Uma manhã em Pipeline
Rip Curl Pro Search Portugal
O australiano Mick Fanning é o grande campeão do Rip Curl Pro Search 2009, nona etapa do ASP World Tour, encerrada hoje em Supertubos, Peniche, Portugal.
Em ondas com cerca de um metro e séries maiores, Fanning abusou das batidas, rasgadas e cutbacks para vencer seu compatriota Bede Durbidge por 12.67 a 9.87 pontos na final e garantir sua terceira vitória na temporada. As anteriores foram na Califórna e França.
"Ontem foi um dos melhores dias de competição que eu já vi e todos puderam mostrar seu surf. Hoje tivemos que ajustar nosso estado de espírito para lidar com a queda de tamanho e qualidade das ondas", diz Mick Fanning, que é o campeão mundial de 2007.
"O evento fez jus ao nome. Nós procuramos as melhores ondas em todos os lugares. Surfamos quatro ondas diferentes durante o evento e até ontem eu queria ter surfado no pico de The Wall, mas a prova acabou rolando aqui (Supertubos) e foi um dos melhores dias do ano. Parabéns à Rip Curl e toda equipe que trabalhou duro para isto acontecer", elogia Mick Fanning.
THE PRESENT
Tudo começa com uma câmera 16mm aparecendo na tela e comunicando sutilmente que o importante é voltar para o básico, se é que isso se presta para uma tradução tão chula. Thomas Campbell é um verdadeiro artista. Seus filmes, SPROUT e SEEDLING, são poemas visuais e poesia, e pode ser chato pacas quando o poeta não sabe quando terminar.
The Present é um bom filme, teima demais com câmera lenta e tem estrofes longas demais com o simpático Alex Knost falando no telefone, mas funciona bem em entreter e atiçar o camarada que o assiste a passar mais tempo na água.
A trilha, como sempre, é impecável: jazz e funk salpicados de roquinho fácil ara divertir, David Axelrod, Vetvier, Gabor Szabo, Tommy Guerrero, Bonnie Prince Billy e Japanese Motors (banda do Knost). Uma das grandes estrelas do filme é a Alaia, prancha primitiva feita de madeira, sem quilhas, inspirada nas antigas fotos e gravuras dos polinésios. David Rastovich e Rob Machado fazem a coisa parecer fácil demais ─ ainda mais quando em câmera estupidamente lenta.
Uma onda perdida na África também encanta pela fotografia caprichada, homenagem do Campbell ao ENDLESS SUMMER. Chelsea Georgeson dá uma aula (inclusive aos marmanjos) de como entubar na já tradicional viagem de barco pelas ilhas da Indonésia. Joel Tudor dá uma pequena aula sobre a mitologia do surf, de Dora e Curren, e um campeonato inusitado apresentado por Machado e Reynolds quase arranca uma gargalhada ─ destaque para o Conde Tremula (Dan Malloy). A narração é irritante e dispensável.
The Present ─ não deixe de assistir, tome um belo copo de café forte antes.
06 perguntas para... Jason Gilbert
O AUSTRALIANO JASON GILBERT TRABALHA COMO QUIROPRAXISTA OFICIAL DA ASP PARA A AMÉRICA LATINA DESDE 1999, ATENDENDO TANTO A ELITE FEMININA QUANTO A MASCULINA. DURANTE ESTE LONGO PERÍODO O PROFISSIONAL ADQUIRIU UM VASTO CONHECIMENTO SOBRE OS PROBLEMAS DE COLUNA VERTEBRAL E ARTICULAÇÕES QUE OS SURFISTAS PROFISSIONAIS E, DE TODOS OS NÍVEIS, PODEM ENFRENTAR. CONHEÇA QUAIS SÃO OS PROBLEMAS MAIS COMUNS SOFRIDOS PELOS SURFISTAS E TAMBÉM SAIBA COMO PREVENÍ-LOS.
01. Qual a importância do seu trabalho nos campeonatos da ASP?
A quiropraxia é uma ferramenta essencial para atletas de todas as modalidades. Visa recuperar e manter a função da coluna vertebral e das articulações funcionando normalmente. Quando problemas nessas regiões se prolongam, podem causar fraqueza dos músculos, contratura, desequilíbrio no corpo e até degeneração precoce. Ou seja, coisas que podem afetar seriamente o desempenho do atleta.
02. Essa degeneração apresenta sintomas?
O pior de tudo isso é que ela pode acontecer sem dor ou outros sintomas óbvios. O primeiro sinal que pode aparecer é uma crise ou rigidez no corpo e, claro, dor. Há surfistas no WCT que já sofrem degeneração discal ou óssea, pois deixaram de corrigir problemas biomecânicos no tempo adequado, em função dessa falta de sintomas. Eu comparo isso a um carro do qual uma roda passa num buraco. Apesar do carro poder andar ainda sem problemas, com o tempo o desalinhamento vai desgastar o pneu. Muitos motoristas somente notam isso quando a roda já está vibrando muito, ou seja, dando sinais.
03. Quais são as causas mais comuns desses problemas?
Os surfistas enfrentam longas viagens de avião para acompanhar o circuito, o que trava os quadris, a coluna lombar e a região dos glúteos. Dormir no voo sem o apoio adequado para o pescoço e cabeça ou usar um travesseiro incorreto, deixam a coluna bem prejudicada. Outro problema é que ficam muito tempo sentados, com péssimo apoio lombar, assistindo a bateria dos outros, ou no computador, nos dias sem onda. Todas essas atividades travam a coluna, o que pode limitar a mobilidade e a flexibilidade, que são essenciais na hora de manobrar. Colchões inadequados também podem ter um efeito negativo.
04. Que lesões podem ser causadas pelo surf?
O surf é um esporte unilateral, ou seja, usamos um lado do corpo mais do que o outro. Todo mundo que é surfista sempre tem o pé direito ou esquerdo atrás e como em outros esportes unilaterais, como tênis ou golf, causa desequilíbrio muscular crônico, o que acaba afetando a biomecânica da coluna e do corpo inteiro. Certos elementos, como músculo, tendões e ligamentos, quando estão encurtados devido a desequilíbrio, não conseguem exercer normalmente sua função, especialmente quando sobrecarregados durante uma manobra, um drop crítico ou até em outras situações cotidianas da vida. Por isso problemas acontecem. Muitas vezes a pessoa pode achar que um certo movimento pode ter sido a causa de uma lesão, mas na realidade geralmente foi somente "a última gota d'água". Pois a articulação ou tecido já tinha passado muito tempo sem a integridade normal, sem causar dor ou sintomas óbvios. Esse tipo de problema pode acontecer na coluna lombar (nos discos ou articulações), como também no joelho, tornozelo, ombro ou qualquer outra articulação. Lesões antigas que não são tratadas e reabilitadas adequadamente produzem encurtamentos de tecidos moles e disfunção nas articulações. Por isso é vital que todo mundo que pratica esporte procure conhecer suas lesões e trate-as adequadamente até a cura total. Caso contrário a vida esportiva pode ser encurtada.
05. Quais são as regiões da coluna que são mais suscetíveis a complicações?
O que mais observo com os surfistas da elite é que a maioria apresenta o mesmo padrão de restrições de coluna, principalmente nos quadris, coluna lombar (parte baixa da coluna), a região entre as omoplatas e a nuca. Remar não é uma atividade natural para o corpo humano. Não fomos feitos para remar. Por isso precisamos ter consciência de que essa atividade sobrecarrega alguns músculos mais do que outros, principalmente os anteriores do ombro e os que juntam na região da nuca. Kelly Slater me falou sobre uma situação em que seu braço entrou fundo demais na parede do tubo em Pipeline, e que sentiu como se estivesse saindo do lugar. Ele percebeu que os músculos anteriores do ombro estavam encurtados e começou a alongá-los e também fortalecer os músculos posteriores para ajudar a proteger o ombro. Outros não têm a mesma sorte, pois deslocam o ombro num caldo, como no caso do Nathan Hedge, em Teahupoo, alguns anos atrás. Por isso é sempre bom estar preparado fisicamente para o pior. É sempre uma pena ver lesões evitáveis acontecer devido à falta de preparação. Outros problemas comuns são os de quadril, devido à força usada na hora de girar o corpo para fazer a cavada, a rotação excessiva de uma manobra ou de aterrisar depois de um floater. Quando a articulação que junta quadril e coluna trava, pode causar de dor lombar até hérnia, mesmo sem a pessoa saber. O ajuste quiroprático é excelente para combater tudo isso. Nos campeonatos presto muita atenção nesse ponto. Com todos os surfistas faço um tipo de liberação muscular que aumenta a mobilidade e rotação dos quadris. Esse tipo de trabalho é individual. Apesar de ser um padrão geral, cada surfista é testado antes e depois para comparar a mobilidade.
06. Quais os surfistas mais bem preparados fisicamente no Tour?
Com certeza Mick Fanning, Joel Parkinson, Adriano de Souza, Kelly Slater, Mick Campbell e Taylor Knox. Num grupo é fácil perceber quem está se cuidando com alongamentos, boa alimentação, ajustes quiropráticos regulares e na recuperação adequada de lesões. Para ser justo com os brasileiros, este ano não tive a oportunidade de examinar e tratar todos, mas vejo uma tendência dos surfistas com mais tempo de circuito estarem mais focados nessa preparação. Os mais jovens ainda não se preocupam com isso seriamente, o que não é correto. Eles poderiam começar a seguir os hábitos dos surfistas mais experientes, o que não somente evitaria muitas lesões desnecessárias, mas também melhoraria a performance em geral. Adriano Mineirinho é a exceção. Em Imbituba pude perceber que ele está sendo bem assessorado em relação a preparação física e alimentação. Diferentemente do passado, quando só a performance importava, os surfistas que quiserem se manter entre os melhores devem cuidar com seriedade da saúde.
O quiropraxista Jason Gilbert tem clínicas na capital paulista e também uma unidade na cidade do Rio de Janeiro. Neste mês de outubro chega às livrarias o livro "O Segredo da Coluna Saudável, Siga os Passos para uma Vida sem Dor", de sua autoria, em parceria com a Editora Gaia. Para maiores informações clique aqui.
SurfARTE
O surf através dos tempos provou estar muito além de estereótipos bobos e superficiais tais como o de os surfistas serem “vagabundos de cabelo parafinado e fala lenta”. Expandiu horizontes e mostrou ao mundo todo seu potencial. Engajou-se no mundo dos negócios e marketings, reafirmou sua simbologia cultural, mostrou ao mundo sua história, envolveu-se com a saúde e hoje é sinônimo de qualidade de vida. Porém, talvez sua maior e mais intima relação tenha se estabelecido com a aparentemente distante, mas intimamente próxima ARTE.
O surf dropou naturalmente no mundo artístico e como num floater deslizou pelas mais diversas ondas da ARTE, passa pela fotografia, filmagem, pintura, escultura, música, crônicas, textos, verso, prosa e o que mais o oceano de criatividade resolver despertar. Mesmo explosivo e cheio de adrenalina como todo esporte digno de denominar-se radical, o surf demonstra-se sutil e instiga sentimentos, desperta a vontade de eternizar tanta pureza e sutileza em ARTE.
Manobras fortes de posições acrobáticas e harmoniosas somadas a cenários pitorescos cheios de tons e vida, eternizam-se em fotografias.
Toda movimentação que envolve o corpo do surfista, a aproximação da ondulação, o spray na crista das ondas provocado por um bom terral e toda dança da natureza no palco dos litorais fica registrado em boas e bem editadas cenas de filmagem.
Os variados tons do surf refletem a tranquilidade e inspiram mãos donas de pincéis encharcados de um spectro de cores vivas que preenchem telas e criam pinturas dotadas de beleza e criatividade.
Com matéria prima retirada do surf como pranchas quebradas e roupas de borracha rasgadas, ou não, o surf também inspira esculturas que com formas variadas corporifica toda sua plasticidade e dinamismo.
O surf com certeza está na música, entuba nas ondas sonoras e cria batidas diferentes. Criou a “surf music” com embaixadores como Jack Johnson e Donavon Frankenreiter, no entanto, sua trilha sonora respeita e admira variados ritmos; o surf está tanto no reggae, como no blues, está no hard core e até na bossa nova, como na composição de Jobim de "Surfboard".
Descrito por palavras o surf é aventura, romance, verso e prosa. Esse surf de palavras já virou livro, sendo registrado por sua beleza e registrando sua história. Elogios viajam nas linhas desenhadas nas ondas e rasgam-se por textos, crônicas e poesias. Como nos versos de Manuel Alegre em “Surfista”:
"De pé na frágil tábua
onda a onda ele escrevia
poesia sobre a água.
Era uma escrita tão una
de tão perfeita harmonia
que o que ficava na espuma
não se podia apagar:
era a própria grafia
do poema do mar."
O surf como ARTE talvez não seja conhecido há muito tempo. Mas acordar cedo com um nascer do sol alaranjado como cenário para no quadro das ondas desenharem a linha de surf é uma ARTE e essa os surfistas já conhecem há séculos.
Já dizia um velho ditado
Mineirinho que de mineiro só tem o apelido, provou também que “não come quieto”. Botou pra baixo, arrancou highs scores dos juízes, euforia da galera, “uhuls” dos companheiros e desconcertou o Velho Mundo com seus poucos e comprovadamente maduros vinte e dois anos. Com sua audácia Mineirinho chegou até a repaginar a imagem do tradicional azarento número treze, lembrando em sua primeira entrevista após a final da coincidência entre sua primeira vitória no tour em 13 de outubro e seu aniversário comemorado em 13 de fevereiro. Coincidência ou não, esse tal de 13 trouxe ao Mineiro sua primeira conquista no circuito e ao surf brasileiro o nascimento de uma das suas maiores esperanças da atualidade.
Billabong Pro Mundaka
O paulista Adriano de Souza conquistou a primeira vitória de sua carreira no ASP World Tour nesta terça-feira, ao vencer o australiano Chris Davidson na final do Billabong Pro em Sopelana, País Basco.
"Estou muito feliz com minha primeira vitória. Quero agradecer a todos que me deram suporte para estar aqui, meu patrocinador e minha famíla. Muito Obrigado! Este foi nosso, Brasil!", vibra o campeão da etapa, completamente emocionado.
Renascer
O Oceano estava lá, como sempre, em toda sua majestade com seu infinito manto azul subindo e descendo, balançando com ternura seus súditos e seres que fazem desse manto e reino seu habitat natural. Dono do maior império já visto, alcança todo o redor do globo, chega nos lugares mais inóspitos e produz os mais diferentes cenários, desde a movimentada província Atlântica a misteriosa e ironicamente denominada Pacífica. O Pacífico, a maior das províncias, esconde mistérios e embora sustente uma imagem paradisíaca, revela-se altamente temperamental.
É POSSÍVEL SURFAR UM TSUNAMI?
O atual mito é a onda de 100 pés, que equivale à altura de um prédio de dez andares, nunca antes surfada. Já parou pra pensar na força desse vagalhão? Muitos surfistas se preparam para esse grande desafio, mas será que algum deles já se imaginou surfando algo com volume de água 5.000 vezes maior?
Uma onda bem menor que Jaws, em altura, porém, bem maior em largura; um outro gigante, capaz de devastar cidades e desaparecer com milhares de pessoas. Como a tragédia que aconteceu semana passada, na Ásia.
O tsunami com certeza não atinge os 100 pés de altura, que acreditam poder alcançar um dia a onda de Cortes Bank, mas sem dúvida é a mais tenebrosa onda do planeta, aquela na qual ninguém gostaria de se pego desprevenido, ou... poderíamos dizer... sem sua prancha?
QUEM SE AVENTURA?
Na tentativa de entender como seria essa loucura, algumas pessoas até comparam a idéia com surfar uma pororoca gigante. Seria preciso uma prancha com flutuação bem maior para suportar a força das suas águas e também a ajuda de potentes jet-skis, pois o tsunami é 20 vezes mais rápido que a onda comum. Tomar cuidado para não trombar com troncos de árvores e pedaços de casas no meio do caminho também não seria exagero, já que o tsunami avança a 800 km/h pelo oceano e, quando chega à costa, varre como uma avalanche praias e cidades, arrastando detritos.
Isso mesmo, uma avalanche. Essa é a forma de um tsunami, uma enorme espuma branca... Já pensou perder sua prancha por ali?
Fui pesquisar se haveria algum candidato para tal loucura, e descobri um voluntário a cair na água no meio de uma grande tormenta. Ele contou na reportagem que "numa onda de maremoto eu iria, mas teria de ser de tow-in e com um bom parceiro me rebocando. Já caí no mar no meio de um furacão no México. Tinha 25 pés de onda, e fui o único a estar ali". Além disso, ele completa "mas o tsunami mesmo eu não sei se daria para surfar, porque a onda não tem parede e a espuma dele te varre".
Já que a tarefa parecia inviável, fui ver se valeria a pena sair a bordo de um jet-ski ou barco a motor procurando um lugar em alto-mar, onde talvez seria possível surfar o tsunami. Ao perguntar a um amigo e estudante de oceanografia, ele diz não acreditar que esse lugar exista, porque a formação do tsunami é diferente à de uma onda comum. "O tsunami em alto-mar é uma ondinha muito baixa e que não quebra. Tanto que ele pode até passar despercebido".
Mas é interessante imaginar o surf sobre um tsunami. O peruano Felipe Pomar certa vez disse ter realizado a proeza, em 1974, numa ilha próxima de Lima, capital do Peru. Ele e o amigo Pitti Block estavam no mar, pegando ondas de 1 metro, quando o local foi atingido por um violento terremoto. Os surfistas foram sugados por quase 2 quilômetros oceano adentro, e meia hora depois Pomar teria conseguido pegar e surfar um tsunami de 3 metros até a praia. "Remei através dos destroços e cheguei a terra. Pitts chegou um pouco depois. As pessoas vinham correndo dos morros, sem acreditar que estávamos vivos", contou Pomar, anos depois, em uma entrevista na revista Surfer.
Mick, Myself and Eugene
O vídeo da Rip Curl é um interessante passeio pela vida de Mick Fanning em seus diferentes aspectos. O acidente que deixou o australiano fora da água por cerca de seis meses é o ponto de partida do dvd. Em meados de 2004, numa viagem de barco em algum lugar do Índico, Fanning sofreu uma grave lesão no músculo posterior da perna voltando de um floater. Depois de meses de molho e muita fisioterapia, ele retornou às competições com uma brilhante vitória em casa na primeira etapa de 2005. Mais do que traçar a trajetória do aussie desde o acidente, o filme mostra as diferentes facetas de sua personalidade: o competidor voraz (Mick), o super talentoso free surfer (Myself) e o australiano fanfarrão (seu alter-ego Eugene). Todos juntos fazem Mick Fanning. O filme ainda conta com partes mais sérias e emotivas ─ como quando relembra seu irmão mais velho e grande incentivador, Sean, morto em um acidente de carro. O prato principal é mesmo o surf explosivo de Fanning, que fica explícito nas ótimas imagens de Jon Frank. A trilha sonora é bem interesante ─ com Queens of the Stone Age, Mars Volta e Midnight Oil, entre outros. Ainda tem surf de primeira de Occy, Brendan Margieson, Nathan Hedge e Pancho Sullivan ─ totalmente à vontade no Hawaii. O bônus vem com os melhores momentos dos WCTs de Bell's e do México deste ano. Confira.
Lucas Silveira
Seu lugar dos sonhos é a Indonésia. Talvez se identifique pelo fato de suas manobras prediletas serem tubos e aéreos. Com certeza lá é um ótimo lugar para executá-las da melhor maneira possível. Afinal, a Indonésia é um sonho para qualquer surfista que procura a onda perfeita.
Quiksilver Pro France
O australiano Mick Fanning levou o segundo título seguido do Dream Tour da ASP neste domingo depois de derrotar o compatriota Bede Durbidge na final do Quiksilver Pro France com ondas de meio a 1 metro no pico de Les Bourdaines.
Fanning estava a 936 pontos de Parko e reduziu a diferença para somente 146, o que torna a disputa de Mundaka, País Basco, ainda mais emocionante para o desfecho do World Tour.
Depois, passou pelo compatriota Ben Dunn nas quartas e derrotou o franco-brasileiro Patrick Beven na semifinal. Só não deu para superar a velocidade de Fanning na final.
Mais uma de amor
Suas águas lambem peles.
Com ela sente-se medo e prazer. Sonhos e pesadelos crescem aos olhos de seus súditos. E entre tantos, apanhou e apunhalou, a mente e a alma de seu mais inocente apreciador. Tornou-o dependente de sua magia e cor, admirado com sua forma e textura e principalmente viciado em sua fúria. Visto que, para este nada é mais encantador do que o perigo de desafiar sua deusa, sem deixar de respeitar a amada.
Esse namoro é longo, algo de séculos. Beira a eternidade, a loucura; e como todo e qualquer casal, passam por situações difíceis, têm suas crises. Ela furiosa e majestosa que só vendo, libera toda força dessa fúria no amado. Ele, conhecendo esse lado, encanta-se mais, delicia-se ao sentir cada vibração de raiva, cada exaltação, cada tremor. Uma vez que, bom, ele já a conhece e sabe que ao fim da tempestade deita-se numa rede solitário admirando a beleza de sua querida com suas belas imagens, sonhos bons e um amor puro.
Em contra partida, com ternura ela se acalma. Percebe aqueles olhos sinceros fitando seus detalhes e delicadamente retribui tanto amor proporcionando espetáculos de cores no céu, brisas refrescantes, matas virgens e verdes, montanhas brancas e gélidas, rios serpenteando toda a extensão desse esplendor, e para o amado, o presente que mais o empolga: sua mais bela silhueta, as ondas.
Essa é mais uma história de amor daquelas que alegra o coração e faz termos o desejo de sentir o mesmo perante a pureza e beleza desse sentimento. Caso queira saber mais sobre esses dois, procure pelo Surfista e a Mãe Natureza. Fique tranquilo, eles estão sempre juntos, seja dentro ou fora do mar, os dois são inseparáveis. E, se encontrá-los, mande lembranças e diga que mesmo não me enxergando estou sempre olhando por eles.
Ass.: Paz.
Dia Internacional da Árvore
→ Não fixe pregos nos trocos, pois isso pode contaminar a árvore por fungos e outros parasitas. Troncos não servem para fixar placas, cartazes ou gravar nomes;
→ Pintar a base das árvores prejudica o seu desenvolvimento;
→ Não permita que cercas de proteção sejam arrancadas. Elas podem garantir à muda um crescimento saudável.
Hurley Pro Trestles
06 perguntas para... Ernesto Simões
Efeito amnésia
Saudade. O surf deixou, deixa e deixará muitas saudades. É certo que novos tempo virão, só não é certo esquecer que ótimos tempos já se foram e que marcaram muito mais do que com fotos, lembranças ou pranchas quebradas.
Marcaram mentes, almas.
Marcaram contos inesquecíveis para os incansáveis contadores de histórias.
Marcaram vidas, sonhos e realizações.
Marcaram gerações. E gerações, e gerações...
Embora embutidos em uma série de coisas ditas "modernas" muitos destes ensinamentos fazem parte do dia-a-dia do surf nos dias de hoje. Ou você acha mesmo que fishes, quadriquilhas, surf em ondas mais do que gigantes, entre outras ideias surgiram agora? Não mesmo! Os caras estão com a cabeça no surf muito antes de muitos de nós sabermos que o mundo é mundo dentro do ventre de nossas mães. Entretanto, a questão mesmo não é saber quem inventou o que, quando e porquê. A questão é não deixar os nossos antepassados perderem seu valor, admiro-me com a falta de respeito de alguns pelos nossos clássicos e pioneiríssimos longboarders, ou pelo bodyboard e o mais "antiquado" dos estilos: o surf de peito. É incrível como a evolução do surf para shortboarders encaminhou-nos não só para evolução do esporte para uma maior rapidez e agilidade nas ondas, mas também para a triste realidade desse preconceito bobo. Quer saber? Quer saber mesmo? É maravilhoso o deslizar das ondas, deslizar tento contato direto de corpo inteiro com o oceano então, pode até não poder ser classificado como melhor ou pior, gosto é relativo, porém, não deixa de ter uma pureza única, é se entregar literalmente de corpo e alma; bem como em todas as outras modalidades, que devem mais do que se respeitar, precisam se amar. Entender que todos são parte de uma mesma família.
Saudade do tempo que se foi, saudade de ondas perfeitas e limpas, saudade de praias livres de conflitos, livres de localismos - o planeta é da natureza e fazemos parte dela e não de uns poucos privilegiados que sentem-se donos dela - saudade dos longos discursos dos grandes mestres que sabem como ninguém o que é amar o oceano por uma vida inteira, saudade dos grandes "tocos" polinésios onde os nativos aprendem desde novos o que é brincar com o mar, saudade da pureza do sentimento, saudade da sinceridade nos olhos ao ver o oceano, saudade principalmente da valorização destes princípios, visto que no fim eles jamais foram apagados e sim, espero eu, temporariamente esquecidos num breve e passageiro efeito amnésia.
Stylemasters
"Stylemasters" é uma viagem a uma era de mudança, onde pranchas tornaram-se mais curtas, manobras mais radicais, e o conceito de estilo estava sendo redefinido. Uma época de experimentação em design — onde os líderes de uma geração eram indivíduos dedicados a construir seu próprio equipamento e sua própria interpretação do ato de deslizar sobre as ondas. Filmado no final dos anos 70 no North Shore de Oahu (com exceção de uma sessão em Uluwatu), "Stylermasters" narra a progressão do surf nessa época determinante, documentando o estilo de vida e a performance de alguns surfistas mais influentes de todos os tempos. Entre eles Gerry Lopez, Rory Russell, Peter Townend, Rabbit Bartholomew, Buttons Kaluhiokalani, Dan Merkel, Greg Weaver, Shaun Tomson e Mark Richards. A narração e roteiro podem até ser um pouco antiquados, mas o filme continua sendo muito interessante — principalmente se você quer entender um pouco mais sobre o desenvolvimento e a história do surf moderno. Com imagens digitalmente remasterizadas, o DVD ainda conta com entrevistas atuais dos principais protagonistas. DVD certo em qualquer coleção que se preze.
Levemente flexíveis
Pranchas de EPS, vulgo isopor, laminadas com resina epoxy de última geração: esses materiais foram desenvolvidos nos EUA especificamente para pranchas sendo os blocos fáceis de shapear ainda que na mão, proporcionando grande qualidade no acabamento, pintura e pranchas mais brancas e resistentes aos raios ultravioletas. E o mais importante, o segredo: flexibilidade! Durante o longo reinado do poliuretano esqueceu-se de um aspecto muito importante: a flexibilidade da prancha, que é exatamente a vida da mesma. E é exatamente isso que o isopor tem de melhor ─ performance! Tenho escutado de alguns amigos a mesma informação: como as pranchas de epoxy são rápidas e retomam a velocidade nas manobras; e sensíveis, usa-se menos força para manobrar. Tudo de bom? Não, o isopor não é tão fácil de concertar, a resina requer uma proporção correta, não pode ser no olho, e absorve mais água, ou absorve água mais rapidamente. Então se deve sair do mar para evitar que entre muita água. Porém, toda água que entra sai, basta deixar a prancha secando por alguns dias. Já o poliuretano absorve menos água, mas somente 70% da água infiltrada sai da prancha, o resto fica. Para a epoxy, assim como para a resina normal, já existe secagem ultravioleta, ou seja, a resina seca quando exposta à radiação, o sol, às lâmpadas de bronzeamento. Assim o concerto da epoxy fica bem mais fácil.
Tour para molecada
Da Guarda para o mundo
Yallingup Surfilm Festival
UM NOVO TOUR?
Depois de fazer a diferença dentro d'água, desde o início da década de 90, quando apareceu com um surf extremamente rápido, moderno e consistente nos campeonatos, liderando inclusive uma ditadura velada de pranchas estreitas e finas de espessura que durou uns 15 anos, Kelly Slater agora quer fazer a diferença também fora d'água.
Ele está por trás de um outro circuito mundial de surf que foi chamado por um jornal australiano de "Reber Surf Tour", veículo que também chama de "grupo rebelde" o trio formado pelo americano nove vezes campeão do mundo, o seu empresário, Terry Hardy, e um ex-promoter de boxe, Matt Tinley.
Esse circuito seria formado por 16 surfistas, sendo oito permanentes (os mais famosos? os mais bem rankeados na ASP? escolhidos pelo Kelly?) e oito convidados (convidados por quem?). De cara fica claro a característica bem elitista da idéia. Se por um lado podemos apostar na escolha de surfistas espetaculares, nem sempre eficientes ou pacientes com as ondas e a maratona do WQS, por outro será difícil aceitar o campeão desse circuito como um Campeão Mundial de Surf Profissional.
Talvez esse nem seja o intuito da turma "rebelde" e esse circuito possa conviver harmonicamente com o da ASP.
O circuito começaria no segundo semestre de 2010 e seria formado por oito etapas realizadas em cinco meses. Aqui estaria atendida uma reinvindicação antiga dos competidores ─ que o surf profissional tivesse um calendário parecido com outros esportes, como futebol americano, que tem pré-temporada e temporada formada por cinco a seis meses por ano, no máximo. Os surfistas profissionais de ponta sempre reclamavam muito da falta de "férias", da falta de um período que pudessem ficar com a família, sem viagens e compromissos competitivos profissionais. O circuito sempre terminou dias antes do Natal e, menos de dois meses depois, no final de fevereiro, já estavam todos reunidos compulsóriamente para a primeira etapa do ano seguinte.
Por último, e mais importante, com um pré-acordo já assinado com a rede esportiva de TV por assinatura ESPN e consequente maior exposição garantida às empresas que aderirem, as oito etapas distribuiriam um total de US$ 12 milhões de premiação, aproximadamente R$ 24 milhões. Isso dá US$ 1,5 milhão de premiação por etapa, dividido entre 16 competidores. Uma média de US$ 93.750 para cada atleta em cada etapa, se a premiação fosse dividida igualmente por todos. No World Tour, organizado pela ASP, cada etapa distribui atualmente US$ 340 mil. Essa premiação, que é 4,4 vezes menor, ainda é dividida por três vezes mais atletas. Cada um dos 48 competidores do WT da ASP ficam com uma média de US$ 7.083 em cada etapa.
A diferença de premiação média para cada competidor, quase 13,5 vezes maior, seria gritante. Surfistas espetaculares ao redor do planeta devem estar sendo bombardeados por uma explosão de luz brilhante invadindo a perspectiva de sua carreira. Uns abandonaram o tour precocemente, pois chegaram à conclusão de que não tinham paciência nem aptidão para ficar trocando de aeroporto dez meses por ano. Alguns nem tentaram. Outros se aposentaram depois de anos, pelo simples cansaço da rotina que não mudava, mas ainda têm surf no pé para fazer frente a qualquer um em ondas fortes e de qualidade.
Querem vários exemplos? Jamie O'Brien, Andy e Bruce Irons, Shane Dorian, Bruno Santos, David Rastovich, Manoa Drollet, Rob Machado... Sem falar em alguns surfistas especiais da nova geração que poderiam fazer um voo sem escala pela ASP, aterrizando direto no circuito rebelde, como Clay Marzo, Pablo Paulino, Owen Wright, Ry Craike, Julian Wilson, Kai Borger...
Ainda com relação aos possíveis candidatos, aí vai mais um palpite "de cocheira" ─ o brasileiro Heitor Alves me contou na semana passada que o Kelly Slater disse a ele, recentemente, que o surf dele era inspirador, que tinha vontade de treiná-lo e de "trabalhar" com ele. Coincidentemente, Heitor foi um dos poucos e ilustres convidados do WPS All Star Expression Session, que aconteceu antes da final do WQS Hurley US Open, no final do mês de julho em Huntington Beach, Califórnia. E Rob Machado, um dos principais conselheiros desse WQS cheio de eventos diferentes, é um dos melhores amigos de Slater. O convite ao Heitor também incluía um quarto exclusivo no hotel em frente ao píer durante o evento (um luxo naquela área caótica e problemática), uma mochila de "boas-vindas" na cama do quarto com um MacBook Pro (a BMW dos lap tops) entre os vários brindes, e um jantar classudo com a nata da elite e os melhores amigos do "homem" ─ Shane Dorian, o videomaker Taylor Steele, o músico Jack Johnson... claro, o transporte entre o hotel e o restaurante foi feito em duas limusines enormes.
Bom, até aqui as notícias no campo das especulações.
A seguir, neste fim de texto, minhas opiniões.
A principal queixa do Kelly Slater seria a incapacidade da ASP para promover o surf e os surfistas a um outro patamar capaz de atrair o público de massa e patrocinadores corporativos.
Primeiro, não sei se gostaria de ver o surf tão popular quanto o futebol brasileiro ou o basquete americano. Acho que o surf em seus vários aspectos teria mais a perder do que ganhar.
Segundo, mesmo concordando que 16 surfistas espetaculares junto com a garantia de excelente exposição por uma rede de TV esportiva mais uma premiação alta devem gerar um interesse maior do que o circuito que está aí, não sei se será suficiente para atrair grandes corporações que fiquem envolvidas depois que a novidade se tornar um padrão.
Terceiro, a única "novidade" no formato de julgamento que eu soube é que o aéreo (e suas variações) será um tipo de manobra obrigatória para os competidores receberem uma nota 10 perfeita. Ótimo para nós surfistas, mas só isso não será suficiente para atrair o grande público. O julgamento continuará subjetivo e o grande público continuará sem entender a diferença entre um 7,35 e um 8,80. Vai continuar sem entender também toda essa história de "cortar o menor e o maior juiz", a "soma das duas melhores ondas", ou seria "a soma das duas melhores notas"? Ou é a mesma coisa?
Ouvi falar também que teria uma pontuação específica para cada manobra específica, mas mesmo assim um aéreo será um pouco mais alto ou um pouco mais invertido ou um pouco mais difícil de aterrizar... E por aí vai.
Os principais esportes de massa são preto no branco. No futebol é bola na rede. No tênis e no vôlei é bola na quadra dentro das quatro linhas. No automobilismo é quem cruzar a linha primeiro. No basquete é bola na cesta. Até no futebol americano, no rugby e no beisebol, que são um pouco mais complexos, tem linha para cruzar, base para ganhar com os pés ou rebater com um taco aquela bolinha dura no meio da arquibancada.
Bom, vamos ver aonde essa possibilidade vai nos levar.
Mexer nas estruturas é sempre bom.
Que o surf evolua sem perder o estilo.
07 perguntas para... Willian Woo
O PAULISTANO WILLIAN WOO VENDEU BISCOITOS PARA COMPRAR A PRIMEIRA PRANCHA, JÁ FOI PROPRIETÁRIO DA ATLÂNTICO SURFBOARDS, DEU AULAS DE MATEMÁTICA E ATUOU COMO INVESTIGADOR DA POLÍCIA CIVIL. AOS 41 ANOS DE IDADE E SURFISTA HÁ 25, ELE EXERCE O SEGUNDO ANO DE SEU MANDATO COMO DEPUTADO FEDERAL E AFIRMA QUE DESEJA INCENTIVAR E FOMENTAR O SURF CADA VEZ MAIS.
Perfil: Sergio Laus
No ano 2000, durante uma viagem para o Farol de Santa Marta, Laus foi convidado para uma surf trip que mudaria para sempre sua vida. "Eu estava com o fotógrafo Fábio Paradise na praia da Cigana e encontramos uma galera do Ceará, entre eles o Duda Carneiro e o Marcelo Tibita. Eles nos chamaram para cobrir uma barca que fariam para surfar as ondas da pororoca. Pouco tempo depois, eu estava dentro de um avião com destino ao Amapá, onde encontraria o grupo". Durante o vôo, Laus começou a ligar os fatos. Lembrou de outra viagem, que fizeram três anos antes, na companhia do fotógrafo James Thisted e dos surfistas profissionais Guga Arruda, Teco Padaratz e Saulo Lira, quando pela primeira vez ouviu falar sobra a pororoca. "No ano de 1997, junto com Eraldo Gueiros, o Guga tinha desbravado a pororoca e estava nos contando sobre as aventuras de surfar uma onda de rio cheia de trocos, plantas, piranhas, jacarés e outros animais, num cenário completamente diferente da praia. Na hora até brinquei, disse que eles eram malucos e que eu jamais faria algo parecido", recorda.
Serginho é categórico ao dizer que o surf na pororoca é praticamente outro esporte. "Na pororoca, a gente nunca sabe o que vai encontrar e a adrenalina é sempre grande. Os bancos de lama mudam de lugar a todo o momento e o cenário parece de guerra, pois ela arrasa tudo por onde passa. Surfar a pororoca é um ritual que deve ser planejado meticulosamente", explica. Graças a exploração do surf na pororoca, as populações ribeirinhas encontraram uma nova forma de subsistência e se desenvolveram mais rapidamente. Segundo Laus, cada expedição conta com uma equipe que pode variar de 10 a 25 pessoas, entre cozinheiros, pilotos, práticos, ajudantes, além dos beneficiados indiretamente no comércio local. "Por outro lado, cada expedição com todas as propriedades abertas, ou seja, condições plenas de explorar ao máximo o fenômeno, custa pelo menos 30 mil reais para uma equipe pequena", completa Laus. Com mais de trinta temporadas na selva, ele possui parceria com a PMAP (Polícia Militar do Amapá) para troca de informações sobre a rota da pororoca, com treinamentos de navegação diante do fenômeno e apoio do Batalhão Ambiental, sempre presente nas expedições.
O RECORDE
Sergio Laus é o atual detentor do recorde de permanência em onda de rio pelo "Guiness Book". Em 2005, ele organizou uma expedição especialmente para esse fim, concluída com sucesso com a marca de 10,1 km percorridos. Entretanto, o recorde foi algo que surgiu por acaso na vida deste apaixonado pelo surf na selva. "Nunca tive pretensões de bater algum tipo de recorde. Sempre buscamos superar nossos limites e ver quem conseguia permanecer por mais tempo na onda, entre amigos. Quando surfamos 16 minutos, em 2000 no Araguari, achamos que era o máximo. Depois atingimos marcas superiores a 30 minutos. Em 2004, recebi a proposta de tentar bater o recorde do inglês David Lawson, que a nove anos detinha o recorde de 9,1 km percorridos na onda do rio Severn, no Reino Unido. Aceitei o desafio e montei toda a estrutura para atender as exigências do 'Guiness'. No dia 24 de junho de 2005, a bordo de um longboard, tive a honra de trazer para o Brasil o recorde mundial de permanência numa onda de maré". Com a quebra do recorde, veio a idéia de escrever um livro sobre as aventuras na pororoca. "Como eu sempre relatei em um gravador minhas experiências, foi fácil reunir os detalhes de nossas peripécias", completa Laus.
O livro "Pororoca ─ Surfando na Selva" traz toda a trajetória de Sergio Laus até o ano de 2006, data da publicação. Entre as inúmeras aventuras relatadas, está a expedição "Surfando na Selva ─ Mascaret", também em 2004, em que Laus e sua equipe desbravaram as ondas de rio da França, onde o fenômeno é conhecido como Mascaret. "O surf na Mascaret é mais tranqüilo, a onda é menor e mais fraca que no Brasil. Mesmo assim passamos um momento de sufoco e quase protagonizamos o primeiro naufrágio no pico", conta Laus. A expedição virou um documentário, chamado "Expedição Mascaret ─ Surfando na Selva", produção de Laus com o cinegrafista Vinicius Sguarezi sobre a primeira equipe brasileira na onda. Além deste, já foram produzidos mais quatro filmes sobre a pororoca com a participação de Serginho: "Long Wave", produção inglesa que marca os 50 anos de surf de maré na Inglaterra; "Le Fils de La Lune", produção francesa com parceria da Thallassa e TV5 que mostra as ondas de maré da França (Mascaret), China (Black Dragon) e Brasil (Pororoca); "Pororoca", produção canadense com os melhores kayaers do mundo; "Poroc Poroc Surfando na Selva", produção brasileira de Laus e Vinicius Sguarezi sobre a pororoca e a Mascaret, que encarta o livro "Pororoca ─ Surfando na selva"; e "Pororoca ─ The longest Wave Ever" (EUA - Japão), produção da agência TBWA do Japão em conjunto com a produtora americana Transition Productions para o comercial e filme documentário da Nissan.
PÂNICO NA SELVA
Ao mesmo tempo em que encanta, a pororoca pode ser extremamente assustadora e perigosa. Serginho já sentiu na pele o poder do fenômeno em situações extremas. Na segunda incursão ao rio Araguari, em 2003, ele e o ex-surfista profissional carioca Ricardo Tatuí decidiram sair remando até uma seção da onda que Laus surfara por mais de 15 minutos no dia anterior. Foram 30 minutos até a bancada de lama, de onde caminharam por mais meia hora até o espumeiro, que segundo Laus mais parecia um tsunami: “a onda tinha uns 3 metros de altura fechando de margem a margem a margem do rio. A visão era assustadora. Mesmo assim o Tatuí remou para o fundo, e na ânsia de surfar aquela onda fui atrás dele. Mas a muralha de água era mais rápida e fomos literalmente atropelados”. O carioca escapou do caldo, mas Laus ficou no núcleo da espuma, sacudindo como um palito de fósforo em uma máquina de lavar. “Foi quase 1 minuto de pânico. Segurei a prancha com todas as minhas forças, mas o fôlego acabou e comecei a engolir água. Até que finalmente consegui sair da avalanche”. Apesar de sobreviver ao tranco, Laus saiu com uma forte dor na região lombar. Depois de passar por um médico, foi constatada uma fratura na apófise lateral direita da L5, coluna lombar. Sua recuperação demorou cinco meses.
Na época, chegou a pensar em abandonar o surf na pororoca. Mas seu destino já estava traçado e o reencontro com o rio aconteceu um ano depois, novamente no Araguari, numa etapa do Circuito Brasileiro. Com o trauma superado, ele avançou na competição e chegou até a final, perdendo para o cearense Adilton Mariano. Antes disso, um episódio quase manchou para sempre a reputação da Pororoca na mídia internacional. Duas equipes estrangeiras que cobriam o evento, da CNN e de uma emissora alemã, estavam de partida. Por volta das 14 horas, eles sairiam de barco até uma fazenda próxima da base do evento, onde pegariam um pequeno avião até Macapá e de lá voariam para os EUA. No meio do caminho, o motor da voadeira que os levava parou, deixando-os à deriva no meio do rio, a poucas horas da chegada da onda. A correnteza levou o barco direto para a foz do Araguari, ponto mais perigoso da pororoca. Enquanto isso, o avião que os levaria até Macapá sobrevoou a área para ver se algo errado havia acontecido. Por sorte, o piloto avistou a voadeira encalhada num imenso banco de lama, prestes a ser engolida nos últimos momentos de luz do dia. Numa tentativa desesperada, escreveu dois bilhetes informando a situação, colocou cada um numa garrafa e passou a dar rasantes na fazenda que servia de base para a expedição, a fim de chamar a atenção dos bombeiros. As duas garrafas foram jogadas sobre a área e uma delas foi encontrada pelo sargento da corporação, que imediatamente organizou o resgate. Perto da meia-noite, quando todos já esperavam o pior, eles retornaram com os jornalistas cobertos de lama e em estado de choque, mas vivos. “Olhei para o repórter da CNN, Harris Withback, e ele fez um sinal de positivo. Vi no olhar dele que a experiência, apesar de aterrorizante, tinha sido uma grande aventura, uma espécie de batizado na floresta amazônica”, recorda Laus.
A situação mais sinistra vivida pelo “rei da pororoca” aconteceu em 2001 na ilha de Marajó, Pará. Na companhia do surfista catarinense Andreas Eduardo e do fotógrafo Motaury Porto, Laus ia competir num campeonato organizado por Noélio Sobrinho na maior ilha fluvial do país. Era a quarta viagem dele à Amazônia. A onda era tão temida que o prático contratado para levar o barco até o local desistiu a poucas horas do destino final, depois de navegar por mais de 30 horas contornando a ilha. “Diziam que a pororoca iria nos matar. Mas o Noélio arrumou um sujeito, bem esquisito, disposto a encarar a missão. Apesar da má impressão, seguimos viagem”. Porém, uma sucessão de imprevistos começou a ditar os rumos. “Na primeira noite, o barco estava amarrado a uma árvore e quase entornou depois que a maré subiu demais em pouco tempo. Na seqüência, um dos jet-skis a bordo pegou fogo próximo aos tanques de combustível, quase causando uma explosão fatal. No dia seguinte, o novo prático também desistiu e tivemos que navegar por duas horas até o ponto em que surfaríamos. Saíamos então em duas lanchas, no meio do nada e sem nenhum equipamento de segurança, rádio, GPS ou sinalizador. Chovia e o cenário era tenebroso. Quando achamos que a pororoca estava chegando, percebemos que era uma miragem. Na verdade, era um enorme banco de lama, e encalhamos poucos minutos antes de a onda verdadeira despontar no horizonte”. O pânico tomou conta de todos, e a pororoca chegou atropelando. Uma das lanchas foi atingida e deixou um grupo isolado na margem do rio, aguardando a outra lancha voltar. Ficaram algumas horas na casa de um caboclo e decidiram sair em busca do barco principal. Depois de algumas tentativas em vão, tiveram que retornar à casa do ribeirinho. “Ficamos os sete amontoados na pequena sala, que tinha uma televisão, um calendário e três redes. Nosso anfitrião preparou um banquete com carne de capivara, feijão e farinha. Nada mal para quem estava faminto, perdido na selva a 40 horas do ponto de partida. Durante a noite, ouvimos o estrondo da pororoca passando, parecia que ia derrubar a casa. No dia seguinte, saímos em mais uma tentativa de encontrar o barco principal, mas acabamos em outra fazenda, onde passamos o resto do dia e mais uma noite frio e sem muita comida, com a gasolina quase no fim. Por várias vezes, pensei em sair pela selva em busca de ajuda”. No terceiro dia, finalmente um barco apareceu para resgatá-los. “A alegria foi geral e o reencontro com o restante da tripulação foi emocionante”, conta. Antes de voltar para a terra firme, o grupo ainda teve o gostinho de surfar a pororoca, pequena e curta, na inóspita região conhecida como “Ninho das Pororocas”.
O DRAGÃO NEGRO
Entre as ondas de rio que ocorrem mundo afora, uma é conhecida como “a onda proibida”. Ou pelo menos era, até Serginho decidir surfá-la. A Black Dragon acontece no rio Quintang, província de Hangzhou, nordeste da China, próximo a cidade de Shangai. O fenômeno de maré é cultuado por milhares de pessoas, que se aglomeram às margens do rio para observar sua passagem. Antes da equipe Surfando na Selva, apenas duas equipes tentaram pegar a onda proibida: ingleses pagaram uma fortuna para o governo chinês, mas naufragaram; e franceses entraram ilegalmente e foram detidos. Era o cenário perfeito para o paranaense, que mais uma vez teria a chance de ser o pioneiro. “Por sorte, conheci um surfista brasileiro chamado Daniel que mora na China há anos. Ele topou ajudar e começou a mexer os pauzinhos. Em São Paulo conheci o deputado Willian Woo, que possui descendência chinesa e também é surfista. Ele conseguiu marcar uma audiência em Brasília com o embaixador da China. Depois de mostrar o projeto e provar que tínhamos capacidade de encarar a onda, começamos a negociar. A primeira barreira foi o custo, que beirava meio milhão de reais na época”, comenta Laus.
As negociações continuaram e os chineses quiseram fazer um intercâmbio para conhecer o Brasil, Serginho recebeu o chefe de esportes aquáticos da China, Wei Xing. O combinado era que depois eles receberiam o grupo brasileiro. “Eu, que sempre odiei política, tive que fazer um trabalho diplomático para conseguir as autorizações”. O resultado foi que eles não só conseguiram as permissões, como tiveram todos os custos bancados pelos chineses, sendo a primeira equipe com autorização oficial e totalmente patrocinada pelo governo para iniciar o surf na Black Dragon. A expedição aconteceu em julho do ano passado. Além da recepção em grande estilo, participaram de jantares com o alto escalão chinês, de reuniões com diversos departamentos do governo e foram destaques na imprensa local. Tudo isso a um mês do início das Olimpíadas. “Sempre nos levavam aos restaurantes mais chiques e serviam pratos bizarros. Para dar uma idéia, um dos melhores foi um filé mignon de Yorkshire ao molho madeira. Isso mesmo, carne de cachorro. E o pior, minha mãe tem um dessa raça. Quando contei ela ficou apavorada. Dizem que na China eles comem tudo o que possui quatro pernas, exceto cadeiras e mesas. Também comemos língua de pato, bambu, fungo de madeira, bolinho de carrapato, ovo podre, entre outras coisas que prefiro nem lembrar”, diverte-se Laus.
Para atacar o Dragão Negro, ele reuniu uma equipe formada pelos pilotos Márcio Pinheiro, do Amapá, e Glauco Vaz, do Maranhão, o big rider paulista Jorge Pacelli, com uma vasta experiência em pilotagem de jet-ski e resgate em ondas extremas, e o amigo e fotógrafo Likoska. “Na pororoca chinesa, toda a margem do rio é concretada para conter a erosão das fortes marés. Com isso o rio possui um formato perigoso, cheio de pedras, Lages e até ferros contorcidos no fundo”, explica. Após uma investida frustrada, eles finalmente conseguiram surfar ondas de até 2 metros de face no rio Quintang. “Foi uma experiência incrível e a concretização de um sonho. Conquistar a confiança do governo chinês não é fácil e temos orgulho de ter deixado nossos nomes marcados para sempre na história daquele país”, completa o paranaense, que este ano pretende realizar outra expedição para surfar o Dragão chinês, Serginho ainda tem planos de explorar as ondas de rios em países como Alaska, Malásia, Índia, Austrália, EUA, Canadá, Suíça, Alemanha entre outros.
As aventuras de Laus na pororoca ganharam as telas do cinema. Ele é um dos surfistas que participam da segunda edição do longa-metragem “Surf Adventures”, de Roberto Moura, e levará o espectador a conhecer o mundo incrivelmente inusitado e peculiar da Pororoca em plena selva amazônica.
Recentemente, Laus recebeu o título de cidadão macapaense por unanimidade na câmara dos vereadores local. A convite do governo do Amapá, ele irá passar parte do ano no Estado, promovendo o surf na pororoca com o objetivo de fomentar o turismo local aliado à expansão do trabalho que realiza como presidente do Instituto Pororoca e na ONG Maré Amazônia, da qual é idealizador e padrinho ─ e que tem como missão promover palestras, ensaios e encontros para ensinar e difundir a consciência ambiental e a divulgação da cultura nativa brasileira, pilares do projeto Surfando na Selva. “Construir uma carreira fora do eixo Rio, São Paulo, Floripa foi uma prova de persistência e força de vontade. Sempre lutei por meus objetivos e dedico tudo o que conquistei à minha esposa, Ana Carolina, minha filha Marie e minha família, amigos e patrocinadores. Tudo o que apareceu na minha vida, especialmente esse contato íntimo com a selva, fez nascer em mim a responsabilidade de proteger a natureza, de preservar a Amazônia através do surf na selva e difundir a consciência ecológica para as próximas gerações. Sei que logo minha filha irá abraçar esta causa também, que é de todos nós”, conclui Serginho. Apesar de carregar nas costas a responsabilidade de um homem, sempre comprometidos com seus valores e ideais, a cara de menino do rio será sempre sua marca registrada.