DESCRUZANDO OS BRAÇOS

Tamanho da fonteNuma bela tarde de março deste ano, eu estava desfrutando de uma sessão de surf em Lefthanders, West Australia. Tudo estava tão perfeito, as ondas, o visual, o clima, que até tirei um sarro com um colega: “Pô, chama o prefeito que eu quero fazer uma reclamação. Diz pra ele que a água está muito clara e eu não estou achando o ponto certo da manobra! Pede pra ele dar uma escurecida nisso aí! Hahahahaha!”.

Brincadeiras à parte, na Austrália a escassez de água potável faz você se tocar que os tempos realmente mudaram, e que as conseqüências das alterações climáticas tendem a atingir todos nós.

Em meio a tantos pensamentos cheguei à conclusão de que não podemos mais fingir que não somos parte do problema. Não podemos ignorar os desastres ambientais que estão por mudar o mundo em que vivemos e surfamos.

Nossa existência como surfista está causando impacto também. Onde quer que formos para surfar, seja de carro, avião ou barco, deixamos pelo caminho um rastro de emissões poluentes e gasto de energia.

Quanto mais viajamos para surfar em nossos picos de sonho (coloque o seu favorito, ─ Mentawai/Maldivas/Tahiti), mais rápido eles tendem a desaparecer.

Com o crescimento do crowd, a indústria do surf também começa a produzir suas conseqüências. Podem reparar, cada novo lançamento da indústria do surf é altamente dependente dos derivados do petróleo. Pranchas, parafinas, decks, roupas de borracha e cordinhas estão longe de ser biodegradáveis. E quanto mais gente começa a surfar, mais surf-lixo vai se acumulando.

Sempre achei que surfistas eram ambientalistas natos, uma tribo que zelava pelo seu habitat. Somos os primeiros a sentir o que está acontecendo na água e na areia. Podemos nos considerar os verdadeiros fiscais dos oceanos. Será mesmo? O que estamos realmente fazendo além de reclamar?

Não deixar lixo na praia é básico demais para quem tem sua existência totalmente atrelada ao mar. Mas o que mais há para se fazer, se até o protetor solar que usamos põe em risco as bancadas de coral?

Como podemos contribuir? Bons exemplos não faltam. Como o músico/artista/surfista Ithaka, que transforma pranchas velhas em obras de arte na forma de belas esculturas, o pessoal da Surfrider Foundation que sempre alerta sobre novas agressões às praias mundiais. Mesmo assim, ainda podemos atuar mais. O exemplo deve partir da gente.

Fazer barcas já é um começo, você aumenta a eficiência do seu carro com alguém dentro e despeja menos gases tóxicos na atmosfera. Já existem empresas aéreas com aeronaves com turbinas com emissão reduzida de carbono.

Abrir a cabeça para novos materiais. Até quando a resina, o estireno e o poliuretano vão dar as cartas? Até quando deixarmos de insistir em usá-los. Deveríamos ser os precursores em exigir da indústria produtos que causem pouco ou nenhum impacto ambiental.

Se começarmos a exigir e apoiar produtos e serviços assim, estaremos impulsionando todo um novo segmento. Quem sabe com isso o surf não dá inicio a uma revolução ambiental?

Mande sua opinião para o blog dando sugestões do que nossa tribo pode fazer para amenizar (já nem digo mudar) o quadro que o planeta se encontra.

Pode ser qualquer coisa prática, de fácil aceitação em nosso dia-a-dia. Só não vale ficar de braço cruzado.