O TAMANHO EXATO


Falar em altura das ondas no Brasil nunca foi fácil. E nunca será. E não é para menosprezar o nosso país. Comprovadamente vivemos em um país repleto de swells e condições para a prática do surf. Muito próximo aos países com as melhores ondas. Ainda mais este ano em que estamos sendo beneficiados com uma variedade e constância superior a épocas passadas.Talvez perdemos um pouco em qualidade, devido aos nossos fundos, na maioria de areia, que se encontram em constantes modificações. Mas que elas estão ao nosso redor e ao nosso alcance, isso é verdade.

Quanto ao menosprezo falo sobre nós, surfistas. O quanto é duro, em roda de amigos, dissertar sobre o tamanho das ondas de hoje ou daquele dia épico, de gala, aonde escutamos, através de diversos conhecidos, ter quebrado de meio metro até três metros overhead. E torna-se pior e mais difícil ainda se nesse dia você chega mais tarde e ouve a célebre frase: "Mais cedo estava melhor!” Como é que você poderá saber realmente o tamanho das ondas?

Ainda não consigo acreditar de que, amigos de longa data dentro e fora da água, possam desconhecer a forma como são medidas as ondas, para obter-se uma definição da altura. E também não me conformo quando estes arriscam suas medições, sempre muito ABAIXO do que normalmente está quebrando. Hoje não procuro mais levantar a questão de ‘quanto é que está hoje’ para não perder um tempo discutindo. Primeiro penso em pegar as ondas. Após a queda procuro finalizar a questão com fotos. Tendo estas em mãos fica muito mais fácil comprovar o tamanho das ondas, eliminando todo o tipo de discussão.

E deixo claro desde já: as ondas são medidas pela sua face, pela frente.

Alguns lembrarão como textos eram descritos nas revistas especializadas, definindo o tamanho das ondulações por ‘pés hawaianos’. Lembram-se? Eram muito estranhos, pois definidas e publicadas as ondas com alguns pés de tamanho, o que se via nas fotos e/ou filmagens era no mínimo o dobro de seu tamanho. E sempre seguida com a explicação: ‘No Hawaii medem-se as ondas por trás’.

Ora essa, e desde quando se surfa a onda por trás? Os eventos de ondas grandes, que acontecem no Brasil e no mundo, nos deixam claro a forma correta de medir a altura dos vagalhões. Suas ultimas medições têm nos comprovado. Toda e qualquer onda surfada será medida por sua face, pela sua frente. Não é à toa que estamos chegando a impressionantes 60’, 70’, 80’ ou mais, conforme o big surf vai se profissionalizando.

Todos sabem que a medição por trás é inviável. Cansei de surfar dias com ondas quebrando sempre acima da cabeça, às vezes bem maior, e ao sair da água você escuta: "tava só um metrinho".

Uma onda que me impressiona até hoje foi a surfada por Pete Cabrinhas em Jaws para a esquerda. Uma 66 pés limpa, lisa e em linha. Coisa impressionante. Se alguém me contasse que era uma onda de 20’ hawaianos (aqueles medidos por trás) eu cairia na risada.

Quem viu imagens desta onda sabe do que estou falando. Quando você olha para a foto, você fica com vontade de estar no lugar dele. Talvez pela combinação dos fatores como: sol, altas ondas, linha limpa. Fatores estes que implicam e interferem na medida real. Como? Por exemplo, um mar de 1 metro buraco forte. Em um dia de sol e água azul transparente, acreditamos de estar num playground com ondas pequenas. Agora imagine esta mesma situação com o tempo fechado, chuva e água escura, ventando. Com certeza a nossa previsão vai para um metrão e meio fechadeira.

Mas, devido a todas estas confusões, invenções e pirações do folclore criado por nós, surfistas do mundo todo, e conhecendo as formas como medimos as ondas para dissertarmos (sim, dissertarmos, pois devido a tanta discordância precisamos sentar e debater sobre teses), criei uma tabela que possa ajudar a entender o real tamanho de uma onda (baseado, como já disse, no folclore do nosso litoral).

Veja e confira se você e seus amigos se enquadram na forma de falar das ondas abaixo (folclórico). O tamanho que falamos de uma onda e qual é a sua real altura.
____________________________________________

Confira:

QUANDO FALAMOS: NA VERDADE TEMOS (relacione com a sua altura):

Quando falamos: 0,5 metrinho (meio metrinho)
Temos: 0,5 metro (meio metro) (não é que aqui não foge muito do inicial?!)

Quando falamos: 0,5 metro (meio metro)
Temos: 1,0 metro (um metro) (aquela onda que bate no seu peito não tem um metro?)

Quando falamos: 0,5 metrão (meio metrão)
Temos: 1,5 metro (um metro e meio) (esta está na altura do seu rosto)

Quando falamos: 1,0 metrinho (um metrinho)
Temos: até 2 metros (muito usado em dias de ondas boas com muito sol)

Quando falamos: 1 metro (um metro)
Temos: entre 2 metros e 2,5 metros (dias bons. Pense na onda acima de sua cabeça!)

Quando falamos: 1,0 metrão (um metrão)
Temos: acima de 2,5 metros (olha, não é difícil de acontecer)
____________________________________________

Parece-me que o nosso problema é o menosprezo sobre a altura. Isso já é histórico, cultural. Costumávamos falar que as ondas estavam sempre menores só para falar que aquela situação era fácil para nós. Eu acho que hoje não precisamos mais nos prender a essa situação de diminuir tamanhos para nos valorizar.