Hurley Pro Trestles 2010

KELLY SLATER BATE BEDE DURBIDGE NA FINAL DO HURLEY PRO TRESTLES, ASSUME A LIDERANÇA DO RANKING E PARTE COM TUDO EM BUSCA DO DÉCIMO TÍTULO MUNDIAL. A SEXTA ETAPA DO ASP WORLD TOUR, REALIZADA EM SETEMBRO NA CALIFÓRNIA, TAMBÉM MARCOU A ESTRÉIA DO NOVO FORMATO DO CIRCUITO MUNDIAL.



Os amantes do esporte jamais esquecerão a etapa do World Tour em Trestles deste ano. Mais uma vez, o pico ofereceu ondas perfeitas para performances espetaculares dos melhores surfistas do mundo. Nomes da nova geração como Jordy Smith, Dane Reynolds e Owen Wright apresentaram um vasto repertório de manobras inovadoras e, além de levar a galera ao delírio, mostraram o rumo que o surf deverá tomar nos próximos anos. Os macacos velhos do Tour como Taj Burrow, Mick Fanning e Bede Durbidge não deixaram por menos e também fizeram grandes apresentações.

Numa etapa “espetacular” em todos os sentidos, nada mais natural que o número principal ficasse com o melhor surfista de todos os tempos, o americano Kelly Slater. Ele simplesmente atropelou os adversários com um surf fantástico para vencer pela quarta vez em Trestles ─ deixando claro que, mesmo aos 38 anos, ainda tem muita lenha para queimar.

Normalmente, Slater é um adversário difícil de ser batido em qualquer condição. Ainda mais em Trestles, uma de suas etapas preferidas, com uma multidão na praia torcendo por ele, louco para assumir a liderança do ranking e partir definitivamente em busca do tão sonhado décimo título. O ídolo não decepcionou e mostrou que pode vencer qualquer um em qualquer condição.

Kelly começou vencendo sem problemas o australiano Luke Stedman e o jovem Kolohe Andino, um dos convidados da etapa. No terceiro round, eliminou sem dificuldades o compatriota Gabe Kling. Porém, na quarta fase, mesmo surfando bem, ficou em segundo lugar na bateria vencida pela sensação australiana Owen Wright, que já o havia derrotado na etapa de Bell’s de 2009. Kelly liderava a disputa até que, a poucos minutos do término, Owen pegou uma bela direita, mandou várias batidas fortes e finalizou com um aéreo, para receber 9,63 dos juízes e mandar Kelly e CJ Hobgood para o quinto round ─ que só foi para a água no último dia do prazo. No dia decisivo, os competidores foram premiados com ondas perfeitas de até 1,5 metro. Mesmo com tudo a seu favor, Kelly ainda ganhou um bônus que só favoreceu sua escalada rumo ao título. Seu adversário na quinta fase, o australiano Chris Davidson, não apareceu para a disputa por estar doente (com uma forte febre), e Slater teve todas as atenções e ondas só para ele, do jeito que gosta.

Sozinho no outside e com ondas incríveis à sua disposição, o nove vezes campeão do mundo proporcionou um verdadeiro espetáculo aos espectadores, aquecendo as quilhas e recuperando a confiança após a derrota do dia anterior. Nas quartas, ele teve de enfrentar novamente Owen. Mas dessa vez deu o troco, mesmo com o aussie pegando a melhor onda da bateria ─ em que mandou um aéreo 360°, seguido de uma boa manobra na junção, e recebeu 9,20, nota insuficiente para superar Slater, que tinha 9,10 e 7,93. Ainda pelas quartas, o até então líder do ranking, Jordy Smith, que havia passado por todas as baterias com notas altas, não conseguiu repetir as apresentações e foi barrado. O sul-africano errou muito e perdeu o duelo para Bede Durbidge, deixando o caminho livre para Slater assumir a liderança.

Na outra chave, Dane e Taj travaram um duelo eletrizante em busca de uma vaga na semifinal. Eles vinham sendo apontados como favoritos ao título devido às belas performances em rounds anteriores.

O australiano começou melhor, com um 8,90, mas não conseguiu achar uma segunda nota boa. Dane, por sua vez, abusou dos aéreos, sua marca registrada, e carimbou a classificação. Na primeira semi, Kelly e o atual campeão do mundo, Mick Fanning, voltaram a se enfrentar depois da final em Bell’s. Mais uma vez, quem se deu bem foi Slater, que abriu o duelo com 8,87 e deixou o australiano em combinação durante boa parte da disputa. Mick ainda tentou responder com um 7,93 numa direita, mas foi só. Na outra disputa, Bede surpreendeu e despachou Dane Reynolds, que não se encontrou na bateria e cometeu muitos erros. Estava selada a reedição da final da etapa em 2006, em que Bede venceu Kelly para conquistar sua primeira vitória no Tour.

Desta vez, no entanto, o americano não deixou a peteca cair. Em sua melhor onda, Kelly achou um belo tubo e ainda finalizou com boas manobras. Sob gritos da galera, recebeu 9,53, papou o título e assumiu a liderança do ranking: “Olhando para trás, nunca teria sonhado com o nono título, muito menos um décimo. Não sei o que dizer. Ainda há um longo caminho pela frente. Temos mais quatro eventos. Agora quero apenas curtir a vitória”, disse Kelly, que embolsou US$ 105 mil e 10.000 pontos no ranking ─ somando 43 vitórias no World Tour na carreira.


OS BRASILEIROS

Depois do corte de 45 para 32 surfistas promovido em Teahupoo, o paulista Adriano de Souza e o potiguar Jadson André são os únicos representantes brasileiros no Tour. Ambos tiveram uma trajetória parecida em Trestles, avançando direto para a terceira fase com excelentes desempenhos ─ principalmente Jadson, autor de somatórios expressivos. O potiguar abusou dos aéreos de frontside e mandou o americano CJ Hobgood e o havaiano Dusty Payne para a repescagem.

Na terceira fase, porém, a dupla brazuca não conseguiu repetir as boas atuações. O primeiro a dar adeus foi Adriano de Souza, surpreendentemente barrado pelo australiano Kieren Perrow. Mineirinho pecou na escolha de ondas e não mostrou todo seu potencial. Mesmo assim, em sua melhor onda ele recebeu apenas 6,77 ─ nota que poderia ter sido melhor avaliada pelos juízes.

Nos últimos instantes, Mineiro ainda tentou a virada, mas obteve somente 5,77, quando precisava de 6,37. Depois de uma incrível performance de Jadson na primeira fase, todos queriam ver o que o campeão da etapa brasileira do WT poderia fazer. Novamente o potiguar abusou dos aéreos de frontside, mas limitou-se a fazer apenas isso na bateria. Alguns dos seus aéreos até mereciam um julgamento melhor, mas o resultado acabou sendo justo.

Jadson insistiu em buscar as esquerdas, quando as direitas eram visivelmente as melhores opções. Tanto que sua melhor nota na bateria foi justamente numa das pouquíssimas direitas que pegou. Damien, por sua vez, optou pelo melhor caminho e, manobrando com muita força de backside, ficou com a vitória.


NOVO FORMATO

A etapa de Trestles também foi marcada pela estréia do novo formato de disputas. Se no papel o modelo não havia agradado muita gente, na prática acabou funcionando bem e foi elogiado pela maioria. Com menos gente no Tour, os melhores do mundo se enfrentaram mais vezes, alongando o show para o público. “O novo formato é bom para os fãs. Eles têm a chance de nos ver surfar mais. Além disso, mudou a minha forma de competir. Na quarta fase, por exemplo, eu estava me divertindo e apenas na metade da bateria me dei conta de que estava competindo. Fui muito mal. Se você vence, ganha uma fase de descanso. Se perde, surfa de novo. Acho que no geral foi bom”, comentou Slater.