REI DOS SETE MARES

PARA OS ROMANOS ELE É NETUNO. PARA OS GREGOS, CHAMA-SE POSEIDON. NO CANDOMBLÉ, QUEM MANDA É IEMANJÁ. NO SURF, O TODO-PODEROSO DOS OCEANOS É CONHECIDO POR KELLY SLATER. CONHEÇA UM POUCO MAIS DA HISTÓRIA DESTE AMERICANO DA FLÓRIDA, CRIADO NAS INCONSISTENTES MAROLAS DE COCOA BEACH, QUE DOMINOU O ESPORTE SOBRE AS ONDAS NOS ÚLTIMOS 20 ANOS.


Alguém conhecia Cocoa Beach antes de seu filho mais ilustre surgir para o mundo? Pode crer que sim. Principalmente quem já passou dos 40, como eu. Foi lá que a série americana “Jeannie é um Gênio” foi ambientada. Quem assistiu à TV Globo nas manhãs de segunda a sexta nos anos 70 e 80 sabe do que estou falando. Mas se você tem menos de 30, só passou a conhecer a cidade ─ que tem este nome devido às palmas nativas de cacau ─ graças a Kelly Slater.

Robert Kelly Slater foi o segundo dos três filhos de Steve e Judy. Nascido em 11 de fevereiro de 1972, o nome Robert veio para homenagear um tio por parte de mãe, mas o que acabou se tornando mundialmente conhecido foi Kelly, dado pelo pai. A infância de Kelly Slater não foi muito diferente da de um garoto normal. Na escola, era zoado pelos amigos, que diziam que Kelly era nome de menina. As brincadeiras com Hondo, o cão da família, e a eterna rivalidade com os irmãos Stephen e principalmente Sean, o mais velho, moldaram o garoto que teve seu primeiro contato com o surf aos 5 anos de idade. Como morava numa cidade praiana, Kelly naturalmente começou no esporte com uma prancha de isopor. O upgrade veio com um bodyboard. Sim, o maior surfista de todos os tempos já foi bodyboarder. Mas não pegava onda deitado, e sim em pé. Como fazia antes na prancha de isopor, o negócio do pequeno Kelly sempre foi surfar em pé.

O primeiro contato com uma prancha de fibra se deu com a de Sean. Os muitos caldos que levou e um acidente “quase sério” apenas aumentaram sua confiança e a vontade de evoluir. Ele estava pronto para ter sua própria prancha. Depois de implorar muito, ganhou uma 5’0” de presente do pai. A encomenda, que demorou quase seis meses para ficar pronta, mudaria para sempre a vida de Kelly. Aos 9 anos, como todo garoto, ele queria um patrocínio, nem que fosse apenas um adesivo no bico. Mas ele decidiu que seria melhor aguardar um de verdade. Começou a competir em alguns eventos amadores da costa leste ─ no primeiro que participou chegou em sétimo lugar (detalhe, entre sete competidores).


O PRIMEIRO PATROCÍNIO
Não demorou muito para Kelly conseguir seu primeiro patrocínio, ainda que por tabela, mas já era alguma coisa. Um fabricante de pranchas local, Dick Catri, resolveu formar uma equipe Sub-12 e convidou Todd Holland (ex-Top 45) e Sean Slater, entre outros, para uma excursão. Kelly foi na aba do irmão. A boiada de ter pranchas por um preço mais em conta e a experiência com outros surfistas acabaram ajudando em sua rápida evolução. Em 1982, quando o mundo começava a conhecer o talento de Tom Curren, Slater já vencia a maioria dos campeonatos da sua categoria. Foi nesse ano também que teve seu primeiro contato com a Quiksilver, empresa que o patrocina até hoje. Apresentados por Catri, Sean e Kelly conheceram o lendário Jeff Hackman e ganharam os famosos calções estrelados da marca. Mas foi a Sundek que bancou primeiro o futuro super-campeão, ao vestir a equipe inteira da Dick Catri Surfboards.

Porém, a vida da família Slater não era exatamente um mar de rosas. As bebedeiras sem fim do patriarca Steve começaram a afetar os filhos. Kelly quase sofreu um acidente sério de carro, com apenas 10 anos, numa discussão com o pai bêbado. As constantes brigas entre os pais levaram o garoto a buscar refúgio em outro universo. Poderia ter sido no submundo das drogas. Mas foi no surf. Ele sabia que seu pai era alcoólatra e que isso era uma doença. O mau exemplo dentro de casa o ajudou a se afastar dos vícios. Na verdade ele tinha vergonha do pai ─ sentimento que melhorou um pouco quando Steve Slater se divorciou da esposa, mãe de Kelly.

A vitória no campeonato amador da costa leste em 1982, contra surfistas mais velhos, o encheu de confiança. Tanto que venceu este evento seguidamente até 1987. Ele já sabia que queria ser um surfista profissional, mesmo sabendo que praticamente todo o mercado do surf estava do outro lado do continente, na Califórnia. Em 84, em Melboune, Flórida, competiu pela primeira vez num evento profissional. Em ondas pequenas, Kelly passou pelas triagens, chegou ao evento principal e venceu sua primeira bateria. Perde logo em seguida, mas ter ganhado de um profissional revirou suas idéias.


FRACASSO NO HAWAII
A primeira ida ao Hawaii foi em 1984, depois de ganhar a passagem num evento. Com 12 anos, não podia viajar sozinho e Matt Kechele, exímio surfista e shaper dos anos 80, foi seu tutor. Matt já fazia as pranchas de Kelly e viu o enorme potencial do garoto. Slater conheceu o North Shore e se assustou com ondas tão grandes e poderosas. Sua primeira sessão foi em Chun’s Reef, pico localizado entre Haleiwa e Waimea. Aos poucos foi se aventurando, até por Pipeline, mas sempre quando o mar estava pequeno.

Foi em Makaha que Slater sagrou-se campeão americano na categoria Menehune (até 12 anos). O título mudou sua postura. Ele agora era um exemplo para os meninos de sua idade. A Sundek resolveu investir e fez pranchas assinadas por ele, que lhe renderam algum dinheiro, e seu nome começou a pipocar como nova estrela ianque. Kelly e Sean excursionaram por toda a Flórida, promovendo tardes de autógrafo em surf shops. O estrelato começava a bater em sua porta.

Campeão americano de 84 a 87, o primeiro título profissional veio em 86, num evento local. A final foi contra Todd Holland e, mesmo sendo amador, Kelly não era mais visto como surpresa, e sim como ameaça. Ainda assustado com sua experiência no North Shore, viu no Caribe um bom local de treino em ondas com fundo de coral. Porto Rico (onde futuramente viria conquistar seu décimo título) e Barbados eram seus destinos preferidos. Em 86, se qualificou para disputar o Mundial Amador na categoria Junior, em Fistral Beach, Inglaterra. Lá teve uma lição de humildade, sofrendo com as ondas maiores e vendo caras como Shane Dorian, Nick Wood e Chris Brown detonarem. Porém, Kelly chegou à final contra o já meio lesado Wood, John Shimooka e Vetea David. Acabou em terceiro, atrás de Vetea e Nick. Nada mal para seu primeiro mundial.

No final daquele mesmo ano, retornou ao Hawaii. Dessa vez, quem tomou conta dele e de seu irmão foi o texano Ken Bradshaw, grande big rider dos anos 80 e 90. Mas nem sob os esporros de Ken, Kelly conseguiu encarar Sunset. Amarelou e saiu cuspido por uma espuma. Terminou surfando em Velzyland, ali perto. No ano seguinte não teve jeito, Kelly foi arrastado por Bradshaw para surfar um swell de 6 pés em Sunset. Em 87 conheceu a Austrália, país onde conquistou a maioria de suas vitórias no World Tour, e teve seu primeiro contato com a Gold Coast. No mesmo ano ele foi capa da revista “SURFING” pela primeira vez. Em 88, seu foco foi o Mundial Amador que rolou na França. Mas Kelly teve uma grande decepção ao não conseguir a vaga no time americano. O máximo que conseguiu foi um lugar entre os reservas, ou seja, só disputaria seu segundo mundial se alguém desistisse ou se machucasse, o que não aconteceu.


AMIZADE COM TOM CURREN
Mas o ano não foi pro lixo. Conheceu Al Merrick, shaper de Tom Curren. Recebeu um convite para fazer parte de sua equipe e passou alguns dias na casa dele em Santa Bárbara, norte da Califórnia. A afinidade com a família Merrick foi imediata e rendeu um casamento que dura mais de 20 anos. Em 89, aos 17 anos, Kelly começava a ganhar força e massa muscular, sendo constantemente comparado a Curren, o bicampeão mundial profissional que abandonara as competições em 87, mas que ainda era o grande nome do surf nos Estados Unidos. Apesar da comparação, Kelly gostava mais das manobras aéreas de Martin Potter, ainda que a linha de Curren também fosse uma forte referência.

Vencer Rob Machado na final do OP Pro Junior, na famosa Huntington Beach, templo do surf americano, com milhares de pessoas na praia, fortaleceu sua reputação e despertou a necessidade de que alguém tomasse conta de sua carreira. Diversas ofertas surgiram para patrociná-lo e Brian Taylor, que não tinha vínculo algum com o surf, se tornou seu empresário. Passou a usar roupas da OP e wetsuits da Rip Curl. Começou a faturar uma grana razoável e comprou seu primeiro carro, um Honda Civic.

Entre as facilidades que encontrou ao fazer parte do time da maior marca dos EUA, Kelly foi ciceroneado por ninguém menos que Tom Curren. Inclusive, ficou alguns dias na casa dele, na França, para estreitarem o relacionamento ─ algo quase impossível, já que o genial Curren é uma das figuras mais tímidas e anti-sociais do surf. Era tudo que um garoto de 18 anos não precisava. De qualquer forma, foi uma boa experiência e rendeu uma amizade anos mais tarde que dura até hoje.

Kelly já tinha bons patrocínios, era conhecido, mas faltava um título expressivo em sua carreira. O Mundial Amador de 1990 seria sua prova final na categoria. Naquela época, sua relação com Rob Machado começava a ficar mais estreita e ambos eram os grandes nomes para o evento que rolaria em Chiba, no Japão. Outra vez fracassou, caindo nas semi-finais diante de Taylor Knox e do tahitiano Heifara Tahutini.


GERAÇÃO MOMENTUM
Naquele ano, seus contratos tinham acabado e seu manager negociava com a Gotcha, Quiksilver e a própria OP. Ele tinha ido mal no Japão e não conseguia se destacar no Hawaii. Mas uma oferta milionária da Quiksilver acabou selando seu destino. Com apenas 18 anos, Kelly tornava-se um dos surfistas mais bem pagos do mundo. Já com o logo da marca no bico, foi para a França disputar o Quiksilver Lacanau Pro como trialista. Chegou à semifinal, derrotando no meio do caminho Martin Potter e Tom Carroll, parando somente diante de Curren, que estava endiabrado e venceria o evento ─ sagrando-se ainda tricampeão do mundo no final da temporada.

Kelly já era um surfista profissional e ganhava uma bolada, mas ainda era um adolescente e precisava terminar os estudos. Conciliar a escola com as viagens para os eventos era um martírio. Em setembro daquele ano, deu um show e ganhou o Body Glove Surfabout, em condições épicas em Trestles, executando manobras que acabaram imortalizadas no vídeo “Kelly Slater in Black and White”, lançado em janeiro de 91. O filme praticamente catapultou o garoto prodígio para o topo da lista dos futuros campeões mundiais.

Faltava apenas uma coisa: se livrar do fantasma de não desempenhar bem no North Shore de Oahu. A Quiksilver fez sua parte e o mandou primeiro para Fiji, onde surfou ondas pesadas em Cloudbreak e Restaurants. Em dezembro, sentia-se mais confortável nas ondas havaianas e, junto com um grupo de amigos que incluiu Machado, Shane Dorian, Ross Williams, Kalani Robb, os irmãos Malloy, entre outros da geração “Momentum”, domaram Pipeline e principalmente Backdoor. Kelly ainda teve Carroll como espécie de professor em Pipe.

Em junho de 91, formou-se no High School e finalmente estava pronto para tentar disputar o Circuito Mundial e realizar seu sonho de criança. Teve que começar em julho, com nenhum ponto computado. Conseguiu alguns bons resultados e, no último evento, a World Cup em Sunset, garantiu sua vaga entre os então Top 44 do mundo. Kelly era o 43º da lista e, em 92, faria parte da elite do surf profissional. Ele tinha conseguido seu objetivo e não imaginava o que viria pela frente. Afinal, um título mundial era apenas um vago sonho ─ imagine dez.


O DONO DO TOUR
EM JULHO DE 2010 COMPLETARAM-SE 20 ANOS DA ESTRÉIA DE KELLY SLATER, COMO TRIALISTA NO CIRCUITO MUNDIAL DE SURF PROFISSIONAL. RECÉM-FORMADO NO ENSINO MÉDIO (OU HIGH SCHOOL), ELE FINALMENTE ESTAVA LIBERADO PELA MÃE, JUDY, PARA SE DEDICAR 100% À PROFISSÃO QUE ESCOLHERA. EM HUNTINGTON BEACH, TEMPLO SAGRADO DO SURF AMERICANO, KELLY CHEGAVA ÀS QUARTAS DE FINAL DO OP PRO PERDENDO SOMENTE PARA RICHIE COLLINS E MOSTRANDO QUE OS FRACASSOS COMO AMADOR FICARIAM PARA TRÁS. INICIAVA-SE NA ASP A CARREIRA DO MAIOR SURFISTA DE TODOS OS TEMPOS. NAS PRÓXIMAS LINHAS, VOCÊ VERÁ UMA RETROSPECTIVA DO AMPLO DOMÍNIO DO DECACAMPEÃO MUNDIAL.


1991 → 43º COLOCADO
Kelly Slater já era considerado um fenômeno nos EUA e inclusive já tinha virado profissional com um salário na casa dos seis dígitos bancado pela Quiksilver, mas faltava provar, entre os melhores, que ele realmente não seria uma brisa passageira. Mesmo fora das cinco primeiras etapas do Circuito, seu plano era conseguir pontos necessários para se classificar entre os 44 primeiros do ranking mundial e assegurar uma vaga na elite em 1992. Isso porque o formato do Tour mudaria no ano seguinte, dividindo-se em dois circuitos distintos. O WQS era a divisão de acesso que classificaria os 16 melhores colocados para o WCT, a divisão principal, onde 44 surfistas, mais quatro convidados, teriam o privilégio de competir em eventos com maiores premiações e status ─ reclassificando os 28 primeiros no ranking final. Vindo das triagens, ele varou a maioria das provas, fazendo duas quartas de final e uma semi, no Pipe Masters. Apesar de não vir ao Brasil, deixando de ganhar pontos no Alternativa Surf International e no Hang Loose Pro Contest, conseguiu terminar em 43º lugar no final do ano, já esboçando uma temporada e tanto em 92, pois as boas atuações no Hawaii reforçaram as opiniões sobre seu enorme talento.

1992 → 1º COLOCADO
O WCT era uma novidade para todos, principalmente o sistema de disputas chamado “Round Robin”. Eram três fases com 16 baterias de três surfistas na água. Os 16 surfistas com o maior percentual de pontos classificavam-se para as oitavas de final. Sistema confuso, que logo foi trocado. Calouro, Kelly não foi bem na primeira etapa, em Bell’s Beach, conseguindo a 30ª melhor pontuação entre os 48 competidores. Na etapa seguinte, em Narrabeen, ainda na Austrália, recuperou-se e chegou à final contra outro novato, Shane Herring, mas acabou ficando em segundo na sua primeira final no Tour. Em Durban, África do Sul, o sistema mudou para o que rolava até o semestre passado. A derrota para Shane Powell no Round 3 mostrou que a nova geração aussie não ficava tão atrás do novo queridinho da América. Na ilha Reunião, quarta etapa do Circuito, chegou à semifinal derrotando seu herói, Martin Potter, nas quartas de final em ondas espetaculares. Uma nova final e outra derrota, dessa vez para o limitado Tony Ray, na França, poderiam tê-lo desanimado. Em vez disso, Kelly foi com tudo para Hossegor e deu uma surra em Gary Elkerton, vencendo seu primeiro campeonato do WCT. Como em Biarritz o evento não acabou por falta de ondas, as quartas de final e o vice nas etapas do Japão o deixaram com a mão na taça de campeão do mundo, mesmo sendo seu primeiro ano como Top. Precisava chegar às oitavas na etapa do Brasil para vencer o Tour antecipadamente. E foi isso que fez. Chegou como líder do ranking e deu um show de simpatia com os fãs, passando horas dando autógrafos logo após vencer Peterson Rosa no Round 3 e garantir o título. Mais relaxado, venceu o Pipe Masters, conseguindo assim o primeiro dos seis troféus conquistados no maior palco do surf.

1993 → 6º COLOCADO

A defesa do título mundial começou com um 5º lugar em Bell’s Beach. Na etapa seguinte, em Narrabeen, foi surpreendido pelo desconhecido havaiano Isaac Kaneshiro na repescagem. Perder por míseros 0,35 pontos para Fabio Gouveia, nas oitavas de Durban, não fez do início de temporada do campeão mundial um mar de rosas. Outro 5º lugar, agora em Lacanau, França, apenas o manteve entre os dez primeiros do ranking. A derrota para Nick Wood por meio ponto em Hossegor, terminando o evento em 17º lugar, deu margem para comentários de que Slater tinha tido sorte de iniciante em 92. Uma nova derrota na repescagem, agora para seu compatriota Todd Miller, definitivamente tirou suas chances de defender o caneco. A temporada na Europa tinha sido uma catástrofe. As coisas melhoraram no Japão, onde um nono lugar em Miyasaki e a vitória esmagadora em Chiba contra o amigo Chris Brown levantaram sua moral. No Brasil, aumentou a freguesia contra Fabinho perdendo nas quartas. Nem o vice em Pipeline, no evento que deu o título mundial a Derek Ho e o deixou na sexta colocação no ranking final, diminuiu a expressão de fracasso de seu rosto. A vitória do apenas “bom” Ho mostrava que para ser o melhor era necessário mais do que talento ─ lição que se mostrou válida mais tarde.

1994 → 1º COLOCADO
Apenas dez eventos fariam parte desta temporada, já que a etapa japonesa de Miyasaki não aconteceria. E foi em Bell’s, lugar onde Slater geralmente não se saía bem, que ele deu o primeiro passo para recuperar a coroa. Com uma vitória bem apertada contra Potter, ele faturou seu primeiro evento na Austrália, país onde venceria a maioria de seus 45 campeonatos. Um pódio com o terceiro lugar em Chiba o manteve como líder do ranking. A prematura derrota nas oitavas de final em Saint Leu, ilha Reunião, para o baiano Jojó de Olivença, jogou um pouco de água fria em Kelly, fazendo com que Rob Machado e Sunny Garcia encostassem. A derrota na final do US Open, em Huntington Beach, para um dos seus futuros rivais, o californiano Shane Beschen, melhorou sua pontuação, mas não o suficiente para ficar tranqüilo. Com o troco em Beschen na semi em Lacanau, Kelly acabou espancando o pseudo-surfista-cara-de-modelo Stuart Bedford-Brown na final, vencendo seu segundo evento no ano. Quase repetiu a dose em Hossegor, mas acabou derrotado por menos de 1 ponto para Flávio Padaratz. Foram três finais seguidas que o deixaram com bastante lastro na disputa do título. Outro brasileiro, o niteroiense Ricardo Tatuí, foi a pedra no sapato de Kelly em Biarritz, derrubando o número 1 do ranking no Round 3 para em seguida vencer o evento. No Brasil, travou uma bela disputa com seu chapa Rob Machado nas quartas, mas perdeu por pouco mais de meio ponto. Na etapa seguinte, no Hawaii, bastava uma boa colocação para conquistar novamente o caneco, mas ele fez mais. Com uma atuação esplêndida, derrotou o tahitiano Vetea David e os havaianos Sunny Garcia e Ross Williams na final do Pipe Masters, garantindo o título. A última etapa, em Sydney, Austrália, foi mera formalidade e o nono lugar apenas engordou sua conta bancária.


1995 → 1º COLOCADO
A temporada começou quente com a vitória de Sunny Garcia em Bell’s. o havaiano estava em grande forma e vinha com fome de recuperar a coroa para o Hawaii. Kelly ficou apenas na nona posição ao perder para Taylor Knox. Na etapa seguinte, em Chiba, Machado foi seu algoz, deixando-o em terceiro lugar e vencendo o evento perante Knox. Mas foi na Indonésia, em Grajagan, que Kelly Slater deu um dos maiores shows de surf já vistos. Em ondas simplesmente magníficas que variaram entre 2 e 3,5 metros, ele cansou de entubar e não deu chance para o californiano Jeff Booth na final. Kelly estava de volta à briga. Na ilha Reunião, Gary Elkerton, em final de carreira, tratou de mandar Slater para casa nas oitavas, em ondas pesadas. O vice-campeonato no US Open, novamente, agora para Machado, poderia ser um bom resultado não fosse esse o segundo evento ganho pelo amigo, o que lhe deixava na liderança do Circuito. Em Lacanau, tudo continuou na mesma, já que tanto ele como Rob perderam nas oitavas, assistindo ao pequeno Victor Ribas demolir as esquerdinhas e vencer seu desafeto Todd Holland na final. A terceira vitótia de Machado, agora em Hossegor, dava a impressão de que Slater tinha enfim um rival à altura. Em terceiro lugar, Kelly via Rob se afastar na liderança do ranking. Sunny Garcia tratou de equilibrar as ações entre ele, Machado e Slater ao vencer em Biarritz. Rob, em terceiro, ainda manteve-se folgado como número 1. Kelly, em quinto após perder para Ribas, agora tinha também Garcia como pretendente ao título. O vice de Sunny no Brasil praticamente lhe deu o título mundial de 95. Só uma derrota prematura na última etapa, em Pipeline, e uma combinação de resultados tiraria o caneco de suas mãos. E o Pipe Masters daquela temporada acabou se tornando um dos mais sensacionais da história. Primeiro, porque Garcia fez o que não podia ao perder para o “convidado-fênix” Mark Occhilupo no Round 3, terminando em 17º lugar e torcendo para que Rob Machado não chegasse à final ou Slater vencesse o evento. Segundo, porque ambos avançaram as fases e se encontraram nas semifinais, onde deram um espetáculo de surf e jogo limpo. Rob apostou nas tradicionais esquerdas, enquanto Kelly ia para o Backdoor, onde os tubos eram mais longos e difíceis de completar. O auge foi quando, ao remar de volta ao pico, Kelly estendeu a mão para Machado bater após sair de um belo tubo. Imagem que ficou nos canais da história do esporte. De 30 pontos possíveis, Slater fez 29,70 contra 27,34 de Rob, tirando a chance de seu amigo sagrar-se campeão. O adversário de Kelly foi Occy, que, mesmo tendo toda a torcida havaiana a seu favor, não foi páreo para o instinto vencedor de Slater, que se entocou fundo no Backdoor para levar seu terceiro título, de Pipe e da ASP.

1996 → 1º COLOCADO
Kelly iniciou a temporada levando logo a primeira etapa em Sydney, em final contra Kalani Robb. Foi surpreendido por Ross Williams nas oitavas em Duranbah, finalizando o Billabong Pro na nona colocação. Não era o resultado esperado, mas o mantinha como líder. Os problemas começaram em Bell’s, quando Sunny Garcia veio com fúria e balançou o sino, trazendo ainda o californiano Shane Beschen na terceira posição ─ e sedento para mostrar ao mundo que a costa oeste dos EUA podia botar a costa leste (no caso Kelly, local da Flórida) no chinelo. E o loiro magrelo falou alto, vencendo nas marolas do Japão e nas potentes esquerdas de Grajagan. Beschen surfava bem em qualquer condição e o principal era que não tinha medo de Kelly. Slater conseguiu outro nono lugar e um quinto ficando bem atrás na corrida do título, polarizado entre Sunny e Shane. O troco veio na ilha Reunião, com Slater vencendo Garcia nas semis e vendo Shane fracassar perante Occy no Round 3. Sunny era o líder, principalmente pela regularidade. O que ninguém esperava era que o floridiano fosse emplacar mais duas vitórias seguidas, em Jeffrey’s Bay e Huntington Beach, esta numa final contra Beschen. Era a consagração da costa leste sobre a oeste em pleno campo inimigo. Beschen ainda manteve-se na corrida ao ficar na frente de Kelly em Lacanau, parando nas semis enquanto Slater ficou nas quartas. Mas a partir daí o passeio foi todo do floridiano. Mas duas vitórias na França, em Hossegor e Biarritz, o deixaram com a mão no quarto caneco, fato consumado em Portugal com a contusão de Beschen e a queda de Garcia nas quartas de final. Mesmo ele perdendo para o português Bruno Chameca n repescagem, depois de um W.O. na primeira fase, Kelly saiu de Figueira de Foz como tetracampeão mundial, igualando Mark Richards em número de títulos. Deixando de competir no Brasil, só deu as caras no Hawaii, onde pela quarta vez, terceira consecutiva, venceu o Pipe Masters, derrotando na final com extrema facilidade Sunny Garcia em ondas pequenas de 1 metro. M ano que parecia ser difícil e se tornou fácil, principalmente pelas sete vitórias, igualando os recordes de Tom Curren e Damien Gardman, com um porém: Kelly venceu 7 de 14 eventos (50% de aproveitamento) enquanto Curren ganhou 7 em 21 (33% de aproveitamento) e Hardman 7 em 24 (29% de aproveitamento).

1997 → 1º COLOCADO
Disposto a manter sua hegemonia e igualar o recorde de Mark Richards de quatro títulos mundiais consecutivos, Slater iniciou o Tour com quatro vitórias em cinco eventos. Venceu Sunny em Narrabeen e Peterson Rosa em Burleigh Heads, ambos na Austrália, Occy em Tokushima e Beschen Chiba, ambos no Japão. Só não subiu no pódio em Bell’s, quando perdeu para Taylor Knox nas oitavas. Com cinco meses de temporada, Slater praticamente botava a mão em seu quinto caneco (o quarto seguido). Depois de um começo tão incrível, seria normal uma queda de produção, e ela veio com o nono lugar em Grajagan. Um novo salto de qualidade e a final contra Shane Powell em Lacanau, mas desta vez amargando a derrota. Na etapa seguinte, em Hossegor, outro nono lugar perdendo apenas para o campeão Rob Machado. Mesmo as derrotas no Round 3 para o desconhecido português Ruben Gonzalez e para o novato aussie Danny Wills nas etapas portuguesas não foram suficiente para seus adversários encostarem no ranking. Como no ano anterior, Kelly saiu de Portugal com a mão no título. Parecia que mais uma vez a etapa brasileira ficaria órfã do melhor do planeta, mas o status Grade 2 (maior premiação e pontuação) atraíram Kelly ao Brasil. E ele com certeza não se arrependeu, já que venceu o Kaiser Summer Festival, na Barra da Tijuca, em ondas épicas nos últimos três dias de evento, derrotando Occy numa final de sonho. Era o primeiro evento vencido por Slater em águas brasileiras. No Hawaii, o que podia ser a consagração final com a quinta vitória em Pipe, virou uma lição de humildade ao ser derrotado pelo local boy e brutamontes Johnny “Boy” Gomes no Round 3, na primeira vez que realmente se sentiu pressionado nas ilhas.

1998 → 1º COLOCADO
Era o ano para se consagrar e o script parecia irretocável. Venceu Pat O’Connell numa final acirrada em Snapper Rocks, na Gold Coast australiana, largando na frente para a conquista do hexa. O que ele não contava era com a disposição dos aussies, loucos para recuperar a coroa que dominaram durante os primeiros anos do surf profissional. Fazia sete anos que eles nem disputavam o título, exatamente quando Slater surgiu no pedaço. Occy, em ótima forma, e dois meninos patrocinados pela mesma marca que Slater, Daniel Wills e Michael Campbell, eram os candidatos. Treinados por um personal que ficava 100% focado na evolução deles, Danny e Mick logo incomodaram. Enquanto Kelly perdeu para Tony Ray no Round 3 em Bell’s, Wills fazia quartas de final e Campbell, semis. Em Manly, ainda no país dos cangurus, Slater só conseguiu um quinto lugar ao perder para Sunny, enquanto Danny chegava em terceiro. Surfista pequeno e ágil, Wills venceu as duas etapas nas merrecas japonesas derrotando inclusive Kelly nas quartas em Tokushima. Já Campbell faturou o terceiro e quinto lugares, respectivamente, com Kelly ainda pagando o mico de ser derrotado para o inexpressivo japonês Daisuke Imamura no Round 3 em Chiba. Danny Wills liderava o Circuito com Occy em segundo e Campbell em terceiro. As coisas deram uma pequena melhorada em J-Bay, uma onda bem difícil para surfistas sem muitas horas de remada lá. Slater perdeu nas quartas de final para um garoto aussie chamado Taj Burrow, que já trazia uma fama e tanto. Menos mal que tanto Wills quanto Mick foram péssimos, não passando do Round 3. Wills foi perdendo o gás, mas mesmo assim chegou em quinto no OP Pro, em Huntington Beach. Campbell, mais consistente, só perdeu na final para a jovem promessa havaiana Andy Irons. Mick quase repetiu a dose em Hossegor ao chegar nas semis, perdendo apenas para o campeão da etapa Damien Hardman, prestes a se aposentar. Já Kelly deu o troco em Burrow nas quartas, mas foi parado por meio ponto diante de Pat O’Connell nas semis. O flat no Kana Beach Lacanau Pro ajudou o floridiano, pois o evento acabou cancelado nas oitavas, ficando Kelly, Wills e Campbell empatados em nono. No Brasil, a disputa no ranking estava apertada com Campbell na frente seguido por Daniel e Slater. Wills novamente não foi muito adiante perdendo para Taj nas oitavas. Michael deu um enorme passo ao vencer Kelly nas semis, chegando à final contra Peterson Rosa. Em ondas mexidas pelo forte vento sudoeste, o australiano liderou praticamente toda a bateria até que um aéreo tirado da cartola pelo “Bronco” tirou o doce de sua boca. A disputa ia para a última etapa, em Pipeline. Para Slater ser campeão, tinha que chegar às semis e torcer para que Michael Campbell não passasse do Round 3 e Wills das oitavas. Pois foi exatamente o que aconteceu. Sem experiência no Hawaii, Campbell fez apenas 1,90 contra o adolescente Bruce Irons no Round 3, enquanto Wills venceu o havaiano Pancho Sullivan por míseros 8,85 a 8,75, mostrando um pouco mais de coragem. Mas Ross Williams, um dos melhores amigos de Kelly, não deu mole e tirou do evento o pequeno aussie com facilidade na fase seguinte. Agora só faltava Slater fazer seu papel, o que logicamente foi bem-feito. Na bateria que definiu o título, seu adversário nas quartas foi Rob Machado, pressionado por poder estragar o sonho de seu grande camarada. Mas Kelly não deu sopa e venceu com propriedade, sagrando-se hexacampeão mundial. De quebra ainda bateu o recorde de títulos consecutivos de Richards, com cinco seguidos (94/95/96/97/98). Kelly perdeu para Jake Paterson na semifinal, mas comemorou como nunca. Após a festa, para tristeza geral, ele anunciou sua aposentadoria dando como desculpa a falta de motivação para competir. Terminava a primeira Era Slater.


1999 ─ 2001
Os três anos fora do Tour serviram para Kelly fazer outras coisas além de surfar. O que rendeu mais foi a banda The Surfers, formada com os amigos Rob Machado e Peter King. Slater foi bastante influenciado por sua mãe, Judy, e seu tio Bobby a gostar de música. Na prática, só passou a tocar violão após a formatura, mas levava jeito. No inverno de 95, na casa de Jack Johnson em Pipeline, ele e uma turma composta também de Tom Curren, Donavon Frankenreiter, Tim Curran, o próprio Johnson, entre outros, começou a fazer algumas “jams” que viraram apresentações em bares no North Shore. Em 98, em meio às competições, ele pôde exercitar o lado musical fazendo shows e gravando um disco chamado “Songs from the Pipe”. Em 99, sem muitos compromissos, passou a conhecer gente do meio artístico. Participou de um clipe com Shirley Mason, vocalista do Garbage, e ficou muito amigo de Eddie Veder, líder do Pearl Jam. Em 2000, fez algumas apresentações de despedida do grupo nos EUA, Europa e Japão. Nesse período, disputou algumas competições como convidado e vendeu duas etapas, seu quinto Pipe Masters, em 99, e o Gotcha Pro Tahiti 2000, em Teahupoo. No final de 2001, a ASP comunicava que Kelly Slater seria convidado para disputar o Circuito em 2002. Estava para começar a maior rivalidade do surf profissional.

2002 → 9º COLOCADO
O retorno de Kelly ao Tour não foi o esperado. Ele estava surfando bem, mas não tinha o mesmo ritmo de seus adversários. No Quiksilver Pro da Gold Coast, fez duas baterias excepcionais, mas caiu nas oitavas diante o vencedor do evento, Joel Parkinson. Em abril, sofreu um dos mais duros golpes de sua vida ao perder o pai. Steve, para o câncer. Por causa disso, não foi para Bell’s, onde Andy Irons venceu e mostrou que podia ser um adversário complicado. Kelly reapareceu em Teahupoo, mas não era nem a sombra do ex-campeão mundial. Perdeu para Shea Lopez no Round 3 mostrando falta de foco. Andy venceu seu segundo evento seguido e assumiu a liderança do Circuito. Do Tahiti foi para Fiji, onde mais uma vez foi bem nas fases iniciais, mas se complicou nas oitavas, caindo para Luke Egan. Na quinta etapa, em Jeffrey’s Bay, foi derrubado por Taj Burrow, deixando o americano em 17º lugar pela segunda vez na temporada. Nas ondas de Trestles teve sua melhor performance até então, chegando às semifinais. Praticamente garantido entre os Top com o terceiro lugar na Califórnia, ele nem foi para Portugal, onde o evento parou nas oitavas por falta de ondas. Na França, só parou numa bateria disputada e polêmica em que perdeu para Andy Irons por 0,75 pontos. Neco Padaratz deixou Irons como vice. Em Mundaka, Slater sofreu sua terceira derrota consecutiva para Luke Egan. Andy se vingou de Neco vencendo o brasileiro na final e praticamente garantindo seu primeiro título mundial. Esgotado mentalmente, Kelly não veio ao Brasil. Na penúltima etapa, em Sunset, provou que não se dá bem no pico, parando nas oitavas. Recuperou-se em Pipe, ficando em terceiro numa final de quatro surfistas e viu de camarote Irons vencer o campeonato já com a coroa de melhor do mundo na cabeça. Kelly finalizou o ano na nona colocação, seu pior resultado desde 1992.

2003 → 2º COLOCADO
Mostrando um surf de alto nível, na etapa de abertura Kelly perdeu para Dean Morrison nas oitavas de final. No evento seguinte, em Bell’s, caiu na mesma fase, agora para Occy. Ainda viu Andy destroçar Fanning e Parkinson para vencer o Rip Curl Pro. Recuperou-se em Teahupoo, derrotando Taj Burrow na final em incríveis tubos de 10 pés com o dedo do pé quebrado. Seu médico não o liberou para disputar Fiji e isso lhe custou caro, já que Andy venceu lá e logo depois no Japão, onde Kelly dançou para Mick Fanning nas quartas. A briga entre os dois começou a ficar boa quando Slater ganhou em J-Bay e Irons perdeu no Round 3 para o local Sean Holmes. Era a metade da temporada e Andy tinha vencido três etapas enquanto Kelly fora o melhor em duas. Trestles não foi bom para nenhum dos dois. Andy teve o dissabor de perder para o irmão Bruce no Round 3. Já Kelly avançou um pouco mais, perdendo para Taylor Knox nas quartas de final. Na França, por muito pouco ambos não se encontraram pela primeira vez numa final homem a homem, mas Phillip MacDonald atrapalhou tudo vencendo Kelly na semifinal. Andy venceu a prova e marcou quatro a dois no placar. O floridiano respondeu rápido e, com duas vitórias seguidas, em Mundaka e no Brasil, passou à frente no ranking e foi pro Hawaii decidir novamente o título mundial. Antes do Pipe Masters rolou o Rip Curl Cup, em Sunset de gala. Kelly, que nunca foi tão bom por lá, caiu fora no Round 3, dando brecha para Andy se recuperar. O melhor no último evento do ano seria proclamado campeão mundial. O encontro se deu na finalíssima, que contou também com Joel Parkinson e o indigesto MacDonald. Na metade da bateria, Andy assumiu a liderança enquanto Kelly sofria para achar alguma onda boa ─ já que nunca foi um grande competidor em baterias de quatro atletas. Faltando poucos minutos, veio uma direita que parecia chamar uma nota 10, ele remou, mas Parkinson, atrás do pico, sem chance alguma de conseguir passar, dropou e fez com que Kelly, na posição ideal, não fosse. A cara de ódio misturada à frustração que Slater exibiu deixou Parko sem graça. Mas bateria é bateria e Irons sagrava-se bicampeão do mundo. Slater foi o vice do ranking e chorou no pódio. Uma dura lição.

2004 → 3º COLOCADO
O início de temporada na Gold Coast geralmente era bom para Kelly, principalmente na Austrália, mas, desde que o evento passou a ser promovido pela Quiksilver, ele não conseguia nada melhor do que o quinto lugar. E nesse ano não foi diferente ao perder para Mike Lowe. Pior, Andy Irons começara bem ficando em segundo, derrotado pelo próprio Lowe. Em Bell’s, Andy assumiu o topo do Circuito com o terceiro lugar enquanto Kelly era derrotado novamente nas quartas por Pat O’Connell. Em Teahupoo, ambos chegaram às semifinais e ficaram nisso, assumindo as duas primeiras posições do ranking. A briga parecia que continuaria boa. Mas não foi isso que aconteceu. Em Fiji, Kelly perdeu para Fred Patacchia no Round 3 enquanto Andy chegou à final. Menos mal que perdeu para Damien Hobgood. Mas em J-Bay não teve jeito e Irons arrepiou passando pela primeira vez pelo Round 3 nas direitas geladas de Port Elizabeth. Kelly sucumbiu à nota 10 de Nathan Hedge em mais uma bateria nas quartas de final. No Japão, em ondas bem pequenas, tanto Slater quanto Andy perderam nas quartas. Kelly, que sempre disse que “quem quer ser campeão tem que somar resultados acima do terceiro lugar”, sentia na pele tantas quintas colocações. Trestles foi um alento, já que a segunda posição atrás de Parkinson e a derrota de Andy para o convidado acrobata Dane Reynolds equilibraram um pouco a balança, que parecia fortemente pendendo pro lado havaiano. O peso da conquista em ondas de 12 pés perfeitas nos beach breaks de Hossegor numa final contra Bruce, que tinha derrotado Kelly nas semis, catapultou Andy para o favoritismo ao tri mundial. Slater falhava nos momentos cruciais. Depois de outra semifinal em Mundaka, Irons só precisava de um nono lugar no Brasil para receber antecipadamente sua terceira faixa de melhor do mundo. Ao vencer o catarinense Raphael Becker no Round 3 do Nova Schin Festival ninguém podia mais alcançar Irons e a briga agora era pra ver quem iria ser o vice, que acabou as mãos de Parko, com Kelly em terceiro.


2005 → 1º COLOCADO
Início de ano e adivinhe, mais um quinto lugar para Kelly. Andy também ficou por aí, mas o “coolie kid” Fanning voou baixo e faturou em casa o Quiksilver Pro. Uma polêmica bateria, em que foi derrotado por Bede Durbidge em Johanna Beach, no Rip Curl Pro, quase tirou Kelly do Tour. Ele reclamou bastante do julgamento e pensou em se retirar, mostrando que não estava levando bem a nova fase de surfista coadjuvante. Que só piorou com o vice de Andy colocando-o na liderança do ranking. Pois o “careca” finalmente acordou. E foi preciso estar na lona pra isso. Em Teahupoo chuvoso, mas com ondas excelentes de 2,5 metros, perdia feio para Bruce Irons nas oitavas de final. Porém, com duas ondas, sendo a segunda uma das mais espetaculares já surfadas ali, fez 18,50 para vencer o irmão de seu rival por 0,17. O que se viu a partir disso foi um Kelly cheio de confiança, que esmagou seus rivais, um a um, até uma final apoteótica em que marcou duas notas 10 chegando aos 20 pontos de 20 possíveis. Slater renascia das cinzas. No evento seguinte, deu aula de tubos de backside em Restaurants clássico fazendo ao menos uma nota 10 em quase todas as baterias que disputou, inclusive a final. Seu maior rival parecia ter perdido o gás. Na ilha Reunião, perdeu para um tal de Darren O’Rafferty, ficando em nono lugar, assistindo ao show do campeão Fanning, ávido por um lugar no céu dos Tops. Em Jeffrey’s Bay, aconteceu a cartada final, o lugar onde a batalha de titãs definiu “O Vencedor”. Tanto Kelly quanto Andy estavam no auge da forma e como sempre figuravam em lados diferentes das chaves de baterias, só podiam se enfrentar na final. E foi ali, num dos paraísos das direitas, que finalmente isso aconteceu. Kelly chegara à final como favorito, pois era realmente quem estava surfando melhor. Mas Andy começou forte e deixou Kelly precisando de 9 e tanto para derrotá-lo, com dois minutos para o fim. Comemorando na areia, Andy viu Kelly remando para a onda que mudaria tudo na vida deles. Slater mandou quatro manobras limpas e caiu na quinta, já longe da visão dos juízes. Andy, incrédulo, continuava a andar, cercado por uma multidão. Foram alguns segundos até sair a nota de Kelly. Ele tinha virado! Andy não concordava com a nota, aliás muita gente também não, mas ela foi dada e Kelly vencia seu terceiro evento no ano, agora de virada, no último minuto e com seu arqui-rival sentindo a dor na pele. A partir desse dia, as coisas mudaram. Andy até venceu Kelly na final da etapa japonesa, mas com a vitória de Kelly em Trestles o título tinha ficado nas mãos do floridiano. Andy venceu em Hossegor e botou água no chopp de Slater faturando também o Pipe Masters, mas o hepta do careca já tinha sido homologado no Brasil, assim que Andy perdeu para Nathan Hedge nas quartas. Slater reconquistava sua coroa e principalmente a confiança, que sempre foi seu diferencial. Andy era derrotado pela primeira vez em quatro anos, e sentiu isso. Começava a “Segunda Era Slater”.


2006 → 1º COLOCADO
Todos os aficionados pelo surf profissional esperavam outra temporada de batalhas entre Kelly e Andy. A rivalidade entre os dois tinha atingido seu ápice. E o ano teve início com o domínio do floridiano, que venceu nas marolas de Duranbah e nas pesadas e volumosas morras de Bell’s. boatos ventilavam que Slater iria escolher a dedo os eventos e não queria saber de defender seu título. Mas, depois de duas vitórias, o gostinho de quero mais falou mais alto. Um terceiro lugar em Teahupoo, onde quebrou uma costela na semi contra Bobby Martinez, o deixou em situação confortável no ranking. Mesmo não indo a Fiji e vendo Andy chegar em terceiro, ainda estava tranqüilo. A vitória de Irons nas melhores ondas de uma etapa da ASP até então, no México, complicou um pouco as coisas, além da derrota de Kelly para Knox nas quartas de final. O que Slater não esperava era o fracasso de Andy em J-Bay, perdendo para Roy Powers na repescagem. Com o terceiro lugar, Kelly viu-se novamente com folga. O vice para Bede Durbidge em Trestles podia não ser o que ele queria, mas certamente mostrava uma constância absurda para os padrões da ASP. A semifinal na França e o vice na Espanha facilitaram tudo e, com duas etapas de antecipação, Kelly colocava o termo octacampeão no vocabulário dos surfistas. Ele nem chegou a vir ao Brasil e de castigo viu Irons vencer pela quarta vez o Pipe Masters com uma tremenda virada sobre ele. Kelly era o número 1 e Andy, pelo segundo ano consecutivo, o número 2. A mídia adorava cada página dessa história.

2007 → 3º COLOCADO
Slater estava feliz. Tinha encontrado um jeito de conciliar seus desejos e manter-se em forma no surf. E, em março, mais uma vez se encontrava na Austrália para a abertura do Circuito. Até que foi bem, chegando às semis, em que perdeu numa bateria bem disputada para Bede. Deu inclusive para ver o retorno de Mick Fanning em grande estilo, vencendo pela segunda vez em casa, depois de ficar oito meses afastado das competições por uma séria lesão muscular. O Tour prometia, pois, além de Irons, os aussies Fanning, Burrow e Parkinson vinham com a faca nos dentes tentando roubar a coroa do americano. Taj literalmente comprovou isso vencendo Andy na final de Bell’s. Slater chegou em quinto, perdendo para Tom Whitaker. Dali, os Tops foram para Teahupoo, onde Kelly geralmente se dava bem. Só que um descuido nas oitavas contra o francês Jeremy Flores custou-lhe o evento. Outra vitória de Mick, esta surpreendente, deixou o australiano com boa folga como primeiro do ranking mundial. Nova derrota de Kelly, agora para Dean Morrison, nas geladas e sinistras esquerdas de El Gringo, Chile, mostrou que o Kelly versão 2007 não estava em sintonia fina. Fanning foi até as semifinais, enquanto Andy venceu sentindo-se confortável com as cracas. Em J-Bay, Slater teve sua chance contra Taj na final, mas não aproveitou e foi espancado. Mick novamente chegava às semis, e parecia estar sem adversários à altura. A grande vitória em Trestles, aliada ao fracasso de Mick no Round 3, poderiam ter deixado as coisas mais favoráveis a Slater, só que na França quem venceu foi Fanning e quem micou foi Kelly, derrotado pelo tahitiano Michel Bourez no Round 3. Apesar de tanto Slater como Mick irem até as semifinais em Mundaka, quem estava bastante à frente na disputa pelo caneco era o australiano, que apenas dependia de avançar até as semis no Brasil e de uma derrota prematura de Kelly para enfim quebrar a hegemonia ianque-havaiana na ASP. E a cidade de Imbituba foi o palco desse momento. Kelly perdeu para Kai Otton nas oitavas do Hang Loose Pro enquanto Mick, ao vencer Neco Padaratz nas quartas, teve o doce gosto de tornar-se o melhor do planeta, numa volta por cima aplaudida por todos, inclusive Kelly, que tinha deixado a praia, mas retornou ao saber que Mick tinha vencido, para lhe passar o troféu de campeão mundial. Fanning nem quis saber de festa e tratou de vencer o evento, fazendo barba, cabelo e bigode. A última etapa, em Pipe, foi sem graça. Primeiro porque tudo já estava definido, depois porque as ondas não deram as caras. Bede Durbidge venceu nas marolas enquanto Mick e Kelly pararam antes das oitavas. Taj foi o vice e Slater o terceiro no ranking final do Tour.

2008 → 1º COLOCADO
É curioso como uma vitória no começo dá ânimo. Slater esteve impossível em Snapper Rocks no evento inaugural da temporada. Com uma prancha pequena, detonou Andy e Fanning, este na final, para mostrar seu cartão de visitas. Repetiu o feito com uma sensacional vitória de virada contra Durbidge em Bell’s. Não foi bem em Teahupoo ao ser derrotado duas vezes por Manoa Drollet, mas as coisas saíram melhor do que o esperado já que a final entre o próprio Manoa e o brasileiro Bruno Santos, o virtual campeão, não deixaram seus rivais somarem muitos pontos. Para se garantir, destroçou em Fiji e Jeffrey’s Bay abrindo 1.300 pontos para Joel Parkinson, o vice-líder do ranking. Deu sorte outra vez em Bali, quando uma derrota no Round 3 para o português Tiago Pires deu um alento principalmente para Parko. Só que novamente dois surfistas mal rankeados, Bruce Irons e Fred Patacchia, fizeram a final. Em seis eventos disputados, Kelly tinha vencido quatro enquanto os outros dois caíram nas mãos de gente que não lhe preocupava. O destino parecia sorrir para ele. Principalmente depois que derrotou Taj Burrow numa final contestadíssima em Trestles. Era a terceira vitória, em cinco finais, nos últimos cinco anos, o que mostrava a supremacia de Slater nas direitas do pico. Mas a grande maioria dos competidores não engoliu a nota que lhe deu a virada contra Taj. O que valia era o quinto triunfo de Kelly e o sentimento de que o nono título era questão de dias. A consagração quase aconteceu em Hossegor, numa festa que estava preparada pela Quiksilver no seu evento. Kelly precisava vencer a final contra Adrian Buchan num ensolarado dia para sagrar-se eneacampeão do mundo. Bem, esqueceram de avisar o papel de Adrian, que surfou com muita calma e precisão. Mas o floridiano nem esperou muito pela conquista, que veio uma semana depois, ao derrotar o espanhol Eneko Acero no Round 3 do Billabong Pro, numa Mundaka fria e chuvosa. O caneco voltava para ele. Desistindo de competir no Brasil, ele aproveitou para recarregar as baterias, chegando ao Hawaii cheio de energia. E prova disso foi a espetacular conquista do seu sexto Pipe Masters usando uma 5’10” em ondas de 8 a 10 pés. O gênio não só mostrava seu talento mais queria novamente redefinir o surf.

2009 → 6º COLOCADO
Joel Parkinson foi o cara na perna australiana. Venceu tanto na Gold Coast quanto em Bell’s dando a impressão de que seria o seu ano. Kelly, por sua vez, inventou uma prancha pequena, larga e lenta que não funcionou. Em Snapper, perdeu para o jovem aussie Julian Wilson e em Bell’s para o jovem Owen Wright, ambos no Round 3. Coincidência? Outra derrota, agora para o basco Aritz Aranburu, também no Round 3 em Teahupoo, deixou Kelly na inédita 25ª colocação no ranking, na boca do corte. A recuperação veio no Brasil, com sua terceira vitória no país, sobre Adriano de Souza. Muitos falam que Taj Burrow é o rei do Brasil. Mas o que poucos lembram é que Dave Macaulay e o próprio Kelly também ganharam três vezes em águas brazucas. Um tríplice reinado. Joel Parkinson tratou de baixar as asinhas de Kelly ao vencer em J-Bay. Kelly, em nono, melhorou sua posição no ranking, mas ainda não fazia nem sombra a Parko. Em Trestles, as coisas começaram a mudar. Parkinson, debilitado por uma forte torção no tornozelo, caiu perante o aposentado e convidado Rob Machado no Round 3. Slater, sempre favorito, não chegou à final, e Fanning, que até então estava fora da disputa do título, venceu Slater com sobras e aniquilou o favorito da platéia, Dane Reynolds, na final, pulando para a vice-liderança do Tour, mas ainda bem longe de Joel. Na França, Mick foi novamente arrasador e venceu a segunda seguida. Parko, visivelmente sem confiança por causa da lesão, foi presa fácil para o franco-brasileiro Patrick Beven no Round 3. Kelly perdeu para Tiago Pires nas quartas de final numa bateria e tanto. Kelly pulava para quinto do ranking enquanto Mick ficava a poucos pontos atrás de Parko. A briga estava boa. Nova derrota no Round 3 para um convidado, a terceira consecutiva, tiraram Joel da liderança. Bastou o nono lugar de Fanning para o Circuito ter um novo número 1. Kelly, subindo de produção, foi surpreendido nas semis por um endiabrado Adriano de Souza a caminho de seu primeiro título de evento no Tour. Aliás, Mineirinho naquele momento brigava, mesmo um pouco distante, com Mick e Joel pelo caneco. Em Portugal, nas ondas de Supertubos, Mick deu um claro sinal de que queria o bi. Veio comendo pelas beiradas e quando chegou à final contra Bede Durbidge ninguém tinha dúvidas de que ia levar. Kelly foi obrigado a engolir outra derrota para Owen Wright no Round 3, dois a zero para o australiano, e caiu para a sétima posição no ranking, sem chances de defender o título. A definição iria para Pipeline, mas só um milagre tiraria a coroa da cabeça de Fanning. Com a derrota de Parkinson para o havaiano Gavin Gillete no Round 3, Fanning botava a faixa de campeão no peito. Kelly, motivado pelas boas ondas que rolavam, foi avançando sem adversários até a final, quando o mar murchou e ele teve que assistir à vingança de Taj, surrando as marolas cheias do Backdoor. Com o vice no Pipe Masters, Kelly terminava o ano na sexta posição.

2010 → 1º COLOCADO
Desde o ano interior, diziam que a Quiksilver daria um bônus de 10 milhões de dólares a Kelly Slater caso ele conseguisse o décimo troféu. Parecia lenda. E 2010 começou como terminou 2009, com uma vitória de Taj Burrow, em ótima forma, e dizendo que finalmente estava pronto para ganhar seu lugar ao sol. Kelly sentiu na pele a nova geração ao ser derrotado por Jordy Smith, que vinha evoluindo a olhos vistos, nas oitavas de final. Em Johanna, o Rip Curl Pro aconteceu em marolas ruins, que pareciam favorecer o surf rápido e ágil de Mick Fanning, finalista ao lado de Kelly. O que ele não contava era que, mesmo com o pé quebrado, Slater fosse acertar um alley oop monstruoso, deixando o australiano desnorteado. Taj liderava o Circuito, mas Kelly estava ali, pertinho. A troca de líderes aconteceu depois do vice no Brasil, quando Slater sentiu o gostinho da derrota ao ser superado pelos aéreos do novato Jadson André. A vitória de Jordy em sua casa, na África do Sul, e a derrota de Kelly para o matador de gigantes Sean Holmes, no Round 3, colocaram Smith no topo do ranking. Kelly era o terceiro agora. Mas os papéis se inverteram em Teahupoo. Apesar de Slater não vencer, acabou derrotado por Andy Irons num revival dos velhos tempos nas semis, Smith dançou para Manoa Drollet no Round 3 deixando o floridiano se aproximar perigosamente. O golpe da misericórdia veio em Trestles. Em ondas absurdamente perfeitas, Slater foi insuperável a partir das oitavas de final. Jordy, por sua vez, começou a acumular quintos lugares. Em Hossegor, Kelly novamente esteve esplêndido nas difíceis massas d’água que chegaram aos 12 pés. Na final contra Mick Fanning, não levou sorte na escolha de ondas e foi derrotado. Smith ficou em quinto. Se em 2005 a final em J-Bay foi o marco entre Andy e Kelly, nesta temporada a final do Rip Curl Pro, em Portugal, definiu quem era o ator principal e quem era o coadjuvante. Jordy fazia sua primeira final contra Slater em ondas minúsculas em Supertubos. A bateria parecia indefinida até que Slater executou um alley oop ainda mais monstruoso do que o de Bell’s, mostrando, aos 38 anos, o que a molecada tinha que fazer. Dali, a definição foi para Porto Rico, “segunda casa” de Slater e palco perfeito para o que estava por vir. Boato ou não, Kelly merecia o bônus de seu patrocinador. Cada um dos dez títulos do maior surfista de todos os tempos vale facilmente 1 milhão de dólares.



RECORDES DE SLATER:
Títulos Mundiais: 1992, 1994, 1995, 1996, 1997, 1998, 2005, 2006, 2008, 2010
Vitórias em etapas: 45
Vitórias na mesma temporada: sete, em 1996
Títulos Mundiais consecutivos: cinco (1994-1998)
Campeão Mundial mais jovem: 20 anos (1992)
Campeão Mundial mais velho: 38 anos (2010)
Vencedor mais velho de uma etapa: 38 anos (Rip Curl Pro Search 2010)
Maior pontuação em uma final: 20 pontos de 20 possíveis (Billabong Pro Teahupoo, 2005)
Maior vencedor do Pipeline Masters: Seis vezes
Recordista de prêmios na carreira: US$ 2.384.255
Recordista de prêmios na temporada: US$ 389.000