Sensações



O tubo é a soma de forças complexas se relacionando. No tubo o surfista está equilibrado na beira da destruição em uma face convexa composta por milhares de toneladas de água, que se contorcem até a ondulação sucumbir para a hidrodinâmica, a força da gravidade e a mudança gradual no contorno da bancada. No tubo, a onda é lançada para frente, jogando sua crista até que o surfista fique completamente imerso numa cápsula de água, um lugar de isolamento e silêncio onde o tempo passa mais lentamente, gota por gota. Onde a sensação de velocidade é reduzida e a percepção torna-se mais aguçada. Para os surfistas, não há nada mais intenso do que estar profundo no tubo, no nosso mundo secreto, invisível da praia, escondidos por um estrondoso lençol d'água e uma explosão de espuma. O tubo é o lugar mais perigoso pra se estar, um erro e a onda irá te arremessar diretamente ao fundo ou te trazer de volta com o lip para te derramar, como numa cachoeira, sobre a mesma bancada sobre a qual você surfava momentos antes. O tubo geralmente dura pouco, talvez três a quatro segundos. Mas sua sensação parece ser mais longa. Grandes tubos ficam na memória para sempre, como se tivessem acontecido ontem. Os tubos superlongos estão na zona dos dez segundos e depois disso, ninguém mais consegue contar; a experiência parece simplesmente não ter fim.

Com qual eu vou?!



Essa pergunta está ficando cada vez mais comum no cotidiano de um grupo de longboards. Uma nova mania está tomando conta dessa galera aficcionada por pranchas antigas: são os "brinquedos" bem menores, que em sua maioria variam entre 5 e 6 pés, totalmente diferente dos pranchões, que têm no mínimo 9 pés. As pranchas retrô, com duas quilhas e fish tail, são as preferidas e as mais comuns de serem vistas nos pés de surfistas como Picuruta Salazar, Diego Rosas, Neco Carbone, Luís Juquinha, Carlos Bahia, Roni e Pardal Hipólito, Paulo Kid, Robledo de Oliveira e Jaime Viúdes.

Longboards de profissão e de coração, eles são alguns exemplos de quem experimenta a dúvida sobre qual prancha querem usar, principalmente quando as ondas estão variando de meio metro a um metro e meio. Alguns deles afirmam que apesar de surfarem mais de pranchão, sempre acabam levando uma prancha fish para as surf trips e até mesmo para as competições de longboard. É o caso de Diego Rosas, que para onde quer que vá não se separa da sua 5'4". De acordo com Dieguinho, ele gosta de surfar de pranchinha no intervalo das disputas, pois ajuda a descontrair e assim diminuir a ansiedade da competição. "Não me atrapalha em nada, não me tira o foco porque não sinto dificuldades em surfar de biquilhas e logo depois pegar o long para competir, e também é uma forma de relaxar para a próxima bateria".

Apesar de seguir as mesmas medidas de antigamente, os modelos fabricados hoje apresentam algumas alterações necessárias, pois as manobras evoluíram bastante em relação a vinte ou trinta anos atrás, quando também se usava pranchas com duas quilhas. O shaper e longboarder Neco Carbone, além de fabricar, tem surfado bastante com esses modelos de prancha. "A principal mudança é que o shape ficou muito mais refinado, valorizando os mínimos detalhes. O design das pranchas passou por muitas desbobertas e experiências e hoje, nas fish e biquilhas, estão sendo utilizados todas as variedades de fundos que são usados nas pranchinhas modernas. As quilhas também evoluíram bastante, contribuindo para um melhor desempenho das pranchas retrô que estamos reeditando. Essas mudanças permitem que o surfista consiga fazer um surf de linha aliado a um surf de alta performance, principalmente pra os longboards que estão acustumados com um maior volume nas pranchas". O resultado disso fez a cabeça do guarujaense Roni Hipólito, que desencanou das pranchas grandes e das competições. Hoje ele tem nada menos que cinco modelos de pranchinhas entre 5'6" e 5'10" que, em algumas delas, têm encaixe para quatro quilhas. Para ele, quem surfa de long tem mais facilidade para surfar com esse tipo de prancha, porque como ela tem mais flutuação e é mais larga no bico, a pressão fica mais no pé da frente. "A pisada é bem parecida com a do longboard, então é mais fácil para o surfista de prachão se adaptar. Além disso, a flutuação é boa e conseqüentemente facilita também a remada". Os surfistas de longboard de hoje conseguem mesclar muito bem o surf clássico com o radical, e talvez esteja justamente aí o fascínio que a galera dessa modalidade tem pelas biquilhas fish tail. Essas pranchas possibilitam um surf de linhas redondas em função de suas curvas mais alongadas, combinando com manobras modernas, por serem bem pequenas e muito soltas. É bastante comum ver o mesmo surfista mandando cutbacks, rasgadas e bottom turns com classe, no melhor estilo anos 70 e ao mesmo tempo destruir a onda com aéreos e invertidas potentes. A maioria desses longboards vieram da pranchinha, o que torna a brincadeira mais interessante para eles, pois assim podem reviver os tempos de radicalidade extrema sem perder a classe. Um dos pioneiros a utilizar os dois tipos de prancha foi Picuruta Salazar, que usa bem mais as pranchinhas do que o longboard no dia-a-dia. Nove vezes campeão brasileiro de pranchão, Gato diz que tem surfado ondas de seis pés em Maresias com sua 5'8" tranqüilamente. "Tenho surfado em Maresias e peguei mares de seis pés com minha biquilha, alias só tenho caído com ela, até mesmo porque evito quebrar meus longboards". Vindo de uma geração de surfistas que participou intensamente da evolução das pranchas nas últimas décadas, é impressionante como o surf dele se encaixa perfeitamente com os dois modelos de prancha. "No início dos anos 80 as pranchas eram todas biquilhas e eu ganhei alguns campeonatos mandando uns cavalos-de-pau, que os juízes ficavam loucos. Fiz umas baterias memoráveis com o Tinguinha", falou Picuruta, que também usa as biquilhas para relaxar das competições de longboard. O mais interessante disso tudo é que as pranchinhas estão fazendo a cabeça de todas as gerações. Para a galera das antigas, é uma forma de resgatar não só um pouco da história do surf, mas as suas próprias histórias. E para a molecada, surfar com esses modelos é diversão pura, uma vez que as pranchas possibilitam manobras extremas. Também é interessante ver o gosto que a galera do longboard tem pelas pranchas antigas e o reconhecimento de que o caminho tomado na evolução das pranchas foi perfeito, tanto que o que é antigo está voltando para ficar. Com os shapers de hoje se empenhando em aprimorar os brinquedos de antigamente, o que não vai faltar é ex-surfista voltando para dentro da água.

Escolha o seu brinquedo e divirta-se.

10 perguntas para... Matt Biolos

Falando sobre pranchas, nunca houve um cenário tão borbulhante. Entenda-se essa fervura como o aquecimento dos negócios de alguns enquanto outros derretem no caldeirão globalizado em que vivemos. O shaper Matt Biolos, conhecido por Mayhem, é o CEO e fundador da ...Lost SurfBoards e continua seu trabalho pelo mundo, inclusive no Brasil, onde esteve em novembro.



01. A crise internacional afetou a venda de pranchas?
Sim, deu uma desacelerada, mas nossa marca é forte. Nos EUA somos uma das poucas marcas presentes nas principais lojas e ainda bem no momento. São tempos difíceis e na Europa sabemos que a ...Lost Boards desacelerou menos que qualquer outra. Isso é ao menos um bom sinal. No Japão continuamos acerelando e vejo grandes possibilidades no mercado globalizado.

02. Qual a diferença entre os mercados americano e brasileiro?
Quanto a pranchas o mercado brasileiro é menor e mais exclusivista em geral. As ondas são bem parecidas à costa oeste, quando está baixo e à costa leste com boas ondas e a habilidade dos surfistas está próxima do mesmo nível. Acho que os mesmos tipos de pranchas funcionam em todos os lugares, em ambos os mercados. A autenticidade domina.

03. Os brasileiros estão acustumados a pedir pranchas por modelo ou ainda querem encomendar determinando todas as medidas?
Para mim, nessa viagem, todas as pranchas foram encomendadas por modelo. Os consumidores hoje estão globalmente educados pela internet. Existe uma diferença mínima na maneira em que brasileiros ou americanos pedem suas pranchas atualmente. Muito embora as dimensões negociadas no Brasil sejam um pouco mais finas e estreitas.

04. Quais os modelos de mais sucesso aqui?
Bom, o mais popular que fizemos nessa viagem foi o Chris "Psycho" Ward e o Whiplash. O Ward é um modelo fácil de surfar para surfistas normais em ondas moderadas e o Whiplash é bom para surfistas rápidos e leves fazerem curvas. Ele é surpreendente em ondas mais porrada. Fizemos muitos Roundnose Fish e até o novo Rocket encontrou seu caminho para o Brasil no boca a boca.

05. Mas existem alguns ajustes nos modelos ou são exatamente os mesmos?
Os mesmos. Muito embora quando estive no Brasil dessa vez eu tenha dado uma afinada em vários dos meus designs. É sempre uma ótima oportunidade para me focar apenas em shapear e pegar algumas ondas por dia. Gosto muito dessas "shape trips"... mesmo que as ondas sejam apenas mais ou menos.

06. A ...Lost fabrica pranchas ou parte delas fora do país para vender no mercado doméstico?
Nós agora temos um acordo com a Firewire, onde eles aplicam e produzem tecnologia FST nos meus designs. Nós começamos com dois modelos em quantro tamanhos e esse é um projeto muito empolgante. É uma coisa exclusiva. A ...Lost agora é a única marca além deles mesmos a ter acesso à tecnologia Firewire. Essas pranchas são feitas fora do país.

07. Qual o preço médio de uma prancha nas lojas?
Nas lojas dos EUA uma ...Lost Board fica entre U$500 e U$700.

08. As pranchas tipo "made in China" incomodam?
Sim, mas não tanto quanto antes porque esse negócio realmente diminuiu muito e esses palhaços estilo "grana rápida" que as produziam estão ficando frustrados e mudando para outros mercados e tentando outros negócios. Os surfistas de verdade estão todos voltando à realidade, se é que um dia a deixaram: eles respeitam os autênticos construtores de pranchas.

09. Você tem enfrentado muita pirataria no Brasil?
Eu tenho visto muito pouco, mas se alguém no Brasil quiser tentar... podemos contratar um "capanga" para fazer uma visitinha a esse tipo de gente.

10. Você tem feito pranchas convencionais, com longarina no meio, resina de polyester e poliuretano ou a configuração está mudando?
Pranchas com longarina, resina polyester e poliuretano. Esse é 80% ou mais do nosso negócio.

Florianópolis Cine Action


No próximo dia 30 de abril, o Centro de Eventos da UFSC receberá os principais produtores de audiovisuais de esportes de ação na natureza do Estado e do país para o lançamento do Florianópolis Cine Action. O evento, cujo objetivo é reunir estudantes de cinema, simpatizantes do esporte, mídia e empresariado local, será uma prévia do festival mundial de audiovisuais de esportes de ação na natureza, programado para ocorrer no final de 2009, em Florianópolis, com seis dias de exibição de vídeos, palestras e debates a respeito do tema.

Quem não berra não é ouvido


O ano era 1886 na industrializada cidade norte-americana de Chicago. Ser um operário daquelas fábricas era jogo duro na época. As jornadas de trabalho iniciavam cedo da manhã e se estendiam até bem tarde da noite.
Os salários, em contrapartida, não chegavam nem perto de todo o esforço empregado pelos trabalhadores.

Até que eles se deram conta de que isso era quase uma escravidão e no dia 3 de maio milhares se juntaram em uma manifestação para reivindicar uma jornada de 8 horas diárias. Neste mesmo dia houve um pequeno levante de uma parte dos trabalhadores que acabou em confusão com a polícia. O enfrentamento resultou na morte de alguns manifestantes.

No dia seguinte, outro protesto foi realizado contra as fatalidades ocorridas no dia anterior e, desta vez, uma bomba jogada por pessoas não identificadas acabou por matar sete policiais.

Como reposta, os agente abriram fogo contra a multidão e mais doze trabalhadores foram mortos. Estes acontecimentos passaram a ser conhecidos como a Revolta de Haymarket.

Nesta mesma época, manifestações semelhantes aconteceram em outros locais do planeta.

O tempo passou e a luta continuou, até que em certo momento os patrões foram obrigados a ceder, forçados pelo apelo popular.

Porque escrevo tudo isso? Para dizer que não há conquistas sem luta e engajamento das classes. E não tem nada a ver com mortes e ações violentas, isso é só para frisar que por trás de qualquer conquista existe uma dose de sacrifício.

Legisladores, prefeitos, governadores, presidentes, patrões e qualquer outro cargo de comando só levam a sério e se dedicam aos apelos populares quando estes notam que determinada classe possui força política.

Os que não se organizam e pressionam, nada conseguem. Ninguém irá prestar atenção em seus problemas. Quem não berra não é ouvido.

O que acontece no Rio Grande do Sul no caso das áreas de pesca e surf é exatamente isso. Há quase trinta anos os surfistas são uma minoria que assiste calada os seus semelhantes morrerem enredados em cabos e redes.

Uma minoria ainda mais diminuta aos olhos dos donos das canetas oficiais.

Os surfistas discutem e extravasam sua indignação em rodinhas de conversa na beira da praia ou mais na noite, tomando umas.

Nossos protestos acontecem no outside, lá fora, tão distante que nenhuma voz é ouvida.

Qualquer manifestação contra essa atrocidade que vem dizimando jovens e suas famílias, reúne mais pessoas que uma partida de xadrez. No máximo, todos os surfistas presentes em um protesto cabem dentro de uma Towner.

Isso é lamentável e triste. Nosso levante é do tamanho de um quebra-molas acahatado e, nesta levada, nunca conseguiremos nada.

Você aí que está lendo este texto, já participou de alguma manifestação em defesa da regulamentação das áreas de surf e pesca? Já? Você era um daquela meia dúzia? Parabéns!

Agora, se você nunca se interessou em participar de algum protesto e acha que isso não adianta nada mesmo, fique sabendo que é por pessoas como você que até hoje pouca coisa foi conquistada.

Todos, absolutamente todos os surfistas são um pouco responsáveis por cada uma das 46 mortes ocorridas nestes últimos 26 anos.

TOW IN: Evolução ou ameaça?

"Tem graveto hoje?". Esta é uma expressão usada pelos towsurfers quando conversam entre si, a fim de saber se tem alguém pegando onda na remada, principalmente quando as ondas atingem a casa dos 2 metros na praia de Maresias, litoral norte de São Paulo. Nestas condições, é praticamente certa no outside a presença de um grupo que cresce a cada temporada, as duplas de tow in. E se os "gravetos" estiverem na água, que fiquem bem espertos para não virar palitinhos de dente.


Além de abrir os horizontes para uma nova e radical modalidade, a crescente popularização do surf rebocado ─ ou tow in ─, que surgiu no início dos anos 90 no Hawaii e ganhou o mundo, também trouxe conseqüências indesejadas e, recentemente, despertou a necessidade de adaptações na legislação brasileira.

A razão é simples: independente da discussão entre puristas (que são contra o uso de máquinas no surf) e os aficionados praticantes, o tow in é ilegal, basicamente porque a Marinha proíbe o uso de moto aquática (jet-ski) a menos de 200 metros da faixa de areia da praia (lei Normam 03), onde normalmente fica a linha de arrebentação. E mesmo que as ondas estejam além dessa distância, sempre existe a possibilidade de haver surfistas de remada.

O problema é que a lei não está sendo respeitada, e o número de jet-skis no outside de Maresias não pára de aumentar, inclusive em ondas médias e pequenas. "Houve dias em que havia mais de 15 jets na água. Se já não existe respeito no crowd comum, imagine neste cenário, em que muitos ali nem estão preparados para pilotar um jet-ski", afirma Danilo Godoy, tenente do Corpo de Bombeiros e comandante do Salvamar de São Sebastião.

Segundo o site californiano Tow Surfer, a principal causa de acidentes no tow in é justamente a inexperiência do condutor, responsável por 61% dos registros, seguida por excesso de velocidade (50%) e falta de atenção do piloto (42%) ─ alguns acidentes acontecem por mais de uma causa.
Todos concordam que algo precisa ser feito, tanto para regulamentar o tow in como para encontrar um entendimento entre as partes conflitantes. Ilegal ou não, em Maresias (e em algumas praias de Santa Catarina e Rio de Janeiro) o tow in é uma realidade.


PROCURANDO SOLUÇÕES
Para chegar a um consenso, algumas reuniões foram feitas entre a Confederação Brasileira de Tow In, as associações locais e o Corpo de Bombeiros de Maresias para debater o assunto. As opiniões ainda divergem e nada está definido, mas alguns caminhos já começaram a ser traçados.
A primeira providência é organizar o esporte internamente, por meio de associações que tenham na confederação brasileira um padrão de conduta como referência. Depois, montar uma proposta de lei, norteada pelas regras da confederação, que regulamente a prática do tow in em águas brasileiras.

No caso específico de Maresias, Romeu Bruno, vice-presidente da Confederação Brasileira e um dos pioneiros da modalidade no Brasil, propõe a criação de um espaço permanente (de 500 a 900 metros) e exclusivo para a prática do tow in, delimitado por bóias e marcações na areia. "É mais facíl controlar a boiada dentro do curral", argumenta Bruno. "As bóias seriam usadas somente nos dias em que as condições fossem favoráveis tanto para a remada como para tow in. O Corpo de Bombeiros, com auxílio das associações locais, definiria os dias em que o tow in ficaria restrito às bóias. E nos dias menores o tow in ficaria proibido", diz o ex-salva-vidas, que durante 12 anos trabalhou nas praias do North Shore de Oahu.

Ele também defende que os towsurfers devam ser habilitados pela Marinha para pilotar jet-skis (Arrais amador) e que possuam cursos de salvamento aquático, RCP (Reanimação Cardiopulmonar), primeiros-socorros, além de curso de tow in reconhecido pela Confederação Brasileira.

Com apoio do vicentino Daniks Fischer, presidente da Associação Paulista de Tow in, e do deputado federal William Woo, Bruno articula no Congresso a regulamentação do esporte em nível nacional. Mas os municípios também podem apresentar um projeto de lei propondo uma mudança na legislação.

É isso que a Associação de Surf de Reboque de Maresias está buscando. Com pouco mais de um ano de existência e 19 duplas associadas, "ela foi criada para organizar a modalidade na região e garantir que a prática seja feita de maneira consciente e responsável", enfatiza Rony Figueiredo, presidente da entidade.

Para ele, duas providências são necessárias para que o primeiro passo seja dado nesse sentido: a regularização da prática do tow in perante a Marinha e a fiscalização da atividade por parte dos bombeiros, que ganhariam poder de polícia e assim poderiam coibir as irregularidades com multa e apreensão dos jet-skis. "Nossa principal preocupação é garantir a segurança de todos os freqüentadores da praia. Para isso, é fundamental que existam regras e fiscalização. Imagine como seria uma rodovia cheia de motoristas despreparados, sem habilitação e sem nenhum policial para fiscalizar. Nosso lema é 'jet na água, bombeiro na areia'. Se houver surfistas de remada, não rola tow in", completa.

A associação também pretende destinar uma parte da verba arrecadada com as mensalidades dos membros para o Corpo de Bombeiros, que poderá investir em novos recursos e equipamentos. "A questão das bóias ficaria condicionada às condições específicas do momento em questão ─ se for dia de semana, fim de semana, feriado ─ e ao tamanho do mar ─ acima de 2,5 metros nem precisaria-se de bóia, pois quase ninguém cai na remada. Mas a decisão ficaria a cargo dos bombeiros", finaliza Figueiredo.


UM PROBLEMA MUNDIAL
A idéia de fechar uma área para os towsurfers não foi bem aceita pela comunidade local, segundo Alex Leco, presidente da Associação de Surf de Maresias.

Embora pessoalmente ele considere uma solução viável, acha que o assunto ainda precisa ser mais discutido para que todos os detalhes sejam bem esclarecidos. "A questão ainda é muito recente e necessita de mais debate para que as idéias se ajustem. Primeiro tem que haver a mudança na lei, para que depois seja definido como será praticado.

E seja qual for o desfecho, certamente vai gerar insatisfação de algum lado", avalia Leco. Freqüentador assíduo de Maresias e towsurfer respeitado mundialmente, o big rider Sylvio Mancusi considera a questão mais simples do que parece: "O que falta é bom senso da parte de alguns praticantes. Tow in é para quando as ondas superam os 2,5 metros em Maresias. No Hawaii, virou lei e todos respeitam: quando há surfistas, não rola tow in".

Ele explica que o problema é mundial. "Na Austrália e Califórnia rola a mesma situação. Moss Landing, em Santa Cruz, é uma onda tipo Maresias, onde Peter Mel, Flea e a galera que surfa Mavericks treinam tow in. E rola o mesmo conflito entre caras que usam jets quando há gente remando", comenta Mancusi.

Para o tenente Godoy, surfista desde a infância, a prioridade será sempre a segurança. "O papel dos bombeiros é cumprir a lei e zelar pela integridade de banhistas e freqüentadores da praia. O esporte é novo e nossa legislação é antiga; esse é o primeiro ponto a ser ajustado. Quanto mais debate houver, melhor. E o principal: tow in é para condições extremas; isso tem que pesar nas decisões", conclui.


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COMO FUNCIONA LÁ FORA
Diz Dim Howe, chefe de operações dos salva-vidas e do Honolulu Ocean Safety: "O tow in em ondas grandes é um esporte que mistura elementos do surf e navegação. É imperativo que os towsurfers respeitem e acatem todas as regras, não apenas pela segurança deles e dos outros, mas para garantir a permanência e a boa reputação do esporte perante a sociedade e o Estado. Em lugares como Califórnia e África do Sul, existem várias restrições à prática do tow in, sendo que em alguns locais nesses países ela é proibida. Na Austrália e no Hawaii, as leis que regem a prática do tow in são bem parecidas.


Regras básicas:
praticar tow in somente em condições extremas;
no Hawaii, só é permitido mediante a autorização oficial do National Weather Service (NWS), em ondas acima de 8 metros;
não deve haver surfistas de remada na área escolhida. Manter-se pelo menos 200 metros de distância de outras pessoas ou embarcações;
os pilotos e as máquinas dever ser devidamente registrados e habilitados nas entidades competentes de cada país;
• pilotos devem possuir habilitação, cursos de primeiros-socorros e de técnicas avançadas de tow-in, entre outros;
puxar apenas um surfista por vez e levar no jet-ski todos os equipamentos de segurança disponíveis, como prancha de resgate, corda, kit de primeiros-socorros, ferramentas, rádios de comunicação, entre outros.


Fonte: Towsurf Australia e Division of Boating and Ocean Recreation from Hawaii.

Segredos de Pipeline


Mitos vivos de Pipeline, Jock Sutherland e Gerry Lopez deram no final de novembro uma palestra sobre suas experiências na onda mais famosa do planeta, Pipeline (Hawaii), em Cardiff, Califórnia. Na apresentação, batizada de "Talkin'Pipe", a dupla falou sobre os pioneiros e heróis do pico, grandes performances e deu dicas de como surfar/domar uma das ondas mais perigosas e sonhadas do mundo. Enquanto eles falam, vão analisando fotos históricas de Pipe cedidas pelo acervo da revista Surfer. A palestra, que resgata uma saudável atitude do passado ─ a conversa baseada numa apresentação de slides ─ foi dividida em seis partes. O vídeo do encontro pode ser assistido no site da Patagônia.

O espírito da matéria

Apesar do senso poético que norteia minha vida, sempre questiono qual a melhor definição pra surf de alma. E pra outra pérola do nosso esporte: "o verdadeiro espírito do surf". E nesse caso, como seria o "falso espírito do surf" ou o "surf sem alma". Essas definições são tão concretas quanto o meio onde se desenvolve o surf. Tudo é extremamente relativo.


Pra quem desce 50 pés de onda, o verdadeiro espírito do surf está na possibilidade de "chamar a natureza pro pau" e dar conta do recado, mesmo que pra isso seja necessário um amigo de jet ski na retaguarda.Ai, vem alguém que faz isso na remada e diz: "o verdadeiro espírito do surf é encarar isso no braço, porque a máquina mata a essência do surf". Percebe?

Sonhar com a primeira vez no Hawaii incorpora o verdadeiro espírito do surf. Chegar lá e ficar no inside de Pipe, seria surf sem alma? Quem perde a balada, despista a namorada, tudo, só pra poder surfar, tem mais alma de surfista do que o maluco que transou a noite inteira, bebeu todas, riu muito e só consegue pegar as sobras mexidas no final de tarde?

Campeonatos à parte, por que alguém surfa? Prazer? Só isso? Ou a platéia importa? Os reis havaianos surfavam tranqüilos em praias reservadas pra eles. Aos súditos cabia fazer o coro de uhuuu!!! a cada boa manobra realizada e se contentar com os piores picos e pranchas. Hoje, todo mundo tem um toco que bóia e a democratização do esporte terminou em crowd, que por sua vez, gera a competitividade. A realeza, nesse caso, é conseguida pelo fato de você ser local do pico ou surfar muito mais do que os outros. O homem é competitivo por natureza, desde a pré-história. E esse jogo do "sou mais forte pra proteger minha caverna", inevitavelmente invade o campo do lazer, mesmo quando esse é aquático como o nosso.

Acho o máximo quando vejo alguém que surfa mal e ao sair da água relata com detalhes incríveis uma merreca que nem parede tinha e faz com que pareça que surfou Mavericks. Tem gente que nunca entubou, mas sai da água dizendo: viu meu tubo? Ai eu penso: bom, se ele acha que entubou, ou que a onda tinha um tamanho 5 vezes maior do que o real, então esse cara é muuuuito feliz. Porque o surf tem que ser pra você, pra mais ninguém. Se depois de um dia de surf você for dormir se achando o máximo, quem tem o direito de dizer o contrário?

Se eu tivesse que definir mesmo o surf de alma, diria que é a sensação da primeira onda surfada que se carrega pela vida afora, como se fosse um vírus para o qual não acharam a cura. A eterna dependência da água salgada e a fissura de poder deslizar em ondas que nunca se repetem. Um desvirginar eterno que concede um poder especial ao homem.

Conheço muita gente que vendeu a alma pro diabo pra poder surfar. Aí não resta alternativa a não ser botar pra baixo. Mesmo desalmado.

Pacasmayo, Peru


PRINCIPAIS PICOS:
POEMAPE Direitas e esquerdas. Fundo de pedra, bom com pouco vento e maré cheia.
EL FARO Esquerdas quilométricas em fundo de pedra, vento sudoeste e maré seca.

MELHOR ÉPOCA:
Abril a julho.

COMO IR:
Avião até Lima e ônibus até Pacasmayo. O ônibus custa m média 65 soles (equivalente a R$41,50) e mais dez soles (R$6,40) por prancha.

O QUE LEVAR:
Parafina de água gelada, protetor solar, roupa de borracha e roupas quentes para a noite. Se tiver adesivos e camisetas locais, levem, pois os peruanos adoram.

ONDE FICAR:
Existem várias pousadas com todas as refeições na média de U$12 a U$16. As mais freqüentadas por surfistas são El Cazador, El Mirador e Los Faroles.

DICAS PARA NÃO SE DAR MAL:
Não pegue o táxi em Lima sozinho. Água, somente se for mineral. Se for comer algo enlatado, lave bem, pois o saneamento básico é precário.

LOCALISMO/CROWD:
Razoável (especialmente se você é educado).

Bryan Franco


Se você é freqüentador de Maresias ou Juquehy, talvez já tenha visto esse garoto voando sobre as águas sebastianenses. Bryan Westphalen Franco é um californiado à brasileira. O garoto veio importado diretamente de Los Angeles, local onde nasceu e viveu até os três anos. Agora, o quintal de casa fica no litoral norte paulista, na praia de Juquehy. Tudo começou aos 10 anos de idade em cimade um bodyboard, mas logo o moleque quis ficar em pé e resolveu descolar uma prancha de verdade. Então, teve uma idéia e trocou seu videogame por uma 5'2" e não parou mais. Sem folga nos finais de semana, dedica-se aos treinos diariamente. Bryan já alcançou alguns resultados em sua recente carreira, conquistou a terceira colocação em três campeonatos: Hang Loose 2005 e 2007 e Maresia Brasileiro Amador.

A paixão por esportes está no sangue. Seu pai, já nos anos 80, percorria a Califórnia tirando onda em cima de uma BMX. Por isso, o coroa passou a ser seu maior incentivador. Está sempre acompanhando seus treinos, filmando, fotografando e quando pode também cai na água com o filho. As praias de Juquehy, Maresias, Paúba e Camburi são os picos preferidos. É ali que Bryan manda seus aéreos, manobra preferida. Quando o mar está flat, gosta de andar de skate e curtir com os amigos. Bryan já fez algumas viagens internacionais. Já foi duas vezes para o Hawaii e agora se prepara para a terceira. Atirou-se nas ondas de Bali, na Indonésia, viajou também para o Peru e confessou que ficou com medo de encarar Punta Rocas, passou muito frio, a água estava muito gelada e as ondas chegavam aos 12 pés. Hoje ele está com 15 anos e cursa o primeiro colegial. Consegue conciliar a escola e o surfe numa boa e ainda sobra um tempinho para aperfeiçoar o inglês com a ajuda da mãe. Esse gringo não é nada previsível. Sonha em fazer uma trip para as Mentawai e surfar altas ondas num pico com um visual incrível que só o arquipélago oferece. Quando perguntei o que ele espera do futuro, com uma resposta simples e diferente dos demais garotos da sua idade, Bryan responde: "o futuro? Espero que ele seja bom comigo".

Clube do Surf-Arte


O mais completo site de artistas e fotógrafos do surfe mundial, o Club of the Waves é um colírio para os olhos e aditivo para a mente. Portfolios, entrevistas e debates recheiam esse link único que vai muito além do ato de surfar. Belíssimo caminho para quem deseja se iniciar na arte de capturar a essência e beleza das ondas e seu entorno. Ainda mais porque o club traz ricos tutoriais para ensinar até a desenhar nossos sonhos, as ondas.

Absolute Mexico

É difícil imaginar nos dias de hoje que um bom video de surf pode ser feito com imagens captadas durante um único swell, mas é exatamente isso que acontece na nova produção do americano Josh Pomer, "Absolute Mexico". O vídeo se concentra em apenas dois picos: Barra de La Cruz e Puerto Escondido, duas das melhores e mais conhecidas ondas mexicanas. A ação começa em Barra de La Cruz, durante o swell que marcou um dos melhores eventos de todos os tempos no WCT: o itinerante Rip Curl Pro de 2006. Com imagens do campeonato e do free surf, o DVD é um testamento da nova era no surf mundial; a performance dos Top 45 numa onda tão tubular e intensa é absurda. O que mais impressiona são os tubos quilométricos e a radicalidade, verticalidade e agressividade dos melhores do mundo a cada manobra. Parece que quando agrupados numa das melhores direitas do planeta, os Tops elevaram seu surf a um patamar poucas vezes visto, tanto que Parko afirma que aqueles foram os melhores dias de surf de sua vida. Destaques para Taylor Knox, Taj Burrow, Bruce e Andy Irons, os irmãos Hobgood e Bobby Martinez, que estraçalha de backside. A segunda parte se concentra em Puerto Escondido, que quebrou grande e perfeita na mesma ondulação. Com morras de quase 30 pés de face, a festa foi da galera de tow in, com destaque para a bomba de Sean Collins, que lhe rendeu o prêmio máximo do Billabong XXL e para o go for it de Danilo Couto, que dropa algumas bombas e ainda leva uma das vacas mais sinistras já filmadas em Puerto. Com ótima trilha sonora, com David Parsa, Brandon Bristow e Delinquent Habits, entre outros, e um surf de primeiríssima qualidade, "Absolute Mexico" é pura instigação.

Ondas de amor e pureza

Poucos artistas conseguiram retratar o surfe no Brasil com tanta originalidade, beleza e verdade como a carioca Mariana Massarani, 42 anos, formada em desenho industrial na UFRJ, ilustradora e autora de renomados livros infantis. Bebendo da pureza da infância, ela vem fazendo um álbum constantemente renovado das emoções e sensações do ato de surfar. Ela até já escreveu e desenhou um livro só de surfe, o delicioso "Aula de surfe" (Global Editora), e não pára por aí. Em seu blog-diário, Mariana está sempre mandando um desenho novo, irado e único. Ver seus desenhos é como redescobrir o que sentimos naqueles instantes inesquecíveis em que nos apaixonamos pelo mar e suas princesas, as ondas. Ah, a artista pega onda também. "Aprendi na escolinha do Rico, com um cara que faz toda a diferença, o professor Zé Roberto".

Conversei com Mariana por e-mail e ela revelou um pouco mais sobre sua vida na arte e no mar.




01. Como surgiu a idéia de fazer o livro "Aula de surfe"? Você surfa? Onde?
Comecei a fazer aula com 42 anos. E nunca me senti tão feliz na minha vida. Quando eu chegava em casa sentia a maior vontade de desenhar como tinha sido o dia. A aula era um barato, tinha criança de toda idade e coroas homens e mulheres, todo mundo amarradão. Geralmente vou à praia na Barra da Tijuca, no posto 4, aonde fica a escolinha e a água é mais limpa.

02. O que é surfar para você?
Uma das melhores coisas do mundo. Gostaria de ter começado quando eu era criança. Os surfistas são as pessoas mais felizes do mundo.

03. Você consegue passar bem demais o prazer em aprender a surfar no livro. Quais os alunos que mais gostaram de aprender a surfar?
Vi lá na escolinha do posto 4 na Barra todo mundo muito feliz. Pais com filhos e algumas poucas mães que também faziam aula. Apareciam muitos gringos também. No fim de cada aula está todo mundo com um sorriso incrível, lado a lado da cara.

04. O livro "Aula de surfe" foi adotado em alguma escola? Pensa que seria um bom título para ser trabalhado em sala de aula?
Não sei se foi adotado, mas uma estória que se passa numa praia, num país com esta costa toda, sobre um esporte bacana e ainda mais sobre uma família que surfa, tem uma empatia boa com o jovem leitor. Botei até um pequeno dicionário de surfe no final!

05. Há em seus desenhos muita cor e um traço original e belo, além do sabor de infância e juventude em cada desenho e personagem. Como esses elementos se casam com o surfe?
Essas aulas e dias que passei na praia tentando surfar me inspiraram mesmo. Nunca tinha sentido vontade de botar no papel o que acontecia comigo, assim tipo um diário gráfico. Tentei desenhar mesmo o que eu via.

06. Você vive das ilustrações e livros que escreve ou possui outros trabalhos também?
Só vivo de desenho! É uma sorte bem grande!



*Quem quiser conferir mais da arte da Mariana, entra em 2 links:
Blog Muitos Desenhos
Flickr da Mari

Rip Curl Pro Bells Beach


O australiano Joel Parkinson ficou com o título do Rip Curl Pro 2009, etapa do World Tour disputada em Bell's Beach, Austrália.

Em sua 15a final na história do World Tour, Parko derrotou o local Adam Robertson pelo placar de 17.40 a 13.37 pontos.

Pela vitória, o aussie embolsa US$ 40 mil e soma 1200 pontos no ranking do circuito mundial. É o segundo título consecutivo de Parko na temporada.

O aussie balança o sino em Bell's pela segunda vez na carreira ─ a primeira foi em 2004, quando bateu Taj Burrow na decisão. Agora, o aussie conta com oito vitórias na elite mundial.

A próxima etapa do circuito mundial acontece entre os dias 9 e 20 de maio, nas temidas esquerdas de Teahupoo, Tahiti.

Maya Gabeira


Você teria coragem suficiente para surfar Mavericks com um sangramento no corpo, tendo que encarar, além das morras e da água gelada, a possibilidade muito real de um encontro com um tubarão branco? E o que você diria para o Raimana Van Bastolear, local mais casca-grossa de Teahupoo, se ele encostasse o jet-ski no seu barco num dia gigante e falasse: Agora é sua vez? É, nestas horas até que ser mulher ajudaria, pelo menos você poderia justificar sua amarelada respondendo que normalmente você até iria, mas "justo hoje" não ia ser possível pois "eu estou mestruada". Na verdade, não confirmei a informação, mas diz a lenda que Maya Gabeira estava mestruada tanto no dia em que surfou a onda em Mavericks que foi decisiva para a sua vitória no Billabong XXL Global Big Wave Awards, na categoria Melhor Performance Feminina, assim como no último dia 1º de novembro, quando novamente fez história, tornando-se a primeira mulher a dropar Tahupoo em condições extremas. Quer dizer, pra ela, estar mestruada ou não, não entrou em questão, até porque se ela precisasse de uma desculpa, não faltariam outras tão boas quanto essa ou melhores: ela poderia dizer que seu porte físico é muito frágil para a força das ondas de Mavericks ou Teahupoo, o que é verdade; que sua técnica no surfe de ondas grandes ainda necessita ser mais aprimorada, o que é verdade; que jurou para sua mãe que não iria surfar ondas assassinas, o que é verdade; que é jovem demais para morrer, o que também é verdade. Maya tem apenas 20 aninhos e aquela maravilhosa e perigosa, ingenuidade dos inocentes, dos puros de espírito. Quer saber minha opinião sobre ela ter surfado Teahupoo? Foi uma tremenda de uma loucura, para não dizer irresponsabilidade, que por muito pouco não resultou numa tragédia. Lembro claramente como todos no canal que testemunharam as duas vacas, sucessivas e cabulosas, que ela tomou, ficaram gritando desesperados, tentando ajudar Laird Hamilton, responsável pelo resgate, e Raimana, que a rebocou, a encontrá-la no meio da espumeira branca. Especialmente na segunda onda, quando ela demorou demais para subir do caldo, e ainda quase foi atropelada pelo jet-ski de Laird, que passou exatamente sobre o lugar onde ela se encontrava submersa uma fração de segundo antes de sua cabecinha apontar na superfície, para alívio de todos, que já pensavam no pior. Pouco antes, Laird havia se postado de sentinela com o jet-ski estacionado próximo a um barco e perguntaram a ele como Maya havia reagido ao primeiro wipe out. Ele riu, e contou que após tirá-la d'água, perguntou se estava bem. Ao receber uma resposta afirmativa, ele disse que a partir daquela hora ela já sabia como era. Maya então pediu, ali mesmo, sem titubear, para pegar outra onda. Fico só imaginando o que essa menina alegre e valente ainda vai aprontar por aí, dando sustos e colocando no seu devido lugar marmanjos que não mestruam, como eu mesmo.

Nada é impossível


No mundo das ondas, não há nada que transmita mais informações novas e belas que os blogs de surfe. Essa história formidável foi pescada pelo sempre atualizado blog Surf 4 Ever. É sobre um cara que emocionou o Hawaii ao surfar sem membros. Sem as pernas e braços. O lutador chama-se Nick Vujicic. Ele roda o mundo inspirando as pessoas a viver. Ao pegar onda, ele iluminou caras que pensavam que já tinham visto tudo na vida, os legends locais Lance Hookano e Tony Moniz. Ah, quem ajudou também foi a guerreira Bethany Hamilton, a menina que perdeu um braço surfando (tubarão) e não desistiu. Confiram a história no blog gringo The Ride.

Marthen Pagliarini


O amor pelo surf veio até mesmo antes de Marthen nascer. Os pais já eram surfistas, portanto o cenário de praia, sol, mar e ondas sempre esteve presente em sua vida. Cresceu com os pés nas areias do Santinho, norte da ilha de Florianópolis.


Como vivia no meio do esporte, foi um pulo aprender. Aos nove anos resolveu levar a sério e desde então vem lutando por bons resultados. Já foi campeão catarinense mirim. Já venceu uma etapa do catarinense Junior, entre outros.

O quintal de casa é o lugar onde mais treina. Deixou claro que não tem uma manobra prediléta, o importante é executá-la da melhor maneira possível, mas está se empenhando na busca da rasgada perfeita.

O garoto nunca saiu do Brasil, mas já deparou com o medo por aqui mesmo. Local: Maresias, litoral norte de São Paulo. Estava grande e por não conhecer o pico não se sentiu preparado. A prancha era pequena, preferiu não arriscar. "Se vacilasse, com certeza ia ficar na pior".

É comum atletas novos como Marthen se inspirarem em surfistas velhos de guerra. Admira Rob Machado, sabe que até se parecem, jeito largado de ser e violão debaixo do braço. Já pensando em evolução, vêm a cabeça os aussies Mick Fanning e Joel Parkinson. Agora como melhor do mundo, ele deixa bem claro: "Kelly Slater. Ele é o cara, não tem jeito".

O catarinense é figurinha carimbada na praia. É muito fácil reconhecê-lo. Se o mar está flat lá está ele zanzando pela areia com seu chapéu mexicano, chega a ser até ponto de referência por onde passa. Mas quer mostrar para o Brasil e para o mundo que é muito mais que um garoto estiloso. Pretende evoluir ano a ano até chegar um dia, quem sabe, a fazer parte da elite mundial.

O surf moderno nasceu na Califa?


Deu no jornal "O Globo". Artigo de página toda expõe tese do historiador Cleber Augusto Gonçalves Dias de que o surfe como esporte nasceu na Califórnia. "Os havaianos não faziam surfe como esporte. Nem existia essa palavra. Para eles, o hábito de ficar em pé era ligado a rituais religiosos, bem diferente do que aconteceu nos Estados Unidos, principalmente a partir da segunda metade do século XX, onde a pratica era laica e tinha um significado de divertimento e uma gama diferente... O esporte do surfe é um fenômeno moderno, que só pode ser praticado por culturas modernas", afirmou Gonçalves Dias, que escreveu o livro "Urbanidades da natureza: o surfe, o montanhismo e as novas configurações do esporte no Rio de Janeiro". Sim, o surfe explodiu de fato na Califórnia, onde se desenvolveu e expandiu a cultura moderna e o estilo de vida das ondas que conhecemos hoje. Só que o prazer de correr as ondas não nasceu ali. Além da prática religiosa, o surfe era sim uma diversão e alegria para os antigos havaianos. Basta ver o sorriso nos rostos dos surfistas no Hawaii antigo, basta ver o prazer puro. E quanto a não existir a palavra esporte naquela época, será que era necessário se havia uma palavra muito mais ampla como aloha? O aloha que representava toda a cultura e jeito único de viver dos havaianos, tão ligados ao mar e aos sentimentos mais nobres como o compartilhar. O aloha que inclui a arte e espírito de surfar dentro de si.

Quanto à tese de que o esporte do surfe só pode ser praticado por culturas modernas, o jornalista americano Sam George já derrubou essa ideia: ele descobriu há poucos anos na ex-colônia portuguesa de São Tomé, África, os nativos surfando em tábuas de madeira just for fun. George escreveu um artigo na Surfers Journal e fez um documentário sobre essa descoberta, ambos com o nome de "The lost wave ─ an african surf story".

Rip Curl Pro Bells Beach - Womens

Depois de bater na trave em seis tentativas, a cearense Silvana Lima finalmente sentiu o gosto da vitória no World Tour.

Neste domingo, a atleta derrotou a australiana Stephanie Gilmore na final do tradicional Rip Curl Pro 2009, em Bell's Beach, Austrália.

Com um verdadeiro show na decisão, Silvana arrancou notas 9.17 e 8.17 logo nos primeiros minutos de bateria.

Pela vitória, Silvana embolsa US$ 12 mil e soma 1200 pontos no ranking mundial.

A cearense agora é a vice-líder do ranking com 1560 pontos, atrás apenas de Stephanie, isolada na ponta da tabela com 2172.

"Já bati na trave seis vezes. Chorei muito, fiquei chateada, mas acreditava que um dia ia chegar meu momento, que ia poder ser campeã. Deus me deu um belo presente. Demorou, mas chegou num dos melhores campeonatos do Tour", comemora Silvana, primeira brasileira na história a tocar o sino em Bell's.

Silvana, a melhor.


Eu já tinha escutado algo parecido no meio do ano passado, quando um amigo meu viu uma filmagem de uma viagem de barco na Indonésia. "Teve um dia de ondas pequenas em Lance's Right que a Silvana apavorou. Ela estava num barco cheio de meninas famosas, mas era a única que chamava a atenção com as variações de aéreos que dava. Tinham mais três barcos no canal e vários surfistas bons na água, mas no final do dia os comentários no vídeo se concentraram no que a Silvana tinha feito dentro d'água naquela tarde".

Essa viagem das meninas pelo Oceano Índico fará parte do filme "Dear and Yonder", quase todo filmado em película 16mm e que, parece, vai fazer um lúdico e atual raio-x do surf feminino. A viagem aparece em lindas fotos na revista americana Surfing e, junto com a Silvana estavam outras seis surfistas de ponta: a atual bicampeã mundial Stephanie Gilmore, a campeã mundial Sofia Mulanovich e quatro das mais modernas e explosivas surfistas da novíssima geração ─ Sally Fitzgibbons, Coco Ho, Courtney Colongue e Malia Manuel.

A revista usa as fotos da viagem apenas como pano de fundo para o jornalista Travis Ferré traçar, de uma forma bem perspicaz, um pequeno perfil com algumas nuances do estado de espírito de cada uma na viagem e seus estágios atuais de desempenho nas ondas. Travis é elogioso de cabo a rabo com todas do grupo. Mesmo assim, chama a atenção os comentários relativos à Silvana.

Logo na legenda da foto mais irada da matéria, na qual Silvana está voando invertida de volta para a onda, o comentário é enfático e não deixa dúvidas quanto ao atual nível da brasileira: "Silvana Lima mudou completamente a maneira com que as garotas olham o lip. Na foto, atravessando mais alto em Lance's". E continua no subtítulo do seu perfil: "Ela tem aquela imprevisibilidade do Dane Reynolds e o talento para controlar essa imprevisibilidade com estilo".

Vamos combinar que, em apenas duas afirmações, a revista atribuiu quatro características difíceis de serem encontradas juntas num atleta. Revolucionária ("...mudou completamente a maneira..."), imprevisível (comparável ao fenômeno Dane Reynolds), talentosa e com estilo.

As coisas aconteceram meio rápido na vida da Silvana. Ela se mudou do Ceará para tentar a sorte no Rio. O preparador físico Christian Moutinho abriu os olhos do empresário Márcio Giugni, da Ability. Márcio fez contato com o Zé Paulo da Billabong, que já estava de olhos bem abertos. Outro preparador físico e técnico de surf, Pedro Robalinho, colocou-a nos trilhos andando forte e Silvana foi explodindo mundo afora.

Me lembro dela na França, competindo no WQS, soltando aéreos numa época em que as surfistas mais modernas só conseguiam imitá-la dormindo. Depois em Ubatuba, no Super Surf, fiquei de cara com a qualidade com a linha que ela fez nas quartas e na semi em ondas de qualidade com bom tamanho em Itamambuca. Na verdade, além da sua linda na onda, fiquei admirando o estilo em cima da prancha, a pisada forte e fluida do pé de trás. Me lembro bem de dizer para mim mesmo que era a primeira vez que eu via uma mulher surfando igual a um homem, sob todos os aspectos.

Tem outras frases na matéria da Surfing que definem bem o calibre atual do surf da Silvana e seu estado de espírito hoje em dia dentro e fora d'água.

"Você tem a impressão que qualquer coisa pode acontecer quando a Silvana Lima fica em pé numa prancha de surf."

"No barco, ela ficava na dela meio quieta, sociável, mas reservada. Mas, na água tudo mudava. Quando chegava à arrebentação, ela começava a rir, ficava empolgada, dava aéreos e passava a completá-los."

"Ela tomava algumas das piores surras da viagem pelas suas tentativas, mas sempre remava de volta para tentar denovo até conseguir."

"No barco, o respeito pelo talento da Silvana era sempre aparente. Era como se a Coco e a Malia só davam aéreos por causa da Silvana e você podia notar o quanto elas prestam atenção na Silvana."
A matéria fecha com um parágrafo que demonstra bem a influência que a Silvana teve na viagem. "Oh great!", disse a Stephanie um dia no barco. "Silvana acabou de dar outro aéreo. E, de uma hora para outra o marcador de surf progressivo acabou de andar mais uma marquinha para a frente. Steph e Sofia colocaram as suas cordinhas, remaram para fora e começaram a arrebentar os lips das ondas rapidinho."

O apanhador de ondas

"Fôlego" (Ed. Argumento), do australiano Tim Winton, está sendo considerado "O Apanhador no campo de centeio" desta geração. O célebre livro do americano J.D. Salinger, clássico sobre a formação de um adolescente em desajuste com a escola, família e mundo nos EUA dos anos 60 ganhou um surpreendente sucessor. Surpreendente porque conquistou a crítica do mundo todo com a história de um surfista, Pinkelet. Este tímido menino aussie descobre a beleza, magia e perigo de surfar junto do louco companheiro Loonie. Ambos são inspirados por um misterioso guru local das ondas, Sando, que vive com sua amargurada mulher americana, Eva, em uma casa de madeira rústica e bela escondida nas montanhas defronte de um pico mágico do oeste australiano.


Contra o cotidiano simplório e entediante de Sawyer, minúsculo povoado em que moram, Pinkelet e Loonie viciam-se completamente nas ondas e buscarão junto do mentor Sando ondas cada vez maiores e temidas. Loonie deseja ser um big rider e sua loucura e frieza o farão conseguir. Mas talvez ele nunca entenda a grandeza maior do surfe. A grandeza percebida e narrada no livro por um Pinkelet já maduro e agora um paramédico, relembrando sua infância:


"Era difícil imaginar morte quando à sua frente estavam aqueles caras dançando pela baía, com um sorriso na cara e o sol batendo no cabelo. Eu era menino e não sabia como colocar aquilo em palavras, porém mais tarde entendi o que capturou a minha imaginaçã naquele dia. O quanto era estranho ver aqueles homens fazerem algo belo. Algo sem sentido, algo elegante, como se ninguém estivesse vendo, como ninguém se importasse. Em Sawyer, uma cidade de operários de serraria, lenhadores e criadores de gado, com um açougue e um banco rural ao lado do posto de gasolina da British Petroleum, os homens faziam coisas sólidas, práticas, a maioria trabalhos manuais... não havia muito espaço para a beleza nas vidas dos nossos homens.
[...]
Sempre vou me lembrar da minha primeira onda naquela manhã. O cheiro de parafina, da salmoura, dos arbustos. A maneira como a ondulação se avolumou embaixo de mim, como um corpo que se enche de ar. O modo como a onda me impulsionou para a frente e como fiquei em pé, patinando com o vento gerado pelo impulso passando pelas minhas orelhas. Eu me inclinei contra a parede de água e a prancha me obedeceu como se fosse parte do meu corpo e da minha mente. A névoa dos borrifos de água. As infinitas faíscas de luz. Lembro daquela figura solitária me observando na praia e o vulto do sorriso de Loonie quando passei voando: eu estava embriagado. E embora eu já tenha vivido o bastante para ser o velho que sou hoje... ainda julgo cada momento de alegria, cada vitória e revelação à luz daqueles poucos segundos de vida
".

Game e Blog nas ondas noveleiras


Curte as ondas e uma novelinha? O site Surfinia traz 6 praias, 9 campeonatos e 150 minigames pra brincar no mundo das ondas. Tudo isso ambientado no mundo da novela da Globo, Três Irmãs. A ilha de Surfinia esconde um segredo por trás de cada casa do tabuleiro. Encontre os personagens escondidos pelo jogo, ou treine seu surfista para dar aéreos e outras manobras cabulosas. Compre as melhores pranchas e roupas de surfe, ou economize para entrar nos campeonatos e ganhar prêmios de verdade.

Já quem quer curtir um blogzinho bem atualizado e com boas novidades pode conferir a parada feita pelos irmãos surfistas da novela, Thor e Zig. Acesse o blog Salve sua praia.

Sites Verdes

Super Tubes Foundaion → Uma organização sem fins lucrativos dedicada à preservação das duas e praias de Jefreys-Bay. A iniciativa conta com o apoio de vários surfistas profissionais em todo o mundo.

Recicloteca → O site trata de temas sobre reciclagem, coleta seletiva e dá dicas para evitar o desperdício.

Save The Waves → ONG dedicada à proteção e preservação de ondas e reefs espalhados em todo o planeta.

Lixo → Encontre informações sobre práticas sustentáveis relacionadas ao destino que você pode dar ao seu lixo. Pequenas ações fazem grande diferença.

Pescadores podem ajudar a "limpar" os mares


Os pescadores possuem uma relação direta com o mar e ninguém melhor do que eles para ajudar a preservar este ecossistema tão importante para o planeta. Pensando nisso, o projeto Marinas, em Ubatuba, litoral norte de São Paulo, promovido pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SMA), lançou o programa Lixo na Rede.

O principal objetivo da ação é sensibilizar os pescadores locais para que os mesmos ajudem na coleta de plástico, vidro, madeira, metal e outros resíduos no litoral de Ubatuba. Os pescadores que aderirem ao projeto serão beneficiados com vales-diesel doados pela Petrobras, que patrocina a idéia. Os pescadores interessados em participar serão orientados através de cursos de capacitação e terão suas embarcações equipadas com sacos reaproveitáveis para recolherem os resíduos. A prefeitura da cidade de Ubatuba disponibilizará postos para o recolhimento do material poluente retirado do mar. Se todas as prefeituras de cidades litorâneas se organizarem em projetos como este, certamente nossos mares ficarão mais limpos e preservados.

A última viagem do Surfista Prateado

"Eu sou Norrin Radd. O Surfista Prateado. Detentor do poder cósmico, outrora arauto de Galactus, o devorador de mundo. Já viajei pela galáxia, vi mais estrelas do que outros olhos poderiam esperar testemunhar numa centena de vidas. Mas eu contemplo a cena diante de mim com o espanto de um recém-nascido...". Essas são as palavras iniciais da belíssima história "Réquiem", sobre o mais nobre e idealista homem das ondas, o Surfista Prateado. A graphic novel (HQ) em duas edições da Marvel traz uma inquietante narrativa sobre os últimos dias de vida do herói.


Criação do mago dos quadrinhos, Stan Lee, o Surfista Prateado dropa os céus da atmosfera terrestre procurando nos ajudar, mas, incompreendido, é visto como uma ameaça. Só na galáxia, junto das estrelas e outras maravilhas, encontra um pouco de paz.

Os desenhos desta revista são arte pura, perfeitos pra virar pôster na parede ou encapar o caderno, e as palavras expressam filosofia, sentimentos e valores dos mais belos e dignos.

Em meio a tantos super-heróis sanguinários que mais parecem justiceiros assassionos, é sempre bom admirar um cara que só quer fazer o bem enquanto viaja/vive com sua prancha mágica e coração imenso.

Quem perder a revista nas bancar pode baixar a minissérie pela internet no blog gusboulevard.

Pra ver a revista no micro depois de baixá-la, melhor ainda ficará se você instalar um programinha especial para visualização de HQ's, o CDisplay.