10 perguntas para... Mano Ziul

O NITEROIENSE MANO ZIUL ATÉ TENTOU ENTRAR PARA O SURF PROFISSIONAL, MAS “EU COMPETIA E PERDIA SEMPRE”. ENTÃO, PARA PASSAR O TEMPO ENQUANTO ESPERAVA OS AMIGOS E SUAS RESPECTIVAS BATERIAS, TEVE A IDÉIA GENIAL DE CRIAR UM PROGRAMA PARA CONTAR MAIS RÁPIDO O QUE HAVIA ROLADO NAS DISPUTAS DO DIA. O NEGÓCIO ENGRENOU, AS PESSOAS GOSTARAM E HOJE, COMO PROPRIETÁRIO DA BEACH & BYTE, ELE SIMPLESMENTE DOMINA A TRANSMISSÃO E DIVULGAÇÃO DA MAIORIA DOS EVENTOS BRASILEIROS E MUNDIAIS DE SURF.


01. COMO FOI A PRIMEIRA TRANSMISSÃO?
A transmissão só rolou dez anos depois. Nossa primeira foi através de texto, em Portugal (1994), passávamos apenas live score. Foi uma revolução, porque o pessoal esperava mais de um mês para ver resultados de campeonato nas revistas. Naquela época, demorava uns 5 minutos para atualizar, hoje em dia vai em 30 segundos. Se eu não tivesse apoio em Portugal não iríamos conseguir, porque tudo era muito caro e não tínhamos condições de fazer sozinhos. A primeira de vídeo foi em 95. Depois, em 96, em Portugal também, e fomos os primeiros a utilizar a tecnologia Real Progressive Networks (hoje Real Media). Naquela época, a conexão era muito difícil. Hoje mesmo em alguns lugares afastados ainda há problemas com conexão. Ou custa muito ou simplesmente não tem. A mínima que precisamos é de uns 10, 15 megas de upload — que não é qualquer lugar que tem. Até de satélite é difícil.

02. O QUE EVOLUIU EM TERMOS DE TECNOLOGIA?
Evoluiu muito na parte do usuário, na nossa não mudou muito. No surf, o negócio mesmo e a prancha, a onda, remar e ver quem pega melhor que o outro. A lógica do campeonato não mudou. O cara que antes só tinha acesso à nota, agora pode ver numa definição cada vez melhor, escolher oito tipos de velocidade, diferentes línguas, mandar mensagens... É como se hoje ele estivesse sentado na areia participando da transmissão. Nós temos a nossa “waves on demand”, em que você faz o seu próprio replay. Você monta com as ondas que mais gostou.

03. E A AUDIÊNCIA, QUANTAS PESSOAS ACOMPANHAM?
O Brasil está no top de acessos em todas as etapas. Normalmente é o primeiro que mais acessa. Deve ter cerca de 30 milhões de usuários que vêem campeonatos por ano. Potencialmente podemos chegar a uns 80 milhões, mas o que precisamos fazer são campanhas para divulgar para as pessoas que gostam de surf, mas que ainda não entendem a dinâmica de um campeonato, que não sabem ver as condições do mar, que um campeonato não tem hora exata para começar etc. Campanhas voltadas para o público leigo. De duas pessoas que entram na internet buscando surf, uma gosta de campeonato, a outra quer ver só o surfista, o lifestyle, as gatinhas na areia... Apesar de o surf ser muito mais americanizado, muita gente não entende o inglês, cerca de 30% não tem idéia do que os caras estão falando. Então, um dos nossos progressos é a questão da língua, de também prover um conteúdo forte em outros idiomas.

04. QUAL FOI O EVENTO MAIS INÓSPITO, MAIS DESAFIADOR?
Acho que Fiji. Você está numa ilha distante da costa que está também distante da torre, onde temos que ir de barco por uns 20 minutos. E vamos com toda parafernália, senão a gente acaba escutando palavras lindas, mensagens interessantes. Toda vez que pára a webcast, o pessoal vem com muita sensibilidade... (risos). Nego não está nem aí, mas corremos perigo, uma vez um cara estava levando uma caixa para a montagem do palanque, escorregou e perdeu os dedos e um pedaço do pé. Já passamos por várias situações complicadas, de falar: “acho que é aqui mesmo que fico”.

05. QUANTAS PESSOAS TRABALHAM NA ESTRUTURA?
Somos em torno de 18 pessoas. Tem um número de câmeras filmando ação, outras ambiente, como pessoal na praia, entrevistas, julgamento, área dos surfistas. Eles ficam espalhados por vários lugares. Daí as imagens delas passam para a área de produção, que mistura gráfico, mixa e prepara toda a parte de vídeo. Depois vai para a sessão de compressão, para o servidor de vídeo, e por mim faz a distribuição. Mas tudo é quase simultâneo, vacilou num ponto na mesma hora pipoca do outro lado.

06. QUAL O CUSTO MÉDIO PARA O BEACH & BYTE FUNCIONAR?
Varia bastante, depende da etapa, se vai ser em HD, da quantidade de equipamento. Por exemplo, tem campeonato que só de excesso de bagagem com o nosso equipamento gastamos 50 mil reais. Mas uma produção de televisão decente sai por 1 milhão de reais, a pequena produção por volta de 20, 30 mil. Mas uma coisa é certa, quando a gente faz e acontece, o cliente não reclama.

07. E O 3D?
O 3D ao vivo vai demorar. Estava numa feira de broadcasting nos Estados Unidos e a SONY estava apresentando umas propostas. Mas o problema é que no surf é difícil, pois o ponto de fuga muda muito, uma hora está na frente, depois lá atrás, na esquerda, na direita, então tecnicamente o resultado disso é dar dor de cabeça para quem está vendo. Enquanto o 3D for visto com a ajuda de óculos não vale a pena, só vai valer mesmo quando tivermos aquelas TVs que transmitem a sensação 3D. Mas ainda está fora da realidade, se a produção em HD é cara, a de 3D é absurda.

08. COMO FOI PARA OS GRINGOS ACEITAREM ESTA INVENÇÃO BRASILEIRA?
Ah, uns caras torceram o nariz. Sempre tem gente preconceituosa que desconfia da sua idéia, não tem jeito. Depende mais da gente não ter aquela mania de se achar menor, de ser de um país de terceiro mundo, de que tudo que é de fora é melhor. Isso é coisa que a mídia bota na nossa cabeça, a gente não pode se deixar influenciar. Precisamos estudar sempre, não pode parar nunca. Nesse meio é pior do que ser médico, porque não temos uma experiência acumulada. Tudo o que se sabia de vídeo composto foi jogado no lixo, porque agora chegou o HD, aí depois tem o 3D e por aí vai. Já fiz um monte de curso este ano, no Brasil e lá fora. Quando acha que está sabendo muito, basta olhar para o lado que você vai ver um cara que sabe 10 vezes mais do que você.

09. CONEXÃO: QUAL É A MELHOR COMPANHIA PARA SE TRABALHAR?
Não tem melhor, tem a menos pior. Acho que a menos pior é nos Estados Unidos ou Japão, lá o pessoal não gosta de ouvir falar que o serviço deles é ruim, os caras botam 100 mega e não querem ouvir reclamação. Se bem que, para falar a verdade, parece até que a gente voltou às origens. A Portugal Telecom botou 100 megas em fibra ótica em cada praia durante a prova do WCT do ano passado. Eles fizeram das tripas o coração, e lembrando que três ondas seguidas destruíram tudo o que tinham feito em dias. Mesmo assim foram lá e refizeram tudo. E no Brasil, a gente sabe que não temos esse investimento de base e infra-estrutura. Aquele velho e cansado problema de politicagem, trabalhar mesmo que é bom...

10. COMO É ESTAR PRÓXIMO DO SURF E AINDA TOCANDO UMA TECNOLOGIA COMO ESSA?
É uma faca de dois legumes (risos). Você viaja muito, é bom porque conhece um monte de lugar, de gente e tal. As viagens da ASP não são viagens de negócios, rolam amizades, conversas, interações. Mas é ruim porque fica longe de sua casa, da família. O filho mais velho querendo que você viaje, o mais novo querendo que fique, aquela coisa... Mas no final das contas é bom, reclamar seria maluquice.