Surfe nu


Mistura de vídeo de performance e documentário, Onte Track Mind, novo filme dos irmãos Malloy, apresenta grandes nomes e mitos das ondas falando da vida de surfista, sem evitar os temas mais polêmicos. Occy, Slater, Machado, Sunny, A. Irons, Rabbit, Fanning e cia. refletem sem medo a hipocrisia sobre a real das ondas. "Não há discussões aqui de como o surfe é feito de mágica e me conecta com a natureza, peixes etc", afirma o diretor Chris Malloy. Filmado em picos clássicos do México, Indonésia, Austrália e Califórnia, o show da modernidade e/ou estilo fica por conta de Jordy Smith, Kolohoe Andino, Fanning, Dane Reynolds, Joel Parkinson e os mitos Slater, Sunny Garcia, Occy, Rabbit, Curren, etc. Bacana também a trilha sonora e a abertura do filme ─ que já vale o ingresso. Mas talvez o grande valor do filme seja a façanha de ser tanto um filme para instigar a surfar como para ficar na boa em frente do sofá pensando e digerindo no que falam as feras entrevistadas. DVD à venda em woodshedfilms.com

Como evitar problemas no North Shore

→ Respeito garante respeito
O localismo existe, mas você consegue perceber quem são os locais, seja andando na rua, seja pelo jeito de agir ou falar. Ficar tranqüilo, ser simpático e respeitar as regras são dicas para garantir uma estadia sem problemas por lá. Não fale alto dentro ou fora da água, espere suas ondas pacientemente e, se possível, converse sempre em inglês. Se o Hawaii fosse no Brasil, seria muito pior. Lá a lei funciona e mantendo a calma tudo acaba dando certo.

→ Entenda o mar antes de entrar
Não se deixe levar pela euforia, entrando na água com tudo. Analise bem o pico onde deseja surfar. Saber por onde entrar e por onde sair é fundamental. Veja onde estão quebrando as ondas e por onde outros surfistas estão entrando, saindo e onde é o canal. O tamanho das ondas podem variar com uma velocidade impressionante. Fique sempre ligado.

→ Saiba onde você está
No outside, ache um ponto de referência na areia. As correntezas são muito fortes e não é bom ser arrastado sem perceber. Isso lhe ajudará a se posicionar para pegar as melhores ondas.

→ Deixe a natureza te ajudar
Nunca lute contra a correnteza, isso será inútil. Se sua cordinha estourar, não nade para o canal, onde fica quase impossível sair da água. Vá em direção à zona de impacto e tome uma onda na cabeça. Vai dar uma chacoalhada, mas naturalmente você será arrastado em direção à areia e chegará com maior facilidade à praia.

→ Escolha um lugar para ficar
O primeiro passo quando se planeja viajar para o Hawaii é escolher um lugar para ficar. Principalmente nas últimos cinco temporadas, tem ocorrido uma superlotação no North Shore. Definir o local ainda no Brasil é muito importante para evitar roubadas e um gasto duas ou três vezes maior com estadia. A melhor maneira de fazer isso é pegar contatos com amigos ou conhecidos que já estiveram por lá ou negociar pela internet com os proprietários. Quanto mais tempo você ficar, mais barato será.

→ Vá com o quiver certo
Saia com duas a três pranchas do Brasil, que vão funcionar bem em ondas de até 6 pés e garantem boa diversão em locais como Rocky Point, Off The Wall e outros picos alternativos. Mas para surfar as ondas mais pesadas como Pipeline e Waimea, onde você coloca sua cabeça em jogo, o melhor é comprar uma ou duas pranchas já no Hawaii. Os shapers de lá estão acustumados e sabem o que uma prancha precisa ter para ser usada nesses mares.

→ Não acredite em lendas
Todo mundo costuma falar que o North Shore é muito crowd, que as ondas são pesadas e muito difíceis por causa dos locais. Tudo isso é verdade, mas o Hawaii é um lugar alucinante. Se você vier com paz de espírito, muita disposição e paciência para esperar sua hora, com certeza surfará as ondas da vida. Vibe boa é sinônimo de bons resultados.

Obama e o surf



De imediato pode vir à mente diversas indagações a respeito, afinal, o que teria a ver a política da eleição do novo presidente americano com o universo livre do mundo do surf?

Talvez por uma infância vivida no Hawaii devido ao nascimento em Honolulu nos respondesse, porém, muito além disso, estão as prioridades e preocupações para com o meio ambiente. Esta sim pode ser considerada das maiores ligações da era Obama com surf. A partir do momento que uma autoridade desta importância resolve ter cuidados com o nosso meio, abrangente diretamente dos oceanos e indiretamente de todo o ecossistema, somos afetados sim.

“... não podemos consumir os recursos do mundo sem pensar nas consequências. Pois o mundo mudou, e devemos mudar com ele.”
Barack Hussein Obama

Surfistas e admiradores do surf sabem o quanto sua prática é igualitária e livre de segmentações. Todas as classes, cores e credos são bem vindos a viver da inesquecível experiência de dropar uma onda. Portanto, a quebra de barreiras na eleição de um presidente negro provaram enfim, que por mais distante que esse momento da história possa estar de praia, sol e ondas perfeitas, ele reflete a identidade e o respeito que os surfistas já conhecem a muito tempo, além de poder decidir o futuro de milhares de picos ao redor do globo.

Sessão Pipoca


Em 1987, Ricky Kaine, um surfista do Arizona, aterrisava no Hawaii para a temporada. Entre brigas, vacas, tubos e romance, ele deu o que falar na ilha, criando amigos e inimigos, no fim das contas o cara, que até então só avisa surfado em uma piscina de onda (ou seja: um prego), dá show em pipeline conquistando o respeito dos mais temidos locais e aprendendo o que é o surfe de alma. Tudo isso no curto tempo de suas férias dos estudos.

Se alguém acha que essa história pode ser real, precisa rever seus conceitos. Esta estória foi o enredo do filme surf no Havaí (North Shore), hoje em dia um clássico sessão da tarde. Gerry Lopez, Laird Hamilton, Mark Occylupo, Shaun Tomson e outros surfistas famosos, participaram das filmagens. Alguns encarnando personagens, como o cheio de marra Lance Burkhart, outros não, caso do Occy. Bem feito ou não, é impossível negar que o filme marcou uma geração de surfistas, merecendo até uma homenagem feita por Jamie O'Brien.

Elas quebram


Finalmente o surfe feminino brasileiro ganhou uma publicação exclusiva. A revista Ehlas faz um amplo panorama do surfe de competição e freesurf e dá belas dicas de trips (não só de surfe), saúde e dá espaço para outros esportes e atividades feitos na água, como bodyboarding, vela, mergulho, etc. Rolam também colunas e até um espaço da surfista dos quadrinhos, a Raica, criada pelo pessoal do Wavetoon. Feita e comandada por surfistas (Briggite Mayer, Roberta Borges e Claudinha Gonçalves), a Ehlas pode ser folheada na internet. De quebra, o site da revista traz um vídeo da mulherada arrebentando na pororoca e também uma palhinha do filme DA Oakley só das gatas quebrando nos esportes radicais, o Uniquely.

Fuga ao Norte Shore


→ Caribe:
Embora não seja um destino tão comum entre brasileiros, o Caribe possui ondas de qualidade. A ilha de Barbados, no extremo sudeste do arquipélago, é uma das mais consistentes e abriga vários picos com fundos de coral, pedra e areia. Graças à sua população, formada por africanos, europeus, indianos, árabes e judeus, o país é um verdadeiro mix cultural. O clima e a água são quentes, portanto, não esqueça de protetores solares, bonés e afins. Soup Bowl's, em Bathseba, é a grande vedete ─ uma direita pesada com seções de tubo que pode chegar a 10 pés. Outra boa opção é Puerto Rico, berço do surf caribenho. Conhecido como "o Hawaii do Atlântico", o país é um dos destinos preferidos dos norte-americanos durante o inverno. Nesta época, a costa norte é a mais consistente, graças às ondulações geradas no Atlântico norte, especialmente na região de Rincon, que abriga as famosas ondas de Domes e Três Palmas. As ondas variam entre 3 e 15 pés. O crowd pode ser agressivo, mas a oferta de picos é enorme e, de carro, é possível se deslocar com facilidade. O custo da viagem é acessível para os padrões brasileiros, mas não chega a ser uma trip barata.

→ Fernando de Noronha:
Quem disse que para pegar altas ondas durante o verão brasileiro é preciso sair do país? O apelido de "Hawaii brasileiro" não existe por mero acaso. Nas condições ideias (ondulações de norte), Noronha chega a lembrar o North Shore de Oahu, com a vantagem de estar em nosso quintal. Na alta temporada o custo não é baixo, mas certamente é menor do que ir para o Hawaii. O crowd também existe, mas é suportável, principalmente se as ondas bombarem. A onda mais famosa, Cacimba do Padre, segura ondulações de até 10 pés, que são comuns nessa época, e oferece tubos "à la Pipeline" sobre um fundo misto de areia e pedra. Logo ao lado, a Laje do Bode muitas vezes é comparada com Off The Wall. Já a bancada de pedra do Boldró produz direitas e esquerdas de até 6 pés, no estilo Rocky Point. Com sorte você pode ainda surfar as raras esquerdas do Abras ou da praia do Porto. A partir do meio de janeiro as bancadas costumam ter menos areia. o que favorece a formação das ondas. Se ficar flat, não deixe de fazer o tradicional mergulho de cilindro e, à noite, confira o forró na praia do Cachorro. Mas fique ligado com a taxa de preservação ambiental, que é cobrada diariamente e aumenta (em ritmo acelerado) conforme a extensão da sua estadia.

→ Norte da Califórnia:
A Califórnia oferece opções de ondas para todos os tamanhos de prancha. O norte do estado conta com um clima frio, beleza rústica, natureza praticamente intocada e altas ondas. O epicentro do esporte na região é Santa Cruz ─ uma cidade com uma vibração alternativa que respira surf. Repleta de surf shops, lojas de comida natural e berço de gerações de famílias com tradição nas ondas (e filhos prodígios como Peter Mel e Flea Virostko), Santa Cruz é um verdadeiro paraíso para quem curte um estilo de vida natural, próximo ao mar. "Northern California", como é também chamada a região, conta com diversos picos de fundo de areia, pedra e pointbreaks. No inverno, a água é muito gelada e pede uma roupa de 5mm (gorro, botas e luvas são aconselháveis para os mais friorentos). Mas é justamente nos meses mais frios que rolam mais ondas, que na maioria dos picos variam entre 3 e 10 pés. Mas existem opções para os mais atirados ─ basta lembrar de Maverick's. O frio e a constante presença de tubarões brancos garantem o crowd ameno. E não faltam opções: são mais de 500 picos conhecidos, entre eles Moss Landing, em Monterey; Salmon Creek, em Sonoma; Arcatas Harbour, em Humboldt Bay; e Steamer Lane, a principal onda de Santa Cruz. Se ficar flat, você pode dar um pulo até as montanhas e fazer um snowboard ─ ou treinar seus tricks nas centenas de pistas de skate espalhadas por todo canto. Ação não vai faltar.

→ Portugal:
Adoramos tirar um sarro de nossos irmãos lusos, mas acredite: as ondas de Portugal não são nenhuma piada. De beachbreaks a points, o país tem de tudo um pouco. Os picos mais famosos são Supertubos, em Peniche; Cochos e Ribeira D'Ilhas, em Ericeira; e Carcavelos e Guincho, em Lisboa. No inverno europeu, as ondas variam de 3 a 10 pés e não faltam picos de conseqüência para os mais atirados. O idioma não é problema, mas a água fria pode ser. Portanto, vá previnido com uma roupa de borracha de 4/3mm, pelo menos. Portugal vale a pena porque, além de altas ondas com o menor custo do continente europeu (o que, mesmo assim, ainda é caro para os parâmetros brasileiros), é um destino que combina surf com uma viagem cultural à terra de nossos colonizadores. São não convide aquele amigo mala que vive contando piadas de português ─ por alguma razão, elas não são tão populares por lá. Apesar da fama de bigodudas, as gatinhas lusitanas podem surpreender ─ em caso de emergência, a França e as lindas francesas ficam logo ali.

→ Norte do Peru:
Um dos destinos mais procurados da América do Sul, o Peru possui boas ondas durante praticamente o ano inteiro. No verão, a costa norte é a mais indicada, onde a abundância de esquerdas (em fundos de areia e pedra) faz a festa dos "goofies" com as ondulações de norte. O clima é quente e árido, mas sempre vale a pena levar roupa de borracha, pois as correntes frias podem deixar a água gelada. O tamanho das ondas varia de 3 a 8 pés. Os picos mais famosos, como Mâncora, Órganos e Cabo Blanco, ficam crowdeados. Mas existem alternativas à altura por perto, basta procurar. A região evoluiu muito em conforto e a histórica Machu Picchu pode ser incluída no roteiro. Se faltar onda, dá pra se arriscar no kitesurf ─ vento é o que não falta. Destino próximo e barato. Com a atual "batalha" entre empresas aéreas, as passagens estão cada vez mais acessíveis. Se a grana estiver curta mesmo, dá até pra ir de busão.

Big Rider na Casa Branca


Famosa feminista e crítica cultural, a americana Camille Paglia fez no site Salon.com uma original analogia esportiva sobre o novo presidente dos EUA. Em vez de falar do basquete, que Barack Hussein Obama pratica toda semana, ela vê no novo líder a calma e coragem sob pressão de um big rider: "Enquanto eu observo Obama subir nos palanques, movendo-se com graciosidade e domando as multidões, eu lembro não do basquete ─ suas fintas e trabalho embaixo da cesta ─ mas sim do surfe, a arte de seu povo local. Uma fotografia do presidente surfando com o peito em agosto foi muito divulgada. Mas estou falando de big surf, de coisas como o que faz esse homem que desafia a morte chamado Laird Hamilton. A habilidade de Obama para ficar de pé e encarar as ondas enormes mais ameaçadoras fazem-no representar o espírito iluminado dos grandes surfistas do país."

A verdade sobre o bodyboarding

Sou contra qualquer tipo de preconceito. Estamos em pleno século XXI e não existe nada mais lamentável do que a discriminação. Tudo bem que já avançamos muito nesse campo, uma vez que mulheres, negros e gays vivem hoje em situação bem mais confortável do que décadas atrás. Mas tem uma coisinha que continua me incomodando, e muito. Ora, pelo nosso histórico de vida, nós surfistas deveríamos ser liberais na essência e nas ações, mas não é isso o que acontece.

Vamos ser sinceros. Qual de vocês nunca presenciou um comentário maldoso para com um irmão bodyboarder? Quantos de vocês não desejaram que os praticantes desse esporte deitado simplesmente não existisse? Quem não passou horas inventando nomes pejorativos como esponja, tampa de privada, aleijado, pagador de promessas, bolebole, e tantos outros que não convém registrar? Pois bem, chegou a hora de assumir essa faceta desprezível da nossa tribo. A hora da verdade. Somos preconceituosos, somos segregacionistas, somos xenófobos. Somos uns seres primitivos, em suma.

E basta olhar em volta. Quantos amigos praticantes desse esporte você tem? É triste, mas surfista anda com surfista e bodyboarder anda com bodyboarder. Não nos misturamos. Isso é ridículo.

E precisa acabar. Somos todos livres para escolher nossos caminhos e ninguém tem nada a ver com isso. Se surfar deitado numa prancha de espuma colorida faz o cara feliz, o problema é dele. Só dele. Ninguém tem de se meter nem ficar falando que o esporte dos bodyboarders deveria ser praticado só pelas meninas, que elas ficam uma graça batendo o pesinho no outside, mas que não pega bem pros marmanjos. Esse pensamento machista é ridículo. Eu já penso o contrário e os acho muito corajosos. Eles podiam ter escolhido surfar em pé, como todo mundo, mas não, optaram pelo caminho mais difícil, que certamente seria mais discriminado. Escolheram descer deitado. E estão pouco se lixando para a zombaria, para as piadinhas preconceituosas. É por isso que eu admiro esses caras.

E daí que a prancha de bodyboarding é bem mais barata? e daí que é bem mais fácil de aprender a praticar? E daí que basta descer reto na espuma e não precisa nem ficar de pé? Cada um gosta do que gosta. E veja o caso dos nossos patrícios portugueses, onde a grande maioria dos caras surfa deitado de bodyboarding e as meninas de pé numa prancha de surf. Isso com certeza deve ser um sinal de avanço, uma vez que Portugal fica na Europa e eles são muito mais educados do que nós, selvagens brasileiros.

Arrisco dizer que essa atitude pequena da comunidade do surf em não aceitar os bodyboarders não passa de um localismo disfarçado. Nós surfistas temos de entender que os direitos são os mesmos, pouco importa se chegamos primeiro. Por isso, trate de segurar o bico quando o seu instinto de surfista bitolado lhe disser para atropelar o cara que vem deitado. Não, ele não vem se arrastando, deixe de ser preconceituoso. Aceite o simples fato de que o que ele está fazendo é surf. Ele está surfando, assim como você. Respire fundo. Respeite as diferenças.

Nesses anos de surf, quantas não foram as vezes em que me vi sentado no outside ao lado de um bodyboarder. E quantas não foram as vezes em que me vi quase perguntando "por quê"? Por que deitado? Por que meio em pé e meio ajoelhado? E essas voltinhas? Que manobra é essa? Mas graças aos céus me contive, e sozinho entendi que mesmo que o bodyboarding não existisse, outra coisa estaria em seu lugar. Graças a dividir o line up com os praticantes dessa outra modalidade de esporte, fui obrigado a me dominar, fiquei mais racional e menos bicho. Me elevei. É isso. Os bodyboarders obrigam a nós, surfistas, ser pessoas melhores. Toda vez que um cara passa deitado e a galera do surf não rabeia, eu tenho mais fé na humanidade. É sinal de que estamos evoluindo. Por isso, faça um amigo body hoje. Fala oi para o cara. Libere uma onda. Convide-o para uma cerveja. Quem sabe ele não tem uma irmã maneira?

Trilhas sonoras

Surfe e música são duas coisas intimamente relacionadas. Algumas pessoas classificam até um gênero musical voltado para o nosso esporte, a surf music. Mas o que seria esse gênero? Alguns dizem que o ínicio começou na década de 60, na Califórnia, com grupos como Beach Boys e The Surfaris. Muitos músicos famosos e influentes dos anos 60/70 tiveram passagens por bandas de "surf music" como Frank Zappa. Por conta da british invasion e da psicodelia do fim dos anos 60, o estilo acabou caindo um pouco no ostracismo durante os anos 70. Com o surgimento do movimento punk e o resgate do tipo de som que era feito nos anos 50/60 em contraste com o rock progressivo, o surfe voltou a ser valorizado. Bandas como Jon and The Nightriders, Agent Orange e Surf Punks surgiram nessa época. Algumas com influências maiores de surf music tradicional e outras misturando tudo com punk e o hardcore californiano. Nos anos 90 surgiu um novo boom da música. Bandas misturavam surf music com influências de punk rock que começaram a fazer sucesso no nosso meio por integrarem as trilhas sonoras dos vídeos do então desconhecido californiano Taylor Steele. Algumas com influências de heavy metal, outras com um som mais trabalhado e progressivo e aquelas que ainda se mantinham no estilo mais fiel ao tradicional. Na minha opinição a tal surf music não tem bandas certas e nem é um gênero definido. É simplesmente o tipo de música que nós, surfista, escutamos. Nosso gosto está se tornando cada vez mais diversificado, sendo simplesmente impossível classificar gênero "surf music" atualmente com características definidas. Mas com o surgimento dos vídeos de surfe, suas respectivas trilhas sonoras nos apontam um caminho a seguir hoje em dias, isso vai de Jack Johnson passando por Muse e até Flipside. Uma coisa é certa, uma boa trilha sonora é tão importante quanto as próprias imagens de um filme para o seu sucesso.

Litoral paulista protegido?

O governador de São Paulo, José Serra, criou três Áreas de Proteção Ambiental (APAs) no litoral paulista, que vão de Ubatuba a Cananéia, num total de 1.124 milhão de hectares. Dentro da área das APAs, o governo tem agora poder para proibir a pesca predatória, combater a poluição dos barcos, regular o uso de jet skis, disciplinar e até negar permissão para a construção de casas em ilhas da região. O governo promete novas normas para a construção civil, o turismo e outras atividades econômicas. Sobre as ilhas, foi criado o Mosaico das Ilhas, visando restringir o acesso a esses locais, como se faz em Fernando de Noronha. As medidas são louváveis, mas haverá uma fiscalização eficiente?

Por outro lado, como bem alertou em editorial o Jornal da Tarde, além das APAs, o governo deveria combater o grave problema de saneamento precário (esgoto e lixo) do litoral paulista, causado pela intensa atividade econômica, aumento da população e favelas, derrubada da mata atlântica e aterramento dos mangues. "O índice de coleta e tratamento de esgoto é muito baixo, não vai além de 30%... a maior parte do esgoto é jogado in natura, em rios e córregos e vai acabar nas praias. Quem pega onda sabe onde vai parar essa porcaria toda...". A boa notícia é que estão previstos R$ 1.47 bilhões para a execução de várias obras na Baixada Santista, além de um emissário submarino em Ilhabela e saneamento de 85% do litoral norte.

Surfe contra abuso juvenil



"Catching waves, changing lives" [Pegando ondas, mudando vidas] é o lema da The Surfer Spirit, ONG havaiana de Honolulu que procura recuperar adolescentes vítimas de abuso e outras formas de violência. Instrutores de surfe, terapeutas e membros da Surfrider Foundation cuidam das crianças na água, com aulas de surfe, e na areia, com conversas em círculo. O objetivo do programa "Spirit Sessions" é compartilhas a terapia das experiências no oceano e também reaprender a viver longe da violência, redirecionando as energias de forma positiva. Ótima idéia para cuidar também das crianças que sofrem todo tipo de brutalidade no litoral brasileiro. Alguém se habilita?

Para ver melhor a proposta da ONG, entrem no site e dêem uma olhada no preview do livro deles, com mensagens e fotos valiosas do surfe para uma vida melhor.

O homem que mudou o surfe brasileiro

"Surfar é um modo de vida, é também interação com outras pessoas, com os costumes, com a história. Você pode tocar um mesmo acorde de cem maneiras diferentes, mas isso não é tocar uma peça musical. O desafio é tocar a música toda, que não está só na água" [Peter Troy, na Folha de S. Paulo. 2002].

29 de setembro marcou a última onda do australiano Peter Troy, 59 anos, que não resistiu a um coágulo de sangue no pulmão. Viajante incansável, ele surfou em mais de 130 países, como no Brasil de 1964. Em pleno ano do golpe militar, Troy fez a revolução no surfe brasileiro ao aterrisar no Arpoador, vindo da Amazônia e Peru. Num cenário dominado pelas pesadas madeirites, o aussie chocou os cariocas mostrando o que acontecia ao surfar com uma prancha muito mais leve, de fibra de vidro: manobras, muitas manobras. Troy pegou uma prancha de fibra emprestada do filho do embaixador francês no Rio, que não sabia usá-la. "As pessoas surfavam usando pés-de-pato. Entrei na água sem pé-de-pato e levei a prancha até o lado da pedra. Dessa forma, ganhei velocidade e comecei a manobrá-la e fazer coisas que os garotos do Brasil nunca tinham visto", afirmou à Folha de S. Paulo em 2002.

Ele ainda mandou vir da Austrália os primeiros outlines que serviram de base para a produção das primeiras boas pranchas de fibra no Brasil. Graças a Troy começou assim o surfe brasileiro moderno.

Além da revolução brasileira, Troy foi um lendário descobridor de picos perfeitos, como as direitas de Nias, Indonésia, em 1975; um dos primeiros a surfar a onda mítica australiana, Bells e cruzou o mundo pegando carona, não só para surfar (adorava todo tipo de ambiente natural e conhecer gente). "Antes de morrer ele planejava uma viagem à Antártica", revelou seu amigo, Phill Jarrat.

Além de grande explorador, Peter Troy foi, sobretudo, um mestre em viver. Mais que revelar picos de sonho e elevar a performance e arte no surfe, ele acrescentou algo muito mais elevado ao mundo das ondas.