Havaianos espertos


Todo mundo sabe que o Hawaii é o berço do surf e que lá rolam ondas grandes e poderosas. Mas nem todo mundo sabe que no arquipélago existem centenas de picos com ondas dos mais variados tipos e tamanhos. É um lugar abençoado pelos deuses do surf e os havaianos sabem aproveitar muito bem a dádiva que lhes foi concedida.

Surfistas do mundo inteiro, entre eles big riders, shortboarders, bodyboarders, longboarders e bodysurfers viajam para as Ilhas durante a temporada, pois sabem que lá encontrarão as condições idéias para o surf que praticam.

Os havaianos não se importam muito com a forma que vão surfar. Na cultura deles existe apenas uma modalidade... O surf! A maioria deles são adeptos de todos os tipos de pranchas, embora alguns sejam reconhecidos por terem mais sucesso como longboarders ou shortboarders, por exemplo. Mas faz parte do aprendizado dos nativos, que têm no surf um aspecto cultural muito forte, aprender a surfar com todos os tipos de prancha.

Em alguns lugares no mundo, principalmente no Brasil, as pessoas difundem um pouco as coisas. Ou seja, se você surfa de bodyboard, então você não é surfista, é bodyboarder. O mesmo acontece com o longboard. Chega a ser engraçado, mas no conceito da maioria da galera, o surf é dividido em: surf (que é o surf de pranchinha), o bodyboard e o longboard. Como assim? Quer dizer então que o longboard também não é surf? Claro que é, mas algumas pessoas só se dão conta quando são questionadas a respeito disso.

Alguns longboarders (leia-se surfistas) havaianos, como Bonga Perkins, Dino Miranda e Tellus Fix, entre tantos outros, são vistos constantemente surfando com diversos modelos de pranchas, inclusive sem elas, de peito. Alguns filmes de longboard mostram a facilidade que eles têm em usar outros modelos, sejam grandes ou muito pequenos, com bicos arredondados ou não e com uma, duas, três ou mais quilhas. Vendo esses filmes, é possível perceber que, para os havaianos, o que realmente importa é estar no oceano se divertindo. Bonga surfa qualquer mar com qualquer prancha. Para ele, surfar com um long, uma pranchinha ou um funboard, depende do seu estado de espírito. O longboard, seu brinquedo preferido, é mais usado para trabalhar, ou seja, para fazer imagens, treinar e competir. Quando quer extrapolar e ficar ainda mais fundo nos tubos, ele usa as pranchinhas convencionais e outras nem tanto. O fun ele usa para fazer um surf descontraído, para se divertir mesmo.

Poucos surfistas de outros países se destacam por surfar com vários tipos de prancha. Entre eles, os americanos Rob Machado e Joel Tudor esbanjam naturalidade ao surfar com os mais variados modelos. No Brasil, já tem uma galera que se deu conta que essas variações de pranchas são importantes para o bem do esporte e para o seu próprio surf, pois fazem com que o surfista passe a ver a onda por outros ângulos, permitindo uma leitura diferenciada da onda e conseqüentemente aumentando seu leque de abordagem nas manobras.

Entre os que mais são vistos variando os modelos de pranchas estão os longboarders guarujaenses Pardal e Roni Hipólito, pai e filho que têm contato direto com amigos e fabricantes de pranchas em Maui, que mandam seus protótipos para o Brasil a fim de que eles experimentem. Jimmy Lewis, shaper havaiano é um dos mais criativos fabricantes de lá. Ele faz tudo o que se pode imaginar para deslizar nas ondas. Aliás, Maui talvez seja o lugar onde os locais mais variam a forma de surfar e é lá que Laird Hamilton curte seus brinquedos. Uma das maneiras preferidas de pegar onda é com a Stand Up Board. As pranchas evoluíram bastante, com detalhes mais refinados de 9 a 12 pés para surfar ondas grandes. Há um tempo atrás rolou um campeonato de Stand Up em Makaha, organizado pelo local Mel Puù. Vários nomes de peso do surf havaianos prestigiaram o evento, entre eles Brian Keaulana, Titus Kinimaka, Dave Kalama e Bonga Perkins, que foi o campeão. É uma forma de surfar bastante divertida e já vem conquistando vários adeptos por aqui, entre eles o artista plástico Hilton Alves, que é visto surfando de todas as formas possíveis no Guarujá.

Enfim, longboard, fun, shortboard, surf de peito, stand up board, foil board ou bodyboard, seja lá qual for à forma que você prefere deslizar na onda, respeite quem surfa com uma prancha diferente da sua e procure experimentar outras também. Tudo é surf! Afinal, após uma boa session, a satisfação encontrada no sorriso de um shortboarder será a mesma vista no sorriso de um longboarder, ou de um bodyboarder e assim por diante. O que vale é estar lá! E os havaianos levam isso muito a sério... caras espertos!