RipCurl Pro Search 2011


CALANDO A BOCA DE QUEM FALOU EM "SORTE DE INICIANTE" DEPOIS DA VITÓRIA NA FRANÇA, GABRIEL MEDINA VENCE O RIP CURL PRO SEARCH, NA CALIFÓRNIA, E FATURA SEU SEGUNDO TÍTULO NO WT EM QUATRO ETAPAS QUE DISPUTOU. A DÉCIMA PARADA DO TOUR TEVE AINDA A CONQUISTA DO 11º TÍTULO MUNDIAL DE KELLY SLATER E O MAIOR ERRO DA HISTÓRIA DA ASP.


Aos 17 anos e com duas vitórias em quatro etapas disputadas, Gabriel Medina provou ser completo, fazendo todo tipo de manobra contra qualquer tipo de surfista. Havia muita expectativa sobre as ondas em San Francisco. O evento começou, depois parou por três dias. A verdade é que, mesmo não sendo uma "Brastemp", as ondas de Ocean Beach foram benevolentes com os surfistas. Entre os brasileiros só Adriano de Souza, Medina e Alejo Muniz foram direto para o terceiro round. Miguel Pupo deixou Kai Otton sem pai nem mãe ao fazer a melhor soma do segundo round (16.43). Brett Simpson marcou a segunda contra o surf defasado, e mesmo assim eficiente, de Damien Hobgood. Kieren Perrow fez a terceira, contra Mick Fanning. Os tubos ajudaram, quem diria... Sim, em certos momentos o mar estava bonito, se você não fosse levado pela correnteza e a série viesse em sua bateira. Raoni Monteiro passou fácil por Dusty Payne. Jadson André lutou, mas não venceu Taylor Knox por apenas 0.03. Dane Reynolds mostrou que realmente não está nem aí para o Circuito. Tentou dar seu show, mas estava no palco errado, pelos motivos errados.


EU CALCULO, TU CALCULAS
Um erro homérico nas planilhas da ASP deu o título antecipadamente a seu impreterível dono. Parece que alguém está na bronca com Slater. Em 2010 seu décimo título foi ofuscado pela morte de Andy Irons. Um erro de cálculo em 2011 ganhou mais visibilidade que sua 11ª vitória no ASP World Tour.

Talvez até os deuses pensam que ele já passou da conta, ou será que a conta é que passou da hora? Depois de ser declarado campeão de 2011 com a nona colocação, Kelly teria que vencer mais uma bateria para garantir a quinta colocação e não depender da performance de Owen. Caso Slater não passasse mais nenhuma bateria, nem ali nem em Pipe, Owen teria que vencer os dois eventos para empatar geral e, numa bateria extra, tentaria roubar o caneco de 2011. Mas Kelly venceu a bateria da quarta fase, em que ninguém perde, contra Pupo e Medina (apesar do resultado novamente polêmico) e sagrou-se campeão, mais uma vez.


TOPS BALANÇAM
No terceiro round, Taj Burrow e Bede Durbidge sambaram contra Matt Wilkinson e Knox. Adriano quebrou sua prancha predileta, treinando no dia anterior, e perdeu para Kieren. Medina humilhou o pobre Fred Patacchia e Miguel venceu uma bateria apertada contra Adrian Buchan. Kelly venceu Daniel Ross e a comemoração começou, antes da hora. A competição não parou e Owen fez uma das melhores baterias da vida (17.54) para vencer Adam Melling. Raoni começou bem contra Alejo, que só virou no fim da disputa. Joel Parkinson passou e Jordy Smith dançou contra o mega-aéreo que avariou o pé de Patrick Gudauskas nos últimos minutos da bateria. Gudauskas venceu, mas não pôde mais surfar no evento.


KELLY FECHA A CONTA
Além de Alejo passar direto pelo round que ninguém perde, o destaque foi Kelly ser "novamente campeão" ao vencer Medina e Pupo, que tiveram as asinhas podadas pelo vento e mesmo assim deram trabalho. Mais uma vez Slater no pódio e o evento rolando. Muita gente acha chato ver a mesma história se repetir, mesmo que não exista outra. O cara ainda é imbatível. Mas aquela bateria contra nossos meninos foi interessante para comprovar que, no jogo deles, talvez fosse difícil Slater vencer. E agora, torcemos contra ou a favor do 12º? Sua permanência no Tour me parece importante para o esporte, mas até quando? O cara é doente. Tem 11 títulos mundiais e não cansa. Encontra pretextos e motivação para seguir competindo. Slater é um dos maiores atletas de todos os tempos. A razão disso, segundo ele, é manter a cabeça aberta para aprender com as novidades e buscar sempre a evolução. Enquanto isso alguns surfistas se mexem para tirar os beach breaks do Circuito e acabar com a rotação dos 32 no meio do ano. Nada disso é oficial, até agora. Sinto cheiro de aversão aos novos tempos de domínio da garotada.


O ATROPELO DE MEDINA
Para refrear os ânimos da nova geração, no 5º round, Taylor venceu Miguel. Joel, empolgado por não haver mais título em jogo, esculachou o desencontrado Owen. Já nas quartas doi ótimo ver Alejo superar Simpson, mas foi Medina que deixou claro: a mudança é inevitável. No dia 12 de outubro, Medina venceu seu primeiro WT, na França, seguindo trajetória parecida com a de San Francisco, Nas duas ocasiões caiu para a repescagem do round 5, se recuperou, venceu Kelly Slater nas quartas e Taylor Knox na semi. Na Europa, deixou para trás Julian Wilson na final. Nos EUA bateu Kelly no jogo dele, sem voar, pegando as melhores ondas logo no início da bateria e marcando o Slater até o fim. E não adianta dizer que Kelly estava desencanado. Perder para Medina, outra vez, deve ser insuportável para o "rei do surf". Na disputa do mais jovem contra o mais velho, Medina massacrou Taylor na semi, aplicando uma lição de surf progressivo. Na final o surfista brasileiro mais comentado do mundo derrotou, sem a menor cerimônia, por 16.50 × 10.90, o quarto do ranking mundial, Parko ─ que ficou feliz de não perder por mais.


RASGADA × SUPERMAN
Medina parece não ter medo de ninguém. Talvez até por constrangimento de derrotar ícones como Kelly ele declare que nem sabe como fez isso, diz que estava só se divertindo. Depois de voltar de aéreos bizarros diz que foi o melhor da vida, ou seja, está aprendendo, mesmo quando compete com monstros. Pensando bem o monstro é ele. Um ser capaz de transmutar o que pode parecer surf de criança em vitórias contra homens. Sua forma de dosar peripécias no ar com surf clássico faz muita gente tremer. Durante todo o evento seu backside foi demolidor e deixou o melhor surfista de todos os tempos muito a fim de uma revanche em Snapper ou Jeffreys. Sim, falta a Medina provar que é bom em outras ondas, mas isso é uma questão de tempo. Ele e sua geração estão transformando o WT. A ASP deve enfrentar uma crise de identidade diante da revolução pela qual o surf está passando. Durante muito tempo não surgiu um batalhão que confrontasse de verdade os Top 10, que mostrasse a possibilidade de uma real troca de guarda no Circuito. Isso só aconteceu agora, com a mudança no sistema de classificação e essa nova geração. Como julgar duas formas de surf tão distintas? Tubos são tubos, mas o que vale mais: a rasgada incomparável do Slater ou o superman do Medina? Já vimos cada uma dessas manobras renderem notas 10.