CICLO RENOVADO


O que fazer com aquela prancha antiga e quebrada, que ficou entulhada em algum canto da casa? Infelizmente, hoje ainda não existe um sistema de coleta e reciclagem apropriado para as milhares de pranchas velhas e fora de uso, que muitas vezes são jogadas no lixo comum, poluindo o meio ambiente.

Mas com disposição e criatividade é possível reaproveitar o velho bloco descartado e transformá-lo em uma prancha inteiramente nova. É o que mostra o shaper catarinense Felipe Siebert, que recentemente recuperou um antigo modelo monoquilha stinger da marca Machucho dos anos 70, fora de uso e impossível de ser restaurado, transformando-o em uma nova prancha pronta para ser usada por muitos anos.

Esta prancha era de um tio meu já falecido e estava abandonada já muito tempo na casa da minha avó”, conta Siebert, que, para fazer a nova prancha, optou por manter as características retro de uma stinger monoquilha, mas com dimensões bem menores ─ de uma 6’6” × 21 ½” passou para uma 5’4” × 20”.

O divertido processo de reciclagem incluiu a escolha de uma pigmentação bem extravagante e experimental para o modelo, que recebeu o nome de “Roots Time”, por conta de um recorte de revista que foi inserido de última hora durante a laminação. Vale ressaltar que, para poder ser reciclada, a prancha original deve ser um modelo com bordas grossas, que ofereça alguma margem para afinar o bloco. Um longboard, mesmo quebrado ao meio, também pode funcionar.

A reciclagem da prancha levou dois dias de trabalho intenso e contou com a ajuda do fabricante de skates e artesão Márcio Justos, que emprestou o espaço e as ferramentas de sua oficina, além do shaper Kong, uma referência na recuperação de pranchas em Florianópolis, que colocou a quilha e fez o acabamento final. Depois de pronta, a Roots Time foi levada ao Farol de Santa Marta, onde fez a sua reestréia na mesma região onde havia sido usada na década de 70. Nos pés do surfista profissional Junior Faria, que competia no evento WQS realizado no local, a prancha reciclada foi testada e aprovada nas ondas da praia da Cigana. Além de divertir, a prancha acabou dando sorte, pois três dias depois de experimentar a nova stinger, Junior Faria sagrou-se campeão do evento.


FAÇA VOCÊ MESMO: O guia abaixo tem o objetivo de evidenciar algumas etapas da reconstrução de uma prancha, para que surfistas que desconhecem o processo tenham uma noção das técnicas envolvidas. A idéia aqui não é ensinar a produzir uma prancha de alta performance, e sim, estimular aqueles que sempre tiveram o desejo de desfrutar do prazer de surfar com uma prancha feita com as próprias mãos ─ como faziam os surfistas da década de 1930, quando ainda não existiam fábricas de pranchas.

EQUIPAMENTOS: Lixa 80, lixas d’água, plaina elétrica, lixadeira, serrote, mini-plaina manual, resina poliéster, monômetro, acetona, fibra de vidro, catalisador, cobalto, pigmentos coloridos, cavaletes, máscara, luvas, potes plásticos, estilete, lápis, fita crepe, pincel e régua.

ETAPAS BÁSICAS:
01. Criação do template (desenho da prancha em tamanho real em um molde);
02. Descascar a prancha ─ puxe a fibra a partir de um pequeno corte com estilete;
03. Fazer o shape do fundo utilizando a plaina elétrica;
04. Riscar e cortar o outline com serrote;
05. Fazer o shape do deck e das bordas;
06. Fazer os acabamentos utilizando lixa ou sandscreen e mini-plaina manual;
07. Misturar os pigmentos na resina;
08. Cortar o tecido;
09. Catalisar a resina e laminar o fundo;
10. Quando o fundo estiver seco, catalisar a resina e laminar o deck;
11. Colocar quilhas e dar o hotcoat (resina com parafina líquida aplicada com pincel);
12. Lixadeira (lixa 80) para nivelar a prancha;
13. Com pincel, aplicar resina com parafina para o acabamento.
14. Lixadeira (lixa d’água) para nivelar e polir;
15. Deixar a prancha curar e ir surfar.

DICAS:

A partir do item 11, você pode deixar a finalização a cargo de um laminador profissional para garantir um bom acabamento.
Não deixe de usar máscaras e luvas para a sua saúde e segurança.
Use a criatividade e não tenha medo de experimentar tanto no shape, quanto na pintura. O resultado pode ser surpreendente e o importante é a diversão.