O Oceano estava lá, como sempre, em toda sua majestade com seu infinito manto azul subindo e descendo, balançando com ternura seus súditos e seres que fazem desse manto e reino seu habitat natural. Dono do maior império já visto, alcança todo o redor do globo, chega nos lugares mais inóspitos e produz os mais diferentes cenários, desde a movimentada província Atlântica a misteriosa e ironicamente denominada Pacífica. O Pacífico, a maior das províncias, esconde mistérios e embora sustente uma imagem paradisíaca, revela-se altamente temperamental.
Repleto de verdadeiras obras de arte naturais, as ilhas do Pacífico são almejadas tanto pelos ricaços de plantão atrás de luxuosos resorts, quanto por aventureiros, particularmente os maiores deles, os surfistas, visto que a maior ameaça do Pacífico encontra-se em suas ondas. Estas crescem aos olhos e sonhos de surfistas de todos os cantos do mundo que ano a ano largam a terrinha em busca das mais fortes, porém perfeitas ondas.
E assim, observador atento de toda essa aventura, num dia qualquer, cansado da mesmice do céu, um anjo daqueles típicos loirinhos e de olhos claros, deixou não sua terrinha, mas seu céuzão para ir ao encontro do reino Oceano, mais especificamente na província Pacífica. A pista de pouso escolhida, um país de dimensões continentais, multicultural, multiétnico, bonito por natureza, cheio de lugares a se explorar e ondas espalhadas por um vasto litoral banhado pela província Atlântica. O campo de concentração, uma ilha ao sul deste país. Escolhido seu lar e família, era questão de tempo para o anjo crescer e partir rumo ao sonho.
O anjo, agora adulto, enfim corre atrás de seu destino e entre tantas a serem escolhidas no Pacífico, a primeira parada seria um novo país, este também de dimensões continentais, dessa vez cercado pelo Oceano por todos os lados. Após sete anos residindo tão longe de casa e tão próximo da realização de um sonho, as férias já estavam programadas e o destino era o que buscou desde o princípio quando desceu dos céus atrás da emoção de chegar a um arquipélago no meio do Pacífico, onde os surfistas alucinados deliciavam-se com o maior encanto do Triângulo Polinésio ─ as ondas. Algum tempo trabalhando, alguma grana poupada e o anjo entregou-se ao prazer: desfrutou do aqui e o agora como se fosse seu último dia na terra ─ e poderia ter sido mesmo ─ deslizando sobre o majestoso reino Oceano.
As ilhas eram a visão do paraíso e após boas ondas e longos dias tranquilos, o reino revoltou-se, o anjo já estava na água desde as seis e quarenta e cinco da manhã, o Oceano dava estranhos sinais e, atento, o anjo sentiu algo errado. Sentimento este confirmado com o repentino recuo do mar, que voltou-se maior e mais forte contra o arquipélago. Estava formada a tsunami que deixara um rastro de destruição, varrendo casas, prédios, sonhos e famílias. Com toda sua força, o anjo agarrou-se em uma pedra para salvar sua vida e mesmo cercado de aflição e apreensão, sua aura brilhou e com sua força e poder de anjo resgatou em meio a escombros lágrimas e medo, crianças assustadas que viram a esperança renascer dentro do abrigo formado pelos braços e prancha deste anjo vindo de longe. Seus olhos claros lhes transmitiram confiança, seus braços segurança e sua prancha um passaporte para sobrevivência.
─ Sobrevivente de uma tsunami devastadora provocada por um tremor que alcançou a magnitude de 8 graus na escala Richter em setembro de 2009 atingindo intensa e principalmente as Ilhas Samoa no Triângulo Polinésio no Oceano Pacífico, Guilherme Costa de 27 anos, estava de férias no arquipélago, reside atualmente na Austrália e sua família em Florianópolis. Ele loiro de olhos claros, que provou ser um verdadeiro anjo, nasceu no Brasil e renasceu em Samoa.