NA BUSCA POR INTENSAS EMOÇÕES, O KITESURFE DEVE SER ENCARADO RADICALMENTE, EXIGINDO MUITA RESPONSABILIDADE POR PARTE DAQUELES QUE ARRISCAM A PRATICÁ-LO. TAL EXPERIÊNCIA É CAPAZ DE TRANSFORMAR A VIDA DE QUALQUER PESSOA, POIS INCORPORA UMA NOVA ROTINA BASEADA NAS NOTÍCIAS SOBRE VARIAÇÕES DO VENTO E CONDIÇÕES DO MAR. MUITO SEMELHANTE A OUTROS ESPORTES, AS “PIPAS” ATRAEM ADEPTOS DO WINDSURFE, SURFE, WAKEBOARD, PARAGLIDING E ATÉ MESMO O VÔO LIVRE. HOJE EXISTEM KITESURFISTAS DE TODAS AS IDADES, QUE PERCORREM O CÉU DAS PRAIAS COM DEZENAS DE PIPAS E GANHAM, CADA VEZ MAIS, OS CÉUS DO MUNDO.
No Brasil, logo após a chegada dos primeiros “kitesurfistas” surgiram no fim da década de 90 os clubes de kite, especializados em divulgar e incentivar a prática do esporte. O Rio de Janeiro possui na praia da Barra da Tijuca, uma área exclusiva para grupos de praticantes se reunirem e trocarem novas experiências. Localizadas na Av. do Pepê, duas escolas merecem destaque, o K-08, comandada por Francisco “Frajola” e o K-07, conhecido como Kite Point Rio. Ali a estrutura é completa, pois são oferecidos desde o suporte inicial até os primeiros socorros emergenciais.
O empresário Luis Felipe Guerra, 31, é fissurado em kitesurfe há três anos e ressalta a ótima infra-estrutura dos clubes: “É totalmente diferente de qualquer outro esporte, pois os quiosques dão todo o suporte necessário ao praticante”, diz Guerra, que reserva diariamente algumas horas à tarde para encontrar os amigos e praticar kite.
Cada clube oferece também o curso completo de kitesurfe, que pode variar, dependendo do iniciante, de 10 até 20 horas práticas e teóricas. As primeiras aulas são lecionadas na areia, para o aluno pegar noções básicas de vento e aprender algumas dicas do equipamento. De acordo com o instrutor de kitesurfe, Marcelo Cunha, 10 anos de experiência, é fundamental para o interessado procurar uma escola credenciada pela Associação Brasileira de Kite (ABK). “Apesar de ser um esporte sem grandes mistérios, a maioria das escolas não sabem como tratar os alunos, fazendo-os desistir rapidamente. É importante traçar uma estratégia para o iniciante concluir o curso e se tornar um velejador”, afirma Marcelo Cunha.
No Brasil a Associação Brasileira de Kite (ABK) é responsável por padronizar as escolas de acordo com exigências internacionais, fundamentais para tornar o esporte mais seguro. Dentre as regras de maior relevância, a escola deverá disponibilizar e obrigar seus alunos a utilizarem, capacetes, coletes flutuadores e sistema de desengate rápido. Fazer os alunos se conscientizarem sobre os procedimentos de emergência e certificar-se de que todos os alunos leram, compreenderam e assinaram o documento de responsabilidade por danos materiais e dos riscos do esporte. De preferência, disponibilizar um barco ou jet-ski (equipado com salva-vidas, faca e âncora) para resgate de acidentados, com piloto habilitado e experiente.
O piloto de avião comercial, Edson Mascarenhas, praticante de kite há três anos decidiu inscrever o filho de onze anos, Lucca Torres, devido à importância das instruções dadas no curso. “Por se tratar de um esporte radical, o curso é valioso, pois ensina uma série de dicas úteis para o iniciante”, ressalta Edson. Atualmente, os equipamentos de kitesurfe evoluíram de maneira a proporcionar o máximo de segurança possível para o praticante, a maioria tem “depower”, dispositivos que fazem a pipa perder rapidamente a pressão exercida pelo vento. O trapézio é uma espécie de cinturão, ajustável facilmente ao corpo da pessoa, ele sustenta o gancho de engate rápido preso à pipa e que, pode ser desengatado para manobras aéreas e de maior velocidade.
Dois locais sempre presentes no point da Barra da Tijuca são o casal de irmãos Fillipe e Milla Ferreira, filhos do kitesurfer Francisco “Frajola”. Ambos são surfistas e optaram por competir profissionalmente na modalidade Waves há pelo menos dois anos. “É uma sensação incrível, pois consigo intercalar entre manobras de surfe com os aéreos do kite. Utilizo a pipa como um prolongamento dos meus sentidos, ganho mais força e pego mais velocidade”, diz Fillipe, também conhecido como “Frajolinha”. O estimulo ao esporte é fundamental para os atletas alcançarem patamares mais altos, seja através do patrocínio, seja por motivações pessoais. “Meu pai nos colocou no kitesurfe, ele está sempre do nosso lado, inclusive praticando junto conosco. Tenho certeza de que seria impossível chegar aonde chegamos se não fosse por incentivo da família”, completa Milla, estudante de publicidade.
Em 2007 e 2008, o Rio de Janeiro virou palco de duas etapas do campeonato brasileiro creditadas pela ABK e realizadas na praia da Barra, para as categorias de Freestyle, Waves e Regatas. Atualmente, os estados do Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina e grande parte da região Nordeste concentram a maioria dos campeonatos regionais. Na opinião da tetracampeã brasileira nas modalidades Freestyle, Waves e bicampeã brasileira na categoria Regatas, Caroline Freitas, 27. “Apesar de não ventar como no Nordeste, o Rio de Janeiro, principalmente no mês de fevereiro, proporciona ventos fortíssimos e condições de mar ideais. A praia da Barra é a principal, mas Búzios, Araruama, Cabo Frio ou em geral, a Região dos Lagos são ainda ótimos picos para os cariocas migrarem e aproveitarem os bons ventos”, afirma Carol Freitas que em 2009 também foi campeã brasileira de Stand Up Paddle.
EQUIPAMENTOS:
Existem diferentes modelos de kites ou pipas (de 12 a 17m²), cada um de acordo com o peso e a habilidade do kitesurfista, e também depende da intensidade do vento (pipa pequena para vento forte e vice-versa). O modelo Bow é considerado ideal para os praticantes, por ser inflável, permite a re-decolagem fácil da pipa após afundar por longo período dentro da água. É recomendado aos iniciantes que adquirem pipas usadas, pois devido ao uso e desgaste excessivo pode vir a danificar o equipamento. Encontrar kites de qualidade a vendas nas lojas não é tarefa difícil, mas existe uma grande diferença do preço cobrado entre aqueles nacionais e importados, que chegam a variar de dois a quatro mil reais.
As pranchas de kitesurfe evoluíram com o tempo, principalmente no que diz respeito ao material utilizado em sua fabricação. Por exemplo, as direcionais são semelhantes às pranchas de surfe tradicional (feitas de epóxi, ou de bloco poliuretano), algumas possuem uma ou duas alças para prender os pés durante os vôos. Outra diferença é que as pranchas são mais resistentes, de maneira a receber um reforço de laminação e na longarina para agüentar pancadas mais fortes. Já os modelos de pranchas bidirecionais têm ambos os lados iguais, sem distinguir a frente da traseira, normalmente com duas alças, que podem ser substituídas também por botas de wakeboard ou sandálias fixadas na prancha. Cada categoria determina um tipo de prancha a ser utilizado, seja voando alto no freestyle ou velejando em alta velocidade mar adentro nas competições.
CATEGORIAS:
Waves → Popularmente conhecida como “Kite nas Ondas”, é a preferida dos bons surfistas, pois o praticante surfa impulsionado pela força da pipa em busca das melhores manobras. Sempre agarrado ao trapézio, é possível inovar em manobras casuais do surfe com a prancha sempre presa aos pés.
Regatas → Foi eleita pela International Kiteboarding Association (IKA) para ser apresentada como modalidade olímpica em 2016, nas Olimpíadas do Rio de Janeiro. Muito semelhante às regatas de barcos à vela, ganha quem for mais rápido e respeitar todas as regras necessárias para manter a competição mais acirrada e segura.
Freestyle → Como o próprio nome diz, o kitesurfista sente-se à vontade para manifestar seu próprio estilo. Geralmente, pega impulso nas marolas para levantar vôos, o que, dependendo da força do vento, pode levá-lo a alturas incríveis, alternado entre manobras aéreas com pousos (quase) perfeitos.