O SURFISTA BAIANO ESTEVE PELA SEGUNDA VEZ ESTE ANO NA NIGÉRIA, ONDE ATUOU JUNTO A UMA ONG INGLESA CUJA MISSÃO É CUIDAR DE CRIANÇAS QUE ESTÃO SENDO VÍTIMAS DE UM GRAVE PROBLEMA SOCIAL. ACUSADAS POR FALSOS PASTORES EVANGÉLICOS DE SEREM BRUXOS, ELAS SÃO ALVO DE RITUAIS DE EXORCISMO E MUITAS VEZES SÃO ABANDONADAS PELAS FAMÍLIAS, SOFRENDO TODO TIPO DE MALTRATO NAS RUAS. O NÚMERO DE VÍTIMAS JÁ ULTRAPASSOU 5 MIL DESDE 2007. JOJÓ LEVOU O SURF E A EDUCAÇÃO AO PAÍS COM O PROJETO PEQUENINOS DA NIGÉRIA, CUJOS DETALHES VOCÊ CONHECE NESTA ENTREVISTA.
01. COMO SURGIU A IDÉIA DE IR À NIGÉRIA AJUDAR AS CRIANÇAS?
Partiu do nosso movimento cristão chamado Caminho da Graça, idealizado pelo reverendo Caio Fábio. Vimos um vídeo gravado por uma TV inglesa sobre pastores acusando crianças de bruxaria na Nigéria. Por isso, elas são abandonadas pelos pais, sacrificadas e sofrem abusos. Como a gente viu que eram pastores evangélicos, a questão chamou nossa atenção. Isso não condiz com nossa fé cristã. Então, organizamos um grupo e fomos para lá ajudar a comunidade com esse problema. Eu entrei com o projeto Ondas, com o ensino do esporte, e fomos convidados por um orfanato criado por um nigeriano que começou a acolher as crianças, no total já são 216. Trabalhamos o psicológico, levamos um pouco de solidariedade, cidadania e esporte a essas crianças. Também fizemos um trabalho de conscientização ambiental com a comunidade e praticamente “desvirginamos” o surf por lá, porque na região só existe uma praia com ondas e as pessoas desconheciam o que era uma prancha de surf.
02. E QUAL O PAPEL DO ESPORTE NESSE PROCESSO?
O surf é uma novidade para eles e está sendo usado como ferramenta para agregar algum valor às crianças, levar alegria, prazer e diversão. Elas vivem confinadas no orfanato, sem nenhuma atividade, só saem para ir à escola. Como detectamos essa necessidade, ampliamos nossas idéias, levando outras atividades para elas.
03. COMO VOCÊS FORAM RECEBIDOS PELA COMUNIDADE?
A questão bruxaria, crucificando e matando as crianças, começou a uns sete anos atrás, porque antes o problema só acontecia com os adultos. Com a evolução da religião cristã e como forma de as pessoas ganharem dinheiro, começaram a levar a bruxaria às crianças. Eles achavam que como a criança tinha o espírito de bruxaria era culpada por tudo de errado que acontecia na família e na comunidade. Eles propõem “tratamento” na igreja. As crianças ficam internadas por um tempo, fazendo o tratamento, que é pago. Quando as famílias não têm dinheiro, são obrigadas a abandonar as crianças na rua, e elas acabam sofrendo todo tipo de abuso, desde bebês até adolescentes. Eles nunca tinham sido confrontados, muitos mentiam, diziam que não faziam nada daquilo. O governo criou recentemente uma lei que proíbe a rotulação de bruxas às crianças e prevê pena de até 20 anos de prisão. Mas, como o lugar é muito carente, existem aldeias bem isoladas, sem TV, jornal e internet. Assim, existe dificuldade em levar a informação sobre a nova lei do governo para as comunidades. O problema da bruxaria ainda vai continuar por muito tempo. Nós apenas plantamos uma semente. Mas após seis meses, período em que iniciamos o trabalho, já começamos a ver bons resultados.
04. QUAIS SÃO OS PRÓXIMOS PASSOS DO PROJETO PEQUENINOS DA NIGÉRIA?
O plano é retornar a cada seis meses, já que agora tempos uma equipe lá. Alugamos uma casa por dois anos e temos uma base, com nigerianos que estão nos representando. O objetivo é dar continuidade a tudo que está encaminhado, a evolução do esporte, a conscientização ambiental. Em nossa próxima viagem, que deve acontecer daqui a seis meses ou oito meses, queremos levar um contêiner com roupas, pranchas, equipamentos e tudo mais que eles necessitam. Também queremos levar voluntários que possam ficar lá por um período de três a seis meses para levar idéias, dar cursos, oficinas... Acreditamos muito que, se fizermos um trabalho decente com essas crianças, elas poderão influenciar, e muito, no futuro da nação.
05. FALE UM POUCO DO PROJETO ONDAS, QUE VOCÊ MANTÉM NO GUARUJÁ.
Ele foi constituído como ONG em 2007. Hoje atendemos 60 crianças, entre 6 e 14 anos, oferecendo o surf como ferramenta de educação e inclusão social. Temos a parte de educação ambiental, o reforço pedagógico, as oficinas profissionalizantes. Estamos sempre em busca do crescimento quantitativo e qualitativo por conta da demanda, não só no Guarujá, mas em todo o Brasil. Ainda estamos à procura de financiadores para que possamos atender um número ainda maior de crianças. O público do surf está sendo convocado a participar de várias formas, doando tempo, talento e recursos. O desafio é que a comunidade do surf seja solidária com o próximo. O projeto Ondas está de portas abertas para todos que quiserem ajudar de alguma forma.
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Para colaborar com o projeto Ondas ou com o projeto Pequeninos da Nigéria, basta acessar o site ou entrar em contato com o próprio Jojó de Olivença pelo e-mail jojodeolivenca@hotmail.com. Faça sua parte e participe!