Quintal de casa


Para uma tribo que se considera nômade por natureza, nós, surfistas, somos um tanto caseiros. Se por um lado à estrada nos chama, é na praia logo ali que nos sentimos mais à vontade. Pare pra pensar: não importa o quão viajado você seja e quantas ondas perfeitas já desbravou pelo mundo ─ não há nada como pegar um dia clássico na valinha em frente à sua casa.

E isso, aparentemente, vale até pros melhores e mais experientes surfistas do mundo. Pergunte a Adriano Mineirinho qual sua onda predileta. É certo que a resposta virá rápida como uma bala: “Canto das Astúrias”, no Guarujá. Para Marcelo Trekinho, é o Pontão do Leblon. Bruce Irons vai dizer que é Pinetrees, no Kauai, enquanto Bruno Santos vai jurar que é em Itacoá que o bicho pega.

Mas onda por onda, todo mundo sabe que tem coisa muito melhor que nosso quintal de casa quebrando do jeito em algum lugar do globo. Ou seja, não é uma certa onda em si que nos traz essa sensação. É o lugar, o ambiente ─ todos os elementos “extra-surf” que compõe a cena. Os amigos do lineup, as gatas da areia, a barraquinha de sanduíche natural e côco gelado que vai saciar a fome depois da queda.

Em certos dias buscamos novos desafios, novas ondas, novas fronteiras ─ sempre procurando o limite ─ de vez em quando não há nada melhor do que aquele previsível conforto da valinha de casa.

Stephan Figueiredo, por exemplo, mudou-se para o Hawaii para ficar mais próximo de sua amada Pipeline. Mas pergunte o que mais lhe faz falta e ele vai te dizer, sem cerimônias, que é pegar umas marolas com os amigos no Rio.