Rip Curl Pro Bells Beach 2011


JOEL PARKINSON VENCEU E ATÉ MICK FANNING, SEU ADVE
RSÁRIO FINAL, COMEMOROU. OS DOIS FIZERAM A FESTA DOS AUSTRALIANOS NA PÁSCOA DURANTE O MAIS TRADICIONAL CAMPEONATO DE SURF DO MUNDO, O RIP CURL PRO BELL’S, EM BELL’S BEACH. O EVENTO MOSTROU QUE KELLY SLATER TEM ADVERSÁRIOS, COMO ADRIANO DE SOUZA. ISSO É MUITO INTERESSANTE PARA O SURF.


Sim, Parko venceu pela terceira vez em Bell’s. Focado. Entrava e saía do mar com a cara fechada, mesmo sem perder nenhuma bateria. Transmutou aquele famoso, às vezes mal compreendido, “estilo relax” em algo que sempre esperei aflorar num Joel pretendente a título. Foi agressivo, do começo ao fim do evento e em cada onda. Estava grunhindo quando Mineiro o ameaçou na semi. Confiante como nunca, bastava ver suas manobras. Bom trabalho de Luke ”25%” Egan, seu experiente técnico. A porcentagem no nome assinala quanto Egan leva do que Parko ganha ou perde. Cabe observação. Luke foi um dos poucos sujeitos a entender o “modus operandi” de Slater e, há muito tempo, aplicou no careca uma das derrotas só comparáveis à que rolou para Mineirinho nas quartas este ano em Bell’s. voltando. Quando Parkinson remou para tomar a primeira onda da bateria contra Fanning, o desfecho da final estava escrito. Dominou as séries com inteligência. Para corroborar com talento, treinos e configuração mental havia as direitas de Bell’s. O surf de Parko se encaixa ali de forma surpreendente. Trabalho com as bordas cravadas na água durante longas linhas. Talento ele sempre teve. Dessa vez não tremeu e mereceu. Até o 10 da última onda. Ponto final.


GOOFYS NAS QUARTAS
Mick Fanning, amigo de infância de Parko, vinha impressionando mais. Trajetória irretocável. Vide pontuação. Quatro ondas acima de 9 no evento. Esse fato dá ainda mais brilho à bateria de Jadson × Fanning nas quartas. Se Jadson acerta a arriscada manobra final daquela onda do floater absurdo, seu 8.30 seria algo acima de 9 e a conversa mudaria, mesmo com Mick acertando sua melhor manobra do evento (9.53) nessa dispita. Quando Jadson pegou uma das belas bombas da bateria, mesmo tendo dificuldade em acertar o “timing”, olhando a cena, Mick tremeu. Estava rezando para a bateria acabar. Jadson estava feliz com seu desempenho, com razão, mesmo perdendo. Aliás, ele e Owen foram os únicos goofys nas quartas. Parece fácil, mas não é. Surfar bem de costas para as direitas de Bell’s é coisa para Occy, Barton Lynch e fenômenos do tipo


HELL’S BELL’S
Mais uma onda na média esperada e Jordy teria protagonizado a bateria do evento contra Mick na semi. Porém, Bell’s pode ser infernal. Apesar de fazer 9.53 numa única manobra na junção, sua outra nota era 3.33, justamente quando Fanning marcou sua melhor marca no evento (9.70) para somar com 9.17, surfando em velocidades muito além dos outros. Mas Jordy havia vencido Chris Davidson nas quartas e torci contra só por isso. O carismático Davo errou uma finalização e acabou com sua bela participação. Estava mais explosivo e afiado, mesmo sem patrocínio. Porque será que ninguém patrocina esse cara? Jordy não encontrou seu ritmo em Bell’s, apesar de seu porte e surf condizentes com aquelas ondas. Por falar nisso, que ondas. Bell’s pôde comemorar seus 50 anos sediando eventos de surf lá mesmo, sem ter que correr para outros picos, como no ano passado. A única mudança em incríveis seis dias seguidos de ondas boas, para homens e mulheres, foram as desejáveis direitas da vizinha Winkipop só para eles.


MINEIRO CONSTRÓI SUA HISTÓRIA
As ondas estavam boas, overhead, clean e abrindo. Fico feliz em constatar que Mineiro, assim como Jadson, não são coadjuvantes. Estão entre os Tops por mérito. Pena Adriano ter sucumbido à sua própria cobrança por uma performance tão boa quanto contra Kelly na semi com Parko. Se bem que sua derrota se deu mais por conta das condições do mar do que pelo surf em si. Parko pegou a única onda com potencial real e mandou muito bem. Marcou 9 pontos. Depois, tanto ele como Mineiro não encontraram nada mais tão relevante.

Vamos ao ápice do evento, ao menos para a torcida brasileira. Mineiro 18.00 × 11.24 Slater. OK, o careca, fora lampejos de genialidade e algumas manobras que deram errado e ele fez parecer movimento diferenciado, não encontrou seu surf, fosse pela prancha, momento do mar ou sabe-se lá o quê. Não importa. Naquela quarta-de-final ele queria vencer e não pôde. Seu oponente era aquele mesmo cara que o infernizou antes de seu décimo título em Porto Rico. Talvez o único com capacidade de tirar Slater da trilha mental pela qual chega às suas vitórias. Põe daqui, tira dali, foi mais ou menos o que o próprio Slater declarou, depois de ter xingado muito, descontando sua ira na prancha e remoído a derrota para Adriano de Souza. Poucas vezes na história desses 20 anos no Tour e dez títulos mundiais, se é que houve alguma, Kelly foi para casa de Kombi. Aquela espinha na garganta desentalou, com direito a 9.33 para descer melhor. Mineiro está construindo sua história ainda na “Era Slater”. Participou da vitória do décimo título, aplicou-se uma Kombi. Logo mais ninguém terá possibilidade de algo assim no currículo. Tornar-se ídolo enquanto o “Deus do Surf” ainda está competindo pode fazer toda a diferença para a imagem do surf nos próximos anos.


RAONI, HEITOR, ALEJO E MEDINA
Gabriel Medina participou como convidado, pela segunda vez, mas acho que ainda não é hora dele encarar essa turma. Apesar de não conhecer a onda, Alejo Muniz foi muito bem, direto para o terceiro round. Perdeu para Jadson. A nona colocação no ranking garante um fôlego extra nas próximas etapas. Não é o caso de Heitor Alves (19°) e Raoni Monteiro (33°). No Rio de Janeiro, próxima parada do Tour, de 11 a 22 de maio, eles precisam dar um gás para ficar entre os Top 32 da ASP. Na etapa do Tahiti acontece a primeira rotação do ano no ranking.