AUTHORITY ZERO — HISTÓRIAS DE SOBREVIVÊNCIA


Seguindo o preceito de não querer ser autoridade em nada, apenas caras simples fazendo som por diversão, os “autoridade zero” se juntaram descompromissadamente em 94 numa universidade de Mesa, Arizona, para fazer um som que não se prendesse a estilos, gêneros e modas. Apenas moldado na idéia de prestar homenagem aos seus mentores musicais do punk rock, hardcore, ska e reggae, necessariamente nessa ordem, uma mistura da velha e da nova skate surf punk com pitadas de música irlandesa e latina.

O mais importante é que tocam o que lhes parece melhor no momento e os deixam felizes, a receita ideal para fazer um som honesto, livre e diferenciado. No meio de tantas bandas pré-fabricadas e pasteurizadas, existe um celeiro de grupos com personalidade autêntica, que começam tocando em churrascos, festas, pequenos clubes, bares e festivais nos EUA.

O Authority Zero trilhou esse caminho sem ambição, não se importando em quebrar barreiras musicais, mesclando gêneros, como um Rage Against the Machine do punk com elementos fortíssimos de surf music, mal comparando — uma mescla de Pennywise com Sublime com temperos de ska punk de bandas como The Suicide Machines, Slighty Stoopid ou Operation Ivy. Enfim, um som que você não sabe onde procurar numa loja de discos (isso ainda existe?).

Seu primeiro EP saiu em 2002, intitulado “Passage in Time”, atraiu a atenção das rádios universitárias e foram convidados para abrir shows de Sum 41, NOFX, No Use for a Name, H2O e Alkaline Trio, Strung Out e Pennywise tocando no principal festival do mundo de bandas de hardcore-punk, o Warped Tour, e participando de coletâneas icônicas do planeta punk rock, o pioneiro Punk-O-Rama. A turnê de dois anos fez a fama da banda com apresentações explosivas e empolgantes. As portas se abriram e lançaram talvez o melhor disco deles, o “Andiamo” (significa Nós Vamos em italiano ou “e eu sou zero” que é o nome do DVD da banda “And I Am Zero”) em 2004. Alguns sons desse disco pararam em trilhas de filmes de surf e skate, como a “Painted Windows”, “Over Seasons” e “PCH-82”, e tem letras bem politizadas, com protestos contra a invasão no Iraque. Nesse disco, suas influências de reggae, ska e música latina ficaram mais claras e agradaram com scratches e guitarrinhas em muito bom alto astral. Um disco diversificado, completo

Depois veio o ao vivo “Rhythm and Boozed” confirmando o que a comunidade antenada em bandas novas já tinha ouvido ou visto, a excelente presença de palco e energia ao vivo da banda. Em 2007, veio o “12h34”, um disco que seguiu o que se esperava: mistura com bom encaixe, hardcore ensolarado, clima sempre pra cima músicas rápidas, beirando o urgente com pausas melódicas, sempre com o vocal de Jason DeVore marcante e espontâneo, cantando com você, como eu, sem fazer tipo ou forçando, que causa empatia, soando familiar, próximo.

E agora em 22 de junho saiu o novo e melhor disco da banda “Stories of Survival”, com excelentes letras falando de corrupção na indústria fonográfica, a questão sócio política, com letras cativantes e ganchos que pegam bem aos ouvidos. Uma poderosa combinação dos gêneros citados, mantendo-a bem acima da média das bandas punks atuais.

O vocal cada vez mais rápido, porém melódico com qualidade, com coros cativantes pra ficar assobiando o dia todo, com um vibe rock e astral punk, uma atmosfera ska, guitarrinhas sacanas com punch certeiro e econômicas com viradas beirando o flamenco, e espectro de uma rádio mexicana. Um som hiperativo, energizante que garante o sorriso no rosto. Dificilmente a banda terá um alcance como Pennywise, Bad Religion, Offspring ou NOFX, mas quem busca sons diferenciados, boa música independente de estilos e visibilidade, não vai mais deixar de ouvir esse som. Pra quem gosta de hardcore, punk, ska e até mesmo reggae vai se sentir em casa.


Autoridade nesses casos não são bem-vindas.