Billabong Rio Pro 2011


DEPOIS DE UMA SEMANA DE ESPERA, A TERCEIRA ETAPA DO ASP WORLD 2011 COMEÇOU NAS ESQUERDAS DO ARPOADOR E TERMINOU NA BARRA DA TIJUCA, NO RETORNO DA PROVA AO RIO DE JANEIRO. COM PREMIAÇÃO RECORDE DE US$ 500 MIL, O BILLABONG RIO PRO FOI ENCERRADO COM A MEMORÁVEL VITÓRIA DE ADRIANO DE SOUZA. DE QUEBRA, "MINEIRINHO" ASSUMIU A LIDERANÇA DO RANKING MUNDIAL, FATO INÉDITO NA HISTÓRIA DA ASP.



A santa trindade decidiu bem. Daniel Friedman, diretor de prova no Rio, o juiz chefe e Kieren Perrow, representante dos atletas, levaram as disputas para o "Arpex". As esquerdas rolaram de péssimas a muito boas. a maré e o vento, que variou muito, modificavam ondas e cenário, que a bem da verdade é um dos mais lindos para um evento de surf no Brasil. Finalmente os Tops e convidados entraram em ação. Dos brasileiros só Jadson André, numa boa escolha de ondas e alta velocidade, foi direto para o terceiro round. Um tubo inesperado do Daniel Ross mandou Mineiro pra repescagem. Taj Burrow mandou um aéreo de backside comentado pela garotada o resto do dia, além de obter a maior soma da fase (16.33). Kelly, que prometia um show depois do mega-alley oop executado nos treinos, fez um 9, mas por comparação que por genialidade. Essa foi sua melhor nota em todo o evento. Na mesma bateria Peterson Crisanto, convidado por seu patrocinador, fez a pior soma do evento (3.48). Dias depois venceria a Expression Session, levando US$ 5 mil de prêmio.


ARPEX, MENOR E MAIS ALINHADO
De volta à zona sul do Rio, CJ Hobgood superou o jovem Julian Wilson. Ele e Mineirinho fizeram os maiores somatórios, acima dos 16 pontos, do 2º round. Mineirinho cometeu muitos erros, mas acertou duas boas para despachar Ricardinho dos Santos, outro convidado. Raoni Monteiro venceu sua primeira bateria do ano contra Tiago Pires, numa disputa de poucas ondas. Em condições nada empolgantes Igor Morais dançou frente ao perigoso Bede Durbidge. Michel Bourez passou raspando pelo local Simão Romão, vindo das triagens. Alejo, pela primeira vez, não apresentou aquela atitude que apresentou em campeonatos anteriores. Reclamou das ondas, como se elas fossem culpadas de tudo que deu errado para ele contra Adam Melling. Estranhei.


NO 3º ROUND A BARRA PESOU
De volta ao palco principal na Barra. Raoni soube lidar com o fundo de areia que possibilitava duas manobras por onda e, sem medo algum, venceu Fanning. Bourez, numa bateria quase perfeita, ao fazer 9.7 logo de cara, deixou Jadson em situação complicada. Em duas manobras rápidas no lip marcou mais 9.4, e jogou uma pá de cal sobre a esperança do público e do defensor do título da prova em 2010. Adriano fez um surf objetivo, escolheu sempre as maiores e esse seria seu caminho certeiro. Josh Kerr resolveu tudo na base de aéreos e deixou o desanimado Jordy para trás por décimos. Os ídolos estavam caindo. De repente, Joel finalmente estava surfando e atropelou Perrow da mesma maneira que Jeremy Flores não deu atenção a Melling. Heitor Alves tentou usar sua velocidade, mas Damien Hobgood foi esperto na escolha de ondas e tirou o brasileiro do páreo. Heitor tem que ir com mais calma e tática nas próximas etapas. O duro é gerenciar a assombração do corte no meio da temporada. As pauladas de Taj fizeram mais sucesso que os tubinhos de Cory Lopez. O australiano já venceu três etapas no Brasil e acelerava rumo ao pódio sem piscar.


FORA DA NORMALIDADE
Bobby Martinez, mesmo sem saber, tinha uma bela torcida. Acelerou a onda toda para virar a bateria contra Slater num aéreo de backside, levando 7.5 numa só manobra. Slater tentou detê-lo numa rara direita e, se tivesse finalizado melhor, talvez conseguisse os 4 décimos que lhe faltaram. Talvez os juízes esperassem mais, como o público.Cada vez mais temos baterias decididas por décimos de pontos. Isso reflete o nível de surf apresentado e nem sempre comprova as teorias conspiratórias levantadas por muita gente. Voltando. Slater ficou mal. Klaus Kaiser, na locução, o chamou de volta à praia por três vezes. Mas ele ficou surfando na área de competição. Mesmo sem atrapalhar, foi uma demonstração de uma hora e meia de falta de profissionalismo nada condizente com o KS10. Estrelismo? Falta de coragem para encarar a entrevista e enfrentar os fãs? Sei lá. Slater disse depois que Martinez estava mais motivado (logo, ele não). Que ainda não havia surfado sozinho no Rio e quis aproveitar. A ASP o multou em US$ 5 mil — US$ 500 por onda surfada.


NO LOOSERS 2
No 4º round, Owen teve o brilho que esperamos dele e apagou Michel e Raoni. Josh fez outra expression session e venceu voando, novamente. Mineiro e Bede foram outra vez para repescagem. Parko estava entrando no ritmo e venceu Jeremy e Bobby. Taj fez sua melhor soma do evento (18.40). Assustador, destruiu Damien e Ross. Pode até ser cruel, mas gostaria de assistir a uma etapa sem esses rounds em que ninguém é eliminado. O tempo utilizado acaba comprometendo um cronograma que, supostamente, diminuiu o número de competidores na elite para aproveitar os melhores momentos das ondulações que duram, em geral, três dias.


MINEIRO SOBE AO PALCO
Já nas quartas de final, Adriano e Owen saíram do mar antes das notas. Mineiro subiu na área VIP, separado pela faixa de areia e a cerca que servia de dique para conter a maré de gente. As notas foram pipocando no monitor e Mineiro explodiu comemorando com o público ao perceber que Owen não tinha virado a bateria com o aéreo. Bede passou por Josh e Taj não parava de fazer ótimas médias, parecia dono do evento e atropelou Matinez. Na primeira semifinal, Taj estava naquele estado mental e sintonia com as ondas que deixou Jeremy sem pai nem mãe. Estava na final. Mineiro soube lidar melhor com as mudanças de humor das ondas. Mandou aéreo na direita e seqüência de pauladas na esquerda para ultrapassar Bede. Chegou à final por um caminho bem mais trabalhoso que o do Taj.


FINAL, DOCE FINAL
Mineiro perdeu por um "milimicro" (18.94 × 19.06) a melhor bateria da primeira etapa, na Gold Coast, contra Taj, no 5º round. Ano passado seu parceiro de equipe, Jadson, venceu o mesmo Slater para quem Adriano perdeu a final em Imbituba, em 2009. As ondas estavam demorando, cada vez mais fora da bancada. Traiçoeiras. Taj surfou dentro da normalidade uma onda de 7 pontos, mas, difrente de outras baterias, caiu na finalização. Foi um sinal da pressão que aquele povo na areia exercia sobre ele. Mineiro respondeu. Esperou a nota no outside, ao lado oponente. Comemorou berrando na orelha dele, mesmo que a diferença de um ponto não fosse lá essas coisas, mas isso abalou Taj de vez. Não a nota, mas a comemoração do Mineiro que ecoava na praia. O australiano tentou outra fora da série, não funcionou. Daí em diante as maiores fecharam-se para ele. Mineiro, mais bem colocado, acelerou inteligentemente numa maior e mais extensa. Encaixou suas curvas para desferir manobras bem conectadas e vibrou. As séries pararam. O tempo também. A tensão na praia foi aumentando até que tudo explodiu em êxtase. Mineiro campeão. É campeão, é campeão, entoava a galera. Mineiro era o Brasil e havia vencido a Copa. Seu nome foi cantado em uníssono como num campo de futebol, numa das comemorações mais emocionantes que já vi.

Num evento em que a organização torna quase virtual a presença das estrelas do surf de tanto protegê-los da imprensa e do público (às vezes com razão), foi bom ver Mineiro descer do palco e ser abraçado pela multidão. Na premiação, ao lado do desolado, inconsolável e perplexo Taj, Mineiro ajoelhou e agradeceu o fervoroso público. "Agradeço ao Pinga (seu empresário e amigo desde o começo da carreira) por me fazer acreditar que esse momento era possível", disse Adriano. Acredite, Mineiro, você agora é o primeiro do mundo e colocou mais surf na cabeça e no coração de muitos brasileiros.