PROBLEMAS AMBIENTAIS EM OCEAN BEACH


OCEAN BEACH, PALCO DA 10ª ETAPA DO TOUR, FICOU MAIS SUSCETÍVEL A EROSÕES APÓS O ÚLTIMO FENÔMENO EL NIÑO. A SURFRIDER FOUNDATION E O SAVE THE WAVES COALITION TÊM PROPOSTAS PARA SOLUCIONAR O PROBLEMA.

Sede do Rip Curl Pro The Search, que acontece entre 1 e 12 de novembro, em Ocean Beach, em São Francisco, sobre constantes erosões devido ao aumento do nível do mar e à infraestrutura mal planejada. O pico é famoso por segurar swells de até 15 pés, mas depois dos furacões ocorridos no inverno de 2010, as ondas enormes desgastaram 15 metros da costa, destruíram parte da Great Highway e ameaçam o duto de esgoto que está localizado sob a avenida, em Sloat Boulevard.

Junto à comunidade, a Surfrider Foundation e o Save the Waves Coalition, ONGs influentes na defesa de ecossistemas e ambientes de surf, assumiram a resposabilidade de criar planos de curto e longo prazo. A desição partiu da California Coastal Commission, no dia 13 de junho. Como solução providencial, serão criadas barreiras com sacos cheios de areia para amenizar o impactodas ondas. Outra idéia é devolver a areia ao mar ─ sistema que menos agride o meio ambiente, porém, o mais caro.

"Mover a infraestrutura mais para dentro da terra é a melhor maneira de controlar o problema", diz Bill McLaughlin, coordenador do San Francisco Surfrider, que está desenvolvendo o plano de longo prazo que será finalizado até janeiro de 2012.

Além disso, "a barragem causa um potente eleito backwash que afeta a qualidade da onda, e a perda da área de praia altera a bancada de areia. Isso pode acabar com o surf de qualidade em Sloat", diz Katie Westfall, diretora ambiental do Save the Waves. No entanto, o norte de Ocean Beach, onde será realizado o The Search, não sobre o desgaste.

10 perguntas para... KEALA KENNELLY


NO FATÍDICO DIA DO SWELL GIGANTE EM TEAHUPOO, KEALA PEGOU TRÊS TUBOS E SAIU DE UM. O QUE NÃO ESPERAVA É QUE, NO DIA SEGUINTE DO SWELL, EM UMA ONDA DE 6 PÉS, ELA FICARIA COM O ROSTO DESFIGURADO DEPOIS DE SOFRER O MAIOR ACIDENTE DE SUA VIDA. A HAVAIANA NASCIDA EM KAUAI TEM 33 ANOS E É MUITO RESPEITADA NO MEIO DO BIG SURF: ELA SURFOU A MAIOR ONDA DE TOW IN FEMININO EM 2005, LÁ MESMO EM TEAHUPOO. HOJE, SEIS ANOS DEPOIS DO FEITO, ESTÁ SE RECUPERANDO DE UMA CIRURGIA QUE RECONSTITUIU SUA FACE E PRETENDE SE RECUPERAR DO SUSTO PARA VOLTAR A ENFRENTAR A BESTA TAITIANA.

1. VOCÊ PODE DESCREVER O QUÃO PESADO E BIZARRO TEAHUPOO ESTAVA NO ÚLTIMO SWELL?
Olha, é difícil descrever. Cada vez que revejo as imagens da sessão de tow in, eu não consigo acreditar nas ondas mutantes que apareceram naquele dia. Lá no line-up eu vi algumas loucuras de perto, como as bombas que o Bruce Irons e o Nathan Fletcher pegaram. Quando eu via aqueles caras soltando a corda e se comprometendo com aquelas ondas, eu respirava fundo, pois parecia que eles iriam morrer logo ali na minha frente.

2. QUE TIPOS DE ONDAS VOCÊ ESTAVA BUSCANDO? COMO VOCÊ FAZ ESSE TIPO DE SELEÇÃO QUANDO O OCEANO PARECE TÃO FURIOSO?
Eu estava buscando as médias, eu não queria nada como aquelas séries gigantescas, que pareciam ser morte na certa. Você realmente tem que ter fé no seu parceiro e confiar que ele ou ela vão te colocar no lugar certo e na hora certa. Eu tenho a sorte de ter tido excelentes pilotos em todos estes anos de tow in. Desde Raimana, Ikaika Kalama, Coco Nogales, Laird Hamilton, Sean Ordonez até meu piloto neste último swell, o Benjamin Sanchez. Ele me colocou em ondas incríveis, fiquei muito feliz.

3. QUANDO SURFA TEAHUPOO, QUAL É O SEU OBJETIVO? COMPLETAR A ONDA OU ENTUBAR O MAIS FUNDO QUE DER?
Meu objetivo é entugar sempre. Quanto mais fundo, melhor, no entanto você tem que ver o que é possível fazer. Eu fui engolida por algumas por ter ido fundo demais, mas peguei três tubos naquele dia e saí de um deles. Foi demais!

4. EM QUE MOMENTO VOCÊ TOMOU O CALDO TENEBROSO QUE TE LEVOU AOS CORAIS?
Tomei esta vaca dois dias depois da sessão de tow in. Foi durante a expression session em homenagem ao Andy Irons. As ondas tinham apenas seis pés. Não era nada demais. Em um minuto eu estava dentro de um tubo e no minuto seguinte eu senti meu rosto sendo esmagado no coral.

5. QUEM TE RESGATOU? O QUE PASSOU PELA SUA CABEÇA NO MOMENTO DO ACIDENTE?
O water patrol do campeonato me tirou d'água muito rápido. Eu estava triste, pois sabia que tinha batido meu rosto, mas eu pensava que deveria ser apenas um arranhão. Assim que saímos do line up eles me levaram direto para a tenda dos paramédicos. Eu comecei a reparar que as pessoas estavam me olhando assustadas, então me dei conta de que o acidente poderia ser sério. Eu estava com muita dor, cheia de sangue, então eles me deram morfina enquanto esperavam a ambulância. Eu não podia acreditar que depois de uma sessão de tow in, uma ondinha de 6 pés estava me levando ao hospital. Eu ficava dizendo: "Preciso ir ao hospital? Está tão feio assim?". Até que um dos médicos tirou uma foto com seu celular, e eu tomei um susto, era muito pior do que eu imaginava. Estava tão fundo, o osso estava aparecendo e o corte estava apenas há poucos milímetros do meu olho direito. Precisei sentar... Eu estava em choque.

6. E COMO FOI A OPERAÇÃO?
Os médicos do hospital de Papeete eram incríveis. Quando cheguei no Hawaii e fui examinada, os médicos diserram que o cirurgião do Tahiti tinha feito um trabalho ótimo ao juntar meu rosto novamente. A Mary, uma das médicas do evento, ficou ao meu lado o tempo todo, foi bom ter alguém comigo naquele momento. A dor era horrível, mas com a morfina consegui aguentar bem. Estou me recuperando e devo voltar para água antes do que você possa imaginar.

7. O QUE ESTÁ EXPERIÊNCIA TODA TE ENSINOU?
Nunca subestime Teahupoo, nem mesmo em dias pequenos. A onda que provocou todo este choque parecia ser bem simples...

8. VOCÊ ESTÁ COM MEDO DE VOLTAR A SURFAR LÁ?
Olha, não estou contando as horas para surfar Teahupoo. Eu penso que é inteligente você ter um medo saudável daquela onda. Dias menores podem ser mais perigosos, pois nós baixamos a guarda. Quando chegar a hora certa eu vou voltar para a minha onda favorita no mundo porque sei que nunca vou conseguir ficar longe dela.

9. COMO É SER UMA DAS POUCAS MULHERES QUE ENCARAM ESTAS CONDIÇÕES?
Teahupoo é uma onda muito especial para mim porque eu fui a primeira mulher a fazer tow in lá. Isso foi em 2005. É muito boa a sensação de fazer coisas que nenhuma outra mulher fez antes. Saber que eu inspiro outras mulheres me dá ainda mais confiança e força. Mas é difícil porque os homens que me inspiram estão surfando ondas que eu não pretendo surfar nunca. Eu preciso ser muito realista para saber até onde pretendo puxar meus limites.

10. COMO VOCÊ SE PREPARA, FISICAMENTE E MENTALMENTE, PARA ENCARAR ESSAS CONDIÇÕES DE ONDA?
A parte física você trabalha durante toda a sua vida. Eu surfo desde os meus 5 anos de idade, cresci no Hawaii, onde as ondas são maiores e mais desafiadoras que a maioria dos outros lugares. Só este fato já me dá bastante confiança. Agora, na parte mental, eu fico muito nervosa quando vejo um swell grande e quando tomo a decisão de reservar a passagem e ir. Eu passo o dia andando de um lado para outro dentro de casa. Agora, quando chego no lugar, eu tento manter o foco e a calma. Assim que seguro a corda, a decisão já foi feita, então não me estresso mais, só tento manter a concentração na minha performance.

O MONSTRO QUE DEFORMA HORIZONTES


Quem é surfista puxa o bico. Uns mais, outros menos. É o medo, que nos salva e condena. Dentro d'água, a explosão de adrenalina e cortisol que gera o estado de alerta normalmente só é controlada quando o surfista vive na chamada zona de conforto.

Cada um tem a sua, claro: Greg Long e Carlos Burles parecem estranhamente à vontade nos mares mais inóspitos do mundo. Água fria e turva, ondas de 30 pés, coral sangrento: a zona de conforto de quem surfa Maverick's é mais elástica.

Não só as estrelas têm essa vocação. Longe dos holofotes, todo mundo conhece pelo menos um louco que lida de maneira diferente com o medo. Não falo dos valentes, daqueles que gastam a garganta para divulgar feitos em ondas duvidosas. Os mais corajosos costumam ser pacatos, humildes e donos dos sorrisos mais largos da praia.

Mas, às vezes, nem toda coragem do mundo é suficiente. O mar tem o princípio mais atraente e assustador da vida: a imprevisibilidade. Quando tudo parece sob controle, uma onda inesperada sobe ao fundo e deforma o horizonte. Ninguém escapa. Nesse momento, a tal diferença entre homens e meninos desaparece. São todos vítimas, náufragos em suas pranchas.

O monstro de água que ninguém espera pode ser a tal "freak wave", também chamada de "rogue wave" (numa tradução livre, seria algo como onda aberração ou traiçoeira).

A literatura sempre foi farta em histórias de embarcações reviradas por ondas monstruosas. E, na cultura eternamente oral dos surfistas, não faltam relatos de ondas avassaladoras, que varrem baías inteiras sem deixar nada na superfície. No passado, a ciência não levava muito a sério as histórias de pescador, mas hoje o fenômeno vem sendo estudado por oceanógrafos de todo o mundo e é considerado uma possibilidade real, em qualquer tipo de mar.

O pesquisador Eloi Melo, agora na Universidade Federal do Rio Grande (FURG), é um desses apaixonados pelo mar que avançou na ciência para tentar decifrar os velhos mistérios antes mitificados. O cara entende di riscado: é um dos responsáveis pela implantação do atual sistema de previsão de ondas do Waves e vive produzindo estudos.

Um deles varou a arrebentação das freak waves. Eloi se aprofundou no fenômeno a partir da observação do ondógrafo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que era parte do Programa de Informação Costeira on-line.

O proferror disseca detalhadamente o monstro da água. Primeiro, explica como chegar ao cálculo da freak wave. "Quando se diz que certo estado de mar tem ondas de dois metros, o que significa isso exatamente? Será que todas as ondas presentes no dia têm essa altura? É óbvio que não! Essa altura (conhecida tecnicamente como altura significativa) é uma altura "média" das ondas, que é usada para caracterizar um estado de mar. A altura significativa é definida como a média do terço superior das maiores ondas. Imagine um registro de 90 ondas, separe as 30 maiores e tire a média das suas alturas: esta é a altura "significativa". Portanto, é uma altura 'média', mas não de todas as ondas".

Na sequência, mostra por que o fenômeno não é tão raro quanto parece: "A questão é: num mar com altura significativa de dois metros, qual a chance de encontrar uma onda de quatro metros? A resposta para essa questão passa por um estudo estatístico das alturas de onda, e é aí que entra a idéia de uma freak wave: a estatística mostra que as chances de se encontrar uma onda com altura maior que duas vezes a altura significativa do dia deveria ser muito remota. Mas medições têm mostrado que no mundo real aparecem ondas assim com uma frequência maior do que a prevista pela teoria estatística. Eis aí a freak wave!".

Para o leitor apressado, a definição: freak waves sçao mais de duas vezes maiores que a altura significativa das ondas num determinado dia.

Da sala de aula para o mar, a coisa complica. Diversas vezes na vida, tive a sensação de ver uma onda completamente fora da curva média do swell daquele dia. Às vezes são vergalhões que arrastam quem estiver por perto para a zona de impacto e quebram pranchas. Mas não sei se foram genuínas freak waves. Vale não confundir com aquela onda da série que chamamos de "a maior do dia". É uma onda mais de duas vezes maior que as maiores do dia.

Se os novos estudos apontam para uma frequência maior que a esperada para as freak waves, faça as contas: você provavelmente entrou ─ ou um dia vai entrar ─ na estatística das vítimas do monstro traiçoeiro das águas. Basta ser surfista.