08
abr
2011

DESCRUZANDO OS BRAÇOS

Tamanho da fonteNuma bela tarde de março deste ano, eu estava desfrutando de uma sessão de surf em Lefthanders, West Australia. Tudo estava tão perfeito, as ondas, o visual, o clima, que até tirei um sarro com um colega: “Pô, chama o prefeito que eu quero fazer uma reclamação. Diz pra ele que a água está muito clara e eu não estou achando o ponto certo da manobra! Pede pra ele dar uma escurecida nisso aí! Hahahahaha!”.

Brincadeiras à parte, na Austrália a escassez de água potável faz você se tocar que os tempos realmente mudaram, e que as conseqüências das alterações climáticas tendem a atingir todos nós.

Em meio a tantos pensamentos cheguei à conclusão de que não podemos mais fingir que não somos parte do problema. Não podemos ignorar os desastres ambientais que estão por mudar o mundo em que vivemos e surfamos.

Nossa existência como surfista está causando impacto também. Onde quer que formos para surfar, seja de carro, avião ou barco, deixamos pelo caminho um rastro de emissões poluentes e gasto de energia.

Quanto mais viajamos para surfar em nossos picos de sonho (coloque o seu favorito, ─ Mentawai/Maldivas/Tahiti), mais rápido eles tendem a desaparecer.

Com o crescimento do crowd, a indústria do surf também começa a produzir suas conseqüências. Podem reparar, cada novo lançamento da indústria do surf é altamente dependente dos derivados do petróleo. Pranchas, parafinas, decks, roupas de borracha e cordinhas estão longe de ser biodegradáveis. E quanto mais gente começa a surfar, mais surf-lixo vai se acumulando.

Sempre achei que surfistas eram ambientalistas natos, uma tribo que zelava pelo seu habitat. Somos os primeiros a sentir o que está acontecendo na água e na areia. Podemos nos considerar os verdadeiros fiscais dos oceanos. Será mesmo? O que estamos realmente fazendo além de reclamar?

Não deixar lixo na praia é básico demais para quem tem sua existência totalmente atrelada ao mar. Mas o que mais há para se fazer, se até o protetor solar que usamos põe em risco as bancadas de coral?

Como podemos contribuir? Bons exemplos não faltam. Como o músico/artista/surfista Ithaka, que transforma pranchas velhas em obras de arte na forma de belas esculturas, o pessoal da Surfrider Foundation que sempre alerta sobre novas agressões às praias mundiais. Mesmo assim, ainda podemos atuar mais. O exemplo deve partir da gente.

Fazer barcas já é um começo, você aumenta a eficiência do seu carro com alguém dentro e despeja menos gases tóxicos na atmosfera. Já existem empresas aéreas com aeronaves com turbinas com emissão reduzida de carbono.

Abrir a cabeça para novos materiais. Até quando a resina, o estireno e o poliuretano vão dar as cartas? Até quando deixarmos de insistir em usá-los. Deveríamos ser os precursores em exigir da indústria produtos que causem pouco ou nenhum impacto ambiental.

Se começarmos a exigir e apoiar produtos e serviços assim, estaremos impulsionando todo um novo segmento. Quem sabe com isso o surf não dá inicio a uma revolução ambiental?

Mande sua opinião para o blog dando sugestões do que nossa tribo pode fazer para amenizar (já nem digo mudar) o quadro que o planeta se encontra.

Pode ser qualquer coisa prática, de fácil aceitação em nosso dia-a-dia. Só não vale ficar de braço cruzado.