Adriano de Souza, Jadson André, Heitor Alves, Raoni Monteiro e Alejo Muniz. Bonito grupo para disputar a elite do surf mundial de competição em 2011. Firmeza absoluta! Todos pisam forte na prancha e dominam manobras aéreas, mistura indispensável para ganhar notas acima de 9. Apesar de o surf ser um esporte individual, sempre torcemos pelos brasileiros como se formassem um time. No início de 2010, tínhamos quatro brasileiros entre os 45 da elite. Com as mudanças no circuito, incluindo a diminuição de competidores no WT, em 2011 teremos cinco brasileiros entre os Top 32. Adriano de Souza e Jadson André cravaram suas posições entre os Top 16, engrossando as estatísticas a nosso favor nessa turma especial. Adriano, décimo no ranking 2010, está exatamente onde deveria estar ─ entre os dez melhores do mundo. Isso não é pouca coisa.
Se você acompanha o surf de competição e geral (WT, WQS, Pro Jr.), já viu vários competidores com surf no pé de altíssimo nível que não conseguem a tão sonhada classificação para o WT. O motivo é simples: não cabe todo mundo. Entre australianos, americanos, havaianos, brasileiros, sul-africanos e europeus, tem pelo menos 200 surfistas que arrebentam, mas na elite, para 2011, só cabem 32.
Adriano foi o mais jovem campeão mundial Pro Jr., aos 16 anos, arrebentou no WQS e se classificou para a elite em 2006, ficando em 20º no ranking. Em 2007 amargou o 28º lugar, descobrindo que a transição nem sempre é uma extensão imediata dos resultados no Pro Jr. E no WQS. Mas em 2008 ele aprendeu o jogo e terminou o ano em sétimo no ranking. Em 2009 foi o quinto entre os melhores e em 2010 terminou em décimo, confirmando seu status de Top 10 três anos seguidos. O paulista do Guarujá é forte psicologicamente, compete como poucos, é rápido, tem raça e geralmente tem boas pranchas. O estilo talvez seja seu único ponto fraco, principalmente quando movimenta a prancha para gerar velocidade ou bate o fundo para passar seções.
Jadson André foi vice-campeão mundial Pro Jr. Em 2009, na Austrália, terminou o WQS de 2009 em terceiro e estreou na elite em 2010 com uma vitória no Brasil em cima do monstro Kelly Slater. Ainda teve três nonos lugares, terminando o ano em 13º no ranking. Vamos combinar que foi uma excelente estréia para o potiguar de Natal. Na etapa brasileira, ele pegou a chave mais difícil e venceu um a um usando e abusando dos aéreos. O que muita gente não percebeu foi que ele conseguiu nesse evento algumas notas acima de 8 sem dar um aereozinho sequer. Mas a facilidade em voar o traiu nas etapas seguintes. Passou a dar o mesmo tipo de aéreo 360° em várias ondas e os juízes cansaram rápido. Acho até que houve intolerância da mídia internacional quanto a isso. Das duas uma: ou ninguém chegou para alertá-lo sobre o problema ou falaram e ele não quis ouvir. Se quiser um conselho, dou três: (1) misturar o surf de linha e de força com um ou outro aéreo apenas, (2) criar variações do aéreo 360° e (3) treinar aéreos de costas para a onda. Ele pode isso tudo.
Depois de dois anos na elite, Heitor Alves perdeu a vaga em 2009, mas quebrou tudo no ranking unificado em 2010. Venceu três etapas 6 estrelas e uma “Prime”. Os melhores do mundo contam nos dedos de uma mão os anos que tiveram quatro vitórias em eventos importantes no mesmo ano. Heitor é um surfista completo. Tem força, linha nos point breaks, sabe andar na marola como poucos, domina as manobras aéreas e tem estilo fluído. Tenho certeza de que os dois anos na elite, a batalha fora dela e quatro vitórias no mesmo ano amadureceram o cearense voador. Se me pedisse um conselho, eu diria para tomar cuidado com pranchas finas e soltas demais. Ele tem um pé grande e patadas fortes. Acho que se beneficiaria com pranchas um pouquinho mais duras e com mais volume. Em 2011 vai estar onde não deveria ter saído.
Raoni Monteiro merece um texto inteiro. Sempre fui fã do garoto de Saquarema e vi desde cedo talento e maturidade precoces típicos dos fenômenos que só aparecem de tempos em tempos. Poderia ter se lançado no Circuito Mundial mais cedo, mas quando o fez encantou a todos instantaneamente. Com um surf forte, moderno e estilo bonito, foi aceito por toda a comunidade internacional, de A a Z. A mídia, os competidores, os empresários do meio... todos reconheciam que Raoni tinha algo a mais e um futuro brilhante. Eu não era íntimo dele para saber o que aconteceu, mas alguma coisa desandou e ele perdeu a vaga na elite e o patrocínio. No fim de 2010, um final feliz de filme épico. Aquele tipo de “volta por cima” que não admite desperdício ─ fechou um patrocínio com uma marca internacional, teve um bom início no WQS e, depois de vários meses mornos, quando a classificação já parecia improvável, venceu a última etapa do ano, em Sunset Beach, faturou 20 mil dólares e se classificou para o WT em 2011! Dentro dos padrões atuais de idade, Raoni ganhou sua carreira de volta.
A única novidade do grupo é o argentino naturalizado brasileiro Alejo Muniz. Alejo cresceu no sul do país, onde desenvolveu um estilo “internacional”. A maior parte dos surfistas brasileiros talentosos consegue, depois de um tempo, desenvolver seu surf em ondas de linha, mas continua sendo especialista em ondas que exigem troca de direção rápida tipo “beach break” e carrega muitas vezes a tendência de manobrar no meio da parede, tanto nas cavadas como nas rasgadas. Alejo não. Ele vai na base da onda, dá uma cavada potente e se lança ao lip, tirando quase sempre mais da metade da prancha pra fora, empurrando bastante água com as quilhas, descendo fluído para a base novamente sem nenhuma engasgada, para começar tudo de novo. Parece a descrição do que muitos surfistas bons fazem, não é? A diferença é que Alejo parece só fazer isso. Nunca uma meia manobra. Sempre base/lip potente, com variações no lip de todo jeito ─ rasgadas, tamancadas, aéreos 360, kerrupt flips e, ultimamente, variações ainda sem nome. Em cima dessa característica tão valorizada ─ o Power surf base/lip associado à modernidade, o cara ainda tem um estilo lindo. E é novo ─ 20 anos! Uma covardia. Eu nem sei dos resultados dele, porque o título de “melhor estreante” da Tríplice Coroa Havaiana de 2009 pra mim é suficiente. Um conselho? Feche os ouvidos aos elogios. Elogio amolece. A crítica fortalece. De patrocínio e contrato novo, com uma marca que vai trabalhar forte a sua imagem e tendo conquistado a classificação no Hawaii, não falta motivação para começar o ano bem. Temos cinco motivos dos mais fortes para acompanhar o World Tour da ASP de 2011 como se fosse uma Copa do Mundo da Fifa. Vai ser emocionante.