EM RECENTE ENTREVISTA À REVISTA EXPN, DO CANAL AMERICANO DE TELEVISÃO ESPN, O NOVE VEZES CAMPEÃO MUNDIAL KELLY SLATER DISSE O QUE PENSA A RESPEITO DO CIRCUITO MUNDIAL. DESTAQUEI OITO TÓPICOS QUE, SEGUNDO SLATER, PODERIAM REVOLUCIONAR O ESPORTE. ELE TAMBÉM REVELOU QUE IRÁ LANÇAR EM BREVE A MELHOR PISCINA DE ONDAS JÁ CRIADA, EM PARCERIA COM OUTROS COMPANHEIROS DE TOUR. PARA COMENTAR AS DECLARAÇÕES DO MAIOR SURFISTAS DE TODOS OS TEMPOS, O AUSTRALIANO BRODIE CARR, DIRETOR GERAL DA ASP.
01. COMEÇAR DO ZERO
KELLY SLATER: A entidade reguladora do esporte, no caso a ASP, deve deter os direitos e realizar os eventos, fazer a mídia, o marketing, trazer patrocinadores. No momento, a ASP não faz nada disso, porque não fez o trabalho de base no começo. Os patrocinadores são donos de tudo atualmente. Isso precisa mudar.
BRODIE CARR: A ASP existe há 30 anos e, como qualquer organização com essa vivência, temos alguma bagagem e também boas qualidades. Temos coroado legitimamente campeões mundiais nesses 30 anos e contra isso não há argumentos. A ASP começou apoiada em recursos vindos da indústria do surf e ainda hoje dependemos disso para sobreviver. Não tem sido fácil trazer grandes patrocinadores de fora para o nosso mercado, e isso se aplica à ASP, mas também aos próprios surfistas na busca por seus patrocinadores individuais.
02. CORTAR A GORDURA
KELLY SLATER: Existem 45 surfistas no Circuito Mundial. É muita gente. Corte pela metade. Existem atletas que perdem na segunda ou terceira fase em todos os eventos. Um deles não venceu uma bateria sequer no ano passado. A Fórmula 1 não tem 45 pilotos por uma razão. Precisa haver alto nível competitivo na elite, e não temos isso no surf.
BRODIE CARR: Sim e não. Ter jovens atletas e azarões surpreendendo e vencendo campeões mundiais é uma coisa boa. Para mim é muito mais uma questão sobre repensar o formato.
03. ENCURTAR O CALENDÁRIO
KELLY SLATER: A temporada vai de fevereiro a dezembro. Nunca temos um intervalo. Passamos tanto tempo juntos que o surf profissional está ficando homogeneizado. É difícil pensar fora da caixa. Eu gostaria que a temporada tivesse três ou quatro meses no primeiro semestre e três meses no segundo.
BRODIE CARR: Eu pessoalmente gosto da duração do circuito como é. Mas o Tour precisa ouvir o que os atletas querem. Se você força a criação de um circuito que os surfistas não querem, eles ficam entediados e abandonam. Então é preciso ouvi-los e constantemente desafiar um ou outro para encontrar o melhor caminho para evoluir.
04. CONQUISTAR AS MASSAS
KELLY SLATER: A ASP vem fazendo um péssimo trabalho de popularização de seus atletas. Sou aficionado por UFC, e eles fizeram um ótimo trabalho ao mudar a percepção deste esporte por parte das pessoas. Ninguém mais enxerga os lutadores como bárbaros se espancando numa arena. Agora se chama Mixed Martial Art e todos sabem que para estar ali é preciso técnica, treino e preparo dignos de atletas de elite. Quando alguém luta pelo cinturão, o próximo na fila normalmente cai nas graças da torcida. Depois da luta, eles entrevistam esse cara. Isso é marketing eficiente. Em nossos eventos, poderiamos ter um espaço para os atletas darem entrevistas ao vivo pela internet depois das baterias. Precisamos construir ídolos e personalidades. A ASP deixou esse trabalho para os patrocinadores, mas é função da entidade vender seu principal produto. A NBA não deixa para Nike ou Reebok a função de criar visibilidade para seus jogadores.
BRODIE CARR: Concordo. Até o momento os direitos de mídia pertencem aos eventos, então eles controlam como tudo funciona. Adoro assistir aos jogos da NBA e ver como eles promovem a imagem de seus times e jogadores. Isso é o que eu gostaria de ver no surf!
05. ESTIMULAR EXPERIMENTAÇÕES
KELLY SLATER: Já se passaram 20 anos desde a última vez que algum surfista do Tour tenha feito suas próprias pranchas. Este ano, eu tenho desafiado meus limites e feito minhas pranchas. Ainda estou usando um pré-shape do Al Merrick, sobre o qual faço algumas modificações, mas espero até o fim do ano usar uma prancha feita por mim do começo ao fim. Além disso, se alguém decidir experimentar algo que envolva esse tipo de risco, deve ser beneficiado. Nós devemos encorajar as pessoas a buscar isso, mesmo que fracassem. Há uma porção de garotos fazendo isso, e eles devem ser recompensados por isso.
BRODIE CARR: Nenhum comentário relevante sobre isso.
06. DEFINIR O FORMATO
KELLY SLATER: O formato dos eventos deve ser flexível e se adequar ao local onde é disputado. Eu promovi um evento para convidados em Fiji há alguns anos e testamos três formatos, que poderiam ser incorporados pelo Tour. O primeiro era nosso formato tradicional, mas com novos critérios de julgamento, como técnica e impressão artística, como nas Olimpíadas. Dois juízes trabalham juntos para definir as notas nesses quesitos. Depois tinha um formato de tag-team em que dois atletas surfavam ao mesmo tempo. E o terceiro era uma disputa livre. Os surfistas decidiam quando iriam surfar num período de quatro horas, baseados nas condições no mar. Era uma decisão estratégica. Também gostaria de ver o Tour usando um formato tipo apresentação, como rola no skate, sem regras. Os atletas controlam o ritmo e puxam os limites uns dos outros.
BRODIE CARR: Kelly possui boas idéias sobre formatos, alguns deles nós estamos até usando na ASP. Eu particularmente gosto de um formato em que os Tops surfem mais. Uma bateria de 30 minutos é muito rápida e todos gostam de ver os Tops na água. A praia enche, a audiência no webcasting vai às alturas. Você precisa de consistência no julgamento para coroar legítimos campeões mundiais.
07. UTILIZAR MAIS OS EUA
KELLY SLATER: É importante que a etidade que regula o esporte esteja baseada na Califórnia, onde fica a maior parte da indústria do surf. E precisamos ter mais eventos nos EUA. Trestles é um ótimo evento, mas não é suficiente.
BRODIE CARR: Concordo. Passamos de um evento 6 estrelas do WQS no ano passado para quatro este ano. No próximo ano vamos adicionar também um evento do Circuito Mundial nos EUA.
08. INVENTAR UMA PISCINA DE ONDAS DE QUALIDADE
KELLY SLATER: Precisamos construir piscinas de ondas boas o suficiente para sediar competições ─ e teremos uma nos próximos meses. Estou trabalhando na conclusão da melhor piscina para surf de todos os tempos. Eu e mais cinco atletas fazemos parte de uma empresa, chamada Kelly Slater Wave Company. Meu empresário, Bob McKnight, da Quiksilver, e um cientista também fazem parte do projeto. Estamos trabalhando nisso há mais de três anos e temos um modelo de testes quase pronto em Los Angeles. Uma vez que tivermos a tecnologia, poderemos construir essas piscinas em qualquer lugar do mundo. E já estou pensando adiante, em como poderemos criar um sistema que gere ondas e que possa ser instalado em lagos, desde que não prejudique o meio ambiente. Eventualmente, seria ótimo ver um Circuito com etapas em lugares assim. Seríamos capazes de marcar um evento às 18 horas de uma sexta-feira, com transmissão ao vivo pela TV.
BRODIE CARR: Eu sempre achei que um evento numa piscina seria incrível. Alguns anos atrás chegamos a considerar fazer uma etapa, mas a piscina acabou não sendo finalizada. Adoraria conhecer a piscina do Kelly quando estiver pronta.