“Fui pra Huntington só pra ver o Kelly surfar”, me disse uma amiga que acabava de voltar da Califórnia.
Apesar de culta e inteligente, ela não entende nada de surf — é daquelas pessoas que pergunta se parafina se passa no fundo ou no deck da prancha. Mas mesmo assim, tirou um dia de sua viagem para assistir o melhor de todos os tempos surfar umas merrecas perante uma praia lotada.
Na hora torci o nariz como quem diz: “o surf é muito mais que o Kelly, sabia?”. Mas aquele era apenas mais um exemplo do apelo e carisma do nosso maior campeão.
Só Slater tem esse poder.
Só ele é reconhecido pelas grandes massas estranhas ao surf. Só ele saiu na lista da People Magazine. Só ele pegou a Gisele e a Pamela. Só ele fez filme em 3D e participou do SOS Malibu. Caramba, até minha avó sabe quem é o cara!
É como se para o universo mainstream, ele fosse maior que o surf.
Claro que a imagem de bom moço ajuda. O discurso sempre politicamente correto também. Slater teve uma carreira livre de controvérsias e escândalos e isso vende bem.
Mas a reputação exemplar e as namoradas famosas não fazem tudo sozinhas.
Slater é quem é por ser O Campeão. Porque ganha tudo. Porque está com quatro dedos na taça que marcará seu décimo título mundial. Porque, mesmo aos 38 anos de idade, é o surfista mais completo e versátil do planeta.
Mas também não é só isso.
Slater tornou-se o Maior de Todos os Tempos, principalmente, pois Oe o cara que sempre surpreende.
É ele quem bota pra dentro em Waimea. Ou ganha o Pipe Masters com uma 5’6”. Ou abre uma brecha dentro do tubo em Teahupoo.
Kelly tem mais do que uma carreira valiosa. Sua trajetória é marcada por uma sucessão de feitos surpreendentes.
E é por saber disso que pretendo não cometer o mesmo erro de 2008 — quando Kelly venceu o 9º título mundial. Na ocasião, escrevi que muito provavelmente era a última vez que o veríamos competindo em tempo integral. Já havia feito o mesmo em 2006 — quando ele levou o 8º caneco — e em 2005, quando levou o 7º. Na época ninguém imaginava que alguns anos mais tarde ele ainda estaria dando trabalho — e vencendo — no WT.
Tudo indica que, se vencer em 2010, ele irá aposentar-se das competições de uma vez por todas.
Mas esse filme eu já vi antes. Desta vez não vou deixar o careca me surpreender. Pois se a história é um indicativo, 10 títulos mundiais é pouco.
Com saúde e surf de sobra, Kelly tem tudo para continuar surpreendendo e, já quarentão, brigar pelo título número 11, 12, 13...
Alguém duvida?