TUBARÕES: PROIBIR OU ALERTAR?


Pernambuco é a cidade com a maior média de incidentes envolvendo tubarões no Brasil — segundo o International Shark Attack File (ISAF), da Universidade da Flórida, entre 1931 e 2010 foram registrados 45 ataques em Pernambuco, 14 deles fatais. Na praia de Boa Viagem, que está na faixa de proibição do surf, ocorreram 7 mortes até hoje — a última em 2006.

A polêmica esquentou em fevereiro, depois que o CEMIT (Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões) cogitou estender a proibição da prática de surf até a praia de Itapuama. O problema é que até hoje não há ocorrências de ataques naquela praia, por isso os surfistas locais discordam da proibição. “A área da praia de Itapuama nunca teve ataque de tubarão. Mesmo no auge dos ataques em Pernambuco, as pessoas surfavam lá sem medo”, diz Clemente Coutinho, fotógrafo e surfista local.

O biólogo marinho Marcelo Spilzman, autor do livro Seres Marinhos Perigosos, acredita que proibir a prática do surf é a mesma coisa que proibir os banhistas de entrarem na água. “As pessoas devem ser alertadas, não impedidas. Proibir os surfistas pode acarretar em algo pior, como a prática do esporte em uma área sem salva-vidas”, diz Marcelo. Os números do ISAF mostram que a média mundial de ataques de tubarão é de 63,5 por ano e 51% das vítimas são surfistas.

Para Fabio Hazin, presidente do CEMIT e professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco, “o grau de risco a que o surfista está exposto é bem maior do que os banhistas”. Mas o pensamento do CEMIT vai além: “Proibir o surf protege os próprios surfistas, sem contar que os ataques têm conseqüências sócio-econômicas com impacto direto na atividade turística”, diz Fabio.

A proibição neste trecho do litoral pernambucano é uma prática que não acontece em outras praias do mundo que enfrentam o mesmo problema. Em Eastern Cape, onde ficam as alucinantes direitas de Jeffrey’s Bay, na África do Sul, a política é menos taxativa e o número de mortes é menor, mesmo com uma incidência maior de ataques. A praia exibe uma placa alertando a presença de tubarões (brancos, no caso) e quem quiser surfar pode ir por sua conta e risco. Nesta região da África do Sul já foram registrados 90 ataques desde 1992, 9 deles fatais.

Sobre a situação brasileira, Marcelo Spilzman explica que os ataques em Pernambuco começaram principalmente por causa da construção do Porto de Suape, que obstruiu bocas de rio onde os tubarões cabeça chata se reproduziam. Com isso eles passaram a se reproduzir na região da grande Recife, dividindo, literalmente, as mesmas ondas que os surfistas. “A proibição existe, mas as placas são de advertência e não de proibição. Se o cara vai surfar, ele é orientado pelo corpo de bombeiros. Se resistir, é preso pela polícia”, conta Clemente Coutinho.

Em um caso como o de Boa Viagem, é cabível compreender a proibição — até pela fraca assistência médica prestada nas praias. Mas a preocupação do momento é a extensão da proibição para praias onde sequer existem registros de ataques, o que impediria a pratica do surf em picos como Itapuama, um dos palcos do Circuito Pernambucano deste ano.

Até a publicação deste texto, o CEMIT garantiu que o surf não está proibido na área que vai até a praia de Itapuama, mas que um comitê especializado irá analisar esta possibilidade no próximo semestre.