10 perguntas para... KEALA KENNELLY


NO FATÍDICO DIA DO SWELL GIGANTE EM TEAHUPOO, KEALA PEGOU TRÊS TUBOS E SAIU DE UM. O QUE NÃO ESPERAVA É QUE, NO DIA SEGUINTE DO SWELL, EM UMA ONDA DE 6 PÉS, ELA FICARIA COM O ROSTO DESFIGURADO DEPOIS DE SOFRER O MAIOR ACIDENTE DE SUA VIDA. A HAVAIANA NASCIDA EM KAUAI TEM 33 ANOS E É MUITO RESPEITADA NO MEIO DO BIG SURF: ELA SURFOU A MAIOR ONDA DE TOW IN FEMININO EM 2005, LÁ MESMO EM TEAHUPOO. HOJE, SEIS ANOS DEPOIS DO FEITO, ESTÁ SE RECUPERANDO DE UMA CIRURGIA QUE RECONSTITUIU SUA FACE E PRETENDE SE RECUPERAR DO SUSTO PARA VOLTAR A ENFRENTAR A BESTA TAITIANA.

1. VOCÊ PODE DESCREVER O QUÃO PESADO E BIZARRO TEAHUPOO ESTAVA NO ÚLTIMO SWELL?
Olha, é difícil descrever. Cada vez que revejo as imagens da sessão de tow in, eu não consigo acreditar nas ondas mutantes que apareceram naquele dia. Lá no line-up eu vi algumas loucuras de perto, como as bombas que o Bruce Irons e o Nathan Fletcher pegaram. Quando eu via aqueles caras soltando a corda e se comprometendo com aquelas ondas, eu respirava fundo, pois parecia que eles iriam morrer logo ali na minha frente.

2. QUE TIPOS DE ONDAS VOCÊ ESTAVA BUSCANDO? COMO VOCÊ FAZ ESSE TIPO DE SELEÇÃO QUANDO O OCEANO PARECE TÃO FURIOSO?
Eu estava buscando as médias, eu não queria nada como aquelas séries gigantescas, que pareciam ser morte na certa. Você realmente tem que ter fé no seu parceiro e confiar que ele ou ela vão te colocar no lugar certo e na hora certa. Eu tenho a sorte de ter tido excelentes pilotos em todos estes anos de tow in. Desde Raimana, Ikaika Kalama, Coco Nogales, Laird Hamilton, Sean Ordonez até meu piloto neste último swell, o Benjamin Sanchez. Ele me colocou em ondas incríveis, fiquei muito feliz.

3. QUANDO SURFA TEAHUPOO, QUAL É O SEU OBJETIVO? COMPLETAR A ONDA OU ENTUBAR O MAIS FUNDO QUE DER?
Meu objetivo é entugar sempre. Quanto mais fundo, melhor, no entanto você tem que ver o que é possível fazer. Eu fui engolida por algumas por ter ido fundo demais, mas peguei três tubos naquele dia e saí de um deles. Foi demais!

4. EM QUE MOMENTO VOCÊ TOMOU O CALDO TENEBROSO QUE TE LEVOU AOS CORAIS?
Tomei esta vaca dois dias depois da sessão de tow in. Foi durante a expression session em homenagem ao Andy Irons. As ondas tinham apenas seis pés. Não era nada demais. Em um minuto eu estava dentro de um tubo e no minuto seguinte eu senti meu rosto sendo esmagado no coral.

5. QUEM TE RESGATOU? O QUE PASSOU PELA SUA CABEÇA NO MOMENTO DO ACIDENTE?
O water patrol do campeonato me tirou d'água muito rápido. Eu estava triste, pois sabia que tinha batido meu rosto, mas eu pensava que deveria ser apenas um arranhão. Assim que saímos do line up eles me levaram direto para a tenda dos paramédicos. Eu comecei a reparar que as pessoas estavam me olhando assustadas, então me dei conta de que o acidente poderia ser sério. Eu estava com muita dor, cheia de sangue, então eles me deram morfina enquanto esperavam a ambulância. Eu não podia acreditar que depois de uma sessão de tow in, uma ondinha de 6 pés estava me levando ao hospital. Eu ficava dizendo: "Preciso ir ao hospital? Está tão feio assim?". Até que um dos médicos tirou uma foto com seu celular, e eu tomei um susto, era muito pior do que eu imaginava. Estava tão fundo, o osso estava aparecendo e o corte estava apenas há poucos milímetros do meu olho direito. Precisei sentar... Eu estava em choque.

6. E COMO FOI A OPERAÇÃO?
Os médicos do hospital de Papeete eram incríveis. Quando cheguei no Hawaii e fui examinada, os médicos diserram que o cirurgião do Tahiti tinha feito um trabalho ótimo ao juntar meu rosto novamente. A Mary, uma das médicas do evento, ficou ao meu lado o tempo todo, foi bom ter alguém comigo naquele momento. A dor era horrível, mas com a morfina consegui aguentar bem. Estou me recuperando e devo voltar para água antes do que você possa imaginar.

7. O QUE ESTÁ EXPERIÊNCIA TODA TE ENSINOU?
Nunca subestime Teahupoo, nem mesmo em dias pequenos. A onda que provocou todo este choque parecia ser bem simples...

8. VOCÊ ESTÁ COM MEDO DE VOLTAR A SURFAR LÁ?
Olha, não estou contando as horas para surfar Teahupoo. Eu penso que é inteligente você ter um medo saudável daquela onda. Dias menores podem ser mais perigosos, pois nós baixamos a guarda. Quando chegar a hora certa eu vou voltar para a minha onda favorita no mundo porque sei que nunca vou conseguir ficar longe dela.

9. COMO É SER UMA DAS POUCAS MULHERES QUE ENCARAM ESTAS CONDIÇÕES?
Teahupoo é uma onda muito especial para mim porque eu fui a primeira mulher a fazer tow in lá. Isso foi em 2005. É muito boa a sensação de fazer coisas que nenhuma outra mulher fez antes. Saber que eu inspiro outras mulheres me dá ainda mais confiança e força. Mas é difícil porque os homens que me inspiram estão surfando ondas que eu não pretendo surfar nunca. Eu preciso ser muito realista para saber até onde pretendo puxar meus limites.

10. COMO VOCÊ SE PREPARA, FISICAMENTE E MENTALMENTE, PARA ENCARAR ESSAS CONDIÇÕES DE ONDA?
A parte física você trabalha durante toda a sua vida. Eu surfo desde os meus 5 anos de idade, cresci no Hawaii, onde as ondas são maiores e mais desafiadoras que a maioria dos outros lugares. Só este fato já me dá bastante confiança. Agora, na parte mental, eu fico muito nervosa quando vejo um swell grande e quando tomo a decisão de reservar a passagem e ir. Eu passo o dia andando de um lado para outro dentro de casa. Agora, quando chego no lugar, eu tento manter o foco e a calma. Assim que seguro a corda, a decisão já foi feita, então não me estresso mais, só tento manter a concentração na minha performance.