07 perguntas para... Willian Woo

O PAULISTANO WILLIAN WOO VENDEU BISCOITOS PARA COMPRAR A PRIMEIRA PRANCHA, JÁ FOI PROPRIETÁRIO DA ATLÂNTICO SURFBOARDS, DEU AULAS DE MATEMÁTICA E ATUOU COMO INVESTIGADOR DA POLÍCIA CIVIL. AOS 41 ANOS DE IDADE E SURFISTA HÁ 25, ELE EXERCE O SEGUNDO ANO DE SEU MANDATO COMO DEPUTADO FEDERAL E AFIRMA QUE DESEJA INCENTIVAR E FOMENTAR O SURF CADA VEZ MAIS.


01. Como começou sua ligação com o surf?
Foi em 1984, quando meu pai adquiriu um pequeno negócio em Bertioga, no litoral paulista. Passei a freqüentar mais a praia e resolvi começar a surfar, mas meu pai nunca foi um apoiador do esporte. Então passei a vender biscoitos na balsa que fazia a travessia Bertioga-Guarujá, para conseguir comprar a minha primeira prancha, uma monoquilha feita pelo Thyola. Desde então, foram anos de muita dedicação e, em 1986, eu já tinha uma fábrica de pranchas de surf, chamada Atlântico. Fizemos várias pranchas lá em Bertioga. Até hoje, amigos que começaram comigo ainda continuam no ramo.

02. Como deputado federal, o que você já fez pelo surf?
Ainda muito pouco, pois estou no meu primeiro mandato que começou há dois anos. Mas tenho ajudado principalmente o surf universitário, nos Circuitos Paulista e Brasileiro. É uma oportunidade de os atletas pontuarem e conseguirem bolsas de estudo nas universidades. Eu tenho ajudado também o Circuito Paulista Pro e este ano espero colaborar em algumas etapas do WQS. Também ajudo em ações de preservação do meio ambiente, que estão diretamente ligadas ao interesse dos surfistas, e nas ações que buscam regulamentar o tow-in no litoral brasileiro. Entre as discussões sobre o surf que temos proposto, há projetos de lei para criar previdência para atletas. Procuro colaborar também com a estrutura do Hang Loose Pro Contest, em Fernando de Noronha, um dos campeonatos que mais trazem visibilidade em nível internacional.

03. E como seria essa aposentadoria do surfista profissional?
Através de debates, algumas pessoas me mandaram via e-mail essa sugestão. Na verdade, qualquer pessoa pode fazer isso como autônomo. Mas foi uma forma de conscientizar os atletas de que um dia terão que pensar na aposentadoria. Muitos partem para outras posições no ramo quando param de competir. Mas é preciso pensar que, no longo prazo, todos em qualquer atividade precisam de alguma forma de previdência pública ou privada. Hoje já existe uma modalidade que a pessoa pode recolher, de acordo com sua vontade, um valor especifico por mês.

04. Na questão ambiental, como um deputado pode ajudar?
Principalmente através de entidades que nos procuram para buscar parcerias com o poder público. Por exemplo, junto com a Sabesp, conseguimos apoio para a escola Suprema, de São Vicente, que além do trabalho ecológico, faz um trabalho de escola de surf e de integração com jovens internos da Febem. Temos ações com ONGs, que pedem apoio de sacolinhas de lixo e parcerias com a Cetesb. Esses programas são importantes porque difundem a importância de conscientizar as pessoas de recolher seu lixo da praia, principalmente resíduos plásticos, que levam mais de 500 anos para se decompor.

05. Qual a importância do eleitor jovem?
Todo eleitor é importante. O principal é o cidadão ter consciência das atividades do parlamento, um dos poderes mais importantes para a democracia. Por mais que a imagem do parlamento esteja negativa, é lá que o povo é representado. Todos os políticos que estão lá não chegaram por uma indicação política, foram votados pelo povo. Mas a qualidade do voto tem que melhorar. Um político do parlamento é eleito para fazer projetos de lei, não para freqüentar eventos e inaugurar estradas e postos de saúde. Isso é importante, faz parte do nosso dia-a-dia, mas o mais importante é fiscalizar como é gasto o dinheiro publico e fazer leis que favoreçam toda a sociedade.

06. Como você concilia seu trabalho com o surf?
Quando era vereador eu tinha tempo para surfar. Estou na política há oito anos, fui vereador por um mandato e meio, e estou a dois anos como deputado. Agora está muito difícil. Fiz uma prancha nova e levei mais de três meses para eu buscar. Antigamente, apressava o shaper para saber quando estaria pronta. Este ano tirei quinze dias de férias e não deu ondas boas no período. Durante o atual mandato fui duas vezes para Fernando de Noronha, peguei ondas pequenas. E infelizmente Brasília não tem mar. Nos finais de semana eu visito cidades no Brasil, já fui algumas vezes para a Amazônia, fui para a Antártica, Haiti, e agora estou indo para o Japão ver a questão dos brasileiros que estão sem emprego. Procuro assistir programas de surf na TV, comprar as revistas todo mês, e principalmente conviver com amigos que vivem o surf. Tento buscar um pouco dessa energia dos surfistas e levar para o meu trabalho político.

07. O que você acha da absurda cobrança das empresas aéreas sobre pranchas de surf?
Penso em criar uma legislação especifica para as pranchas. Eu acho injusto os valores cobrados. Mas ao consultar a ANAC, vi que é muito difícil legislar sobre isso. As empresas são internacionais e a legislação seria só para o Brasil. As companhias aéreas não vivem para carga, e a prancha ocupa um espaço grande na logística das bagagens. Eu já tive vários atritos com isso, inclusive quando saiu uma matéria na Fluir sobre o assunto, eu estava em Fernando de Noronha e não paguei as taxas me baseando na matéria. Há uma legislação especifica para a cobrança de qualquer mercadoria e as companhias aéreas têm liberdade de cobrar qualquer valor. A verdade é que a cobrança é pelo tipo de produto que você está levando, pelo formato e comprimento. Outra coisa que li na legislação, é que quando você quer transportar um objeto em segurança, tem de contratar um transporte de carga. A única coisa que as empresas se responsabilizam é com a mala. Penso em fazer uma pesquisa para saber quantas pranchas precisam para valer a pena mandar pelo transporte de carga. Isso pode servir para os atletas que correm os campeonatos mundo afora e para grupos de freesurfers que viajam juntos.