FOGO NO QUARTO 226


Fogo em quarto de hotel não é exclusividade de Mick Fanning. Lembra quando acidentalmente o quarto dele no hotel Cabanãs da praia Mole, em Floripa, ardeu em chamas durante o WT de 2003? Foi naquele ano que rolou um apagão geral na cidade por causa da explosão de um botijão de gás durante um reparo nos cabos da Celesc, embaixo da ponte Colombo Sales. O blecaute durou uns dois dias e a galera, em pleno evento, recorreu às velas. Alguns anos antes, em Huntington Beach, Califórnia, o ex-Top Ricardo Tatuí (que correu o Tour em 95), quase levou o Huntington Shores Motel abaixo em poucos segundos. A sorte foi que a faxineira que estava limpando o quarto ao lado sentiu o cheiro da fumaça.

Era uma longa semana naquele mês de agosto e Tatuí fazia de tudo para ter um bom resultado. Tudo mesmo, até acender vela de sete dias (só não lembro para qual santo!). Era uma comédia chegar ao quarto dele no hotel e ver que tinha uma vela acesa em cima de uma caixa de pizza vazia de papelão. Espera aí, caixa de papelão? Em cima de um carpete? Isso não poderia terminar bem... Naquela manhã cinzenta de verão, eu disputava uma bateria contra Tatuí ao lado do píer. No vaivém das marolas, venci por pouco, porém o "rato" (apelido de Ricardo) havia surfado bem,"quase" virou no final da disputa. Quase!

Eu já havia perdido e vencido algumas baterias entre amigos, mas dessa vez Tatuí parecia chateado e foi reclamar com os juízes. Enquanto ele reclamava, eu já estava chegando ao hotel, ao lado do evento, o mesmo em que Tatuí dividia o quarto com Renan Rocha, Amaury "Piu" Pereira e Kamel Adas Neto, o "Nê" (ex-competidor na década de 80 e ex-proprietário da marca Body Glove no Brasil). No hotel, percebi algo estranho quando vi o carro do corpo de bombeiros cruzando a recepção. Na sequência, vi o Piu Pereira com um monte de tralhas espalhadas pelo jardim. Batia toalha daqui, camiseta dali... E a fumaça subindo! "Piu, que diabos foi isso?", indaguei. "Cara, foi a vela de sete dias do Tatuí", retrucou ele sussurrando. "Quase pegou fogo no hotel inteiro! A sorte foi que a faxineira viu e acionou os bombeiros!". O cenário era sinistro, mas não consegui conter o riso, nem o Piu, mesmo emburrado. Dentro do hotel, vi que a bagunça e o estrago eram grandes, a prancha do Renan estava esturricada, roupas e mais roupas queimadas, presentes que a galera havia comprado para esposas e familiares, dinheiro, passaporte... Coitado do Nê, o fogo queimou até as cuecas do bicho. A televisão virou uma "estalactite", um plástico derretido, e o carpete do quarto queimou inteiro. Nos Estados Unidos tudo é minuncioso, mas, pra sorte do Tatuí, o laudo acusou um curto na instalação elétrica. A verdade, no entanto, é que a vela derreteu, pegou fogo no papelão, que depois passou pro carpete, que queimou a televisão e pipocou as tomadas de eletrecidades provocando um grande curto-circuito. Renan soube do ocorrido ainda na praia e não parava de falar: "Esse Rato é foda, o que ele foi aprontar?". Mas o Tatuí, sempre muito gozador, acabou se dando bem no final, junto com o resto da galera. A empresa de seguros pagou uma boa grana pelo acidente e, apesar da bateria perdida, a premiação do Rato veio depois de sete dias.