Jay Moriarity — O anjo que surfava


Jay era o cara mais feliz do mundo. Sempre, não importava a situação em que ele estivesse, sua face exibia um sorriso quilométrico. Com seus olhos azuis brilhando intensamente, era o garoto de ouro do surf de ondas grandes californiano. Ele não tinha defeitos, ou nenhum de seus amigos pode se lembrar de um. Era tão perfeito que sua morte se torna ainda mais absurda. Por que justo ele, um anjo que surfava Mavericks rindo? Com apenas 15 anos de idade, Jay estreou na temida onda que faria sua fama correr o mundo. Aos 16 protagonizou a vaca mais famosa da história do pico, e possivelmente do surf, quando despencou direto do lip até a base de uma morra de mais de 30 pés. Bateu no fundo, voltou pra superfície, remou até o barco e, diante dos olhares aterrorizados, pediu outra prancha. Regressando ao outside, surfou por mais cinco horas, pegando oito ondas incríveis nas quais teve uma performance irrepreensível. O wipeout épico ficou eternizado na capa da revista SURFER e do jornal New York Times, tornando-se depois um pôster, o qual ele volta e meia autografava mesmo sem gostar do mesmo ─ era prova de um erro seu, o que incomodava profundamente um perfeccionista como ele. Na véspera de completar 23 anos de idade, em 15 de junho de 2001, já consagrado por seus companheiros como o melhor surfista de Mavericks, ele morreu num acidente de mergulho, em águas absolutamente calmas nas Maldivas. Sempre o primeiro na água em Mavericks, chegou a dormir no barranco algumas vezes para não perder um minuto de luz do dia. Entrava com o sol nascendo e saia com o sol se pondo. Podia surfar qualquer onda em qualquer prancha, era muito estiloso no pranchão e se dedicava com afinco total ao preparo físico e à analise do que devia ser feito no pico que pretendia surfar ─ ensinamentos de seu mentor Ricky Hesson que ele cumpria à risca. Na opinião de seus companheiros de surf, Jay havia sido descaradamente roubado na semifinal do campeonato da Quiksilver em Mavericks, em 2000. Kelly Slater avançou para a final, que terminaria vencendo, e ele ficou pra trás injustamente. Assim mesmo, não disse nada. Deixou que os protestos viessem de amigos, como Peter Mel, e seguiu seu caminho. Curta, viva o momento, não olhe para trás: Jay estava lá fora, sol ou chuva, neblina, vento, em qualquer condição, nada podia afastá-lo da onda que mais amava. Na melhor sessão de sua vida, rebocado por Jeff Clark, seu parceiro de tow-in, pegou um tubo gigante, estimado em mais de 50 pés. Ficou muito fundo, e saiu para delírio da galera no canal. Muita gente avisou Jay para que não mergulhasse sozinho. E por isso a indignação. Como um cara inteligente como ele não deu ouvidos a uma regra tão básica? Realizando uma série de exercícios de respiração, perdeu os sentidos a uma profundidade de 15 metros, sentado ao lado da corda que o auxiliava na descida e subida. Foi uma maneira muito estúpida de morrer. Irresponsável mesmo. Mas como culpar um anjo por sua inocência?