O céu é o limite


Se há um lugar no mundo do surf onde a palavra localismo não existe, é em Cortes Bank. Situada à oeste da costa de San Diego, na Califórnia, a onda de Cortes só alcança o seu potencial máximo durante o inverno do hemisfério norte — o mesmo swell que atinge o Hawaii chega à Califórnia cerca de 48 horas depois. No verão, o gigante adormece e a mesma bancada vira um destino muito procurado para a pesca e o mergulho, devido aos diversos naufrágios que aconteceram na região. "Foi a mais perfeita onda que já surfei. É uma pista de Fórmula 1, sem nenhum defeito", afirma o brasileiro Carlos Burle sobre as faces lisas e longas de Cortes.

A bancada de Cortes é uma montanha submersa com cerca de 30 quilômetros de diâmetro e 1.200 metros de altura. Quando as ondulações que percorrem milhares de quilômetros atingem o pico, acontece uma espécie de "efeito tsunami": a água não tem para onde correr e a energia se transforma em uma enorme parede vertical de água. "Cortes é uma onda muito diferente de qualquer outra. Não há visão de terra, a única coisa que existe é uma bóia no meio do nada e é lá que você vai surfar", descreve Mike Parsons.


A VIAGEM
Para chegar ao pico, é preciso pegar um barco a motor que sai de San Diego, Dana Point ou de alguma marina da costa californiana. A viagem pode durar de seis a doze horas, dependendo do ponto de partida da embarcação. Quando as grandes ondulações se aproximam da região, é preciso ser rápido. A maioria dos surfistas viaja de noite para chegar a Cortes logo ao amanhecer. Mas antes de dar início à viagem, há uma passagem pela guarda costeira que deve autorizar a saída de todos os barcos e se certificar de que a tripulação tem algum conhecimento da região e está munida com todos os equipamentos necessários para a prática de tow-in.


A ONDA DE 100 PÉS
Em 19 de janeiro de 2001, um grupo de quatro pioneiros (Mike Parsons, Brad Gerlach, Kenny Collins e Peter Mel), unidos sob a alcunha de Projeto Netuno, embarcou numa expedição para surfar em Cortes Bank algumas das maiores e mais perfeitas ondas já registradas. As imagens da sessão épica trouxeram para os holofotesa pergunta que inquieta o mundo do surf e não quer calar: é possível surfar uma onda de 100 pés?

A marca foi estabelecida como um parâmetro extremo e virou a grande obsessão de surfistas, apreciadores e empresários. Um patrocinador ofereceu 1 milhão de dólares para o primeiro homem a realizar tal façanha. Nove anos depois, ninguém ainda chegou perto — a maior onda surfada até hoje foi estimada em 70 pés. Mas o sonho de encontrar a onda-limite move a busca e alimenta a alma dos big riders. Naquele 19 de janeiro, coube a Mike Parsons pegar a maior, uma morra de 66 pés que ratificou sua reputação como um dos mais atirados surfistas de ondas grandes.

A partir daquele dia, meteorologistas e surfistas começaram a apontar Cortes como sendo o lugar ideal para surfar a maior onda do planeta. Segundo Sean Collins, do Surfline, um dos mais respeitados sites de previsão de swell, "as ondas podem atingir de 90 a 95 pés em outros lugares, mas seria impossível de surfá-las. O único lugar possível de pegar essas ondas é em Cortes Bank, pois a profundidade e o reef perfeito podem segurar montanhas de água desse tamanho", analisa.

Para o big rider e campeão mundial de tow-in Garrett McNamara, é apenas uma questão de tempo para que o recorde de maior onda já surfada seja estabelecido em Cortes: "É a onda gigante mais lisa e incrível que já surfei. Com certeza, a maior onda do mundo vai ser surfada lá".