolutamente calmas nas Maldivas. Sempre o primeiro na água em Mavericks, chegou a dormir no barranco algumas vezes para não perder um minuto de luz do dia. Entrava com o sol nascendo e saia com o sol se pondo. Podia surfar qualquer onda em qualquer prancha, era muito estiloso no pranchão e se dedicava com afinco total ao preparo físico e à analise do que devia ser feito no pico que pretendia surfar ─ ensinamentos de seu mentor Ricky Hesson que ele cumpria à risca. Na opinião de seus companheiros de surf, Jay havia sido descaradamente roubado na semifinal do campeonato da Quiksilver em Mavericks, em 2000. Kelly Slater avançou para a final, que terminaria vencendo, e ele ficou pra trás injustamente. Assim mesmo, não disse nada. Deixou que os protestos viessem de amigos, como Peter Mel, e seguiu seu caminho. Curta, viva o momento, não olhe para trás: Jay estava lá fora, sol ou chuva, neblina, vento, em qualquer condição, nada podia afastá-lo da onda que mais amava. Na melhor sessão de sua vida, rebocado por Jeff Clark, seu parceiro de tow-in, pegou um tubo gigante, estimado em mais de 50 pés. Ficou muito fundo, e saiu para delírio da galera no canal. Muita gente avisou Jay para que não mergulhasse sozinho. E por isso a indignação. Como um cara inteligente como ele não deu ouvidos a uma regra tão básica? Realizando uma série de exercícios de respiração, perdeu os sentidos a uma profundidade de 15 metros, sentado ao lado da corda que o auxiliava na descida e subida. Foi uma maneira muito estúpida de morrer. Irresponsável mesmo. Mas como culpar um anjo por sua inocência?

UM DIA PARA PENSAR NO MAR E NA PRAIA


O DIA INTERNACIONAL DO SURF É COMEMORADO COM AÇÕES FOCADAS NA PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE E NA DEMOCRATIZAÇÃO DO ESPORTE.



Já pensou em tirar aquele dia para fazer um bate-volta, comemorar a existência do surf e ajudar na limpeza das praias e do mar? Ou mesmo ajudar alguém com poucas condições a surfar? O dia 19 de junho é o dia certo para isso: há oito anos a Surfing Magazine criou o International Surfing Day, que hoje acontece em mais de 20 países, como Brasil, EUA, Austrália, Portugal, Espanha e África do Sul, e inspira surfistas ao redor do mundo a cuidar do meio ambiente e do universo do surf.

A idéia é unir surfistas profissionais, amadores, veteranos e rookies para sessões de surf e ações em grupo. Cada praia terá a sua programação, na maioria com aulas especiais de surf, shows, festas e principalmente ações para divulgar e conscientizar surfistas e banhistas sobre a proteção do meio ambiente. Marcelo Roberto, organizador do evento no Brasil, disse que o melhor de 2010 aconteceu em Fortaleza, na Praia do Futuro. Além de aulas e apresentações de surf, a praia recebeu palestras sobre o meio ambiente, distribuição de kits para limpar a praia e, para fechar o dia, shows com bandas locais.

Neste ano, entre as ações mais nobres no Brasil, destaca-se o Adaptsurf Day, uma aula de surf para deficientes físicos, que acontecerá na Barra da Tijuca. Em Portugal, serão ministradas aulas para deficientes visuais e auditivos em Paredes da Vitória e Praia do Castelo. Em Dana Point, na Califórnia, além da tradicional surf session e da limpeza da praia, o South Orange County vai organizar uma confraternização aberta a todos os surfistas, com churrasco de graça e distribuição de brindes.

O GAROTO TEMPESTADE


Eu nunca vi uma performance como a do Gabriel Medina em Imbituba nas fases finais do Super Surf International, no começo deste mês. E olha que eu já vi muita coisa nesses mais de 40 anos de surf. Reno Abellira, no Smirnoff de 1974, foi cirúrgico em ondas de até 30 pés na baía de Waimea. Michael Ho, com o braço engessado, venceu o Pipeline Masters em 1982, inaugurando uma nova maneira de entubar de backside. Tom Carroll venceu seu terceiro Pipe Masters, em 1991, com uma atuação geral devastadora, motivando seu patrocinador a criar uma camiseta que estampava a frase: “If you can’t rock and roll, don’t fucking come!”. Não estou falando da atuação em uma bateria. Estou me referindo a competidores que tiveram um desempenho surpreendente durante três ou quatro fases, dominando o campeonato de um jeito inesquecível.

Mark Occhilupo em Bell’s Beach, Gary Elkerton em Sunset Beach, Tom Curren em Steamer Lane, Kelly Slater em Backdoor / Pipe e Teahupoo. A lista é longa se você puxar na memória os últimos 30 anos. E, quanto mais o surf evoluiu, mais freqüentes se tornaram aqueles shows de surfistas competidores especiais.

Agora mesmo, nos últimos 12 meses, sem esforço nenhum de memória, me vem à cabeça a supremacia absoluta do freak Kelly Slater em dois campeonatos incríveis: o WT de Trestles e o WT de Porto Rico. Em Trestles, o americano abusou das bordas da sua prancha, cravando sem dó nem piedade, tanto a de dentro nas cavadas que o projetavam rumo ao inesperado, quanto a de fora em todos os tipos de carve que dava para imaginar. E assim foi bateria após bateria até a vitória final. Em Porto Rico, na água, ele fez de tudo um pouco e venceu a etapa de um jeito inédito. No meio de toda aquela pressão pelo décimo título e pela morte do amigo e rival Andy Irons, envolveu a todos com um domínio mental absoluto.

Já no começo deste ano, na Gold Coast, outro exemplo de atuação memorável ─ o australiano Taj Burrow brilhou de ponta a ponta e até o duelo de “notas acima de 9” na bateria contra Adriano de Souza, que muitos no Brasil acharam que o brasileiro tinha levado, só fez aumentar o valor do desempenho geral de Burrow na etapa.

Mas vamos ao que interessa, de volta ao início do texto. Mesmo lembrando todos esses campeonatos que descrevi, nunca vi alguém fazer o que o garoto de Maresias fez na Praia da Vila, em Imbituba. Começo falando das notas impressionantes? Das manobras incríveis? Da idade dele? Vamos às notas. Na primeira fase: 8,5 e 8. Na segunda fase: 8,5 e 6,8. Na terceira fase: 7,7 e 7,1. Na quarta fase: 8,8 e 7,1. Na quinta fase, contra Miguel Pupo: 9,5 e 5,1. Bom, até aqui, das dez melhores notas, uma acima de 9, quatro acima de 8 e três acima de 7. Mas foi a partir das quartas de final, quando o mar subiu, que o Medina Show começou.

Contra Damien Hobgood, que pelo tamanho do mar no domingo já era apontado como um dos favoritos, Gabriel Medina fez um 10 e um 9,7, colocando o americano na desconfortável situação de precisar de uma combinação de notas para virar o resultado.

Na semifinal contra Richard Christie, o garoto prodígio fez um 9,8 e um 9,7 e também colocou o desconhecido neozelandês em combinação. Medina ainda descartou nessa bateria um 9,3 e um 9! Você surfa? Já competiu em qualquer categoria? Campeonato de bairro, de condomínio? Qual foi a última vez que tirou um 9? Com as duas notas que “sobraram”, descartadas do seu somatório, o brasileiro venceria mesmo assim o neozelandês, que fez um 8,3 e um 6,8, e ainda o colocaria em combinação.

Na final, contra o experiente Tom Whitaker, muito bom em ondas com tamanho, Gabriel Medina finalizou o espetáculo interpretando com inteira liberdade criações de sua própria autoria (performance, Houaiss) para fazer outro 10 e um 9,1. Foi como se, num show de música, depois das quartas e das semis, o público presente tivesse pedido um “bis” e Medina voltasse ao palco, tocando as suas duas melhores músicas com variações inéditas de arranjos e solos de guitarra, arrancando gritos, assovios e aplausos de todos na praia. Com essas duas músicas, quero dizer, notas, o brasileiro menor de idade colocou o sólido australiano em combinação. Mais um no desconforto!

Nenhum surfista competidor vence as três últimas baterias de um evento Prime com ondas de 6 pés sólidos, com todas as notas que contam acima de 9 sem ter tido uma performance espetacular.

Em 2009, o nome Gabriel Medina rodou o planeta quando ele se tornou o mais jovem vencedor de uma etapa 6 estrelas do WQS. Ele tinha apenas 15 anos quando venceu Neco Padaratz na Praia Mole. Logo depois, na França, ele chocou o mundo do surf com as imagens do seu repertório ultramoderno de manobras nas quartas, na semi e na final do King of Groms. Fez um estrago nessas três baterias com aéreos, aéreos 360, superman... Algumas das ondas com duas dessas manobras na mesma onda!

O impressionante foi ver ele repetir o mesmo tipo de performance em ondas pelo menos quatro vezes maiores. Na França as ondas tinham meio metro, perto da beira. Na Praia da Vila, as ondas tinham pelo menos 2,5 metros de face, com a força de um swell grande de sul que começava a limpar.

Na semana anterior, ele já tinha dado indicações da sua precoce maturidade competindo na praia de Itaúna, no Prime de Saquarema, num mar enorme, com mais de 3 metros. Mas na Praia da Vila, Medina se soltou, mandou todo o seu repertório de manobras de expression session em baterias pra valer e fez isso no início das ondas, quando elas estavam mais em pé, com a maior altura possível.

A diferença foi essa ─ ele poderia ter feito uma combinação cavada / rasgada nas primeiras manobras, quando as ondas tinham a maior altura e, na segunda ou terceira manobra, quando a onda diminuísse de tamanho, soltado um aéreo 360 ou um superman. Ele ganharia notas altas quase que do mesmo jeito. Mas não. Ele entrava na onda, ganhava a base, projetava uma cavada com a parede mais de duas vezes o seu tamanho e mandava um aéreo com as mãos nas bordas, outros sem mãos, um aéreo 360 lindo sem mãos, um superman irado... Tudo na parte mais crítica das ondas e todas com uma aterrissagem perfeita.

Tem mais dois detalhes. O primeiro ─ ele estava tão moderno, que duas ou três rasgadas animais com a rabeta desgarrando no lip, invertendo totalmente a direção da prancha logo na primeira manobra, podem ter sido assimiladas por alguns como manobras convencionais. Nada disso. Não é qualquer um que tem a técnica para fazer daquele jeito e a coragem de arriscar aquele movimento numa onda que pode ser a melhor da bateria. O segundo detalhe ─ ele foi de uma imprevisibilidade rara de ver. Quando estava subindo em direção ao lip, você nunca sabia o que ele ia fazer e isso é uma das coisas mais legais quando estamos apreciando alguém surfar bem. Os juízes adoram.

Resta um último aspecto, não menos surpreendente. O garoto não tem nem 18 anos de idade! É “di menor”. Na minha opinião, vai entrar para a elite já no corte do segundo semestre. Nas duas vezes que o vi competindo no WT, surfou de maneira acanhada, meio preso. Se essa sua postura estiver enterrada a sete palmos de profundidade no passado e se eu fosse um Top do World Tour, estaria vendo uma tempestade vindo na minha direção.

PONTO FINAL: AUTÓPSIA DIVULGADA


APÓS MESES DE ESPERA E ESPECULAÇÕES, SÃO LIBERADOS OS RESULTADOS DA AUTÓPSIA DE ANDY IRONS. ATAQUE CARDÍACO E COQUETEL DE DROGAS SÃO APONTADOS COMO AS CAUSAS DA MORTE.



Cerca de 7 meses após a abrupta morte do tricampeão mundial de surf, Andy Irons ─ que foi encontrado morto num quarto de hotel em Dallas, Texas ─ o resultado de sua autópsia foi finalmente tornado público pela família do havaiano, numa carta à imprensa e ao público.

No comunicado, a família Irons explica que de acordo com o laudo apresentado pelo Dr. Nizam Peerwani, médico legista chefe do Condado de Tarrant, no Texas, a principal causa da morte foi uma parada cardíaca; causa secundária, ingestão de coquetel de drogas. Segundo o Dr. Peerwani, as causas apontadas estão diretamente ligadas. As amostras toxicológicas do tricampeão demostraram que Irons havia ingerido o calmante Alprazolam, o analgésico Metadona, metanfetamina e cocaína, horas antes de morrer.

Para fazer uma segunda análise dos resultados, a família contratou outro médico legista, Dr. Vincent Di Maio. Enquanto ele não nega que Andy havia ingerido um perigoso coquetel de drogas, Dr. Di Maio afirma que o ataque cardíaco que o matou foi causado por uma doença coronária hereditária ─ e não pelo coquetel de drogas. Ele explicou que a parada cardíaca foi causada por artérias que estavam endurecidas, com estreitamento de 70% a 80% e que seu coração assemelhava-se a uma pessoa de 50 anos. “A causa da morte foi determinada como natural”, afirma.

De qualquer maneira, o resultado oficial apresentado pelo Condado de Tarrant ─ diferente da interpretação defendida pela família de Irons e seu médico ─ apenas reforça a tese de que o notório e contínuo abuso de substâncias por parte do tricampeão contribuíram para sua morte.

No comunicado, a própria família reconhece que Andy se automedicava, abusava das drogas e tinha uma atitude de alguém que se considerava invencível. “Tendo desafiado as estatísticas tantas vezes anteriormente, Andy pode ter imaginado que embarcar em um avião quando desidratado e assolado por febre, e parar em Miami para encontrar conhecidos, não era nada incomum. Sua personalidade teimosa era parte do que o tornava um surfista e campeão formidável. Assim como outros acostumados a situações extremas, Andy parecia sentir-se ‘à prova de balas’ ─ como se nada pudesse o derrubar. Mas viajar doente e com um problema cardíaco não diagnosticado era mais do que até Andy poderia superar.

Esperamos que as pessoas se lembrem de Andy por sua vida plena, que incluía sua intensa paixão pelo surf e pelo oceano, suas conquistas impressionantes como atleta e sua devoção à família e amigos que tanto o amam. A notícia da causa de sua morte traz de volta o choque e tristeza tremenda que sentimos quando soubemos que Andy havia falecido
”, concluiu a família.

A ASP, por sua vez, não comentou os resultados da autópsia. A entidade mantém sua diretriz em relação aos exames antidoping: se reserva ao direito de conduzir exames em qualquer etapa, bem como permite que o país sede também os execute. Na prática, raramente os Tops são submetidos a qualquer tipo de exame nas etapas no Circuito Mundial.

Onde eu entro?


Neste momento que atravessamos! Palavras, palavras, textos, pensamentos, discussões, confusão, lógica, cobrança, guerras, desencontros e por fim, no seu silêncio majestoso uma LUZ! Mesmo que por uma fração de segundo, mas em um pulso eterno, livre, independente!

É preciso ouvir isso! Está presente em tudo!

Uma verdadeira alquimia, uma fusão, um movimento!

Eco-planeta não quer falar, muito!

Pensamentos e atitudes habitam em cada um de nós, somos responsáveis por nossa caminhada, não se pode querer algo de alguém! Nossas atitudes são certamente reflexos do quanto de amor próprio levamos neste caminho, do quanto vivemos em sintonia com a música do universo, que respira agora como nós! Pulsa como em um chamado, um convite a vida, um convite a ouvir nossos ideais, nossos pensamentos, um convite ao despertar! As pessoas sempre colocam desafios para quem desafia e por quê? Normal, faz parte! Sempre se escutam desafios do tipo: “Não vai mudar o mundo...”, “Isso não adianta...”, “Só você fazendo não resolve!”, “Besteira...!”, “Se eu não pegar outro vai pegar...!”, “As pessoas não entendem isso...”, etc... etc...etc...

Importante não são as palavras, são as ondas que aqui vão e voltam!

Quem se nega educar a um filho?

O objetivo não é mudar o mundo, não importa. Nem sabemos se ainda há salvação. Aquecimento global. Ações sustentáveis. Lixo. Consumo. Água. etc... etc...

Há ainda solução? Ou não? Percebam que não muda nada, nem ao menos sabemos ao certo! Importante é perceber a postura individual diante destas questões. Como fica? Onde eu entro? Não tenho nada a ver com isso! Não fui eu? Erros da humanidade?

Vamos dizer: Já que não tem jeito, vou viver assim mesmo e vincular-se ao negativo, aos “erros”, preso às impossibilidades, ao que não deu certo?

Ou resgatamos aquele amor próprio, aparentemente perdido, retomamos nossos ideais / sonhos, que certamente nos dá força para ter uma atitude de fato ecológica, ou seja, o que de bom ou ruim para mim será para o outro, para o planeta? Nesse estado de consciência tudo muda e deixa de ser uma pergunta e passa a ser uma atitude, um existir pleno e presente! Onde está o Ser Humano? Cadê sua auto-estima? Cadê o cuidar de sua casa?

Nossos filhos observam, acompanham nossas atitudes!

Onde vive a miséria, o medo, a dor? Nas coisas concretas? Ou será que habita no apego ao negativo, no vínculo com o que não deu certo?

É verdade podemos assumir qualquer caminho!

Não se pode excluir qualquer manifestação!

Existe erro assim como existe aprendizado!

Um brinde ao bem!

Tradicional × Inovador


O equipamento que os melhores atletas de vários esportes estão usando, muitas vezes não é adequado para uma pessoa comum. Se olharmos para o tênis, muitos profissionais jogam com cordas mais tensionadas e raquetes menores do que aquelas que um jogador casual usa. Similarmente, as pranchas que surfistas profissionais escolhem provavelmente não servem para a população geral”. Nem é um discurso assim tão desconhecido, mas parece que pouca gente tem coragem de admitir as próprias limitações e começar a adaptar seu equipamento.

Um certo careca cheio de títulos mundiais disse isso em uma matéria que escreveu sobre pranchas e nela comentou sobre idéias, medidas e suas escolhas peculiares. É bastante óbvio que, com a velocidade do surf de alta performance hoje, não é mais necessário termos todo aquele bico sobrando na parte da frente da prancha. Uma prancha 6’0”, por exemplo, pode facilmente ser substituída por uma 5’10” sem perder muito suas características na prática. No caso dos surfistas por amor, faz muito pouco sentido se basear nas medidas pré-estabelecidas pelos moldes competitivos na hora de escolher o equipamento. Já na área dos profissionais, cada vez faz mais sentido ir para o lado de quem faz só porque gosta. Estamos vendo uma grande busca por alternativas e adaptando nosso equipamento a uma nova abordagem técnica, mas esbarramos no critério competitivo que algumas vezes limita um pouco certos detalhes.

Mesmo assim temos exemplos de que um equipamento diferente do tradicional pode dar resultados no ambiente competitivo. Foi bastante clara a diferença entre Dane Reynolds e os demais atletas naquela etapa do WT de Trestles no ano passado e Kelly Slater vem arrebentando com pranchas menores. Talvez esses sejam os maiores nomes que vêm experimentando e obtendo resultados substanciais. Kelly Slater em Pipeline e Dane Reynolds na Califórnia, em 2009, foram os highlights dessa nova abordagem na minha opinião. Na etapa da Gold Coast desse ano, alguns atletas estavam usando pranchas menores do que usariam há 5 temporadas naquelas condições e não ficaria surpreso se nos próximos anos esse número caísse ainda mais. Snapper é uma onda rápida, cavada, e que corre bastante, deixando difícil entrar e sair do “pocket” manobrando forte. Com uma prancha menor, fica muito mais fácil se encaixar nesse espaço curto e conseguir ser mais radical, situação ideal para experimentar e aplicar a teoria das pranchas menores de alta performance. Ano passado, na Gold Coast, Kelly estava usando uma 5’10” ao invés de sua habitual 6’1” e bastante gente, inclusive ele mesmo, acharam isso uma grande mudança. Agora ele está com uma 5’4” quadriquilha. (Entre outras coisas, sem quilha, com canaletas e buracos no fundo, que só aparecem quando desmontam o palanque).

Muita gente ainda torce o nariz, mas é uma questão de tempo para os mais céticos aceitarem que o surf está caminhando para um lado mais agressivo, veloz e radical utilizando pranchas de tamanho reduzido. É claro que nem todos os atletas conseguem adaptar seu surf a esse tipo de material e uma polegada a menos os deixaria em desvantagem. Mas aqueles que têm condições estão variando seu quiver pela indiscutível melhora na performance. Na década de setenta, era comum vermos atletas usando pranchas shapeadas por eles mesmos e colocando à prova suas idéias dentro d’água contra os melhores do mundo. Alguns, mesmo usando pranchas de shapers já consagrados, confiavam em diferentes modelos e sets de quilhas. “Em dias pequenos, uso biquilhas; de quatro a oito pés, triquilhas e em qualquer coisa acima de oito pés, uso monoquilhas”, dizia Shaun Tomson, sem dúvida longe da realidade atual.

Será que o critério de competição engessou a evolução das pranchas e, conseqüentemente, do surf de modo geral? Onde estaríamos hoje se essa criatividade de outrora continuasse a fluir livremente? É claro que a psicodélica década de 70 trouxe mudanças e expandiu horizontes em diversas áreas e é natural uma desaceleração na seqüência. Na minha opinião, a próxima revolução das pranchas só acontecerá quando sairmos do mar e formos para o cloro das piscinas. Sem subjetividade, sem alterações na pista, poderemos aferir resultados com precisão e desenvolver de forma cirúrgica uma prancha que funcione baseada em fatos concretos. O que fazemos hoje é mais ou menos desenvolver carros de Fórmula 1 numa pista de rally. Com piscinas de ondas de verdade, a história vai mudar. Agora, voltando a realidade... não há duvidas de que não há muito espaço no formato competitivo atual para experimentos ou demonstrações de caminhos alternativos. Vemos uma tentativa sincera de mudança no circuito e podemos caminhar para frente se continuarmos experimentando e colocando em prática novas idéias. Resta saber se o critério irá evoluir e chegar pelo menos no mesmo nível do surf atual. Ainda falta um longo caminho para o julgamento acompanhar o que está acontecendo hoje e só atitudes firmes podem nos tirar do comodismo.

Já faz tempo que os surfistas têm que desenvolver duas habilidades diferentes: surfar e competir. Já aqueles que só se preocupam em surfar melhor e se divertir mais, sabem muito bem (e sabiam muito antes dos tops mundiais) que uma gordinha ou aquela coisinha esquisita faz uma diferença danada. O surf é mesmo especial. Os profissionais usam o que os “mortais” não deveriam usar.

E os “mortais” usam o que os profissionais não deveriam usar. Mas agora parece que esses dois mundos estão se comunicando.

O CÉU É O LIMITE


Não é preciso ser descabidamente orgulhoso ou vaidoso pelo nosso país para se perguntar: "Que momento é esse que vive o surf brasileiro?".

Nem nos meus sonhos mais selvagens, nem nos meus devaneios mais criativos, eu poderia imaginar que, em menos de 30 dias, um surfista brasileiro venceria o prêmio mais importante do "Oscar" de ondas grandes; seis dos oito finalistas na etapa Prime da Califórnia, a mais badalada do ano, seriam brasileiros; e um brasileiro lideraria o ranking da ASP pela primeira vez desde a criação do Circuito Mundial em 1976, mantendo, no embalo, o título da etapa brasileira em casa, com uma vitória espetacular.

Milhares de pessoas, ou talvez milhões, ao redor do planeta viram Danilo Couto levantar o chque de US$ 50 mil pelo prêmio mais importante da noite no Billabong XXL Awards, que aconteceu no teatro de Anaheim, na Califórnia, EUA. Viram também Heitor Alves, Jessé Mendes, Junior Faria, Thiago Camarão e Jadson André entre os oito finalistas no último dia do 6.0 Lowers Pro, em Trestles, também na Califórnia, e Miguel Pupo vencer a etapa que oferece ao campeão 6.500 pontos no atual ranking unificado, além de um cheque no valor de US$ 40 mil e um troféu de ouro puro 14 quilates no valor de US$ 30 mil.

Está lá no próprio site do evento o seguinte texto, servindo de introdução para um vídeo só com brasileiros: "Day three of the 6.0 Lowers Pro marked a new dawn in competitive surfing. Although they've been a formidable powerhouse in the past, Brazil is quickly becoming the surfing superpower of the future. Led by the likes of Gabriel Medina, Miguel Pupo, Jadson Andre and others, the level of surfing displayed today by the new breed of Brazilians redefined tech-surfing. Watch out world, cause here comes the Brazilians".

Dessa vez não vou traduzir. O texto deve ser sentido com toda a sua força original. Detalhe: o aviso: "watch out world" foi dado após o terceiro dia. Ninguém imaginava ver o evento chegar ao último dia com seis brasileiros entre os oito finalistas.

"Decifra-me ou te devoro!". Jornalistas especializados ainda publicavam ensaios em todas as línguas tentando explicar o que esse domínio brasileiro num campeonato com tanta importância e visibilidade poderia significar, quando a elite do Circuito Mundial aterrisou no Rio de Janeiro.

E aí, como num roteiro de filme que prioriza um final épico, escreveram que Adriano de Souza venceria a etapa brasileira e tomaria o ranking da ASP, com o Cristo Redentor abençoando o Billabong Rio Pro num dia de sol forte e uma transmissão ao vivo via internet, impecável, para todo o planeta.

Duas situações chamaram a minha atenção durante o campeonato. Uma, controlável e concreta, foi a enorme força das várias plataformas de comunicação e divulgação cresendo junto com o interesse cada vez maior pelo surf competição de ponta, e, finalmente, uma valorização das premiações e dos valores de contrato de patrocínio aos atletas acompanhando todo esse crescimento. Foi emblemático que, no meio dessa cobertura feita por dezenas de veículos impressos, como jornais e revistas, especializados ou não, da internet com seus sites e mídias sociais, das TVs abertas e pagas, eu tenha acompanhado uma parte do campeonato de dentro de um carro.

Na época do programa "Realce", eu via as imagens e depoimentos das etapas do Circuito Mundial para a TV aberta menos de uma semana depois do campeonato terminar. Nos anos 80, sem a internet, o máximo que recebíamos, em menos de uma semana, eram notícias pelo rádio ou boca a boca. Agora, como no desenho animado "Os Jetsons", eu e Thaiza estávamos indo para o campeonato, com trechos de trânsito mais pesado aqui e ali, entre a zona norte do Rio e a Barra da Tijuca, amenizados pela tela do iPhone dela com as imagens e os comentários do campeonato ao vivo! Detalhe: com o som do celular entrando pelo auxiliar do rádio/CD/MP3 do carro e saindo pelas caixas de som. Adoro uma região rural em frente ao mar, com morros de grama verde e pedras tocando a água salgada e o barulho de grilos à noite, debaixo do silêncio das estrelas, mas essa história de ver e ouvir um campeonato ao vivo de dentro do carro é espetacular.

A outra situação, incontrolável e abstrata, foi a falta de sorte este ano com as condições das ondas para o evento masculino. Sem me estender muito, tivemos no outono, que é a melhor estação do ano para o surf na região, condições de primavera ─ na minha opinião, a pior estação. Sem falar nos fundos de areia que não estavam bons, mesmo depois de algumas pequenas ressacas tão necessárias para a qualidade das ondas no Rio. A exceção foi para os dois dias das mulheres, com condições normais de outono para a praia da Barra ─ swell vindo de sul, com 3 a 5 pés, água azul caribenha e pouco vento.

Entre os homens, Mineirinho venceu Taj Burrow na final com autoridade, levantou um cheque de US$ 100 mil e mudou o curso da sua vida no Rio. A cidade o ajudou e ele ajudou a cidade. Não o conheço bem, mas tenho certeza que ele não estava pensando na premiação recorde, não estava pensando na liderança do ranking, não estava pensando no que os brasileiros tinham conquistado na Califórnia e nem estava pensando no momento mágico da Cidade Maravilhosa e o quanto de exposição isso poderia lhe trazer. Acho que Adriano só pensava na vitória da etapa. Ele me parece aquele tipo de pessoa que pensa em uma coisa de cada vez. Que coloca o foco em apenas um objetivo e não vê mais nada em volta. Está assinando um autógrafo ou tirando umas fotos com os fãs, mas a foto registra apenas o rosto, o corpo. A alma não está ali. Toda a força do seu espírito está flutuando com a sua concentração num lugar que só ele sabe onde fica e não é ali nos bastidores, fora das baterias. Ele focou exclusivamente na vitória da etapa. O cheque, a fama e a liderança no ranking vieram no vácuo. Adriano ficou bem mais caro para o seu patrocinador. Quando assinar a sua próxima renovação de contrato, ele se tornará (se já não é) o surfista brasileiro mais bem pago de toda a história. Se os contratos dos melhores do mundo beiram hoje a cifra de US$ 1 milhão por ano, será isso que Mineirinho irá ganhar?