POR DENTRO DO TOUR


DEPOIS QUE A ASSOCIATION OF SURFING PROFESSIONALS ANUNCIOU, NO FINAL DE 2009, A UNIFICAÇÃO DOS RANKINGS DO WT E WQS, O CORTE DE 45 PARA 32 SURFISTAS E OUTRAS MUDANÇAS NO FORMATO DO WORLD TOUR, MUITAS DÚVIDAS FICARAM SEM RESPOSTA NA CABEÇA DE QUEM DISPUTA E ACOMPANHA O CIRCUITO MUNDIAL. COMO VAI FUNCIONAR O RANKING ÚNICO? O WQS PERDEU IMPORTÂNCIA? COMO SERÃO DEFINIDOS OS INTEGRANTES DA ELITE? O QUE ACONTECERÁ COM OS SURFISTAS QUE CAÍREM NO MEIO DO ANO? HÁ CHANCE DE VOLTAR AO FORMATO ANTIGO? PARA ESCLARECER ESSAS E OUTRAS QUESTÕES, EU CONVERSEI COM O BRASILEIRO RENATO HICKEL, TOUR MANAGER DA ASP, PARA SABER OS DETAL
HES DESSA NOVA FASE DO ASP WORLD TOUR.


A MUDANÇA
Pouca gente sabe, mas o projeto de unificação dos rankings começou há mais de cinco anos, com uma grande insistência dos próprios surfistas. No entanto, sempre houve uma grande resistência dentro da ASP. Eu mesmo tinha dúvidas, porque nossos eventos não são abertos e era praticamente impossível ter o sistema de ranking unificado como no tênis, por exemplo. Depois de muito estudo, encontramos a fórmula do World Ranking, inspirado nos sistemas da ATP (Association of Tennis Professionals) e da PGA (Professional Golfers Association). Tivemos várias reuniões com representantes dessas entidades para saber como funcionavam e o que poderíamos aproveitar do sistema deles. Desde o começo, a gente sempre falou que seria um projeto de longo prazo, que sofrerá ajustes de acordo com as necessidades que forem surgindo. Temos de dar tempo ao tempo, ver como o novo sistema funcionará. Eu acredito muito no sucesso do novo sistema.”.

WORLD RANKING E WORLD TITLE RACE
A temporada de 2010 foi de transição, o ano em que a gente saiu do antigo formato para o novo, do corte de 45 para 32 atletas. Agora não existem mais cortes e sim rotações no ano, uma após a sexta etapa e outra depois de Pipeline, a última. Em 2010 ainda não sabíamos direito como iria funcionar, por isso decidimos manter os 22 primeiros do ASP World Title Race e os 10 primeiros do ASP World Rankings. A partir deste ano, será o World Rankings que apontará os 32 primeiros que farão parte da elite e quem vai entrar e sair a cada rotação. Além disso, o seeding e o ranking serão mutantes a cada etapa. Os oito melhores resultados nos últimos 12 meses definirão o seeding, que também será o ranking do atleta. Em 2011, todos começarão com os pontos dos oito melhores resultados de 2010. A partir deste ano, ficará muito mais fácil para o público entender o formato. O ranking será atualizado após cada etapa Qualifying, Prime ou do World Tour. Vamos pegar como exemplo o caso de CJ Hobgood em Fernando de Noronha. Ele venceu a prova no ano passado. Se disputar em 2011 e não vencer, vai automaticamente cair no ranking, porque o evento de Noronha é Prime e vale 6.500 pontos, o equivalente ao terceiro lugar numa etapa do World Tour, e é um dos oito melhores resultados dele nos últimos 12 meses. Depois disso, o resultado não contará mais. Se a etapa de Noronha perder status ou for cancelada, CJ perderia os pontos do mesmo jeito, porque o resultado caducaria, ou seja, ultrapassaria os 12 meses. Outro exemplo é o Adriano de Souza, que não competiu em Noronha no ano passado. Supondo que ele vá este ano e ganhe o evento, vai descartar o pior resultado, somará os 6.500 pontos de Noronha e provavelmente subirá no ranking. Um exemplo muito bom é o Kolohe Andino, que só tem três etapas contabilizadas no ranking. Este ano, ele começa a correr o circuito inteiro, então vai somar os cinco primeiros resultados que fizer. Isso deixará o Tour mais dinâmico. Só agora veremos a engrenagem do World Ranking funcionando. Por isso, pedimos aos atletas para ter calma, esperar um pouco antes de tirar conclusões. O ASP World Title Race servirá em 2011 apenas para determinar o campeão mundial. Será um ranking à parte, em que serão contados apenas os oito melhores resultados das 11 etapas do ASP World Tour.”.

PRIMES E 6 ESTRELAS
Uma das grandes reclamações dos atletas era para a gente adequar as pontuações dos eventos, pois havia uma grande diferença entre elas. Aumentamos consideravelmente as pontuações dos Primes, do segundo ao nono lugar, e nas etapas 6 estrelas, do primeiro ao nono. Esse aumento, junto com o aumento do número de etapas (este ano serão 12 Primes, sendo oito antes da primeira rotação, após a sexta etapa), significa 70% a mais de pontos em jogo. Em outras palavras, os surfistas terão mais chances de se classificar. Também mudamos o formato das disputas nos eventos Prime e 6 estrelas. Os Primes agora são só para 96 surfistas, e não mais 128. E tanto nas etapas Prime como nas 6 estrelas, a partir do round 24 será utilizado o mesmo formato de disputa que as etapas do World Tour adotam na terceira fase. Ou seja, 12 baterias homem a homem e os vencedores vão para quatro baterias de três atletas. Quem ganha vai direto às quartas de final; quem perde disputará o round 5, igual no World Tour. A única diferença é que as etapas 6 estrelas poderão fazer isso com 24 surfistas ou com 12 ─ nesse caso já passando para quatro baterias de três atletas, dependendo do tempo hábil para terminar a competição. Esse benefício será maior para os atletas que disputam o Qualifying. Quando se classificarem para elite, eles já estarão acostumados ao novo formato. Aumentamos consideravelmente a premiação, o número de etapas e os pontos nos eventos Prime e 6 estrelas. Não temos dúvidas de que o circuito será um sucesso, com uma dinâmica incrível.”.

RENOVAÇÃO NA ELITE
No sistema antigo, que classificava 15 atletas pelo WQS, a média dos últimos oito anos era de dez surfistas novos por ano na elite. Com a redução de 13 atletas do total de 45, sempre pensamos que o ideal seria ter pelo menos cinco novos atletas em 2011. E foi exatamente isso que aconteceu no Hawaii. É óbvio que se alguns atletas do World Tour tivessem se dado bem na última etapa, em Pipeline, esse número poderia ser menor. Mas não seria um desfecho muito provável, olhando o histórico dos atletas que ficaram pendurados. Nosso principal objetivo, independente da estrutura de pontuação e do formato, é ter os melhores surfistas na elite. No ano passado, se você for analisar os atletas que entraram, o destaque do Qualifying foi Heitor Alves, campeão de três etapas 6 estrelas e uma Prime. Nos eventos Prime, o surfista mais consistente foi Raoni Monteiro. Tem também o Alejo Muniz, que surfou muito durante o ano inteiro. O Josh Kerr, que venceu em Margareth River e não participou de todos os eventos. O Julian Wilson ganhou etapa 6 estrelas, fez final em Prime e teve uma séria lesão no meio do ano, que pouca gente sabe. Todos eles estão dentro. O próximo da lista, que não entrou, foi Cory Lopez, que teve um bom ano, mas não espetacular. Nossa preocupação é essa, que os surfistas que estiverem arrebentando entrem no World Tour.”.

KELLY SLATER PRESIDENTE DA ASP?
O Kelly finalmente aceitou nosso convite para ser membro do Comitê Técnico, junto com o Fanning, Kieren Perrow e Adrian Buchan ─ este ano ainda vamos incluir mais um ou dois atletas que estarão disputando as etapas Prime. Se ele vai continuar competindo ou não, acho que nem ele sabe ainda. Antes disso, não podemos oficializar um convite para ele ser presidente ou ter algum outro cargo de peso na ASP. O que posso dizer é que ele nunca participou tanto das reuniões e decisões como em 2010. Slater foi voz ativa colocando várias idéias e opiniões.”.

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O QUE ELES ACHAM:

ALÉM DE RENATO HICKEL, CONVERSEI COM DOIS SURFISTAS DO QUALIFYING, WILLIAN CARDOSO E JESSÉ MENDES, QUE BUSCAM VAGA NA ELITE, E COM PAULO KID, TÉCNICO DE VÁRIOS BRA
SILEIROS E QUE ACOMPANHA A FUNDO O TOUR, PARA SABER A OPINIÃO DELES SOBRE AS MUDANÇAS PROMOVIDAS PELA ASP.


Acredito que as mudanças são positivas e a tendência é que só fiquem os melhores na elite. O ano passado foi meio confuso e a diferença de pontuação dos eventos do World Tour para os do WQS dificultou a entrada de novos atletas. Mas isso já foi resolvido com os ajustes que a ASP fez. O melhor de tudo agora é que no meio do ano você pode estar na elite. No ano passado, até o meio do ano teriam entrado de quatro a sete brasileiros. Então, como vamos ter oito eventos Prime antes da rotação, precisamos aproveitar a chance. Acho que a mudança vai trazer bons frutos para a nova geração.”. (Willian Cardoso)


O sistema de ranking unificado é positivo. Acredito que com o tempo ficará mais fácil para todos, principalmente quem está fora do universo do surf, entender o esporte. O ranking contínuo é muito bom para os atletas que mantêm uma boa campanha e está no rip. Para o surfista mediano ficará cada vez mais complicado se manter bem posicionado no ranking. Só os melhores vão ter espaço. No tênis, por enquanto, nos eventos Grand Slam existe uma triagem para os tenistas que não estão bem ranqueados. Eles têm a chance de disputar o evento e, conseqüentemente, somar os mesmos pontos que estão em jogo, podendo assim subir bastante no ranking. De um modo geral, eu gostei das mudanças e acho que vai ser bom para o surf.”. (Paulo Kid)


Gostei das mudanças. Mesmo ficando mais complicado para se classificar, o esporte vai crescer em termos de investimentos, mídia e público. O ranking unificado irá valorizar os atletas que ficam na porta do WT. Você não vai ser um surfista da segunda divisão, e sim o 50º do mundo, por exemplo. Isso valoriza o atleta. Os surfistas da nova geração vão precisar correr etapas 5 e 6 estrelas até conseguir seeding para entrar nas etapas Prime e aí lutar pela vaga no World Tour.”. (Jessé Mendes)