O mapa do surf

Quanta falta de imaginação dos mapas de geografia onde praias e mar são apenas linhas desenhadas e o mesmo tom de azul para todos os mares. Por que não chamar os meninos surfistas para desenhar a verdade de cada praia e pico? Por que não mostrar quando a geografia é bela, nas rochas de fora e dentro do oceano; nos múltiplos tons de azul, verde e cinza do mar; nas múltiplas formações e extensão das ondas; nas pedras, corais e areias dos fundos; e ainda na maravilhosa geografia dos contornos das deusas, sorrisos e brincadeiras das crianças, paixão da juventude e experiência/lições dos senhores e senhoras que não esquecem o que é viver?

Pobres mapas, pobres almas, não sabem o que é surfar.

Hurley US Open

O norte-americano Brett Simpson fez valer o fator casa e levou a bolada milionária do Hurley US Open, US$ 100 mil, maior premiação já paga em um campeonato de surf.

Simpson fez 16.93 contra 12.50 do aussie Mick Fanning na final com ondas em torno de 1 metro no tradicional pier de Huntington, Califórnia.

Brett não perdeu tempo na final e teve três notas boas, 6.83, 7.83 e 9.10 logo de cara, aplicando manobras aéreas e um excelente repertório no fundo de areia de Huntington Beach.

"Eu sabia que a maré estava subindo e que não haveria muitas ondas", disse o campeão. "Eu precisava de um bom início. Não pude acreditar quando a bateria terminou. Não poderia querer mais do que vencer o Mick Fanning em casa. Com o prêmio de US$ 100 mil e os 2.500 pontos para o WQS. Estou quase em lágrimas neste momento", admitiu.

Cada manobra do californiano foi acompanhada de gritos do público que lotou a praia. "Todas as vezes em que me senti um pouco cansado fui empurrado pela energia da galera. É inacreditável ter todo este apoio e também ter os amigos e a família na praia", contou Brett.

Além da premiação elevada, Simpson ficou muito feliz por estar em quinto lugar no ranking do WSQ. "Nem sei o que dizer. Ainda não caiu a ficha. Estou amarradão. É o melhor resultado da minha carreira, muito importante para a minha classificação no ano que vem. E me traz muita confiança. Meu objetivo sempre foi competir no World Tour e estou muito determinado para terminar a temporada bem forte. Não sei mais o que dizer. Estou muito empolgado e nem posso esperar mais pelo resto do ano", finalizou.

Cainã Barletta



Com apenas 15 anos o moleque já é uma máquina de fazer resultados. Foi Bicampeão Gaúcho Grommets, Campeão Gaúcho Petit, Campeão Infantil do Circuito Tim Catarinense de Verão, Vice-campeão Infantil no Circuito Rip Curl Gromm Search, Campeão Catarinense Infantil, fora os vice-campeonatos e outros pódios.

O início no surf foi aos três anos, com o pai, hoje seu técnico, o empurrando na beirinha da praia do Cassino, Rio Grande do Sul. Hoje mora na Barra da Lagoa, seu quintal é lá, mas ao mesmo tempo está em toda Florianópolis. “Procuro treinar nas melhores ondas da Ilha. Gosto de surfar na Mole, Moçambique, Riozinho, no Santinho e Matadeiro. Tento treinar em toda cidade. Também gosto de surfar no Cassino nas férias, aquelas ondas extensa... Mas meu pico predileto é a Laje da Barra.”, diz Cainã.

Já foi duas vezes para o Peru e diversas vezes para o Uruguai. No Brasil surfou em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul e também no Rio Grande do Norte, onde pegou lajes de pedras muito boas. Se o mar está flat, ele pega o pranchão e surfa em frente de casa. Mas também não dispensa uma boa sessão de DVD. O predileto é "FABIO FABULOSO", que mostra a história da vida de seu maior ídolo, Fábio Gouveia.

Pode estar flat ou gigante, o que importa para Cainã é estar na água. Uma vez pegou a Mole com dois metros e meio e nem sabe como saiu de lá. Mas deixa claro que não foi no mar que passou o maior medo. "Uma vez voltando de um campeonato em São Chico no fuscão do meu pai, chovia muito e o carro ficou alagado por dentro. Quando fomos subir o mrro de Camburiú, o acelerador prendeu. O carro ficou aceleradásso. Fiquei com muito medo", falou o garoto, hoje tranqüilo.

Como todo surfista competidor, Cainã pretende um dia viajar para as Mentawai. Deseja também ter muita saúde para poder surfar sempre, além de conseguir "alguns títulos mundiais". Nada modesto, né? Mas é assim que pode chegar lá.

"Carbon Free"


Enquanto rodam o Brasil e o mundo em busca de ondas gigantes e desafiadoras, os big riders pernambucanos Carlos Burle e Eraldo Gueiros não deixam de lado a preocupação com o meio ambiente. Tudo o que eles geram de gases nocivos com seus deslocamentos, de carro ou de jet-ski, será compensado com o plantio de árvores em uma área de preservação permanente de floresta nativa da Mata Atlântica ao longo de 2009. A primeira expedição "CARBON FREE" da dupla aconteceu entre os dias 10 e 13 de abril, em que foram contabilizadas 10tCO2 durante os quatro dias de viagem. O monitoramento é de responsabilidade do Projeto Matas Nativas.

A queima de combustível fóssil gera a emissão de gás carbônico, um dos agentes causadores do efeito estufa. A alta concentração de gás na atmosfera, entre outras coisas, torna o ar mais ácido, altera o pH dos oceanos e modifica significativamente a vida marinha. "Para obter o total de tCO2 emitidas, somamos a quantidade de gasolina utilizada nos dois jet-skis e dois carros usados na viagem do Rio de Janeiro até Saquarema, usando uma 'CALCULADORA DE CARBONO' e obtivemos a quantidade aproximada de 10tCO2 emitidas. Para captar essa quantidade excedente de gás carbônico na atmosfera, serão plantadas árvores nativas da Mata Atlântica em uma área de preservação permanente, onde seu crescimento, maturidade e sobrevivência serão garantidos pelos tratos culturais adequados", explica a bióloga Lígia Moura, coordenadora do Projeto Matas Nativas.

As árvores plantadas estão disponíveis para visualização pelo site Google e suas coordenadas geográficas são: 22º6'35.78" Sul e 48º32'4.12". O Projeto Matas Nativas é uma empresa privada, que atua junto a ONGs, institutos de ensino e empresas privadas promovendo projeto ambientais relacionando à melhoria do meio ambiente e recuperação de ambientes florestais frágeis com risco de degradação.

Reinventando o Tour

EM RECENTE ENTREVISTA À REVISTA EXPN, DO CANAL AMERICANO DE TELEVISÃO ESPN, O NOVE VEZES CAMPEÃO MUNDIAL KELLY SLATER DISSE O QUE PENSA A RESPEITO DO CIRCUITO MUNDIAL. DESTAQUEI OITO TÓPICOS QUE, SEGUNDO SLATER, PODERIAM REVOLUCIONAR O ESPORTE. ELE TAMBÉM REVELOU QUE IRÁ LANÇAR EM BREVE A MELHOR PISCINA DE ONDAS JÁ CRIADA, EM PARCERIA COM OUTROS COMPANHEIROS DE TOUR. PARA COMENTAR AS DECLARAÇÕES DO MAIOR SURFISTAS DE TODOS OS TEMPOS, O AUSTRALIANO BRODIE CARR, DIRETOR GERAL DA ASP.


01. COMEÇAR DO ZERO
KELLY SLATER: A entidade reguladora do esporte, no caso a ASP, deve deter os direitos e realizar os eventos, fazer a mídia, o marketing, trazer patrocinadores. No momento, a ASP não faz nada disso, porque não fez o trabalho de base no começo. Os patrocinadores são donos de tudo atualmente. Isso precisa mudar.
BRODIE CARR: A ASP existe há 30 anos e, como qualquer organização com essa vivência, temos alguma bagagem e também boas qualidades. Temos coroado legitimamente campeões mundiais nesses 30 anos e contra isso não há argumentos. A ASP começou apoiada em recursos vindos da indústria do surf e ainda hoje dependemos disso para sobreviver. Não tem sido fácil trazer grandes patrocinadores de fora para o nosso mercado, e isso se aplica à ASP, mas também aos próprios surfistas na busca por seus patrocinadores individuais.

02. CORTAR A GORDURA
KELLY SLATER: Existem 45 surfistas no Circuito Mundial. É muita gente. Corte pela metade. Existem atletas que perdem na segunda ou terceira fase em todos os eventos. Um deles não venceu uma bateria sequer no ano passado. A Fórmula 1 não tem 45 pilotos por uma razão. Precisa haver alto nível competitivo na elite, e não temos isso no surf.
BRODIE CARR: Sim e não. Ter jovens atletas e azarões surpreendendo e vencendo campeões mundiais é uma coisa boa. Para mim é muito mais uma questão sobre repensar o formato.

03. ENCURTAR O CALENDÁRIO
KELLY SLATER: A temporada vai de fevereiro a dezembro. Nunca temos um intervalo. Passamos tanto tempo juntos que o surf profissional está ficando homogeneizado. É difícil pensar fora da caixa. Eu gostaria que a temporada tivesse três ou quatro meses no primeiro semestre e três meses no segundo.
BRODIE CARR: Eu pessoalmente gosto da duração do circuito como é. Mas o Tour precisa ouvir o que os atletas querem. Se você força a criação de um circuito que os surfistas não querem, eles ficam entediados e abandonam. Então é preciso ouvi-los e constantemente desafiar um ou outro para encontrar o melhor caminho para evoluir.

04. CONQUISTAR AS MASSAS
KELLY SLATER: A ASP vem fazendo um péssimo trabalho de popularização de seus atletas. Sou aficionado por UFC, e eles fizeram um ótimo trabalho ao mudar a percepção deste esporte por parte das pessoas. Ninguém mais enxerga os lutadores como bárbaros se espancando numa arena. Agora se chama Mixed Martial Art e todos sabem que para estar ali é preciso técnica, treino e preparo dignos de atletas de elite. Quando alguém luta pelo cinturão, o próximo na fila normalmente cai nas graças da torcida. Depois da luta, eles entrevistam esse cara. Isso é marketing eficiente. Em nossos eventos, poderiamos ter um espaço para os atletas darem entrevistas ao vivo pela internet depois das baterias. Precisamos construir ídolos e personalidades. A ASP deixou esse trabalho para os patrocinadores, mas é função da entidade vender seu principal produto. A NBA não deixa para Nike ou Reebok a função de criar visibilidade para seus jogadores.
BRODIE CARR: Concordo. Até o momento os direitos de mídia pertencem aos eventos, então eles controlam como tudo funciona. Adoro assistir aos jogos da NBA e ver como eles promovem a imagem de seus times e jogadores. Isso é o que eu gostaria de ver no surf!

05. ESTIMULAR EXPERIMENTAÇÕES
KELLY SLATER: Já se passaram 20 anos desde a última vez que algum surfista do Tour tenha feito suas próprias pranchas. Este ano, eu tenho desafiado meus limites e feito minhas pranchas. Ainda estou usando um pré-shape do Al Merrick, sobre o qual faço algumas modificações, mas espero até o fim do ano usar uma prancha feita por mim do começo ao fim. Além disso, se alguém decidir experimentar algo que envolva esse tipo de risco, deve ser beneficiado. Nós devemos encorajar as pessoas a buscar isso, mesmo que fracassem. Há uma porção de garotos fazendo isso, e eles devem ser recompensados por isso.
BRODIE CARR: Nenhum comentário relevante sobre isso.

06. DEFINIR O FORMATO
KELLY SLATER: O formato dos eventos deve ser flexível e se adequar ao local onde é disputado. Eu promovi um evento para convidados em Fiji há alguns anos e testamos três formatos, que poderiam ser incorporados pelo Tour. O primeiro era nosso formato tradicional, mas com novos critérios de julgamento, como técnica e impressão artística, como nas Olimpíadas. Dois juízes trabalham juntos para definir as notas nesses quesitos. Depois tinha um formato de tag-team em que dois atletas surfavam ao mesmo tempo. E o terceiro era uma disputa livre. Os surfistas decidiam quando iriam surfar num período de quatro horas, baseados nas condições no mar. Era uma decisão estratégica. Também gostaria de ver o Tour usando um formato tipo apresentação, como rola no skate, sem regras. Os atletas controlam o ritmo e puxam os limites uns dos outros.
BRODIE CARR: Kelly possui boas idéias sobre formatos, alguns deles nós estamos até usando na ASP. Eu particularmente gosto de um formato em que os Tops surfem mais. Uma bateria de 30 minutos é muito rápida e todos gostam de ver os Tops na água. A praia enche, a audiência no webcasting vai às alturas. Você precisa de consistência no julgamento para coroar legítimos campeões mundiais.

07. UTILIZAR MAIS OS EUA
KELLY SLATER: É importante que a etidade que regula o esporte esteja baseada na Califórnia, onde fica a maior parte da indústria do surf. E precisamos ter mais eventos nos EUA. Trestles é um ótimo evento, mas não é suficiente.
BRODIE CARR: Concordo. Passamos de um evento 6 estrelas do WQS no ano passado para quatro este ano. No próximo ano vamos adicionar também um evento do Circuito Mundial nos EUA.

08. INVENTAR UMA PISCINA DE ONDAS DE QUALIDADE
KELLY SLATER: Precisamos construir piscinas de ondas boas o suficiente para sediar competições ─ e teremos uma nos próximos meses. Estou trabalhando na conclusão da melhor piscina para surf de todos os tempos. Eu e mais cinco atletas fazemos parte de uma empresa, chamada Kelly Slater Wave Company. Meu empresário, Bob McKnight, da Quiksilver, e um cientista também fazem parte do projeto. Estamos trabalhando nisso há mais de três anos e temos um modelo de testes quase pronto em Los Angeles. Uma vez que tivermos a tecnologia, poderemos construir essas piscinas em qualquer lugar do mundo. E já estou pensando adiante, em como poderemos criar um sistema que gere ondas e que possa ser instalado em lagos, desde que não prejudique o meio ambiente. Eventualmente, seria ótimo ver um Circuito com etapas em lugares assim. Seríamos capazes de marcar um evento às 18 horas de uma sexta-feira, com transmissão ao vivo pela TV.
BRODIE CARR: Eu sempre achei que um evento numa piscina seria incrível. Alguns anos atrás chegamos a considerar fazer uma etapa, mas a piscina acabou não sendo finalizada. Adoraria conhecer a piscina do Kelly quando estiver pronta.

FLOW ─ The True Story of a Surfing Revolution


O premiado documentário de Josh Landan é uma viagem pelos últimos 30 anos de surf, pela perspectiva de um dos maiores shapers do mundo, o californiano Al Merrick. O roteiro concentra-se na história de Channel Islands Surfboards e principalmente no relacionamento único de Merrick com seu time de surfistas ─ entre eles ninguém menos do que Tom Curren e Kelly Slater. O filme destaca a postura visionária de Merrick na criação de seus shapes ─ que levaram seu time a incríveis 19 títulos mundiais. Com interessantes relatos que vão da "shortboard revolution" até os dias atuais, Flow traça as mudanças em design que revolucionaram o surf para sempre. Mais do que um filme com surf de primeiríssima qualidade e belas imagens, é uma reverência à influência de Merrick no esporte. Os extras vêm com mais surf da equipe atual da Channel Islands, assim como um curta-metragem com Tom Curren. Não deixe de conferir.

Billabong Pro Jeffre's Bay


O australiano Joel Parkinson é o grande vencedor do Billabong Pro 2009, quinta etapa do ASP World Tour encerrada nesta quarta-feira (15/7) em Jeffreys Bay, África do Sul.

Pela vitória, ele faturou US$ 40 mil e 1.200 pontos no ranking da elite mundial, para isolar-se ainda mais na liderança.

Parko derrotou o norte-americano Damien Hobgood em uma final de poucas ondas. Como em todos os confrontos, o aussie abriu a disputa impondo seu ritmo e arrancou nota 9.47 logo de cara.

"Eu sabia que as ondas estavam morrendo conforme o fim do dia se aproximava, então era importante garantir algo logo no início da final. Me posicionei e encontrei uma boa logo de cara. Aproveitei que a parede abriu na minha frente e tentei tirar o melhor proveito disso, que acabou sendo crucial para a decisão", conta Joel Parkinson.

09 perguntas para... Valdemir Corrêa

Uma síndrome ocular rara, agravada por "erro e incompetência médica", deixou Valdemir Corrêa cego aos 24 anos. Hoje, com 39, sendo que os dez últimos dedicados ao surf, ele é um exemplo de superação. Com uma prancha especial, desenvolvida para ele por Francisco Araña, o Cisco, coordenador da Escola Radical de Surf, localizada em Santos, "Val" encontrou no surf um novo alimento para sua vida. "Eu tinha o sonho de ser piloto de caça e com o surf, eu posso ter a sensação de voar nas ondas".

Nas linhas abaixo, ele fala com muita simpatia sobre a prancha, surf e dá uma lição de vida.



Como o surf entrou em sua vida?
Desde quando eu enxergava, sempre gostei muito de surf, quer dizer, sempre gostei, mas acompanhava pela televisão, comprava muitas revistas. Nunca pensei em procurar alguma escola. Em janeiro de 97 eu já era cego e o Cisco deu uma entrevista numa rádio falando que tinha trabalhado com deficientes visuais e físicos. Fiquei sabendo disso e fui até a Escola Radical para pegar essa oportunidade. Foi assim que eu comecei e até hoje estou lá pegando no pé dele.

Como nasceu a idéia da prancha ideal?
Surgiu das observações que o pessoal da escolinha começou a fazer. Por exemplo, se eu deitar numa prancha, meu corpo precisa estar posicionado no lugar certo, pois se eu estiver muito pra frente, quando entrar na onda ela vai me jogar pra baixo. Se eu estiver muito pra trás, quando eu entrar na onda, ela vai passar e eu não vou conseguir pegá-la. Então, começamos a fazer uma marcação de parafina na prancha para saber o posicionamento certo do meu corpo. Só que estava faltando uma marcação mais específica. QUando eu subia, meus pés, às vezes, ficavam ou muito pro lado direito ou para o esquerdo, ou seja, não tinha bem a noção de onde meus pés deveriam ficar. Foi a partir da observação de surfar diariamente, das dificuldades e do que é que poderia melhorar, que o Cisco desenvolveu a prancha.

Quais são as particularidades dela?
A prancha ─ de 2,76 metros de altura ─ tem um relevo para as mãos, que é super importante para dar firmeza. O bico e a rabeta são mais suaves para evitar impactos ou algum acidente. A quilha também é diferente e a própria superfície dela é feita de um material bem "soft", o mesmo usado nas pranchas de bodyboard. Isso quer dizer que, se por um acaso, eu cair e ela vier de encontro a mim não vai me causar nenhuma lesão. A prancha ainda tem guizos pra eu conseguir saber onde ela está.

Como você fez para surfar? Alguém empurra você na onda?
No início era necessária a supervisão de um monitor ou um professor para ajudar a entrar na onda. Com o tempo, fui me adaptando e ficando mais livre. Hoje eu já pego a prancha, entrou no mar e vou à caça das ondas. O trabalho deles comigo, atualmente, é de orientação para eu não me distanciar muito. O barato da escolinha é que não faço aula sozinho, faço junto das pessoas que enxergam também. Dentro d'água tem sempre um professor supervisionando todas as atividades e que dá toques para a pessoa aperfeiçoar o surf. "Olha sua postura, coloca mais pressão no pé da frente, tenta centralizar o seu surf", ou seja, agora estou mais nos detalhes para desenvolver "uma boa linha na onda".

Qual a sensação de surfar sem enxergar?
Liberdade. Surfar sem enxergar te dá uma liberdade total. Quando eu entro na onda sou eu e ela. Fico livre para desenvolver o meu surf ali. Com essa prancha eu posso fazer uma coisa que sempre quis: caminhar, andar em cima dela, ir pra frente, pra trás. Ela consegue bastante velocidade, que é o que eu curto muito quando surfo. Eu tinha o sonho de ser piloto de caça e com o surf eu posso conseguir ter essa sensação de voar com a minha prancha, voar nas ondas.

Você sente medo?
Não. A paixão que isso dá, a sensação e a motivação que isso causa são muito boas. Deixa você sem ter aquele medo. Na hora em que você está surfando com uma velocidade alta, eu sinto que quero um pouco mais, é uma coisa que pinta pelo seu corpo, pega você totalmente. É como se você se tornasse um átomo de energia atômica pura.

Que importância o surf tem na sua vida?
Muito importante, é através dele que eu consigo desmistificar um montão de coisas que dizem a respeito de que é cego. Em termos de inserção social também é muito legal. Por exemplo, lá na escolinha tem muitas crianças, adolescentes e tem um cara cego, com uma prancha embaixo do braço indo surfar, entrando no mar, pegando onda sozinho, fazendo várias manobras... Essa turminha está crescendo tendo uma outra imagem e com uma cabeça mais aberta. Diferente da imagem clássica daquele ceguinho com óculos escuros e bengala branca. Por exemplo, eu salto sobre a prancha para ficar de pé, esse saltar é muito importante porque a maioria das pessoas acha que meu equilíbrio é muito ruim, que a minha capacidade de direção é zero. Bastante gente pergunta se eu sei pra onde ir, se eu não fico com medo de ir para o alto-mar. É o seguinte, as ondas vêm do mar para a terra, então, não tem muito como eu me perder. Tem o posicionamento do sol que dá pra me guiar, o som da avenida que fica próxima, tem vários pontos de referência.

Em que o esporte ajuda?
Em várias coisas. Não adianta ter um argumento bonito ou ficar com teoria, eu tenho que mostrar fatos e é o que consigo com o surf. Para surfar é seu corpo que se expressa em cima da prancha, não é só subir e ficar ali estático, parado. Às vezes, quando eu quero mais velocidade, tenho que andar pra frente ou então quando está com muita velocidade, tenho que ir pra trás. É essa expressão corporal que eu ganhei com o surf e está me valendo muito, pois hoje um grande número de pessoas não acredita que eu não enxergo. Ando na rua e o que tem de gente que acha que eu enxergo é de se espantar. Eu atribuo a expressão corporal que ganhei ao surf. Estou tão natural, a ponto de as pessoas duvidarem que eu não enxergo.

Como funciona a Escola Radical? Tem outros deficientes visuais?
Sou só eu. Ano passado apareceu um rapaz que fez umas aulas, mas não continuou. É uma escola de surf pública, mantida pela prefeitura em parceria com a Sthill. Minha mãe que tem 62 anos começou a surfar lá há uns dois anos e está muito boa no bodyboard, até já pegamos onda juntos.

A Catedral


Por mais incrédulo que você seja, fica difícil duvidar da intervenção divina em Jeffrey's Bay, no sul da África do Sul, quando o swell começa a entrar alinhado na baía. COm os seus tubos milimetricamente impecáveis e as longas paredes manobráveis, J-Bay é a materialização do sonho da onda perfeita. "Jeffrey's é a jóia gelada do hemisfério sul e indiscutivelmente o point de melhor forma do mundo", disse Wayne Bartholomew, campeão mundial em 1978. A temperatura baixíssima da água e os fortes ventos obrigam os surfistas a usarem uma roupa de borracha espessa e que cubra o corpo todo.


SUPERTUBES
A onda de Jeffrey's Bay pode ser dividida basicamente em cinco seções distintas: Boneyards, Supertubes, Impossibles, Tubes e The Point. Boneyards é a mais outside e difícil de quebrar. Depois vêm Supertubes e Impossibles, que com os seus tubos mágicos, longos e velozes são as mais clássicas e responsáveis direitas pela idolatria em torno de J-Bay. Para encerrar, duas seções menos intensas, mas não menos perfeitas, Tubes e The Point são normalmente tomadas por longboarders e iniciantes.

Em dias raríssimos, pode-se surfar da Boneyards à The Point em uma única onda. O surfista agraciado com tamanha dádiva percorre mais de 1 km e fica até dois minutos em cima da sua prancha. Em 1984, Picuruta Salazar, um dos maiores campeões da história do surfe brasileiro, realizou a proeza em ondas de 6 a 8 pés. Para registrar o feito, depois de passar por todas as seções, Picuruta saiu da água e desenhou um P gigante na areia.


AS PERFORMANCES ÉPICAS
As condições únicas de Jeffrey's formam o palco ideal para performances épicas dos surfistas de vanguarda através dos tempos. Na década de 70, o australiano Terry Fitzgerald e o sul-africano Shaun Tomsom, campeão mundial de 1977, foram os primeiros a dominar por inteiro a onda e mostraram ao mundo como andar rápido e dentro dos canudos no pico.

Nos anos 80, o australiano Mark Occhilupo, que viria a ser campeão mundial em 1999, provou com o seu backside attack que era possível surfar as direitas de J-Bay de costas para a parede tão bem quanto de frente. Mais recentemente, o americano Kelly Slater redefiniu os limites do lugar ao completar manobras para lá de radicais em pontos críticos da onda e ficar entocado mais fundo do que qualquer outro jamais conseguira.


SURFANDO COM O INIMIGO
Nem tudo são ondas no paraíso. O astral em J-Bay mistura os ventos terrais gelados, as roupas de borracha, as patrulhas de madrugada, as longas remadas e... o medo dos tubarões-brancos. Uma vez dentro da água, a sensação de estar sendo observado, ou até mesmo escolhido, é constante. Em 1998, após 12 anos sem nenhum registro, seis ataques aconteceram em um raio de 100 km ─ um deles, fatal.

Os golfinhos também são locais do pico e costumam aparecer às dezenas, quando não às centenas, para dividir as ondas com os surfistas.


POR QUE JEFFREY'S BAY?
A cidade da onda mais famosa da África do Sul foi batizada com o nome do caçador de baleiras J. A. Jeffrey, que em 1848 fundou o primeiro hotel do então pacato vilarejo. O antigo povoado de pescadores se transformou em uma bela e organizada cidade de veraneio, com freqüentadores de alto padrão e mansões imponentes de frente para a praia. Há algumas versões diferentes sobre quem foi o primeiro surfista a desbravar as ondas de J-Bay. A mais difundida é a de que na Páscoa de 1964, meia dúzia de surfistas da Cidade do Cabo tentaram pegar algumas ondas em Supertubes. Foram surpreendidos pela rapidez das ondas e acabaram surfando The Point. Supertubes só seria conquistada alguns anos mais tarde.

Michael Surf Jackson?


Ele desliza no palco, o outro na onda. Ele gira sobre o chão, o outro quando manda um 360. Brilha a luva cravada de brilhantes em apenas uma das mãos, para o outro brilha o reflexo do sol sobre o oceano. Ele escreve a linha dos passos, o outro a linha na onda. Comoveu multidões, o outro se comove solitário. Ele viaja pelo mundo, o outro viaja pelo mundo. Ele cantava forte, o outro assobia baixinho esperando a série. Ele embranqueceu, o outro se bronzeia. Ele expressava a positividade com as músicas, o outro expressa a positividade fluindo com o ambiente. Ele imitou zumbis, o outro é zumbi quando um swell matutino está prometendo. Ele era engajado em causas por um mundo melhor, o outro é símbolo do respeito ao ambiente e a causas nobres. Ele queria ser a criança eterna, o outro é criança dentro d'água. Ele eternizou-se nos palcos, o outro eterniza ondas. Ele fez história, o outro adora contar uma. Ele é Michael, o outro o surfista. Ele é rei, o outro? Súdito.

Singela homenagem de uma surfista ao Rei do Pop, Michael Jackson que embora distante de areia, ondas e pranchas, atingiu a todos sem restrições; até nós que mesmo sendo surfistas como bons admiradores da boa música, sabemos e devemos reconhecer o que ele representou e representa para o mundo.

BOA fé!


SINCERIDADE:
De acordo com o dicionário
“[Do lat. sinceritate.] S.f.1. Qualidade de sincero. 2. Franqueza, lealdade, lhanesa, lisura. 3. BOA fé."
De acordo com a realidade "Sentimento distante, por vezes parecendo estar cada vez mais longínquo das relações humanas."


É certo que novos tempos chegaram para o surf e o mundo. Vivemos a loucura de um capitalismo sem precedentes, ameaças nucleares, rei nascendo negro e morrendo branco, trânsito implacável, aquecimento global, miséria, charlatões no poder saindo com a cara (de pau) impune em vídeos de propina, neguinho jogando criança de prédio e criança jogada na vida. Sem dúvida um "mundo do cão" que para aqueles que ainda possuem o sentimento sincero dentro do peito, não passa de um mundo de possibilidades e por incrível que pareça um mundo que tem muito a ser vivido. O surf através de milênios provou estar acima de tudo e de acordo com esse tal “mundo ainda a ser vivido”. O simples deslizar de uma prancha por cima desses mares nunca deixou de ser suficiente para arrancar, mesmo em tempos difíceis, o sorriso sincero de um surfista. Tudo porque ele se entrega, é sincero consigo, com os outros e com seu ambiente que não se limita ao oceano e sim a todo o ecossistema envolvente.

O surf antes de qualquer coisa deve ser sincero, não basta achar legal porque viu um loirinho bronzeado que é uma gracinha ou uma gostosa de biquíni dando mole pra aquele cara com uma prancha de baixo do braço. O sentimento deve ser mesmo verdadeiro para acordar cinco horas da manhã pegar três ônibus com mala e cuia e dropar algumas marolinhas de verão com aquele crowd intenso, tem que ser muito franco consigo mesmo para entrar naquele mar congelante e passar o dia inteiro batendo dente para aproveitar as boas ondas de inverno, precisa-se de disposição de sobra pra encarar as mais pesadas vacas, tem que ser muito leal para até de madrugada ligar o computador e acompanhar brothers botando pra baixo em campeonatos do outro lado mundo, deve-se ter muita hombridade para quando estiver na praia nunca se esquecer de respeitar esta e todo seu entorno, precisa-se de muita paciência para esperar aquela série surgir no horizonte ou para aceitar aquelas épocas intermináveis de pesca da tainha e derivados.

Enfim, não há disfarce, quem ama o surf sinceramente sabe do que falo, pois não se limita apenas aos exemplos acima, amar o surf é senti-lo completa e sinceramente dentro de si. Sem máscaras, estereótipos ou qualquer modelo de surfista que foi inventado por aí, não há o certo ou o errado. Existem surfistas ricos, pobres, médicos, estudantes, desempregados e empresários. Não há regra, o surf é um esporte sem lei, democrático e que apenas impõe, como qualquer um, a limitação de rejeitar aqueles que não se aproximam de coração aberto, com o sentimento a flor da pele e com a BOA fé. Porque como qualquer pessoa, de MÁ fé? Até o surf já está farto.



Peter Pan ao contrário


Toda criança, menos uma, cresce. Adriano descobriu isso quando recebeu sua primeira proposta para ganhar um dinheiro através do surfe ─ tinha acabado de completar 10 anos. "Por que você não se desenvolve e ganha o tão sonhado título mundial para o Brasil?", imagino eu, pensando no seu novo empresário na época.

Alguns anos depois, na Austrália, Sean Doherty, narrava assustado a bateria da terceira fase, entre a grande esperança australiana, Josh Kerr e o atual campeão mundial junior, Adriano de Souza, a verdadeira final do campeonato de juniors em North Narrabeen, descrevia-o. Parko, Occy, Taj e Luke Egan torciam desesperadamente por uma vitória australiana, enquanto Mineiro abria a disputa com um aéreo muito alto, duas vezes a altura da onda e quase o completa.

Kerr já tinha uma equipe montada em cima do seu arsenal de manobras impressionantes. Não era publicado um único exemplar sequer de revista de surfe sem uma foto de um aéreo do Josh Kerr em 2004 e Mineiro parecia querer dar o seguinte recado ao mundo: "Vocês acham que ele é o cara dos aéreos? Vejam isso..." De Souza atropelou Kerr ─ o recado foi mandado.

Não foi a primeira vez que Adriano era o melhor surfista do campeonato e não levantava o caneco. Foi assim também em 2002, com incríveis 15 anos, quando destruiu todos os adversários em Durban, na África do Sul, no extinto formato do Mundial amador.

Toda criança cresce. Campeão paulista iniciante e estreante aos 12; mirim e brasileiro aos 13 e 14; mais jovem surfista a vencer uma etapa do circuito brasileiro e profissional, aos 15*; mais jovem a classificar-se para o Super Surf, aos 16; surrou sem pena, em casa, o australiano Shaun Cansdell para tornar-se campeão mundial junior antes de completar 17; campeão do WQS com um abismo de pontos do segundo colocado, aos 18. Sétimo do mundo na maioridade.

Ao contrário de Peter Pan, Mineirinho fez o caminho inverso, acelerou sua maturidade e abandonou a infância mais cedo que todo mundo para poder ganhar o planeta. Logo cedo, abandonou seu patrocinador de longa data, Hang Loose e acertou um contrato com a Oakley, um ato de coragem e pouca afeição.

Suas conquistas e o peso de cada uma delas. Desde garoto, a imprensa cisma de jogar no Mineiro a responsabilidade de carregar toda essa expectativa de um país em suas costas. Uma maldade sem tamanho que fazem com ele desde que levantou o primeiro campeonato. Mineiro não carrega nada nas costas, a não ser uma enorme força de vencer a qualquer custo.

Em 2006, depois de arrancar um estupendo terceiro lugar na primeira etapa do Tour na Gold Coast, Slater previu que Mineiro venceria uma etapa ainda na sua primeira temporada. Não conseguiu. Mas em 2009, Mineiro já foi capaz de chegar em duas finais, contra um Parko imbatível em Bells Beach, e contra o próprio Slater em Imbituba.

Acabara de completar 22 anos, há tanto por fazer ainda que qualquer previsão pode ir para o brejo. Mas uma coisa é fato, Adriano de Souza deixou de ser promessa faz tempo. Enquanto Dane Reynolds e Jordy Smith chegam ao WCT cheios de câmeras e holofotes, Mineiro já é um veterano e seus objetivos são de tamanhos variados. Jordy e Dane, já chegam com um surfe pronto para o título mundial, mas pecam pelo que Adriano tem de sobra: garra.

Mineirinho ainda tem muito tempo para corrigir seus defeitos e mais cedo ou mais tarde, conseguirá conquistar todos os seus objetivos e realizar seus sonhos.



* Neco Padaratz em São Chico e Silveira ou Peterson em Caiobá ambos com 13 anos, venceram etapas de estadual pró.

E mais um pouco

OBS.: Não venho através deste relatar exatamente round por round ou bateria por bateria. Na verdade talvez seja apenas a síntese do simples e feliz relato de uma garota de apenas 17 anos que o mais próximo que esteve do sonho WCT foi quando mais nova resmungava dentro de casa no sul da ilha de Floripa, o fato de não poder ir sozinha assistir a etapa que rolava no leste da ilha, na Praia da Joaquina. E agora depois de anos esteve na Praia da Vila e o que já parecia ser um sonho realizado, surpreendeu-a ainda mais quando seu jeito comunicativo ou até mesmo sua beleza, proporcionou-a um inusitado acesso a uma parte privilegiada para fotografia na qual também é apaixonada, mas principalmente contato com todos os seus ídolos destes seus poucos mais intensos quatro anos de surf.


1. A mudança: Muito embora todos os anos o comentário geral seja de uma possível transferência da etapa brasileira realizada na Praia da Vila em Imbituba - SC para outro pico do nosso litoral, a verdadeira transferência foi muito mais delicada e aparentemente sutil, para os mais atentos totalmente propícia: a transferência foi no calendário. O tour mudaria de estação, de ares, geral atrás de gorros, as meninas sem biquínis e o fim das chances de se decidir o título mundial em terras canarinhas como em outros anos. Mas nada que faça surfistas, admiradores do esporte, enfim, os de bom senso, trocarem a época em que as principais ondulações chegam ao sul do Brasil.

2. As promessas: Tantas mudanças remetem a promessas e como mudanças buscam sempre o melhor, as promessas e suas expectativas pareciam maiores ainda. E de promessas estávamos cheios: eram os grandes swells de inverno, era um bom público devido à época de férias, era a vinda dos grandes competidores. Sem dúvida, possibilidades de encher os olhos de qualquer um e que só seriam realmente confirmadas se não na abertura da etapa, apenas alguns poucos dias antes, valendo lembrar que a data e o local já estavam confirmados e entusiasmando todos até um ano antes. Enfim, era fato, por muitos foi dito "a promessa é de que esta seja a melhor etapa do tour já realizada no Brasil".

3. O sonho: a promessa virando realidade e mais um pouco.


Misture 1, 2 e 3. Agora escolha uma cidade pequena, simpática e organizada com uma praia paradisíaca, de ótimo astral, mar aberto emoldurado por morros, ilhas tão próximas e estrategicamente posicionadas como um capricho da natureza para encantar nossos olhos e claro, ondas, altas ondas. Tempere com Burrows, Slaters, de Souzas, Hobgoods, Fannings... Complemente com cut backs, floaters, batidas e aéreos (só ficaram faltando os tubos). Acrescente um bom público, atencioso e animado. Um marketing, algumas propagandas. Concursos bobos de beleza para não perder o costume. Adicione emoções extras, algumas surpresas. Não se esqueça de uma estrutura consistente e organização. Coloque tudo de baixo de um dia nem tão frio, maravilhoso, ensolarado e sem vento. Curta bastante e entre no astral: foi essa a receita e o clima do WCT Brasil 2009.

O campeonato que deu a largada já no primeiro dia da janela só aconteceu em seu primeiro sábado e domingo, por três dias esteve parado, para voltar com tudo no dia 2 de julho, inaugurando bem o início do mês e as férias de muitos que estavam presentes. Em todos os dias do evento as ondas embora não muito grandes estiveram constantes, a Praia da Vila recebeu um swell no primeiro dia que prolongou-se até o domingo e que teve sua formação prejudicada devido ao vento forte, para o retorno dos surfistas às águas da Vila ocorreu na quinta-feira outro swell que se estendeu por todo o dia seguinte, encerrando o campeonato. Nos primeiros dias ocorreram todas as baterias iniciais bem como as repescagens. Algumas surpresas que já não têm sido tão surpreendentes como a perda de Kelly Slater logo no início do campeonato encaminhando-o para a repescagem, vencida em cima do brasileiro Bernardo Miranda. Mineirinho, mesmo também tendo ido para repescagem recuperou-se e também se encaminhou.

Após boas baterias o campeonato estava se encaminhando e afunilando não apenas os primeiros colocados do tour bem como surfistas imponentes como Slater e Bede Durbidge. A torcida brasileira ia loucura a cada bateria vencida por Mineiro que tanto quanto o público se entusiasmava e por muitas vezes após suas ondas ao chegar no inside comemorava forte e chamava a torcida para cima. Mesmo tendo enfrentado pedreiras como o atual líder do tour Joel Parkinson, Mineirinho não decepcionou e no quintal de casa chegou à final, a segunda de sua carreira e a primeira na frente de seu país. Paralelo a toda essa emoção patriota, estava Slater que mesmo não sendo brasileiro levantava o público sim, ver o nove vezes campeão mundial mandar um floater de nove metros em sua prancha teste (Slater tem feito testes no tour com novas pranchas) só poderia mesmo animar qualquer um que admira uma onda bem surfada e no quintal de casa ou não, era ele quem enfrentaria Mineirinho na final, levando todos a uma expectativa maior ainda.

Enfim, a final. Um pequeno intervalo de 15 minutos e lá estavam eles. O comentário era geral e inevitável "a final dos sonhos". A consagração de Mineirinho ou o ressurgimento da lenda viva Slater. A expectativa não era grande, era enorme. Ao vê-los entrando no mar através do canal ao lado da Ilha Santana de Dentro todos pararam. Tenho certeza, muito pensaram: pra quem torcer? Reconhecia-se e respeitava-se Slater, entretanto, o lado patriota bateu e a praia inteira manifestava-se a favor de Mineiro, se vencesse, Slater ganharia pela quadragésima primeira vez uma etapa do tour e Mineirinho pela primeira. Tão jovem, dedicado, grande esperança do surf brasileiro e em casa? A festa tinha de ser verde e amarela. E não foi, mesmo após levantar todos com seu high score de 8 pontos, tendo liderado por um bom tempo e já comemorado muito durante a bateria, quem realmente comeu quieto ao estilo mineiro e levou a taça foi Slater.

Slater pegou uma onda e logo atrás Mineirinho dropou também, entretanto, desta vez, ao contrário de todas as outras ondas de Mineiro o público se calou, Slater tinha acabado de fazer uma onda quase perfeita e todos já haviam sentido isso, a nota? 9.27. Seguida de um 8.67 e da necessidade de Mineirinho tirar 9.94 para superá-lo. Aos minutos finais todos sabiam que seria difícil, no entanto, não abandonaram Mineirinho. Na festa do pódio, os dois foram ovacionados e de mãos dadas e braços erguidos, a lenda gringa e a esperança nacional reconheceram o público e seu poder contagiante, agradeceram a todos, agradeceram um ao outro e tenho certeza, agradeceram como devem agradecer todos os dias a energia que o surf proporciona a eles e a toda essa comunidade que como já dizia o velho bordão não vê o surf como esporte e sim, um estilo de vida, fazendo as promessas de dias melhores virarem realidade e mais um pouco.



Hang Loose Santa Catarina Pro


Numa decisão histórica, o norte-americano Kelly Slater derrotou o brasileiro Adriano de Souza para vencer o Hang Loose Pro, etapa do World Tour disputada na praia da Vila, Imbituba (SC).

Na final, Slater somou notas 9.27 e 8.67 nas duas últimas ondas, contra 6.67 e 8.00 de Adriano.

A vitória rende US$ 40 mil ao norte-americano, bem como 1200 pontos no ranking mundial.

É a segunda vez que Slater vence a etapa em Imbituba. A primeira foi em 2003, quando derrotou o australiano Mick Fanning na decisão.

Desta vez, o norte-americano teve de encarar uma forte torcida para subir ao topo do pódio no Brasil. Como se estivesse num estádio de futebol, o público fazia um barulho ensurdecedor a cada onda surfada na praia da Vila.

Pela primeira vez na história, Slater encarou um brasileiro numa decisão de etapa brasileira. O fenômeno do surf mundial teve muito trabalho para deter Adriano de Souza, que tentava sua primeira vitória sobre o norte-americano.

Yan Daberkow


Alemãozinho, é assim que Yan Daberkow, local de São Francisco do Sul (SC), é conhecido. Pela pinta do garoto já dava para sacar que seria surfista. Começou a pegar onda de verdade aos cinco anos. Hoje, com 13, conta com uma bagagem de peso para a sua idade. Já desfrutou de lugares como: Fernando de Noronha, Costa Rica, Peru, Equador e Hawaii. Ainda na escola, Yan divide seu tempo entre os estudos e os treinos. Quando não está na escola é fácil encontrá-lo na Prainha, que considera seu quintal de casa. O moleque mostrou-se atirado na última temporada havaiana. Pipeline não é para qualquer um, ainda mais para uma criança. Yan não se intimidou. Foi lá, surfou o que tinha que surfar e voltou para o Brasil com a cabeça feita. Mas também considera Pipe a onda que mais o amedrontou.

Já teve resultados expressivos como o primeiro lugar no Billabong Surfgames e no AFS, e terceiro lugar no Rip Curl Grom Search. Ainda é novo, tem muito tubo e aéreo para pegar (considera suas manobras prediletas), por isso não é à toa que está aqui como uma promessa do futuro surf brasileiro.

Como já esteve no Hawaii, lugar imprescindível para qualquer atleta que quer viver do surf, o garoto agora sonha ainda mais alto: Indonésia, nos tubos perfeitos das Mentawai. Com apenas 13 anos Yan também já se enfiou em roubada. "Eu estava na Costa Rica e fotos todos para uma praia secreta onde não tinha nada por lá e o carro encalhou e foi quase parar na água, pois o mar subiu. Depois todo mundo se juntou e empurramos o carro com muita força, aí acabou dando certo", disse Yan. Seu sonho? Não diferente da molecada, ser um Top WCT. Calmaê garoto! Ainda tem muito tempo para isso, precisa tomar muita vaca, vencer campeonatos, viajar e treinar bastante. Enquanto a hora certa não chega, continue se aventurando por ai.