O SOM DOS VÍDEOS

Um grande poder dos filmes de surf é o de por na roda sons que vão ficar na sua mente e ampliar os nossos horizontes musicais, até educando os iniciados. A escolha da trilha sonora conduz o filme por diversos climas e sempre causa em nós reações fortes ─ introspectivas ou de adrenalina. Acompanhei 5 filmes que me causaram efeitos colaterais bem variados, comento alguns aqui.



STRANGER THAN FICTION ─ DE TAYLOR STEELE
Só pelas primeiras 6 músicas, já valeria o CD, se este existisse. Justice, Digitalism, Trouble Andrew, Cut Copy e Teddybears: essas músicas resumem o que é o som eletrônico e o rock dos anos 2000. Guitarras, sintetizadores distorcidos, elementos e vocais com pinceladas retrô (algo de Depeche Mode, Kraftwerk, Daft Punk). Trouble Andrew já faz um eletro-punk / punk-eletro, na porrada “Bang bang”. Cut Copy traz um baixo forte, com um vocal dark e um gancho marcante no refrão. A cereja no bolo é o Teddybears com participação do Iggy Pop, impossível o refrão: “Coz I’m a Punk Rocker, yes I am” não te adrenar. A prata da casa CSS não faz feio com “Rat is Dead”, vocal da Lovefoxx despreocupadamente sensual e riff de guitarra que gruda legal. A atriz Juliette Lewis chega junto mixada pelo MSTRKRFT, bem power! The Futureheads lembra Bloc Party, mas sem dublagem. E o Les Savy Fav não tira o pé do acelerador e vai bem acompanhado de guitarras. O melhor do filme é que não tem blá blá blá. É som sem parar. Ufa!


ARCHY ─ BUILT FOR A SPEED, BORN TO RIDE ─ DE ALEX WILSON
Ao saber que o filme era narrado por ninguém menos que Henry Rollins (vocal da lendária Black Fag e da Rollins Band) já sabia que a soundtrack não seria fraca. Grandes clássicos do rock e do blues, beirando o selvagem, assim como o protagonista do filme, Matt Archbold. Têm Social Distortion, Rolling Stones (do tempo que eles representavam perigo), The Kinks, Charlie Rich e David Bowie. Elmore James faz miséria com seu blues rock e sua guitarra sacana e a balada nó na garganta de Colin James Hay. The Avett Brothers mandam um country nervoso. Básico, cru e direto, as origens do rock e suas bases.


A FLY IN THE CHAMPAGNE ─ DE IRONS BROS PRODUCTION
O filme que conta a saga Slater × Irons tem uma trilha sonora que resumidamente se divide em 3 partes:
· Rock na veia Placebo que já é recorrente em filmes e sempre cai bem. The Heartaches ─ básico, naipe rock inglês dos anos 00. Sparta que já ouvi em outros filmes e é sempre gritado e bota pilha. Destroy the Runner quase new metal.
· Baladas Years Around the Sun, Hybrid, Air, Sea Wolf, A Blue Sun e Rogue Wave & Interpol ─ algumas com toques eletrônicos, folk ou rock.
· Eletro/rock Unkle (com 3 sons) e Modest Mouse.
O ruim é que o filme é muito falado, dando não muito espaço para os sons.


QUINTAL DE CASA ─ DE RAFAEL MELLIN
O filme com som mais regional, bem brasileiro e disposto a arriscar, experimental mesmo, o que acabou dando muito certo. Parece muitas vezes uma Pífanos de Caruaru pra rave: Botecoeletro, Batucaje, Mombojó e Marcelinho da Lua seguem esse sabor nacional. Depois tem Marcelo D2 com um partido alto casca grossa com letra bem pra cima. Sonic Junior do Brasa manda um rock eletrônico bem astral também, bem climático. Ainda tem hardcore com Millencolin e Mxpx.

Som diferenciado, só pela coragem e experimentalismo vale a pena.


SIMPLES OLHAR ─ DE PABLO AGUIAR
Esse trabalho também prezou pela coragem e experimentalismo, com o diferencial que a trilha na maioria foi feita especialmente para o filme.

O brasileiro John Player Special manda um instrumental muito relax, criando um clima de surf introspectivo, algo que soa uma fusão entre Sublime e John Frusciante. O Mindflow manda um rock pesado, progressivo que dá o destaque no surf mais agressivo no vídeo, assim como o Ancestral que manda uma ópera rock nervosa. Mais um que acertou ao arriscar.



Veja os filmes e destrinche as trilhas sonoras, fonte inesgotável de novidades antigas ou novas!

SURF NA BAVIERA

O Jardim Inglês ou "Englischer Garten" é o maior parque urbano do planeta. Fica em Munique, capital da Baviera, no sul da Alemanha. O equivalente ao Central Park de Nova York ou o Ibirapuera de São Paulo, existe desde 1789 e, de uns dez anos pra cá, abriga uma nova tribo à sombra de suas árvores: os surfistas! Mas Munique não fica no meio da Alemanha, distante algumas centenas de quilômetros do mar mais próximo?

Isto não é problema. O parque é cortado por inúmeros canais e, um em especial, o "Eisbach" ou Canal de Gelo, se forma depois do inverno com o degelo das montanhas, apresentando forte correnteza.

Stephan, 25, surfista há sete anos, que costuma surfar em Portugal e na França, contou que durante o inverno, quando o canal seca, eles aproveitam para amarrar troncos no fundo para formar uma barreira artificial que dará uma forma de onda à forte corrente.

Esta barreira é trocada anualmente. O canal tem uns dez metros de largura e as margens são de pedra. Os surfistas entram na "onda" de três maneiras: sentando na margem do canal, com os pés na prancha, inclinam o corpo para frente e saem surfando; também sentados na margem, seguram a prancha e saem deitados, como num drop normal e depois levantam; ou, os mais habilidosos, pulam direto sobre a prancha saindo já na posição de pé.

A disciplina germânica é uma característica que se observa até no surf local. Formam-se filas de cada lado do canal, respeitando-se a ordem de chegada, ninguém fica mais de três minutos na onda e todos têm sua vez: locais, turistas, jovens, adultos, iniciantes, iniciados, homens e mulheres.

O "Eisbach" fica no limite norte do Parque Inglês, próximo ao centro antigo de Munique, à beira da Avenida Prinzregenten, entre a Casa de Arte ou "Haus der Kunst" e o Museu Nacional da Baviera.

Malik Joyeux ─ O taitiano feliz

Como a vida poderia ser melhor? Se esta pergunta fosse feita para o jovem taitiano de 25 anos de idade Malik Joyeux, ficaria sem resposta. Destemido, talentoso e, ao mesmo tempo, humilde, Malik não era o tipo do cara que ficava se gabando de seus feitos nas ondas, ainda que estes fossem absolutamente extraordinários. Suas performances de tow-in em Teahupoo, na companhia de seu parceiro Manoa Drollet, onde eram considerados a melhor dupla, marcaram para sempre a história do pico e conquistaram para os dois a admiração de surfistas do mundo inteiro. Em filmagens que rodaram o planeta, era possível comprovar o quanto Malik podia resistir às vacas mais cabulosas imagináveis, para depois voltar ao outside disposto a colocar sua vida em jogo novamente, como se estivesse apenas dando um passeio no parque. A impressão para quem assistia àquelas cenas é de que o diminuto surfista, de aparência frágil, especialmente diante da magnitude aterradora dos lips turbinados passando sobre sua cabeça, deveria estar sendo protegido por alguma força oculta para poder sobreviver a tanta punição nas entranhas de Teahupoo. Impressão esta que, para tristeza geral da comunidade global de surfistas, seria comprovada como falsa em 2 de dezembro surfando ondas que pareciam verdadeiras marolas comparadas às que ele estava acostumado a enfrentar no Tahiti. Naquele dia descobriu-se que Malik era um mortal como qualquer outro, sujeito a se afogar durante um caldo, que nem pareceu tão violento. Realmente o mar não passava de oito pés, mas como testemunhou seu parceiro Manoa, que se encontrava a poucos metros dele no momento do incidente, Malik não conseguiu respirar antes de ser atingido pelo lip da onda seguinte e desapareceu para ser encontrado apenas longos nove minutos depois, já sem vida. Joyeux significa feliz em francês, e nas palavras de Manoa, não poderia haver nome mais adequado para Malik. O consolo que fica é que ele viveu feliz.

Batizando Bananas Point

Isso tudo foi lá por meados da década de 70.


Costumávamos sair bem cedinho do Guarujá, madrugada mesmo, para surfar “nas Praias”. “As Praias” eram todas as praias compreendidas entre Bertioga e Maresias. Atravessávamos o canal de Bertioga pela balsa e de lá pra frente íamos pela praia mesmo, já que até Boracéia não havia estrada, nem de terra. Só havia estradas de terra em trechinhos que passavam por detrás dos morros que separavam as praias. Portanto, na ansiedade por ondas, era lenha forte nas praias, na água rasa do mar e varando riachos sem aliviar o pé. Turma descabelada, farra, gargalhada, rock tocando ─ especialmente o Led Zeppelin; e o papo era onda ou mulher, nada mais interessava. Nenhum banhista perdido pra atropelar. Os carros, de tanta ferrugem, não duravam mais que dois anos, sendo que a partir do primeiro já era necessária a vacina contra tétano pra entrar nos coitados.

O primeiro point a ser checado era o canto esquerdo de São Lourenço. Caso ali não estivesse bom, tocávamos para o canto direito de Itaguaré. Lindo canto, em que se vê as ondas de lado e é fácil varar até o pico. Direita longa. O vento sul, que mela as outras praias, lá pega meio contra.

Nesse dia de outono de 1976 o mar estava grande, grandaço ─ mar que hoje costumam entrar de tow-in ─ e fomos direto para a Baleia, que então era o único caminho para acessarmos Camburi. Nessa barca estavam dois carros: o meu Fuscão e a Brasília do meu irmão Bernardo. Junto conosco estavam o Caio Meleca, o Xuxa, o Dado e mais uns amigos que agora, infelizmente, não me recordo quem.

Nada de conseguirmos varar a Baleia, pois estava realmente enorme e fechando. Seria uma luta danada pra no fim só levar onda na cabeça. Voltamos pros carros e fomos pra Camburi. Tentamos pela correnteza do canto esquerdo, mas ninguém conseguiu varar, nem mesmo o Xuxa, que era ─ e ainda é ─ o melhor surfista entre nós. Estávamos mordidos. Um baita mar e nada de onda. Resolvemos olhar a Praia Preta e a caminho vimos o Bananas quebrando. (Nota: até então, esse point não era point e muito menos tinha nome).

Olhamos, olhamos. Eu tinha acabado de voltar de Punta Hermosa, no Peru, portanto, estava acostumado com pedras e nem aí com elas. O Xuxa era macaco velho e já havia surfado Hawaii, Bali e o caramba. O Caio não refugava nada. O meu irmão, se eu entrasse entrava também, e vice-versa. Resolvermos nos jogar e nos jogamos. Entramos pelas pedras no canto esquerdo, meio perto do pico. Era só esperar a série passar, pular na água e remar rápido enviesado pro fundo, indo pra direita pra escapar de tomar a série na cabeça. Eu estava com minha Tatto Gubbins 7 pés e 2, swallow, verdinha da cor do mar. Surfamos feito loucos aquelas esquerdonas meio gordas e pesadas ─ ótimas para dar um bottom-turn esticado de backside, lá longe no flat da onda, fazendo uma curvona fortaça de trincar as pernas, sentindo o abdômen duro, virando a cabeça para ver como está a onda e estudar para onde ir. Ondas perfeitas para a minha prancha peruana. O swell era de leste e sabíamos que a série vinha quando víamos quebrar ondas no canto esquerdo das Ilhas. Dali era só dar um certo tempo que as bichonas chegavam. Elas vinham como uma família de baleias, com poderosas boconas abertas para nos engolir. Cordinha? Leash? A minha eu deixara no Peru, pois não pretendia mais usá-la. Os outros não sei se usaram.

A prioridade da onda era de quem estivesse no pico há mais tempo. E assim surfamos e cansamos, abrimos o bico e saímos para descansar. Descobrimos no costão uma plantaçãozinha de bananas. Catamos uns cachos, comemos e relaxamos. Voltamos para o mar; menos o Caio Meleca, que ficou comendo bananas atrás de bananas, num fluxo contínuo goela abaixo, acocorado nas pedras feito um chimpanzé.

Surfamos, surfamos, e quando saímos do mar nos assustamos com a tremenda quantidade de cascas de banana ao redor do Caio. Ele, sozinho, havia comido um cacho inteiro e ressonava largado nas pedras quentes. Bermuda aberta na cintura, um urso de barriga estufada e cara de feliz, saciado. Alguns gritos na orelha bastaram para acorda-lo.

Dali voltamos para o Guarujá, e à noite, no centrinho, em frente ao cinema, comentando animados com os amigos sobre o novo pico que havíamos descoberto. Um de nós, não sei quem, chutou: “è o Bananas Point! É o pico das bananas!”

E assim ficou batizado o pico. Não foi por causa desse canto de pedras ser curvo, feito o formato de uma banana, nem nada, mas sim por aquele monte de bananas deliciosas que comemos e que graciosamente nos deram forças para surfar um baita mar.

Portanto, amigos, desejo-lhes boas ondas e bons mares no Bananas. Aquele pico nasceu bem nascido, tem boa alma, pois um bom grupo de amigos num bom dia, o batizou.

12 perguntas para... Felipe Cesarano

Você provavelmente já ouviu falar de Felipe Cesarano. Especialmente após a última temporada havaiana ─ onde o carioca atacou Waimea sem medo e dropou uma das maiores ondas já pegas por um brasileiro na remada. Mas mesmo antes do fatídico dia em The Bay, o carioca de 23 anos já construíra uma reputação de surfista destemido, quase inconseqüente. E apesar de sua atitude na água passar essa impressão ─ ele realmente se coloca em situações absurdamente extremas e perigosas ─ em terra, o “Gordo” é uma das figuras mais engraçadas, tranqüilas e descontraídas do surf brasileiro. Direto do Hawaii, uma entrevista divertida e reveladora com o cara que chamam de Gordo.



01. VOCÊ SURGIU NA MÍDIA COMO UM CARA QUE BOTA PRA BAIXO, MAS NUNCA DESTACOU-SE NAS COMPETIÇÕES. VOCÊ NÃO COMPETIA QUANDO ERA MOLEQUE?
Eu corri de Grommet até Junior. Mas no Junior eu já estava quase abandonando, comecei a viajar mais. Amadorzinho, já fui vice-campeão carioca duas vezes. Mas só ganhava campeonato em Niterói. Perdia tudo, mas em Niterói fui hexa-campeão.

02. VOCÊ SABIA DESDE MOLEQUE QUE QUERIA SER SURFISTA PROFISSIONAL?
Corria campeonato só para ter aquela camisa de competidor e andar de skate e tirar onda. Uns três anos atrás, quando eu fechei com a Rusty, comecei a levar mais a sério. Era aquele período de “ou faz faculdade, ou começa a ajudar em casa”. No ano limite de “ou entrar na faculdade, ou viver uma vida normal”, consegui ganhar um dinheirinho melhor e ajudar em casa.

03. VOCÊ NÃO ESTÁ CORRENDO O WQS INTEIRO. COMO VOCÊ VÊ SEU PAPEL NA RUSTY?
Pó, freesurf. O meu objetivo, na real, é pegar onda grande. Estou indo no que eu posso, na remada. Nunca peguei onda gigantesca, mas gosto de tubo. Então Pipeline eu pego, Teahupoo eu pego. Agora estou com Jet Ski junto com o (Pedro) Manga, então a gente está aprendendo. O meu objetivo é pegar um Teahupoo gigante. Se virar um mar que nem aquele do Shane Dorian, foda-se, a gente quer pegar, e vamo com tudo. É seguir o Fun, o Burle, o Eraldo, os caras fizeram meio que este caminho, sacou? Porque dá retorno para a marca. Se você for competidor, para aparecer na mídia tem que ganhar o campeonato. O cara fica em terceiro e não aparece quase nada. Se fizer uma viagem bem feita, com fotógrafo, lugar maneiro, vai sair página dupla, capa, matéria.

04. SUA GERAÇÃO TEM UMA ATITUDE BEM DIFERENTE EM RELAÇÃO AO TRABALHO. VOCÊS BUSCAM MUITO MAIS, TÊM UMA NOÇÃO MUITO MAIOR DO QUE PRECISAM FAZER PARA DAR RETORNO. OU SEJA, VOCÊ NÃO VAI PARA O TAHITI PEGAR ONDA, VOCÊ VAI COM FOTÓGRAFO. E QUANDO SAI NA FOTO, JÁ ESTÁ EM CONTATO COM TODAS AS MÍDIAS. QUAL É A IMPORTÂNCIA DISSO, E POR QUE VOCÊ É TÃO LIGADO NISSO?
É o que sempre falo de mim, do Ricardinho (dos Santos), do Jê (Vargas) e do Marco (Giorgi). A gente nunca foi moleque que desde os 10 anos era promessa, com patrocínio desde novo. Agora está todo mundo patrocinado, mas isso não aconteceu há tanto tempo atrás. Muita gente que era talento e promessa e o caralho, acha que só porque surfa muito vai se dar bem. Esse cara não deu valor, já perdeu patrocínio, sumiu. Acho que conseguir a parada em cima da hora, na idade de ser homem, de ter que viver disso ou procurar outro caminho, ajudou muito a levar tudo mais a sério. E já passei várias roubadas, desde os 15 anos eu viajo direto e ninguém ouviu falar de mim. É porque eu estava lá, sozinho, sem fotógrafo, sem nada. Eu queria pegar tubo e foda-se todo mundo. Só que aí, mermão, no final do mês não cai o meu dinheiro, aí eu tenho que trabalhar, entendeu? A teoria é surf, mas para poder viver disso e continuar tendo essa vida, tem que fazer a outra parte também.

05. O QUE A GENTE TEM VISTO NOS ÚLTIMOS DOIS, TRÊS ANOS É VOCÊ INDO PARA TEAHUPOO, PARA O HAWAII E PARA PUERTO. ESTE É MAIS OU MENOS O PLANO? O QUE 2010 RESERVA PARA VOCÊ?
Para mim, se o mundo se resumisse a quatro lugares estava bom: Hawaii, Tahiti, México e Indonésia. É porque esses são os lugares que eu quero estar, porque eu gosto de surfar de uma forma independente. Por mais que seja um lugar marcado, pegar uma bomba em Pipeline vai sair, vai dar retorno. Pegar um Teahupoo gigante vai dar retorno, por mais que já seja meio óbvio. Este ano vou voltar para o Tahiti, mas antes quero ficar um pouco no Rio para fazer umas lajes com o Manga, esperar um swell para pegar umas ondas quadradas. Aí depois eu vou para o Tahiti e Austrália, vou ficar com um cara da Rusty que faz tow-in, o Paul Morgan. A gente vai tentar pegar algumas direitas sinistras. Vou ficar lá um tempo, aí se estiver muito no final da temporada, vou direto pro Hawaii. Essa é a minha idéia.

06. VOCÊ FALOU DE TEAHUPOO GRANDE, PIPE GRANDE. VOCÊ GOSTA DESSE TIPO DE MAR, OU FAZ PORQUE SABE QUE É ISSO QUE VAI TE BOTAR NA REVISTA?
Gosto cara. É o seguinte, ninguém rema numa onda acima de 8 pés em Teahupoo só por causa da foto, porque senão trava. Vai lá querendo, mas trava, não vai. Tem que gostar. Mas lógico que, pô, ta no final de tarde, chovendo, vem uma bomba de 10 pés que nem você nunca viu na vida, não tem ninguém na praia... tu pensa duas vezes. De repente tu vai. Eu já fui em umas que foda-se, mas com o fotógrafo ali ajuda a instigar. Mas não é porque tem o fotógrafo que o cara vai, senão todo mundo iria. Não é nem para sair em lugar nenhum, é para ver a foto depois, ficar rindo.

07. VOCÊ SE VÊ EVOLUINDO PARA DAQUI A CINCO, DEZ ANOS ESTAR SURFANDO JAWS, ALGUMA COISA ASSIM?
A gente comprou um Jet no objetivo de aprender, é claro. Mas nosso maior objetivo mesmo é pegar Teahupoo gigante. Não gigante, mas Teahupoo grande, além daqueles tubões e lajes na Austrália. Mas eu quero surfar Jaws. E não precisa ser daqui a cinco anos não. Na hora que ele falar “Vamo embora que eu te puxo” é só soltar a corda e sobreviver.

08. VOCÊ ALGUMA VEZ FICOU COM MEDO NO MAR?
Lógico, o meu apelido é big rider medroso (risos).

09. E COMO VOCÊ LIDA COM O MEDO?
Acho que é mais uma briga interior. Tipo esses dias, quando caímos em Waimea, estava meio pequeno. Mas não é que eu amarelei numa onda, mas não fui em uma que dava para ter ido. E quando a maior do dia veio, eu estava lá atrás do pico, sabia que não dava para completar, mas fui, tomei o maior vacão. É da minha cabeça. Uma onda que eu peguei em Pipe grandona, ela veio de Banzai, e quando entrou no 1° reef minha perna tremeu de medo e eu caí, fiquei putão. Falei que na próxima eu ia até a areia, e fui. Nem deu tubo, mas ali podia rodar qualquer coisa que eu ia estar igual.

10. O QUE PENSA NO MOMENTO QUE O MERCADO BRASILEIRO ATRAVESSA, ONDE UM CARA QUE QUER APENAS CORRER ATRÁS DE ONDA BOA, COMO VOCÊ, TEM UM ESPAÇO?
Acho isso maneiro. Porque o surf é surf, né. Até pros mais competitivos, antes da competição veio o surf. E tudo é uma parte. Tem competição, tem onda grande, tem freesurf, tem os aerialistas, tem tudo. É o que complementa o surf. O cara abre uma revista e vê uma onda perfeita ─ ele vai gostar tanto quanto ler sobre um campeonato. Acho que é um conjunto.

11. ONDE VOCÊ SE VÊ DAQUI A DEZ, VINTE ANOS?
Vinte anos, acho que eu me vejo sentado na Prainha, barrigudo, contando história. Mas daqui a dez anos posso estar no auge, não sei ainda. É porque eu sou meio vagabundo, sabe, não treino muito. Surfar, surfo todo dia, toda hora. Mas treino ainda não sigo muito à risca. Mas em dez anos estarei com 32, 33 anos, e se eu estiver bem preparado e continuar neste ciclo, acho que vou estar no auge, bem equipado, com mais experiência.

12. PARA FINALIZAR, TÁ TODO MUNDO COMENTANDO A ONDA QUE VOCÊ E YAN GUIMARÃES PEGARAM EM WAIMEA EM JANEIRO, UMA DAS MAIORES NA REMADA JÁ SURFADA POR UM BRASILEIRO. CONTE UM POUCO DO QUE ROLOU ANTES E DEPOIS DESSA BOMBA.
Como já tinha dado uns 3 ou 4 Waimeas gigantes e no último (no dia de Natal) eu quase morri afogado, nesse swell eu estava meio que relaxado já, por dois motivos: já sabia o que iria encontrar lá fora e não estava disposto a passar outro perrengue daquele. Pensei comigo mesmo que iria entrar e pegar algumas intermediarias, sem me arriscar muito, mas a história foi completamente diferente (risos).

Nem saí de casa muito cedo, lembro que já era quase 9h e eu ainda estava no Foodland, quando liguei pro Fun e ele me disse que tava gigante, só tinha 3 caras na água e até uma dupla fazendo tow-in. Fiquei apavorado, imagina entrar lá e ser varrido por uma bomba fechando só com mais 3 ou 4 caras? Tenso, nem o swell do Eddie marcou tão grande. Aí o Fun entrou e 30 minutos depois eu entrei com o Yan e a Maya.

Lá fora vinham umas séries monstras, fechando a baía geral e ninguém remava. Na real o Fun remou com força em umas gigantes, mas não conseguiu entrar. Sei lá, a dimensão da onda é tão grande que fica muito difícil saber onde é o lugar certo. Eu tive muita sorte, pois quando remei para minha foi muito mais um ato suicida do que pensado. Mas graças a Deus eu estava no lugar perfeito, um metro mais pra dentro e eu seria arremessado. Quando a série entrou no horizonte, ela correu mais pro meio da baía com aquele aspecto de fechadeira ─ uma muralha negra na minha frente. Foi quando o Yan falou: “quem pegar essa vira herói”. Nem dei bola e sai remando pra não tomar na cabeça, assim como todos na água. Mas de repente pensei “opa, herói?”. Gostei da idéia, virei minha prancha e remei com tudo, mas com tudo mesmo, pois sabia que teria que entrar bem nela, senão ia me fuder. A onda começou a armar e armar parecia que eu ia ficar pra trás, mas aí dei mais uma remada e fui com tudo, foi tanta adrenalina que nem lembro de muita coisa. A altura que me encontrava quando fiquei em pé na prancha foi algo que nunca vi na vida. A velocidade e demora do drop até chegar na base também, foi algo inédito pra mim. Nisso ainda olho para cima e vejo o Yan (Guimarães) vindo voando junto e pensei: “Meu Deus, esse moleque é maluco”, aí segurei a porrada e depois caí. Já levantei gritando amarradão, todo mundo levantando os braços, e nessa eu já sabia que tinha sido uma das gigantes.

Cheguei lá fora e todos os caras mais velhos vieram falar com a gente, foi irado, acho que conseguimos nosso lugarzinho lá no outside agora. Depois desse inverno, que valeu por umas 5 temporadas, pude ter a certeza que realmente é isso que quero fazer pelo resto da minha vida.

Proteção aos ecossistemas marinhos

O derramamento de óleo no golfo do México não é apenas o maior da história da exploração do petróleo, como é também um dos piores desastres causados pelo homem na história”, disse Paul Watson, lendário capitão da Sea Shepherd.

DESASTRE NO GOLFO DO MÉXICO
Operada pela petrolífera britânica British Petroleum (BP), a Plataforma Deepwater Horizon explodiu no dia 20 de abril de 2010 no golfo do México (aproximadamente a 80km do estado norte-americano da Louisiana) e afundou dois dias depois, deixando 11 trabalhadores mortos e despejando milhares de litros de petróleo no oceano Atlântico, em um desastre que pode ser considerado uma das maiores catástrofes ambientais da história. Hoje, mais de um mês após o acidente, a área ocupada pela mancha de óleo já supera a marca de 26 mil km², e, em termos comparativos, já é maior do que a área do estado do Sergipe, no Nordeste do Brasil. A alarmante estimativa é de que estejam jorrando 800 mil litros diários no oceano.

Chocado com a situação, o Blog POR DENTRO DAS ONDAS decidiu procurar a Sea Shepherd, organização internacional sem fins lucrativos dedicada à proteção dos ecossistemas marinhos, que tem experiência em atuar pontualmente em vazamentos catastróficos, como os que aconteceram em países como o próprio Brasil (Rio de Janeiro), o Equador (Galápagos) e a França (costa da Bretanha), além do emblemático desastre do navio Exxon Valdez, no Alasca, ocasião na qual foi derramado cerca de 11 milhões de galões de óleo no mar do hemisfério Norte.

O idealizador e principal porta-voz da Sea Shepherd, o capitão Paul Watson, que dedicou sua vida à proteção das baleias, foi incisivo ao telefone: “O que aprendemos nestes vazamentos irracionais é como é difícil, sujo e perigoso limpar todo o desastre ambiental. Os prejuízos causados por esses acidentes levam décadas para serem recuperados”. O óleo alcançou a costa da Louisiana e ilhas próximas, contaminando o rico e diversificado ecossistema marinho existente na região do golfo do México, que abriga centenas de espécies de peixes, camarões e ostras, além de pássaros raros e outros animais.

Em outro contato que fizemos, desta vez com o biólogo marinho Paul Montagna, da Universidade do Texas, que lidera os trabalhos de ação no combate aos prejuízos causados pelo acidente, o pesquisador se mostrou extremamente preocupado com as ricas bancadas de corais da região, em especial a chamada Pinnacles. Dependendo da velocidade e direção das correntes, a bancada, que se estende do Texas à Flórida, pode ser alvo de contaminação de óleo. Mas, além desse perigo, ele destacou outros riscos que podem ganhar dimensões incalculáveis. “De início estávamos bastante preocupados com os animais da superfície, como tartarugas, baleias e golfinhos. Agora, estamos preocupados também com todas as formas de vida em água e terra, pois os danos do acidente vão perdurar por anos”.

Paul Watson, um dos mais ativos críticos a todos os envolvidos no desastre e na contenção ineficiente do caso, foi além: “Não acho que os ecossistemas marinhos do golfo do México venham a se recuperar completamente nesta era. O estrago é por demais intenso e demorará décadas para que isso seja revertido, e para quê? Uma tentativa de recuperar a enorme fração de 3% do petróleo do mundo à deriva na costa dos EUA. O custo econômico para a indústria do turismo e da pesca será, sozinho, muito maior do que todo o lucro que a BP já teve em sua existência”.


BRASIL
No Brasil os três estados que concentram a produção petrolífera nacional ─ São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo ─ assumem não possuir um plano de ação para lidar com um acidente de proporções semelhantes ao que aconteceu no golfo do México. “Fiquei muito preocupada ao imaginar se exatamente isso acontece aqui. Teríamos que aguardar a ação do governo federal, pois não temos preparo, nenhuma lei que preveja o que deve ser feito ou a quem acionar”, disse Marilene Ramos, secretária de Meio Ambiente do Rio de Janeiro.

Em alerta, Marilene afirmou que pretende convocar uma reunião emergencial com o Ministério do Meio Ambiente e a Petrobrás, com a intenção de abrir um diálogo produtivo à criação de uma força-tarefa para atuar em possíveis desastres ambientais relacionados ao petróleo no mar, e estudar possíveis articulações com o governo federal.

Pelo que parece, a verdade é que não existe tecnologia adequada para combater vazamentos em tamanha profundidade e em tempo hábil de evitar um desastre ambiental / operacional que se revele fora do controle do homem. Com a corrida comercial no maior grau de maior importância dominando um mundo centrado sobre os valores de expansão energética, o meio ambiente e a saúde do planeta ficam em segundo plano.

PARABÉNS À FESERJ

Em 2010 a Federação de Surf do Estado do Rio de Janeiro completa 20 anos de fundação. Numa trajetória marcada pelo desenvolvimento do esporte, a Feserj atua diretamente nas competições, visando garantir melhores condições para os atletas. E para solidificar ainda mais seus projetos, a federação busca sempre novos parceiros, tanto da iniciativa privada quanto do poder público, através do Governo do Estado e Prefeituras.


Para o vice-presidente da Feserj, Abílio Fernandes, a entidade está mais organizada, de maneira a integrar melhor os atletas nas diversas categorias, espalhados em todo o Brasil. “Estamos desenvolvendo um trabalho de preparação das categorias de base, subdividindo-as ainda mais entre gêneros, idade e os portadores de necessidades especiais. Procuramos fortalecer as bases, visando melhorar ainda mais o nível técnico dos competidores”, diz Abílio, citando como exemplo as novas categorias Pré-Petit, Petit, Infantil, Iniciantes, Mirim, Surdos e Femininos Iniciantes.

Ainda há muito trabalho pela frente, mas a Feserj pode se considerar vitoriosa quantos aos objetivos alcançados nos últimos anos. Hoje, cada campeonato creditado pela federação emprega, em média, 50 pessoas, direta/indiretamente, desde juízes, locutores, seguranças, chegando até mesmo nos comerciantes locais da praia. Além disso, o Portal da Feserj lançado em 2009 possui um extenso banco de cadastro, fundamental para manter uma rede direta de comunicação com os atletas do país.

A tripla jornada de ser mulher

É impressionante como passa o tempo e o paradigma continua: ser mãe, trabalhar e praticar esportes. Tudo isso fica ainda mais intrigante quando o esporte é radical. A mulher vem conquistando novos espaços, mas a sua função de procriar e cuidar da prole revela-se um instinto nato. E, ao engravida, este novo estereótipo de mulher lida com algumas novas questões. Então a gente se coloca em campo e pergunta aos especialistas nessas áreas (médicas obstetras e mastologistas)...


Dra. Rachel Frota, especialista em Ginecologia e Obstetrícia.

POSSO PRATICAR ESPORTE OU TRABALHAR SEM PREJUDICAR A EVOLUÇÃO DO MEU BEBÊ?
Pode sim, trabalhar e praticar esportes, desde que sempre com orientação médica. O primeiro trimestre da gestação sempre é uma fase crítica, considerando o risco de abortamento espontâneo aumentado por fatores genéticos, hormonais e por causas não determinadas. Por isso, nesta fase, o ideal seria diminuir o ritmo até que se estabeleça uma gravidez saudável. No trabalho, o ideal seria manter o conforto, utilizando vestimentas apropriadas. O horário de trabalho e a posição deverão ser os mais confortáveis possíveis. Quanto à atividade física, vale lembrar que nosso organismo é adaptável, mas o peso adquirido ao longo da gestação irá reduzir sua resistência física. Um conselho saudável: não queira virar superatleta assim que engravidar. Mantenha o ritmo!

QUE TIPO DE ALIMENTAÇÃO PODEREI UTILIZAR?
Uma gestante normal necessita de uma dieta equilibrada com proteínas, vitaminas, gorduras, fibras e cálcio. E, é claro, muita água. É das proteínas e das gorduras que o organismo tira o maior valor energético. Porém, estas substâncias são importantes na formação das estruturas fetais e na produção dos hormônios ─ e, por isso, as atletas devem aumentar a ingestão de carboidratos para manutenção rápida de energia.

ATÉ QUE MÊS PODEREI PRATICAR ESPORTES E TRABALHAR?
Até quando seu médico orientar. Contudo, enquanto estiver confortável, geralmente não há restrições.

A INTENSIDADE E REGULARIDADE DA PRÁTICA DE ESPORTES E DA JORNADA DE TRABALHO TÊM QUE SER MODIFICADA EM QUE MÊS DE GRAVIDEZ?
A jornada de trabalho deverá ser de no máximo oito horas, respeitando o horário de almoço e, preferencialmente, diurna. Quanto a pratica de esportes, o ideal seria conversar com seu médico durante o pré-natal para garantir segurança e tranqüilidade no ciclo gravídico. Existem desportistas que praticam esportes até o 8° ou 9° mês de gestação.

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Dra. Mônica Travassos, especialista em mastologista.

QUANTO TEMPO É O IDEAL PARA ALEITAÇÃO?
A Organização Mundial de Saúde estima um mínimo de seis meses, tempo em que se transferem ao bebê anticorpos que conferem uma imunidade relativa. O leite materno é um alimento completo, portanto, não se assuste: nos seis primeiros meses, só leite. Não é necessário mais nenhum complemento. Você poderá deixar de aleitar quando quiser, mas o ideal é o máximo possível.

QUAIS CUIDADOS DEVEREI TER COM A GESTAÇÃO “NO QUESITO MAMAS” PARA UM ALEITAMENTO IDEAL?
A mama se desenvolve ao longo da gestação para permitir uma amamentação adequada. Ocorre um aumento no volume das mamas e um escurecimento das aréolas (parte que fica ao redor do mamilo). Deve-se usar um sutiã que sustente as mamas e evitar cremes hidratantes nas aréolas. Sugerimos que a gestante faça um furinho no sutiã no local do mamilo, para que durante a gestação ele fique roçando na roupa e, assim, torne-se mais resistente para o bebê. Lembre-se de que, no início, o aleitamento pode ser um pouco desconfortável. Peça orientação ao seu médico, não é “mico” nenhum. Amamentar não é difícil, mas pode virar um tormento para família se não for bem conduzido. No mais, boa gestação e seja bem-vinda a mais uma jornada.

ASP World Tour, Brasil Surf Pro e derivados

Foram longos 12 anos, uma dúzia deles, para que o grito engasgado na garganta daquela multidão de apaixonados pelo surf ecoasse apoteoticamente laureando o filho nativo. Desde que Peterson Rosa liquidou a fatura com um aéreo de arrepiar no quebra-coco do inside da Barra da Tijuca, em 1998, que não vencíamos uma etapa do primeiro escalão em nossa terra natal. Desta vez, início da década de 10, Jadson André entra para a história do surf mundial, vencendo o ídolo Kelly Slater em uma final apoteótica na praia da Vila. Somos todos campeões!

EVOLUÇÃO SURF
Curiosamente, há mais de uma década, uma manobra aérea selava o desfecho de um evento que (pelo menos para nós ─ brasileiros) foi alucinante. O curioso é que, no final da década de 90, os aéreos eram manobras de alto risco e utilizados raríssimas vezes em competições para definir o resultado de uma bateria, apenas por alguns poucos surfistas mais arrojados.

Rewind, mais nove anos e estamos em 1989. A mesma velha Barra da Tijuca foi palco de um momento instrumental e fatídico na história da evolução do surf competição. Instrumental, pois Martin Potter foi o grande protagonista desse evento, começando a quebrar a norma básica da ASP, que exigia percurso na onda e dúzias de manobras, arrastando as quilhas até roçassem na areia para que o surfista angariasse notas elevadas. Pottz fazia manobras espetaculares, logo de cara, inclusive aéreos (utilizados anteriormente, com sucesso, “apenas” por Christian Fletcher, especificamente na esquerda de Lower Trestles) e ignorava o resto da onda, voltando ao outside para dar mais espetáculo.

Fatídico! Porque Martin foi até a final, mas perdeu o campeonato para Dave Macaulay, que destroçava as ondas até a beira com um turbilhão de pequenas estocadas na onda. Fatídico, em termos, pois ao final daquela temporada Pottz foi sagrado campeão da ASP, iniciando um processo de mudança e valorização do surf no outside, com manobras grandes, fortes e risco, em detrimento de pequenas manobras, repetitivas e conservadoras.

Entram os anos 2000 e os aéreos estão no topo da mente dos juízes e, em muitos casos, uma única manobra, de alto comprometimento e modernismo exacerbado, arranca um 9 e qualquer coisa do placar. Nem todos os surfistas do WT (o novo primeiro escalão da ASP) têm as manobras aéreas domesticadas, mas é palpável perceber os surfistas que as dominam com desenvoltura levam uma vantagem dentro dos critérios de julgamento atualizados para 2010.

A troca da guarda vem a galope, e se Taylor Knox, hoje o surfista mais velho entre os tops, faz valer seus power carves para se manter na elite, Slater, que é o segundo mais ancião do grupo, voa de front e de back, varia o repertório e dá aula aos novatos quando se trata de exibir consistência e vanguarda. Por isso está na ponta do ranking após o Billabong Pro Santa Catarina, realizado de forma apoteótica no Brasil.

Tudo isso não impediu que Jadson conquistasse uma vitória indiscutível na praia da Vila. O potiguar voador encheu a nação de orgulho. Os mais invejosos já começaram a taxar nosso “novo” prodígio de: “surfista de uma única manobra”, o aéreo rodando de front. Aí eu entro com dois argumentos:
1) Desafio os novos Top 32 (do segundo semestre) a bater mais forte, mais reto, mais seco, mais lampejante que André de backside (seu hipotético ponto fraco) e;
2) A juventude ─ em muitos e muitos anos ele é o mais jovem surfista a vencer uma etapa do WT. Rookie, 20 anos, na elite, vencedor... A estrada está aberta para a evolução.


Boa sorte, Jadson!

MARcante

Penso, logo existo... me inquieto, logo escrevo”. Redação, rap, poesia, letra de música, crônica, Rio de Janeiro, praia e surf. Assim é o livro Diário noturno, de autoria do rapper Gabriel O Pensador, um garoto com fome de letra, um adolescente com sede de sol, um artista pensante. Filósofo-pop-urbano. Plugado, antenado e contemporâneo ─ capaz de dar saltos para o mundo, e também mergulhos em profundidade para dentro de si mesmo, um cidadão que não aceita a falta de atitude, um surfista, um artista carioca.

Diário noturno foi escrito em madrugadas insones e criativas de Gabriel, no transcorrer do seu desenvolvimento, e revela talentos e angustias do rapper: “Quem sou eu?” sempre foi uma das perguntas fatais para o então menino Gabriel, como demonstram os primeiros textos da obra literária, em que o autor conta que se sentia desafiado e feliz ao escrever suas redações escolares. Muitos anos e textos depois, passados para o livro, mais maduro, com a profissão definida, o homem de atitude transborda para as páginas límpidas a chama acesa da inquietude, a sensibilidade apurada, a indignação do cotidiano, os sonhos.

Noturno recupera a memória do pensador; que, na faculdade de Comunicação Social, se sentia terrivelmente inconformado com o conformismo ─ disparando textos como petardos contra a miséria, o racismo, a violência, a corrupção e as drogas. Porém, além dos temas essencialmente sociais, para os quais Gabriel se volta com uma honestidade rara, o livro reúne os escritos de romantismo explícito, seja lá qual for paixão.

Escritor apaixonado pelo mistério das relações pessoais e familiares, O Pensador revela em seu diário os medos e as delicadezas, a solidão, os projetos futuros (que se tornaram realidade), e vários amores. Uma dessas paixões é pela vida carioca, outra pela música, outra pelo mar, que pode ser lido no capítulo “MARcante para mim”, em que poemas referentes ao nobre esporte, às vezes introspectivos, dropam no diário do carioca.

Livro lançado em 2001 pela Editora Objetiva, suas vendas se esgotaram rapidamente, e chega a ser uma raridade entre os acervos de sebos e livrarias. Boa leitura para quem quer conhecer um pouco dos pensamentos, das músicas e dos poemas do rapper Gabriel, o livro foi relançado há pouco tempo, e pode ser referência de leitura sobre um poeta do Rio.

Sou um peixe voador”, confessa Gabriel em um dos poemas em que, surfista, abençoa o mar e o prazer de mergulhar. Sim, é o que esse pensante artista é: pacífico e romântico, atlético, atlântico. Capaz de inundar uma leitura com sua própria emoção e alegria de viver.

BETHANY ENCANTA HOLLYWOOD

HISTÓRIA DA SURFISTA HAVAIANA BETHANY HAMILTON, QUE HÁ SEIS ANOS PERDEU O BRAÇO NUM ATAQUE DE TUBARÃO, SERÁ CONTADA NO CINEMA, BASEADA EM SEU LIVRO AUTOBIOGRÁFICO.

No dia 31 de outubro de 2003, Bethany Hamilton, então com 13 anos, surfava tranqüilamente numa praia do norte do Kauai, onde nasceu e vive, quando foi subitamente atacada por um tubarão que arrancou seu braço esquerdo. O que poderia ser o fim de sua carreira como surfista profissional, acabou se tornando uma incrível história de superação e perseverança. Hoje, aos 19 anos, Bethany compete normalmente no Circuito Mundial e é uma das atletas de maior destaque pelo alto nível de surf que apresenta. O difícil caminho percorrido por ela até aqui é relatado no livro autobiográfico “Soul Surfer: A True Story of Faith, Family and Fighting to Get Back on the Board”, que servirá de guia para o filme que está sendo produzido sobre ela para Hollywood ─ e deve ser lançado no final deste ano, nos Estados Unidos. Com direção de Sean McNamara, o elenco tem nomes de peso como AnnaSophia Robb (no papel de Bethany), Dennis Quaid e Helen Hunt (interpretando os pais dela, Tom e Cheri), além de Carrie Underwood (como Sarah Hill) e Lorraine Nicholson (como Alana Blanchard). “O livro tem um grande significado, pois, além de contar minha história, conseguiu chegar às crianças e tocar o coração das pessoas que também passam por dificuldades parecidas. Muitas vezes, já estavam desistindo da vida e, após lerem o meu livro, conseguiram ter esperança novamente. Com o filme espero atingir ainda mais pessoas ao redor do mundo”, disse Bethany por e-mail. O filme está sendo rodado no Hawaii, nas ilhas de Oahu e Kauai. No início de fevereiro, Dennis Quaid, 55 anos, foi flagrado tendo aulas de surf nas praias havaianas. “Eles são muito bons e todo o elenco gosta de surf, isso é fundamental”, afirma a havaiana. Bethany é exemplo de coragem, determinação e fé. Três semanas após a tragédia, a menina já estava surfando e não desistiu de seus objetivos profissionais. “A maior dificuldade após o acidente foi readquirir o equilíbrio na prancha com apenas um braço. Comecei minha readaptação num longboard, com a ajuda do meu pai, que me empurrava. Não fiquei triste, pois consegui manter o que mais amo: o surf. Também gostava de tocar guitarra, mas isso não conseguirei mais fazer”, explica. Ela conquistou seu primeiro grande troféu aos 8 anos de idade. Depois do acidente, foi campeã do tradicional Menehune Haleiwa Contest (em 1999), além de outras vitórias no Circuito NSSA. Em 2008, Hamilton disputou o WQS e, em 2009, ficou em segundo lugar no Mundial Pro Junior, na Austrália.