TAJ BURROW NUNCA GANHOU UM TÍTULO MUNDIAL.
POR QUE NÃO?
PORQUE DESPERDIÇOU MUITO TEMPO FAZENDO FILMES DE SURF. PORQUE A VITÓRIA VEIO MUITO CEDO E FACILMENTE. PORQUE O HEAD JUDGE ENCANAVA COM ELE. POR CAUSA DE KELLY SLATER. POR CAUSA DE ANDY IRONS. PORQUE ELE NÃO QUERIA MUITO. PORQUE TÍTULOS MUNDIAIS SÃO INÚTEIS DE QUALQUER JEITO.
TALVEZ POR TODAS ESSAS RAZÕES. TALVEZ POR NENHUMA DELAS.
TALVEZ ISSO IMPORTE.
TALVEZ NÃO.
ELE PASSOU 12 ANOS ENTRE OS TOP 5, FEZ MAIS VÍDEOS MARCANTES QUE QUALQUER FREESURFER EM TEMPO INTEGRAL E SE DIVERTIU MAIS QUE NINGUÉM ENQUANTO ISSO.
ESSE É O TAJ BURROW E PONTO FINAL.
ENTÃO ESQUEÇA CAMPEONATOS. ESQUEÇA FREESURFER. ESQUEÇA O SISTEMA, OS JUÍZES, OS RIVAIS E A PORCARIA DOS RESULTADOS DE BATERIAS.
ESTAMOS DANDO UM TÍTULO MUNDIAL A TAJ: O DE SURFISTA INCRÍVEL.
01. CONTE SOBRE SEU PRIMEIRO CAMPEONATO DE SURF.
Eu tinha nove anos e competi num evento local em West Australia. Estava na categoria para menos de 18 anos e ganhei com nove. Tenho que admitir que me diverti me exibindo e ganhando dos caras mais velhos. Foi bizarro na hora da premiação, um moleque de nove anos com todos os outros de 18. Me senti bem especial. Foi bom.
02. EXISTIA ALGO COMO FREESURFER PROFISSIONAL NAQUELA ÉPOCA?
Não. Seções de vídeo eram muito importantes para mim, mas não havia a opção de ser um freesurfer. Os caras que eu via nos vídeos ─ como Kelly e Dorian ─ estavam no topo do ranking do Tour.
03. FAZER VÍDEOS TE TORNOU UM COMPETIDOR MELHOR?
Acho que sim. Você pode assistir às filmagens assim que sair da água, então aprende o que fica mais bonito e o que fica feio. Você descobre o que é estiloso olhando da praia e o que o público e os juízes gostam de ver. Era assim que eu tentava surfar.
04. VOCÊ SE CLASSIFICOU PARA O WT NA PRIMEIRA TENTATIVA. ERA MAIS FÁCIL ANTIGAMENTE?
Com certeza. Classifiquei-me com muita facilidade e por isso meu desempenho caiu naquele primeiro ano. Não achei que estava pronto. Foi uma decisão bem estranha, pensando bem. Mas me classifiquei tão facilmente que pensei: “É, posso fazer isso de novo”. E fiz.
05. TALVEZ O SEU SUCESSO EM COMPETIÇÕES TENHA VINDO MUITO FACILMENTE NO COMEÇO.
Concordo plenamente. Eu queria surfar muito. Tudo com o que me importava era melhorar. Parece que todos aqueles resultados caíram no meu colo. Mesmo no meu segundo ano no Tour, quando acabei em segundo e Occy ganhou, tropecei naquele resultado. Acabei vice tão facilmente que, hoje em dia, penso: “Uau, se tivesse tentado um pouquinho mais eu poderia ter ganhado facilmente”. Naquele momento da carreira eu achava que: “Ah, um desses títulos mundiais vai acabar caindo no meu colo também”. Mas só ficou mais e mais difícil.
06. VOCÊ SE CANSA DE VIAJAR INCESSANTEMENTE? DE NUNCA ESTAR EM CASA?
A vida é assim. Às vezes é desgastante, mas daí você passa um tempo em algum lugar que gosta... para mim, Bali ou West Australia. Toda vez que volto a um desses lugares, recarrego as baterias rapidamente e fico pronto para outra. Não parar em um só lugar está incorporado em mim. Tenho mais medo de me aposentar do que entrar no próximo avião.
07. VOCÊ SENTE QUE ESTÁ CHEGANDO PERTO DO FIM DE SUA CARREIRA?
Um pouco. Mas ainda me sinto bem para continuar por anos. Viajando com um treinador e me cuidando, não pareço estar pior do que nos anos em que comia coisas gordurosas, não alongava, não treinava nem nada. Antes, eu só competia e surfava. Provavelmente estou melhor agora por estar me cuidando. Mas só quero continuar se ainda tiver chances de levar o título.
08. É ESTRANHO VER CARAS COMO DANE E DORDY ESTOURANDO NA MÍDIA? QUERO DIZER, VOCÊ JÁ FOI UM DELES. O QUE ISSO FAZ DE VOCÊ HOJE?
Essa é a nova geração. Tudo que você pode fazer é abraçar. Não dá para se zangar por não ser mais esse cara. Sou um grande fã de surf bom. Não pego uma boneca de vudu e zico qualquer um, como teria feito antes, só observo o bom surf. É muito bom.
09. VOCÊ PASSOU 12 ANOS ENTRE OS TOP 5 DO TOUR, O QUE TALVEZ SEJA UMA CONQUISTA MAIOR DO QUE UM ÚNICO TÍTULO.
É, realmente. Mas... não há resposta para isso. Porra, quero ganhar um. Mudei o jeito como surfo e fiz tantos sacrifícios. Mas se não acontecer é porque não deveria acontecer. Não vou ficar sem conseguir dormir por causa disso, como acontecia antes.
10. E O QUE ACHA DA IDÉIA DE QUE TALVEZ TIVESSE SE SAÍDO MELHOR SE NÃO ESTIVESSE ENVOLVIDO EM TANTOS OUTROS PROJETOS ─ SÓ SE CONCENTRASSE NO TOUR?
Sem ressentimentos. Eu não mudaria nada. Quis fazer isso e me dediquei muito aos dois, então o que acontecer, aconteceu. Estou feliz com o modo como desenvolvi minha carreira.
11. VOCÊ ACHA QUE FATORES EXTERNOS TE PREVENIRAM DE GANHAR UM TÍTULO MUNDIAL?
Bom, recentemente me disseram que o head judge da ASP (Perry Hatchet) basicamente implicou comigo durante toda a minha carreira. Outros juízes já me disseram isso. É um choque. Quero dizer, todo mundo tem baterias controversas, mas eu tive algumas muito estranhas. E ser avisado por outros juízes só me deixa meio indignado de penar que talvez alguém tenha me roubado.
12. ESPECIALMENTE QUANDO VOCÊ FOI VICE DUAS VEZES. ESSAS CONTROVÉRSIAS FAZEM UMA GRANDE DIFERENÇA.
E foi descarado, ainda por cima. É difícil de engolir. Odeio ser o cara que reclama de ser roubado, mas é tão estranho ouvir que um juiz implicava comigo. Já contratei treinadores e tentei mudar o meu surf de acordo com o critério dos juízes ─ que era realmente tedioso ─ só para ganhar um título mundial. Fiz tudo que dava para encaixar nos critérios que os juízes queriam. E agora, perto do fim da minha carreira, o cara é demitido e todos os juízes vêm me dizer essa merda. Estou abismado. É doentio.
13. O QUE ESTÁ ACONTECENDO DE MAIS INTERESSANTE NO SURF AGORA?
Um pouco de tudo. Me empolgo bastante quando há grandes competições como o Kustom Airstrike e o Innersection, porque sei que as pessoas vão trabalhar duro para vencê-las. Me animo também com filmes como Modern Collective, porque os melhores jovens surfistas terão as melhores seções. E também os vejo se adaptando para as competições, para entender que estratégia usarão quando estiverem vestindo a lycra. É demais.