Rip Curl Pro Portugal 2011


DEPOIS DA FRANÇA, O TOUR SEGUIU PARA PORTUGAL, ONDE O RIP CURL PRO PENICHE ROLOU EM TEMPO RECORDE (DOIS DIAS E MEIO) E ONDAS ÉPICAS EM SUPERTUBOS. PARA COMPLETAR, ADRIANO DE SOUZA ENCHEU O BRASIL DE ORGULHO AO VENCER KELLY SLATER NA FINAL, FAZENDO UMA DOBRADINHA INÉDITA E HISTÓRICA COM MEDINA NA PERNA EUROPÉIA DO WT.


Finalmente um Supertubos de verdade. Nas outras duas edições a onda deu o ar da graça, mas dessa vez mostrou por que é conhecida como a Pipeline lusitana. Foram as melhores ondas do ano e o evento aconteceu em tempo recorde. Cinco somatórios acima dos 18 pontos.

Se na França os aéreos resolveram, em Peniche, Portugal, os tubos eram o caminho. Com exceção do campeão Mineiro, o time verde e amarelo se apagou. Jadson, Raoni, Alejo, Miguel e o convidado Bruno Santos não passaram nenhuma bateria e, assim como tantos outros, estavam decepcionados, não só por caírem fora do evento, mas por não poderem surfar aqueles tubos que levaram John Florence a marcar 19.53 no segundo round. Medina, que havia deixado Raoni e Tiago Pires a ver navios no 1º round, dançou feio no 3º contra Chris Davidson. Faltou adaptação. Normal, tinha o direito, ainda atordoado depois da vitória incontestável na França poucos dias antes. Kelly pareceu aliviado. Heitor Alves perdeu no 1º round, mas depois passou pelo traumatizado Tiago Pires para seguir em frente. Mineiro boiou geral no 1º round, mas se redimiu no 2º fazendo quase o dobro dos pontos sobre o wildcard Justin Mujica.


TERCEIRO ROUND
Incrível o número de atletas que perderam com a melhor nota da disputa. Brett Simpson pegou a melhor da bateria, mas saiu triste. Queria surfar mais. Taj entubou mais fundo e venceu. A terceira bateria do terceiro round foi uma das melhores do evento. Julian Wilson e Kai Otton pegaram 200 tubos e ficaram no toma lá dá cá, até que Julian saiu de uma caverna para marcar 9.70. Só não levou o primeiro 10 do evento porque os juízes sabiam que algo ainda mais espetacular do que aquele tubo estava para acontecer. Não é fácil perder uma bateria quando você soma 18.40. Foi exatamente o que aconteceu com o pobre Kai. Julian mereceu o melhor somatório da fase. O experiente Heitor não deu mole e fez justamente a lição de casa da aula que Medina cabulou. Venceu Josh Kerr por 0.07 nas poucas ondas disponíveis. O frustrado Jordy Smith, ainda fora de ritmo, perdeu para Fred Patacchia, mesmo fazendo uma nota 9, enquanto, para azar de Mick Fanning, Bede Durbidge fez o primeiro 10 do evento que terminaria com o maior número de notas acima dos 9 pontos. Mineirinho, fazendo justiça ao apelido, passou discretamente por Travis Logie numa disputa de poucas ondas. John Florence estava se sentindo em OTW ou Backdoor e deixou Owen para trás. O careca sorriu.


"NO LOOSER" COM BÔNUS
Taj, como sempre, deu seu show, na bateria que não vale nada. Heitor fez sua melhor bateria do evento, mas, além de Chris Davidson, havia o Kelly. Slater mandou 19.30 vendo o caminho livre rumo ao 11º título. Mineiro passou mais uma vez na base da raça. Joel Parko conseguiu desbancar Florence e Bourez com sua melhor atuação. Já na fase seguinte Julian venceu Davo nas poucas ondas disponíveis. Heitor despachou Hobgood e Michael venceu numa bela disputa com Patacchia. Bede saiu vitorioso na melhor briga do round contra o jovem Florence. Não adianta, quando as coisas apertam a experiência vale muito.


A ESCOLA DO KELLY
Eram tubos e mais tubos. Nas quartas Julian finalmente conseguiu convencer os juízes a soltarem seu 10, mas Taj foi melhor na média. Kelly não deu chance a Heitor, mais uma vez. Sua escolha de ondas e táticas é perfeita. Sua técnica de tubos continua fazendo escola e um dos melhores alunos é justamente o cara que mais o incomoda no Tour. Adriano de Souza. Mineiro venceu Bourez ao entubar fundo na melhor da série, acelerar dentro e sair lá na frente para fazer seu primeiro 10 em sete anos de Tour. Parcos foram os 0.07 a mais no placar final, porém, com um 10 na conta, foi o bastante para assombrar Kelly. Joel perdeu para Bede. O que dizer? Não é o ano de Parko ou é seu destino? Na primeira semifinal Kelly emplacou outra soma daquelas (19.50 × 16.87) com direito a nota 10. Mandou Taj, mais uma vez, pra casa. Tudo parecia acontecer muito rápido. Adriano, concentrado, despachou Bede e o confronto que todos queriam ver estava pronto. Apesar de fazer milagres Kelly parecia preocupado. Ele teme os aéreos de Medina, mas sabe lidar com isso. Mineiro é outra história. Dentro da cabeça sem cabelos estava a obstinação de Mineiro antes do 10º do Kelly em Porto Rico. Tweets e farpas no caminho, a derrota em Bell's e tudo mais que Mineiro fez para irritar o careca, como o desabafo na frente do público lá em Trestles. Era a hora da verdade. Bateria tensa. Mineiro foi lá e pegou a melhor da série. Saiu das profundezas de Supertubos como o próprio Kelly faria. Aquele 9 foi fatal. Mineiro dominou o line-up, estava seguro. Sem a prioridade ficou longe de Kelly e achou boas ondas. Com a prioridade, não forçou ao ponto de saírem no tapa. Tudo deu certo para Mineirinho vencer sua terceira etapa no Tour, dessa vez em ondas épicas.


VITÓRIA DUPLA
Mais importante que a vitória nas ondas foi a sova psicológica que Kelly tomou de seu rival no pódio. Kelly estava incomodado. Não conseguiu desfazer a cara de inconformado. Mineiro usou o microfone aberto ao mundo para declarar o que ninguém podia prever, muito menos Slater. "Esse troféu está em minhas mãos por conta desse cara aqui". O careca ficou ainda mais perdido quando Mineiro dobrou um joelho e reverenciou "O Rei", postado ao lado do troféu. Toda e qualquer mágoa que o público mundial pudesse ter contra algumas atitudes de Mineiro se dissiparam. Kelly não soube como responder, estava pelado de idéias. Levantou o braço de Adriano, balbuciou algo sobre o evento e assistiu assustado ao novo rei (ao menos nosso e de Portugal) ser coroado. Deve ser campeão pela 11ª vez em San Francisco, mas continuará para sempre pelado naquele pódio em Peniche. Salve Mineiro.



Foto 1: ASP
Foto 2: Stephanie Sayuri