Quiksilver Pro France 2011


O QUIKSILVER PRO FRANCE, PRIMEIRO EVENTO DA PERNA EUROPÉIA DO WORLD TOUR, FOI UM FESTIVAL DE AÉREOS COMANDADO PELO GAROTO PRODÍGIO GABRIEL MEDINA, QUE DERROTOU JULIAN WILSON NA FINAL E VENCEU DE FORMA IMPRESSIONANTE O SEGUNDO EVENTO QUE DISPUTOU NO TOUR.


Mick Fanning queria o bicampeonato e fulminou o primeiro round com um 9.37. Como Jadson André, ele foi entubando direto para a terceira fase do Quiksilver Pro em Hossegor, que começou com boas ondas, intermitentes por conta da maré, mas com potencial de ótimas notas. Nenhum dos outros brasileiros conseguiu isso ─ Heitor Alves não participou, se recuperando de uma contusão. No segundo round a degola começou. Joel Parkinson, enviado por Jadson para a repescagem, perdeu para o convidado Ramzi Boukhiam e ficou com aquela cara de paisagem ─ depois do terremoto, claro. De volta ao Tour, Dane Reynolds venceu Adriano de Souza. Mineiro caiu com uma prancha que parecia grande demais, enquanto Dane fez funcionar seu modelo minimalista com maestria. Joel era o terceiro e Mineiro, o quarto na corrida ao título mundial de 2011. As coisas começavam a complicar para quem não era Owen Wright, segundo, e Kelly Slater, primeirão do ranking. Alejo Muniz, com inteligência, despachou o frustrado John Florence.

Gabriel Medina parecia meio nervoso, cometendo erros que normalmente não faz. Superou Dusty Payne, mas ainda devia aquela atuação que todos esperavam. A tão esperada e adiada bateria entre Raoni Monteiro e Miguel Pupo acabou rolando sem muitas oportunidades. Raoni ficou irritado por ver Pupo obter as melhores ondas e notas.


OS TOPS DERAM MOLE
No terceiro round, Jeremy Flores venceu Kai Otton, mas machucou o tornozelo e saiu da prova. E aí Medina insistiu nas esquerdas e precisou apenas de um aéreo rodando de front com paulada na sequência para vencer de virada o pobre Bede Durbidge, nos últimos minutos. Como disse Slater depois de vencer Ramzi, aplicando o surf mais vistoso do round com sua epoxy 5'9" triquilha: "Antes eu olhava os caras mais velhos para aprender, agora aprendo com os mais novos". Isso é parte de sua alquimia, porém a fórmula depende de tantas outras coisas que não pode ser aplicada a outro quarentão qualquer. Taylor Kxox, na mesma faixa etária, já havia despachado Fanning mostrando que consistência e sorte também podem surtir efeito.

Que situação. Parko, Kerr, Fanning, Mineiro... os Tops dançaram e Slater só tinha Owen na alça de mira.

Jordy Smith estava de volta. Venceu Dane Reynolds e seu "surf-show-oito-oitenta-estilo-expression-session". Nem sempre funciona, aliás, quase nunca. Tanta gente querendo entrar e ele brincando de tentar sair. Caso se interessasse mesmo por essa história de WT poderia aprender com Alejo, que, fazendo a lição de casa nas direitas, venceu Jadson com boa diferença. Quando o evento recomeçou na maré certa, Julian venceu Pupo, que simplesmente não se encontrou com as ondas.

O mais interessante do 4º round foi o calor que Medina deu em Slater, vencedor com apenas 0.03 a mais. Adrian Buchan estava na bateria, mas ninguém viu. Alejo derrotou Jordy e Julian com o que tem de melhor. Consistência. Taj deu seu show com a melhor soma do round sobre Damien Hobgood e Owen. Na última bateria do quinto round, Julian mostrou que era candidato sério ao título.


A BRIGA ENTRE O NOVO E O DE SEMPRE
Nas quartas, o velho e bom Knox detonou o espartano Bourez num duelo tipo power contra power e depois os mágicos entraram em ação. A revanche contra Slater foi avassaladora. Medina usou a estratégia do careca ao sair surfando tudo o que aparecia. Quando os aéreos dão as melhores notas fica ainda mais fácil usar essa tática. Kelly esperava a série, paciente, ou conformado de que era impossível vencer "Medal" (como diz a imprensa gringa) no jogo dele. Com uma "paulada aéreo rodando de back", numa direita, Medina deixou Slater numa situação desconfortável. Slater se safou, mas suas quilhas pareciam grandes e suas ondas, pequenas. Gabriel mandou uma pá de cal no fim da bateria ao destruir uma onda como se estivesse num Pro Junior qualquer. Mandou Kelly novamente para a "kombi". Que revanche! Medina foi para a semi de forma impecável. Com a praia ainda em choque Alejo peitou Jordy. O brasileiro estava mais sólido e ativo, com aéreos mais dramáticos. Jordy resolveu se mexer. Mandou aéreo, manobrou forte e passou Alejo fazendo 8.03. Daí Taj boiou e Julian deu show.


NA SEMI, O MAIS JOVEM CONTRA O MAIS VELHO
Gabriel começou demolidor, voltando em aéreos altos, invertidos, pegando boas ondas, uma logo depois da outra. Estava naquela mesma sintonia de Imbituba, em que até o que dá errado dá certo. Taylor tentou esboçar uma reação, mas Medina estava impossível voltando em aéreos bizarros. As ondas estavam mesmo boas para isso e num desses aéreos rodando de front fez seu primeiro 10 perfeito no evento, segundo ele o mais irado que já mandou. Deixou Taylor precisando de 19.58. Que massacre. Medina, aos 17 anos, em seu segundo evento na elite, estava na final do WT e havia feito uma nota 10! Em seguida, Jordy não estava de brincadeira e abriu mostrando vontade em rasgadas agressivamente controladas e variadas. Julian demoliu uma direita para tomar a liderança e passar a régua.


A FINAL DOS NOVOS TEMPOS
A final entre Medina e Julian marcou o fim de uma era e o começo de outra. "Go Gaby", dizia uma faixa erguida pela galera na praia. Julian saiu na frente, mas Medina logo reverteu o resultado. Julian jogou aquele aéreo que a prancha roda e ele não (shove it ou sex change), voltou de base trocada, acertou e quase acertou um reverse. Numa direita maior mandou aéreo rodando sem grab e comemorou comedidamente. Medina precisava de apenas 7.68 para virar e estava demorando um pouco mais que o normal para pegar suas ondas. Gabriel foi muito inteligente ao não exagerar no reverse de abertura, fazer a onda com segurança até o inside e mandar um aéreo de front com grab, alto, com segurança. Levou 9.17 e fechou a bateria com a prioridade. Jogo perfeito. Gabriel venceu seu primeiro WT por 17.00 × 16.10, de virada. Nada poderia ser mais perfeito para ele. O mais novo ídolo do Tour é brasileiro. A briga pelo título não mudou muito. Slater continuou líder. A geração dos aéreos dominou na França.