A ORIGEM DAS SUPERTEMPESTADES


PARA EXPLICAR COMO FUNCIONA O PROCESSO QUE GERA OS GROUNDSWELLS, CONVIDAMOS O PROF. ELOI MELO, PH.D. EM CIÊNCIAS OCEÂNICAS PELA UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA, SAN DIEGO (EUA), MESTRE EM ENGENHARIA OCEÂNICA PELA COPPE/UFRJ E, DESDE 1989, COORDENADOR DO LABORATÓRIO DE HIDRÁULICA MARÍTIMA (LAHIMAR) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA (UFSC).



O primeiro aspecto a considerar é que as ondas são resultado da ação do vento sobre a superfície do mar. O mecanismo físico de geração de ondas pelo vento é bastante complexo e envolve uma complicada transferência de energia na interface entre dois fluidos: o ar e a água. Como resultado, as ondas dentro de uma tempestade no meio do oceano, por exemplo, serão igualmente complexas, irregulares e desorganizadas, muito diferentes das ondas perfeitas que os surfistas sonham. Como a natureza consegue organizar essa confusão?

Uma vez geradas, as ondas adquirem vida própria e são capazes de se propagar ou viajar pela superfície do oceano transportando a energia do vento. É exatamente durante essa viagem que entra em cena o incrível fenômeno de dispersão, capaz de separar ondas de períodos diferentes tornando o mar muito mais organizado. Sabe-se que no oceano profundo, as ondas são capazes de percorrer distancias de milhares de quilômetros até encontrar uma praia e quebrar, despejando a energia transportada de tão longe numa estreita faixa de mar junto à praia: a zona de arrebentação, onde estão os surfistas. Para dar uma idéia das distâncias envolvidas, um famoso trabalho científico, feito há 50 anos, mostrou que ondas geradas por tempestades ao largo da Nova Zelândia iam quebrar, muitos dias depois, na costa da Califórnia, a mais de 10 mil km de distância. De forma simplificada, quanto mais ‘velha’ ou viajada foi uma ondulação, mais organizada ela será.


Normalmente esse tipo de ondulação apresenta períodos longos, de 14 a 20 segundos, cristas igualmente longas e séries bem marcadas. Mas isso é apenas parte da história. Para que esse swell quebre perfeito é necessário que a costa onde ele vai incidir tenha condições favoráveis. Na verdade, para chegar à praia as ondas têm de passar sobre a plataforma continental, um prolongamento do continente que adentra o mar e que tem relevo próprio, invisível para quem está na praia, mas que afeta as ondas que passam sobre ele. Vários fenômenos interessantes ocorrem nessa etapa final da vida das ondas. Resumindo, podemos imaginar que o relevo da plataforma continental junto com outras feições da linha de costa (como a existência de ilhas e pontões, por exemplo) vai efetivamente modelar o swell.

Pelo menos mais um ingrediente ainda é necessário para que as ondas quebrem perfeitas: o vento local. Para deixar as ondas lisas e ‘penteadas’, o vento deve ser terral, caso contrário ele vai invariavelmente gerar ondinhas ou ‘carneirinhos’ (como alguns chamam) que vão se sobrepor ao swell e bagunçar as condições para o surf. Assim, fica fácil entender por que os meses de outono são normalmente tão favoráveis ao surf na costa sul/sudeste do Brasil. Nesse período, as ‘tempestades’ que geram as ondulações tendem a ocorrer em latitudes mais altas do Atlântico Sul, ou seja, mais longe da costa brasileira. Como viajam mais tempo, as ondulações do outono são mais organizadas. O vento também tende a ser mais brando do que em outras épocas do ano
”.