11 perguntas para... Stephan Figueiredo

NÃO É NOVIDADE QUE STEPHAN FIGUEIREDO TEM FOME DE TUBO. NOS ÚLTIMOS ANOS, ESTE CARIOCA DE FALA ARRASTADA E SORRISO FÁCIL CONSTRUIU ─ COM MUITO MÉRITO ─ UMA REPUTAÇÃO DE RESPEITO EM PIPELINE. ELE NÃO É APENAS UM DOS ÚNICOS BRASILEIROS A BATER CARTÃO TODA VEZ QUE PIPE QUEBRA GRANDE, MAS É TAMBÉM UM DOS “HAOLES” MAIS RESPEITADOS O LINE-UP MAIS INTENSO DO MUNDO. PARA FICAR PRÓXIMO DA RAINHA DO NORTH SHORE, FUN, COMO É CONHECIDO, RECENTEMENTE MUDOU-SE DE VEZ PARA O HAWAII, ONDE VIVE COM A NAMORADA. ELE NÃO ESCONDE A SAUDADE DO BRASIL, MAS GARANTE ESTAR SURFANDO AS ONDAS DE SUA VIDA. NUMA CONVERSA DESCONTRAÍDA, STEPHAN CONTA COMO É O DIA-A-DIA NO EPICENTRO DO SURF MUNDIAL.


01. QUANDO VOCÊ DECIDIU IR MORAR NO HAWAII?
Eu venho para o Hawaii há mais de dez anos e sempre fico meses aqui. Já fiquei dois, três, quatro e até cinco meses direto no Hawaii. Na última temporada, aqui foi na verdade meu ponto de partida para uma volta ao mundo. Eu tinha acertado com meus patrocinadores que passaria 2009 inteiro viajando, e já começaria direto do Hawaii, sem voltar ao Brasil. E naquela temporada de 2008/2009 conheci minha namorada, Camila. Ela é brasileira, mas mora aqui no Hawaii já faz um tempo. Então decidi ficar aqui, com ela. Decidi fazer daqui a minha base. Ou seja, continuo viajando durante o ano, mas ao invés de voltar ao Brasil, eu volto para cá. Faz mais sentido, eu já passava tanto tempo aqui mesmo.

02. E QUANTOS MESES POR ANO VOCÊ FICA NO NORTH SHORE?
É o mesmo esquema de quando eu morava no Brasil. Entre uma viagem e outra, sempre volto para cá. Durante a temporada havaiana inteira, estou aqui. Então se você for somar tudo, deve dar uns 6 ou 7 meses.

03. COMO ESTÁ SENDO A EXPERIÊNCIA AGORA?
Estou gostando da vida aqui. Sou um cara bem tranqüilo e aqui a vida é bem tranqüila também. Existe o problema do localismo, mas na verdade os locais todos já me conhecem. Eu tenho amizade com todo mundo e não tenho problema com ninguém. É só respeitar os caras, que os caras te respeitam. E minha vida não é muito diferente de como ela seria no Rio. Acordo, vou surfar, vou à academia, faço as coisas que tenho que fazer ─ mas faço aqui.

04. FORA O LOCALISMO, QUAL É O PONTO NEGATIVO DE VIVER AI? DO QUE VOCÊ SENTE MAIS FALTA?
O que mais me faz falta é surfar em frente de casa com os amigos. Isso é o que eu mais sinto falta. Estou aqui mais pelo lado profissional, entende? É muito importante pra minha carreira estar aqui. Se ficar no Brasil, eu não vou mudar, não vou sair daquilo. E aqui é um passo importante pra minha carreira. Então vir pra cá é uma decisão profissional mesmo. Não é uma coisa de “tenho um sonho de viver no Hawaii”, não é isso. Sou um cara que adora estar com os amigos e com a família. Aqui tem altas ondas, a vida é boa e também tenho alguns amigos, tenho minha namorada. Mas não é como estar no Brasil, estar com meus amigos e poder curtir.

05. E QUAL É O PONTO POSITIVO?
O melhor aqui são sem dúvida as ondas. A quantidade de ondas boas é bem maior e é muito mais constante. Vivendo aqui eu vou estar sempre mais preparado do que se estivesse no Brasil. Enquanto lá eu vou surfar ondas grandes apenas algumas vezes por ano, aqui tenho a temporada inteira. Também faço trabalho físico quando não tem onda. Vou à academia, faço natação, mergulho, um monte de coisas.

06. VOCÊ ACHA QUE TER UMA NAMORADA BRASILEIRA AMENIZA A SAUDADE DO BRASIL?
Ameniza um pouco. Ameniza um pouco. Mas o que mais me falta mesmo são os amigos. Surfar em frente de casa com os amigos é a melhor coisa do mundo. Mas na temporada muitos deles vêm pra cá. Só sinto falta mesmo durante o ano. Quando estou aqui no meio do ano, felizão, tranqüilo com a minha mina, a única coisa que me falta são os amigos. Mas aí quando estou lá no Brasil falta outra coisa, e eu fico pensando nas ondas (risos).

07. COMO SUA FAMÍLIA ENCAROU A MUDANÇA?
Eles estão contentes por mim. Minha mãe reclama que não me vê faz um tempão (risos) ─ eu tenho viajado muito. Mas meu pai está amarradão, está me dando muito apoio. Toda minha família me apóia e eles estão felizes com a minha decisão.

08. O QUE É UM DIA NORMAL NO NORTH SHORE?
Antes de dormir eu checo todas as previsões de tempo e swell, então já sei mais ou menos o que esperar na manhã seguinte. Se eu sei que vai estar grande, vai ter onda boa, madrugo e antes do amanhecer já estou na praia. Mas normalmente eu acordo lá pelas 7 da manhã, dou uma checada nas ondas e vou para o surf na hora que sai o sol. Porque pô, nesses dez anos o que eu mais fiz foi surfar de madrugada pra fugir do crowd (risos). Agora não está tão fácil levantar muito cedo, ainda mais com uma namorada em casa (risos).

09. E FORA DO SURF, O QUE MAIS DE MANEIRO TEM PRA FAZER AQUI? VOCÊ TEM UMA HARLEY-DAVIDSON, NÃO É?
Sempre gostei de moto. Meu irmão tem moto no Brasil. E meu sonho era ter uma moto irada. Como aqui tudo é mais acessível, as coisas são mais baratas, pintou a oportunidade de comprar aquela moto e não pensei duas vezes. E nem carro eu tenho! Só uso o da minha namorada de vez em quando. Vou surfar de bicicleta e vou pra academia de bicicleta. Mas eu tinha que ter aquela moto (risos).

10. MUDANDO DE ASSUNTO, NESTA TEMPORADA FICOU EVIDENTE QUE UMA NOVA LEVA DE SURFISTAS DO BRASIL ESTÁ DETERMINADA A SURFAR PIPE TODA VEZ QUE O MAR CRESCE ─ ALGO QUE A MAIORIA DOS SURFISTAS DAS GERAÇÕES ANTERIORES NÃO FAZIA. COMO VOCÊ VÊ ESSA MUDANÇA DE ATITUDE?
Eu acho que o surfista brasileiro tem talento suficiente para surfar as ondas daqui. O que falta é um pouco mais de profissionalismo por parte dos surfistas mesmo. Porque você vai encontrar dificuldades em qualquer coisa que for fazer na vida. E aqui é o lugar onde você terá mais dificuldades de surfar, de descer a da série. Mas se quer se destacar mesmo, tem que superar as barreiras. Tem que estar pronto pra encarar essas dificuldades, ou nem ligar pra elas, por amor aos tubos mesmo. Por isso eu acho que muitos caras não surfam Pipe com tanta vontade. Porque se você não tem prazer, mas aquele é seu trabalho, sua obrigação, você vai fazer. Mas vai fazer de qualquer jeito, por que tem que estar lá. Agora quando você ama aquilo, passa por cima de qualquer dificuldade pra surfar um tubão. Tem muita gente da minha geração que tinha tudo para estar aqui, se destacando em Pipe. O Phil (Rajzman) é um exemplo. Quando comecei a vir para o Hawaii com ele, ele era um dos mais sinistros, descia qualquer coisa. É que ele escolheu outro caminho, o do longboard. E porque ele é tão talentoso, virou campeão mundial. Mas acho que ele seria igualmente talentoso se tivesse se dedicado a surfar ondas pesadas. E eu fico muito feliz de ver essa nova geração aí dando esse gás. Nos últimos anos era muito difícil ver outro brasileiro em Pipe durante a temporada inteira. Sempre tinha um ou outro, mas nunca um número significativo durante todos os meses de onda. Hoje em dia eu vou surfar e lá estão o Guigui (Wiggolly Dantas), o Marco (Giorgi), o Jê (Jerônimo Vargas), o Ricardo (dos Santos), o Camarão ─ os moleques estão lá na água amarradões, botando pra baixo, surfando bem, pegando as ondas. E principalmente, esses moleques têm respeito. Eles chegam ao mar e sabem se portar, por isso não arrumam problemas e pegam boas ondas. Tem que chegar cedo e tal, mas não tem essa, dá pra pegar as bombas. Durante o dia, no ápice do crowd, é mais difícil, mas ainda dá pra pegar uma boa. E se eles estão se dedicando agora a Pipe, nessa época de formação deles, terão muito mais facilidade de se dar bem no Circuito Mundial. Se eles surfarem bem aqui, vão chegar a qualquer lugar e arrebentar, vão fazer bonito quando chegarem ao WCT.

11. PARA FINALIZAR, VOCÊ FICA PERMANENTEMENTE? TEM PLANOS A LONGO PRAZO?
Sinceramente não faço planos a longo prazo. Vou vivendo a vida de acordo com o que vai acontecendo. Várias mudanças acontecem no caminho, no decorrer do ano. Agora estou vivendo o momento. Estou vivendo aqui, estou feliz aqui. As coisas estão acontecendo pra mim e enquanto elas estiverem acontecendo, estarei aqui. Mas ninguém sabe o dia de amanhã.