Essa pergunta está ficando cada vez mais comum no cotidiano de um grupo de longboards. Uma nova mania está tomando conta dessa galera aficcionada por pranchas antigas: são os "brinquedos" bem menores, que em sua maioria variam entre 5 e 6 pés, totalmente diferente dos pranchões, que têm no mínimo 9 pés. As pranchas retrô, com duas quilhas e fish tail, são as preferidas e as mais comuns de serem vistas nos pés de surfistas como Picuruta Salazar, Diego Rosas, Neco Carbone, Luís Juquinha, Carlos Bahia, Roni e Pardal Hipólito, Paulo Kid, Robledo de Oliveira e Jaime Viúdes.
Longboards de profissão e de coração, eles são alguns exemplos de quem experimenta a dúvida sobre qual prancha querem usar, principalmente quando as ondas estão variando de meio metro a um metro e meio. Alguns deles afirmam que apesar de surfarem mais de pranchão, sempre acabam levando uma prancha fish para as surf trips e até mesmo para as competições de longboard. É o caso de Diego Rosas, que para onde quer que vá não se separa da sua 5'4". De acordo com Dieguinho, ele gosta de surfar de pranchinha no intervalo das disputas, pois ajuda a descontrair e assim diminuir a ansiedade da competição. "Não me atrapalha em nada, não me tira o foco porque não sinto dificuldades em surfar de biquilhas e logo depois pegar o long para competir, e também é uma forma de relaxar para a próxima bateria".
Apesar de seguir as mesmas medidas de antigamente, os modelos fabricados hoje apresentam algumas alterações necessárias, pois as manobras evoluíram bastante em relação a vinte ou trinta anos atrás, quando também se usava pranchas com duas quilhas. O shaper e longboarder Neco Carbone, além de fabricar, tem surfado bastante com esses modelos de prancha. "A principal mudança é que o shape ficou muito mais refinado, valorizando os mínimos detalhes. O design das pranchas passou por muitas desbobertas e experiências e hoje, nas fish e biquilhas, estão sendo utilizados todas as variedades de fundos que são usados nas pranchinhas modernas. As quilhas também evoluíram bastante, contribuindo para um melhor desempenho das pranchas retrô que estamos reeditando. Essas mudanças permitem que o surfista consiga fazer um surf de linha aliado a um surf de alta performance, principalmente pra os longboards que estão acustumados com um maior volume nas pranchas". O resultado disso fez a cabeça do guarujaense Roni Hipólito, que desencanou das pranchas grandes e das competições. Hoje ele tem nada menos que cinco modelos de pranchinhas entre 5'6" e 5'10" que, em algumas delas, têm encaixe para quatro quilhas. Para ele, quem surfa de long tem mais facilidade para surfar com esse tipo de prancha, porque como ela tem mais flutuação e é mais larga no bico, a pressão fica mais no pé da frente. "A pisada é bem parecida com a do longboard, então é mais fácil para o surfista de prachão se adaptar. Além disso, a flutuação é boa e conseqüentemente facilita também a remada". Os surfistas de longboard de hoje conseguem mesclar muito bem o surf clássico com o radical, e talvez esteja justamente aí o fascínio que a galera dessa modalidade tem pelas biquilhas fish tail. Essas pranchas possibilitam um surf de linhas redondas em função de suas curvas mais alongadas, combinando com manobras modernas, por serem bem pequenas e muito soltas. É bastante comum ver o mesmo surfista mandando cutbacks, rasgadas e bottom turns com classe, no melhor estilo anos 70 e ao mesmo tempo destruir a onda com aéreos e invertidas potentes. A maioria desses longboards vieram da pranchinha, o que torna a brincadeira mais interessante para eles, pois assim podem reviver os tempos de radicalidade extrema sem perder a classe. Um dos pioneiros a utilizar os dois tipos de prancha foi Picuruta Salazar, que usa bem mais as pranchinhas do que o longboard no dia-a-dia. Nove vezes campeão brasileiro de pranchão, Gato diz que tem surfado ondas de seis pés em Maresias com sua 5'8" tranqüilamente. "Tenho surfado em Maresias e peguei mares de seis pés com minha biquilha, alias só tenho caído com ela, até mesmo porque evito quebrar meus longboards". Vindo de uma geração de surfistas que participou intensamente da evolução das pranchas nas últimas décadas, é impressionante como o surf dele se encaixa perfeitamente com os dois modelos de prancha. "No início dos anos 80 as pranchas eram todas biquilhas e eu ganhei alguns campeonatos mandando uns cavalos-de-pau, que os juízes ficavam loucos. Fiz umas baterias memoráveis com o Tinguinha", falou Picuruta, que também usa as biquilhas para relaxar das competições de longboard. O mais interessante disso tudo é que as pranchinhas estão fazendo a cabeça de todas as gerações. Para a galera das antigas, é uma forma de resgatar não só um pouco da história do surf, mas as suas próprias histórias. E para a molecada, surfar com esses modelos é diversão pura, uma vez que as pranchas possibilitam manobras extremas. Também é interessante ver o gosto que a galera do longboard tem pelas pranchas antigas e o reconhecimento de que o caminho tomado na evolução das pranchas foi perfeito, tanto que o que é antigo está voltando para ficar. Com os shapers de hoje se empenhando em aprimorar os brinquedos de antigamente, o que não vai faltar é ex-surfista voltando para dentro da água.
Escolha o seu brinquedo e divirta-se.