ASP World Tour, Brasil Surf Pro e derivados

Foram longos 12 anos, uma dúzia deles, para que o grito engasgado na garganta daquela multidão de apaixonados pelo surf ecoasse apoteoticamente laureando o filho nativo. Desde que Peterson Rosa liquidou a fatura com um aéreo de arrepiar no quebra-coco do inside da Barra da Tijuca, em 1998, que não vencíamos uma etapa do primeiro escalão em nossa terra natal. Desta vez, início da década de 10, Jadson André entra para a história do surf mundial, vencendo o ídolo Kelly Slater em uma final apoteótica na praia da Vila. Somos todos campeões!

EVOLUÇÃO SURF
Curiosamente, há mais de uma década, uma manobra aérea selava o desfecho de um evento que (pelo menos para nós ─ brasileiros) foi alucinante. O curioso é que, no final da década de 90, os aéreos eram manobras de alto risco e utilizados raríssimas vezes em competições para definir o resultado de uma bateria, apenas por alguns poucos surfistas mais arrojados.

Rewind, mais nove anos e estamos em 1989. A mesma velha Barra da Tijuca foi palco de um momento instrumental e fatídico na história da evolução do surf competição. Instrumental, pois Martin Potter foi o grande protagonista desse evento, começando a quebrar a norma básica da ASP, que exigia percurso na onda e dúzias de manobras, arrastando as quilhas até roçassem na areia para que o surfista angariasse notas elevadas. Pottz fazia manobras espetaculares, logo de cara, inclusive aéreos (utilizados anteriormente, com sucesso, “apenas” por Christian Fletcher, especificamente na esquerda de Lower Trestles) e ignorava o resto da onda, voltando ao outside para dar mais espetáculo.

Fatídico! Porque Martin foi até a final, mas perdeu o campeonato para Dave Macaulay, que destroçava as ondas até a beira com um turbilhão de pequenas estocadas na onda. Fatídico, em termos, pois ao final daquela temporada Pottz foi sagrado campeão da ASP, iniciando um processo de mudança e valorização do surf no outside, com manobras grandes, fortes e risco, em detrimento de pequenas manobras, repetitivas e conservadoras.

Entram os anos 2000 e os aéreos estão no topo da mente dos juízes e, em muitos casos, uma única manobra, de alto comprometimento e modernismo exacerbado, arranca um 9 e qualquer coisa do placar. Nem todos os surfistas do WT (o novo primeiro escalão da ASP) têm as manobras aéreas domesticadas, mas é palpável perceber os surfistas que as dominam com desenvoltura levam uma vantagem dentro dos critérios de julgamento atualizados para 2010.

A troca da guarda vem a galope, e se Taylor Knox, hoje o surfista mais velho entre os tops, faz valer seus power carves para se manter na elite, Slater, que é o segundo mais ancião do grupo, voa de front e de back, varia o repertório e dá aula aos novatos quando se trata de exibir consistência e vanguarda. Por isso está na ponta do ranking após o Billabong Pro Santa Catarina, realizado de forma apoteótica no Brasil.

Tudo isso não impediu que Jadson conquistasse uma vitória indiscutível na praia da Vila. O potiguar voador encheu a nação de orgulho. Os mais invejosos já começaram a taxar nosso “novo” prodígio de: “surfista de uma única manobra”, o aéreo rodando de front. Aí eu entro com dois argumentos:
1) Desafio os novos Top 32 (do segundo semestre) a bater mais forte, mais reto, mais seco, mais lampejante que André de backside (seu hipotético ponto fraco) e;
2) A juventude ─ em muitos e muitos anos ele é o mais jovem surfista a vencer uma etapa do WT. Rookie, 20 anos, na elite, vencedor... A estrada está aberta para a evolução.


Boa sorte, Jadson!