Superação de vida e de surf

Em todo esporte, sempre foi e será muito difícil ser o melhor do mundo. Quando nos dedicamos integralmente a um esporte e atingimos o nível superior no que fazemos, quando sentimos o momento, é chegada a hora de sermos os melhores do mundo. É disso que vou falar nesse artigo: em ser o melhor do mundo.


GERAÇÃO BRASIL
Ser brasileiro e viajar o mundo sempre forma uma difícil combinação. As barreiras começam com a diferença do idioma e da moeda. Depois aquela discriminação que extravasa fronteiras, já que temos um velho preconceito de ‘jeito Brasil’. No surf temos dificuldades para surfar sobre corais e point breaks, porque aqui no Brasil quase não existe esse tipo de onda. A principal diferença e dificuldade está também em nossos maus hábitos. O atleta brasileiro ou de quaisquer outros países emergentes, para ser aceito mundialmente, tem que ser muito bom no que faz e, principalmente, ter uma educação exemplar, acima da média nacional, além de atitude dentro e fora d’água, no caso do surf.

O surf brasileiro tem história, e não é de hoje que estamos atuando no ambiente internacional. Nossas origens no surf não são tão antigas quanto à dos havaianos, australianos ou americanos, mas já existem por aqui gerações de surfistas desde os anos 1950 e, acredito, até antes, com as primeiras referências dos anos 1930, como mostra em réplica à própria coleção da Árvore Genealógica dos Shapers no Brasil.

O brasileiro, no que diz respeito à competição, apareceu no cenário internacional no início da década de 70. E desde então, nossos surfistas representaram com dignidade o Brasil, fazendo parte quase que integral do Circuito Mundial, numa crescente, progressiva evolução, em entradas e performances, com alguma ou outra queda.

Já vivemos gloriosas conquistas. Em 1976, a lenda Pepê Lopes vencia o Waimea 5000 no Rio e no mesmo ano surfava na final do Pipeline Master no Hawaii, numa época de total glamour. Em 1977, na final do Waimea 5000, período IPS, fizemos a dobradinha brasileira dentro d’água, onde outra lenda, Daniel Friedmann, o campeão, e Pepê Lopes, brindaram no topo do pódio.

Durante a década de 80 um esquadrão da minha geração representou o Brasil no Hawaii e em campeonatos da ASP mundo afora. Valdir Vargas, Ricardo Bocão, Roberto Valério, Rico de Souza, Picuruta e Almir Salazar, Fred D’Orey, Carlos Burle, Sérgio Noronha, Felipe Dantas, Renato Phebo e Tinguinha Lima, e diversos outros inclusive eu, em minhas dez temporadas no Hawaii, junto do Murilo Brandi, Jorge Pacelli, Xan Brandi, Flavius Cinira, Zecão, Tarzan, Anésio Amaral... Abrevio os nomes de tanta intimidade com esses caras.

Em 1988 Fabio Gouveia era sagrado campeão mundial amador em Porto Rico, e em 1990 vencia uma etapa do Circuito Mundial profissional. Victor Ribas, Teco Padaratz e Ricardo Tatuí venceram etapas na França durante a década de 90. Peterson Rosa venceu um WCT no Rio em 1988, mesmo ano em que Carlos Burle foi campeão mundial de ondas grandes, em Todos Santos, México. Em 1999 foi a vez da dobradinha brasileira em Huntington Beach, no US Open, onde Neco Padaratz e Gouveia tomaram a cena.

Neco também já venceu uma etapa do WT na Europa, no início dos anos 2000. Em 2009 o Carlos Burle recebeu a primeira coroa de campeão mundial de remada, de um circuito oficial de ondas grandes. Aliás, Burle, é bicampeão mundial de ondas grandes, o único até o momento. Burle é o exemplo máximo de profissionalismo e disciplina.

Foram anos de preparação dos grommets brasileiros, viagens e investimentos na base. Hoje o surf cresceu, e o Brasil tem uma geração fortíssima e preparada. Esta é a geração mais forte que já tivemos, toda inspirada no fenômeno Kelly Slater. Adriano de Souza, que lidera essa revolução contemporânea, ocupa um merecido lugar entre os Tops 10 do ranking mundial, e está em igualdade de condições com qualquer outro, uma hora ele vai chegar...

Jadson André chegou ao WCT com uma garra fora do comum. Com apenas 19 anos e um surf radical e diferenciado, venceu a etapa brasileira do WT 2010 com direito a vitória sobre o eneacampeão mundial na grande final. Brilhante! Ele tem apetite e gosta da competição, assim como vários outros garotos dessa nova cena Brasil.

A nova geração brasileira está fazendo fila para ingressar no World Tour. E em breve, aposto num Top 16 recheado de brasileiros. Gabriel Medina, Jessé Mendes, Wigolly Dantas, Alejo Muniz, Caio Ibelli, Ian Gouveia, Yan Guimarães, Peterson Crisanto, e por aí vai. Quem viver verá, porque essa ‘seleção’ está formando agora ‘Os meninos de ouro do Brasil’.