SWU MUSIC AND ARTS FESTIVAL


DE 9 A 11 DE OUTUBRO ROLOU EM ITU, SÃO PAULO, A PRIMEIRA EDIÇÃO DO FESTIVAL SWU (STARTS WITH YOU) MUSIC AND ARTS FESTIVAL. FOI UM EVENTO DE DIMENSÕES MONSTRUOSAS: 164,5 MIL PESSOAS, 74 ATRAÇÕES MUSICAIS E 4 PALCOS. COMO É IMPOSSÍVEL FALAR AQUI DE TUDO QUE ROLOU, VAMOS AOS DESTAQUES.



PRIMEIRO DIA:
O festival abriu com o Black Drawing Chalks, de Goiânia, que como som de fundo valeu a pena pela combinação pesada de guitarras stoner rock. Desencanei deles rapidinho e fui ver Curumim numa tenda menor, com artistas predominantemente nacionais. Foi uma ótima opção. Um dos melhores shows que vi nacional com meia hora contada, aliás, tudo estava extremamente contado no festival, menos os atrasos. Curumim empolgou o público com sua mistura de samba-rock mais dub-funk. A galera conhecia as músicas do cara, cantavam e dançava, principalmente ao som de “Compacto” e “Magrela Fever”. Curumim foi simpático e alegrou a tarde.

A brincadeira, porém, começou de verdade com o Infectious Grooves. O vocalista Mike Muir, também à frente do Suicidal Tendencies, é um coroa possuído, com uma atitude no palco que ninguém teve. Com seu naipe de skatista de gangue de L.A., o IG foi “pra porrada” na hora certa. Eles fecharam o show com o clássico “ST” do Suicidal Tendecies! Violent and Funk!

Depois, na tenda lotada, rolou o Cidadão Instigado, perdi o início, pois vi Infectious Groove inteiro. Foi uma apresentação surpreendente, com seu rock psicodélico meio brega e sonoridades eletrônicas. Fernando Catatau, o frontman ─ até estourou uma das cordas do seu instrumento tamanha empolgação. Sotaque do Nordeste que caiu redondo.

Assim entram Los Hermanos, com um show técnico, emotivo e honesto ao mesmo tempo. Impossível passar batido com o ar de devoção que os fãs criaram em torno da banda, quase uma seita que chega a assustar. Não faltaram garotas e marmanjos chorando. Desculpem, mas não é minha praia, mas que os caras são bons e fizeram um dos melhores shows do dia, não se pode negar.

Perdi o The Mars Volta, aproveitei para guardar energias pro Rage Against the Machine. Esse não quis saber de pista Premium ou área de imprensa, eu tinha que estar no olho do furacão, afinal foram mais de 12 anos de espera. Senti o cheiro de pólvora no ar, se é que você me entende, sabia que aquele show ia ser foda. A sirene toca e ao som de Testify, rodas se abriram, o chão tremia e um grande buraco de pancadaria brotava do nada. Um caos bonito e glorioso, queria filmar de dentro, nunca vi algo assim numa tela, a selvageria gratuita e festiva, chuvas de socos, cotoveladas, pontapés, mas se alguém caía, todos corriam pra levantar ou abrir espaço se alguém passava mal.

Bulls On Parade abre a seqüência do vale tudo, meu Deus, que apresentação! Grades derrubadas e invadidas, show interrompido pra acalmar os ânimos. Os caras foram uma metralhadora e tocaram ainda People of the Sun, Bombtrack, Know Your Enemy, Guerrilla Radio e Bullet in the Head. O óbvio nunca foi tão bom como fechar o show com Freedom e Killing in the Name. Zack falou sobre política, união das Américas, tocou ao fundo o hino da Internacional Socialista. O RATM engajado de sempre, deixou sua marca no festival, foi a melhor apresentação da primeira edição do SWU.


SEGUNDO DIA:

Hematomas à parte, foi o dia mais fraco. Jota Quest e Capital Inicial? Vergonha alheia. Sublime fechou uma tarde bonita, foi astral. Rome é um gordinho de 22 anos com cara de nerd, mas quando abre a boca, surpreende. Manda muito bem, sua voz encaixa perfeitamente. Mas não chegou a empolgar o público, parece que a energia foi dissipada, não foi dada a devida atenção. O ponto alto foi Smoke Two Joints, What I Got, Badfish, Summertime e Wrong Way, relembrando os bons tempos de Sublime. Os caras tocaram umas três músicas novas, ou seja, deve vir disco novo por aí, mas não empolgou.

Na seqüência vi Joss Stone, o momento diva do festival. Acompanhada de uma banda afiada e bem à vontade no palco. Joss Stone dominou marmanjos e mulheres com sua voz potente e seu R&B doce e sexy. O trio de backing vocals remontava às bandas de soul da década de 50, enquanto a loira tomava seu chá tranqüila e com uma confiança admirável.

No meio do show da Joss Stone passei na tenda e o ritmo latino me chamou atenção: Bomba Stereo. Uma salsa psicodélica direto da Colômbia. Foi um dos shows mais animados do festival, a frontwoman Liliana Saumet corria por todo o palco e puxava um eletro com dub marcado com percussões pesadas e guitarras reverberadas. Aplausos para a autenticidade do grupo. Coisa fina.

E lá vou eu passar frio no descampado para ver Dave Matthews Band. Show bom, nada mais nada menos que o esperado, mas só empolgou nos hits Crush, Ants Marching, Tripping Billies e Crash Into Me. Na verdade, a virtuose dos violinos e bateria cansou um pouco e o frio não ajudou. Mas Dave falou bastante, foi carismático e o show não foi ruim, apenas o esperado.

Peguei um trecho do Otto, e foi bom pra cacete! Cada dia o cara manda melhor e fiquei com pena de ter perdido a psicodelia de terreiro na tenda. De saidera o esperado Kings of Leon, abrindo com Crawl pra 50 mil pessoas, fizeram um apanhado da carreira em uma hora e meia e mandaram todos os hits: Molly’s Chambers, Sex On Fire, Use Somebody, todas cantadas pelo público. Mas parece que a banda tem fãs dos hits e não da banda, então o show acabou de forma morna e bem longe de empolgar.


TERCEIRO DIA:
Yo La Tengo, 40 minutos de show, bora...

Com 20 anos de estrada, o trio conseguiu cativar um público desinteressado, tocando Periodically Double or Triple, Autumn Sweater e Nothing to Hide.

Autoramas foi animal! Divertido, rápido. O vocalista Gabriel é uma figura e seu surfrock a la Dick Dale e Ventures com Roberto Carlos foi perfeita.

À noite, ansiedade para ver Queens of Stone Age. Foi um show típico papo reto, rock puro, verdadeiro, sem firulas. Uma verdadeira parede intransponível de guitarras de ganchos certeiros e riffs ameaçadores.

Tocaram os hits Fell Good Hit of the Summer, The Lost Art of Keeping a Secret, 3’s & 7’s, Sick Sick Sick, No One Knows e Go With the Flow, ou seja, passearam pelos quatro discos, e nesse show o som estava bem alto e com qualidade que fazia os pedias da bateria ecoar no peito, um ótimo expectorante.

E para fechar com chave de ouro: Pixies. Já que o último show, o do Linkin Park, foi bem meia boca, pois a platéia estava bem desanimada com a maratona do festival e o frio. A baixista era toda sorriso e palavras em português, e o vocalista, de óculos escuro, só abria a boca pra cantar, mas beleza, ninguém veio ouvir discurso, certo?

A técnica e o profissionalismo da banda é foda! Abrindo com Bone Machine, passando por Ista de Encanta, Tame, Broken Face, Vamos, Debaser, Wave of Mutilation, Here Comes Your Man, Monkey Gone to Heaven, Hey, La La Love You e No. 13 Baby. A apresentação foi baseada em Surfer Rosa e Doolittle. Nos bis tocaram Planet of Sound, Where is My Mind e Gigantic.

Com pouco papo e uma energia condensada no ar, o Pixies fez um dos melhores shows do festival, com muita precisão, técnica e instrumentais perfeitos. Kim Deal fez miséria com o baixo e Frank Black destilou charme com seu vocal frio e gritos esganiçados. Memorável! Ufa...