Billabong Pro Tahiti 2010

ANDY IRONS BATE KELLY SLATER NA SEMIFINAL E C.J. HOBGOOD NA DECISÃO DO BILLABONG PRO TAHITI, E AFIRMA: “ESTOU DE VOLTA”. A QUINTA ETAPA DO ASP WORLD TOUR, DISPUTADA EM TEAHUPOO, DEFINIU O CORTE DE 45 PARA 32 ATLETAS QUE INICIA UMA NOVA ERA NO CIRCUITO.


Eu voltei, agora pra ficar, porque aqui, aqui é o meu lugar...”. O refrão da música “O Portão”, do Roberto Carlos, cai como uma luva para ilustrar, sonoramente, o retorno de Andy Irons ao Circuito Mundial. Depois de muitas dúvidas e especulações sobre seu retorno, o havaiano tricampeão mundial (2002/03/04) deu a volta por cima e mostrou ao mundo que seu lugar é entre os Tops, disputando títulos.

A vitória não poderia vir em hora melhor, já que muitos duvidavam de seu retorno devido às fracas atuações nas quatro primeiras etapas ─ finalizando em 17º, 9º, 33º e 9º.

O local do Kauai, que agora parece estar mais humilde, reencontrou o caminho da vitória mostrando um pouco da genialidade do passado ─ embora as condições tenham deixado a desejar, já que o campeonato só começou no oitavo dia de janela e nem de longe mostrou o potencial que a bancada de Teahupoo possui.

Logo na primeira fase aconteceu o duelo que marcou a história recente dos campeonatos de surf: Kelly e Andy voltaram a se enfrentar depois de quase quatro anos (a última vez havia sido na final do Pipe Masters de 2006, com vitória do havaiano). O taitiano Heiarii Williams completou a disputa. Slater começou melhor, com 6,5 e 7,5. Heiarii ainda tentou roubar a cena com um 8,17, melhor nota da bateria. No meio do confronto, Andy acordou e tirou um 6. Ficou precisando de 8 para assumir a liderança. A oito minutos do fim, o tricampeão pegou um belo tubo, mas recebeu apenas 7,97 e perdeu por uma diferença de 0,03 para o rival.

Apesar da derrota, Andy não se abateu e foi para a repescagem com fome de vitória. Sobrou para o americano Tanner Gudauskas, que terminou em combinação contra ele. Na terceira fase, com poucas ondas, Andy venceu um duelo apertado contra o australiano Matt Wilkinson.

As oitavas de final foram para a água apenas no último dia da janela de espera. O mar reagiu e bons tubos começaram a aparecer, mesmo com o forte vento. E foi justamente nas oitavas que Andy encarou sua mais dura batalha, contra o bicampeão mundial Mick Fanning. O havaiano liderou a maior parte do confronto. A menos de dez minutos do fim o australiano conseguiu sair de uma combinação e virou a disputa. Mas Irons pegou uma onda salvadora, arrancou 6,50 dos juízes e faturou por uma diferença de 0,10. Nas quartas, Andy passou sem dificuldades pelo americano Patrick Gudauskas.

Na semifinal, ele voltou a cruzar com Kelly, que vinha de grandes atuações nas fases anteriores ─ na última bateria, ele inclusive tirou a única nota 10 do evento, além de obter o maior somatório. Se o americano vencesse, assumiria a liderança do ranking mundial. Provavelmente, Kelly teria vantagem psicológica sobre outros surfistas graças a esses fatores, mas não contra Andy. O desafio começou morno. Nenhum dos surfistas pegou boas ondas. A batalha esquentou quando o havaiano entubou uma onda do começo ao fim, relembrando o velho Andy e tirando 9,40. Kelly tentou reagir pegando algumas ondas, enquanto Andy ficou na espera de outra boa para tentar aumentar a diferença, mas o máximo que conseguiu foi um 4,17. Seu rival ficou precisando de 8,25, tarefa que poderia ser fácil, ainda mais vindo de performances incríveis em rounds anteriores ─ e na onda em que já tomou até cerveja dentro do tubo. Mas desta vez Kelly não achou a onda salvadora e o havaiano fez a festa.

Na final, Andy superou com tranqüilidade C.J. Hobgood, campeão mundial de 2001. Venceu por 14,67 a 8,33 e conquistou seu primeiro título após retornar ao Circuito (a última vitória dele tinha sido em 2007, no Chile). “Sinto que estou de volta. Meu sonho era ganhar um campeonato. Fiz isso e agora quero mais. Vencer em Teahupoo, minha onda favorita, torna tudo ainda mais especial”, disse o bicampeão em Teahupoo (a primeira vitória foi em 2002). Andy embolsou US$ 50 mil e levou 10.000 pontos no ranking.


OS BRASILEIROS
Mais uma vez, o melhor brasileiro foi Adriano de Souza, eliminado nas oitavas de final pelo amigo português Tiago Pires.

Mineirinho liderou a disputa a maior parte do tempo, mas Pires achou uma onda salvadora quase no final, arrancou 8,33 dos juízes e virou a bateria. O brasileiro mostrou que a cada ano se sente mais à vontade em Teahupoo. Na primeira fase, mesmo sem apresentar um bom desempenho, derrotou o americano Tim Reyes e o havaiano Roy Powers. No terceiro round, venceu um duelo equilibrado contra o francês Joan Duru.

Depois da vitória na etapa brasileira do Tour, muitos queriam ver como Jadson André se sairia em Teahupoo, ainda mais depois dos comentários de Kelly. Sua estréia no Tahiti, porém, não foi das melhores. Na primeira fase, não conseguiu se encontrar nas difíceis condições do mar e ficou na última colocação no duelo vencido pelo australiano Luke Stedman, com o americano Nate Yeomans em segundo. Na repescagem Jadson surfou melhor, mas mesmo assim perdeu para Yeomans. Vai precisar melhorar se quiser brigar de igual para igual com os melhores do Tour em Teahupoo.

Neco Padaratz e Marco Polo chegaram ao Tahiti precisando de um resultado expressivo, pois era a última chance de escaparem do temido corte do meio do ano, que ocorreu após a etapa de Teahupoo. Ambos perderam na primeira fase, sem apresentar um grande desempenho. Na repescagem, Neco não conseguiu se recuperar, mesmo pegando bons tubos. Jogou fora a chance da vitória ao cometer uma interferência boba, deixando o caminho livre para C.J. Hobgood. Neco é um surfista experiente, que já conquistou muitas glórias no Circuito Mundial, mas terá de reinventar seu surf para voltar à elite.

Já Marco Polo conseguiu uma vitória surpreendente sobre o americano bicampeão da etapa Bobby Martinez, seu primeiro e único trunfo em 2010. Só um excelente resultado poderia livrar a cara do catarinense. No entanto, o sonho de se manter na elite acabou no round seguinte, quando perdeu uma bateria muito disputada para o americano Damien Hobgood. Polo não teve um ano bom. Caiu quase sempre com os Tops do ranking por causa do seeding e venceu apenas uma bateria em cinco etapas ─ pouco para quem quer fazer parte da elite. Garra e dedicação ele tem de sobra. Agora, terá de voltar ao WQS, que conhece muito bem, para buscar novamente uma chance.


A LISTA
Com o término da etapa de Teahupoo, saiu a temida lista dos 13 surfistas que deram adeus ao Tour e terão que voltar à divisão de acesso. Os eliminados foram os brasileiros Marco Polo e Neco Padaratz; os australianos Mick Campbell, Kieren Perrow, Drew Courtney, Tom Whitaker, Dean Morrison, Jay Thompson, Blake Thornton e Bem Dunn; os americanos Nate Yeomans e Tanner Gudauskas; e o havaiano Kekoa Bacalso.