Fui do sonho ao pesadelo. E senti vergonha de ser brasileiro. É triste dizer isso, mas foi o que aconteceu comigo ─ e tem acontecido diariamente com muitos outros brasileiros ─ quando retornei ao Brasil depois de divertidos dias de férias surfando nas pndas perfeitas das Maldivas e também nos museus da Europa. Era final do último mês de junho e nosso avião aterrisou às 6 da manhã. A fila da imigração era desesperadora. Um caracol lento e sem fim, com um monte de funcionários mal-humorados e despreparados tornando as coisas mais difíceis ainda. Conforme mais vôos iam chegando, as coisas pioravam. Clima tenso. Centenas de pessoas indignadas reclamando muito. Essa é a rotina instalada em Guarulhos. Bem-vindo ao Brasil!

Ufa, conseguimos entrar em nosso próprio país depois de muita espera. Mas o sentimento de alívio durou apenas alguns segundos. Foi somente no trajeto que liga a imigração à área de bagagens e da saída. A cena era igualmente desoladora. Outra multidão se amontoava tentando pegar as malas e deixar o aeroporto. Novamente desorganização e despreparo e outra fila sem fim para passar pela receita federal. Os comentários externados em voz alta e muitas vezes aos berros eram basicamente os seguintes: "Vergonha... Imaginem durante a Copa... O Brasil não tem as mínimas condições de sediar um evento desse porte... Será um caos sem tamanho...", e por aí vai.

Mas o pior era que ainda tinha mais pela frente. Depois de filas na imigração e na receita, era hora de pegar a fila da máfia do táxi. Novamente centenas de pessoas indignadas tentando sair dali sem sucesso e sujeitas a pagar preços exorbitantes da quase que única maneira de transporte existente no principal aeroporto de nosso país. Afinal, quais são as opções? Aqueles ônibus que não saem a toda hora ou os preços fechados impostos pela empresa que comanda os táxis que circulam ali. Absurdo.

Como nosso principal aeroporto não tem uma linha de metrô que ligue o terminal à cidade? E Cumbica é só um exemplo dos graves problemas que temos. A Copa está aí. Num piscar de olhos estaremos em 2014. O que está sendo feito? Socorro. Um grande fiasco está se apresentando e nossas autoridades muito falam, mas nada fazem. Será que estão realmente esperando chegar os "48 do segundo tempo" para poderem fazer tudo sem licitação e com preços superfaturados? Infelizmente já vimos esse filme. Se for para ser do jeito que está, fico pensando se efetivamente não seria melhor abrir mão do evento agora, trabalhar duro, promover as infinitas mudanças necessárias e se candidatar novamente para uma outra oportunidade. Também seria um grande fiasco. Porém menor do que sediar o evento com nossa atual e precária infraestrutura. Que as autoridades façam milagres e me façam queimar a língua, ou melhor, os dedos. Mas, do jeito que vamos, seremos motivo de piada para o mundo. O que acabei de relatar não é nenhuma novidade, mas infelizmente, é a nossa triste realidade. Das direitas perfeitas, longas e cristalinas das Maldivas, para as filas nojentas, longas e vergonhosas do principal acesso ao nosso país. Fui do sonho ao pesadelo. Bem-vindo ao Brasil!