Consciência no Jet Ski


A CADA DIA O JET SKI TORNA-SE MAIS PRESENTE NO MUNDO DO SURF. COMEÇOU COM O TOW IN, ONDE ELE É FERRAMENTA FUNDAMENTAL, E DEPOIS COM O USO DAS MOTOS D'ÁGUA PARA LEVAR COMPETIDORES PARA O OUTSIDE. A POPULARIDADE É TANTA QUE HOJE EXISTE  UM USO EXCESSIVO E DESCONTROLADO DOS JETS. SERÁ QUE QUEM USA SABE O MAL QUE ELE CAUSA?


O jet ski é constantemente utilizado em campeonatos para agilizar a volta do surfista ao lineup. Além de poupar o esforço da remada para passar a arrebentação, ele torna a bateria mais competitiva pela chance de haver mais ondas surfadas. Mas o uso excessivo das máquinas polui a água do mar, prejudica a vida marinha e, até mesmo, a saúde do surfista. Por essas e outras que leis como as aplicadas nos EUA estão ganhando força.

O Golden Gate National Recreation Area (GGNRA), que controla as atividades na região costeira de São Francisco, Califórnia, não abriu exceção para o uso na 10ª etapa do World Tour, em Ocean Beach, e para o Big Wave World Tour, em Mavericks ─ está última mais discutível devido à inevitável necessidade do uso de jets para surfar a onda.

Segundo Howard Levitt, diretor de comunicação da GGNRA, os jet skis devem ser usados apenas em situações de emergência: "Temos um jet ski de resgate dos salva-vidas, as leis não nos permitem deixar que outra pessoa faça isso", diz. A preocupação com o meio ambiente é válida, de acordo com Annie Reisewitz, diretora da Strategic Ocean Solutions, da Flórida. "O impacto do jet ski é maior que o de barcos, porque eles circulam mais próximos à costa", afirma a especialista. Para ela, os motivos são o barulho e a emissão de poluentes no ar e no oceano, entre eles, o monóxido de carbono e hidrocarbonetos.

Além de poder causar a morte de animais marinhos, a constante poluição sonora e da água interrompe o descanso, diminui a atividade no habitat, reduz a taxa de reprodução e o tempo de vida, interfere nos costumes de locomoção e alimentação e altera o comportamento e a estrutura comunitária no fundo do mar.


REALIDADE BRASILEIRA
Para Elisabete Braga, professora de Oceanografia Química da USP, "os resíduos emitidos na queima de combustível liberam tintas tóxicas, prejudiciais à fauna e à flora e também aos surfistas". Os modelos com motor dois tempos são os mais poluentes ─ eles não queimam cerca de 30% do combustível, que vaza pelo escapamento. Nos Estados Unidos esse motor já é proibido. A US Environmental Protection Agency obriga as marcas a utilizar o quatro tempos com injeção eletrônica. "Ele consome menos e não usa óleo, então polui menos", comenta Alex Silva, gerente de produtos da Yamaha. "O combustível queima totalmente, igual ao de carro. Já o dois tempos, além do vazamento de combustível, faz muita fumaça, como uma moto antiga", completa.

Mesmo sem leis no Brasil, as marcas já optaram por trabalhar com o motor quatro tempos. A Kawasaki apresentou, no Salão Duas Rodas, neste mês, os modelos Ultra 300X e Ultra 300LX, ambos quatro tempos. Já a Yamaha vende os mesmos jets que são produzidos nos EUA e, segundo Benedito Alves, instrutor técnico da marca, pretende encerrar em até dois anos a fabricação dos modelos dois tempos.

Quando as condições demandam, o jet é uma ótima ferramenta. Mas para não poluir nosso parque de diversões, o oceano, é preciso que seu uso seja feito de maneira consciente e responsável.