Pedaladas & Cutback

ESTE ANO A COPA DO MUNDO ACONTECE PELA PRIMEIRA VEZ NA ÁFRICA DO SUL, PAÍS QUE POSSUI UM LITORAL REPLETO DE ONDAS BOAS E PODE SER O DESTINO PERFEITO PRA QUEM SE AMARRA EM FUTEBOL E SURF. PESQUISEI BASTANTE E PREPAREI UM ROTEIRO COMPLETO PARA VOCÊ ACOMPANHAR OS JOGOS E, ENTRE ELES, PEGAR ALTAS ONDAS NOS POINTS SUL-AFRICANOS.


A Copa do Mundo 2010 da FIFA acontece bem no meio do inverno na África do Sul. Pode não ser a época ideal para os amantes do futebol, mas é uma bênção para os surfistas. Os meses de junho e julho normalmente recebem potentes ondulações de Sul/Sudoeste, que nascem no Atlântico Sul e explodem na ponta Sudoeste do continente, se moldando conforme se movem em direção às costas leste e oeste. Combinados com os ventos certos, estes swells são responsáveis pelas linhas perfeitas de J-Bay e pelos tubos de North Beach, em Durban. Com estádios situados na Cidade do Cabo, Durban e Port Elizabeth, os visitantes podem dividir seu tempo entre os jogos e sessões incríveis de surf. Mas fique esperto: o inverno africano pode ser sinistro com suas temidas tempestades, fortes ventos e surf irregular.

Assim como o Brasil, a África do Sul abriga uma eclética mistura de povos e culturas, com 11 línguas oficiais e muitas histórias interessantes. É também um país de contradições, em que cidades modernas e riquezas escondidas atrás de muros altos e grades contrastam com a pobreza e as favelas da periferia. Em boa parte do interior e da região costeira, as pessoas vivem de pecuária e agricultura e moram em casas feitas de barro e palha a várias gerações. As duas regiões costeiras são totalmente opostas. Saindo da Cidade do Cabo em direção à fronteira com a Namíbia, a costa oeste vai se tornando mais desértica à medida que você avança. Essa faixa isolada do litoral é repleta de picos de esquerdas intocadas e bancadas inexploradas, muitas delas com acesso limitado por estar dentro das áreas de minas de diamantes. Seguindo pela estrada federal N2 é possível chegar à agradável costa leste, passando pela cidade de Hermanus, famosa pela atividade de observação de baleias, e pela Garden Route (rota do jardim), que abriga belas cidades e inúmeros points de direita. Ao longo do caminho está a estrela local, Jeffrey’s Bay, pointbreak que habita os sonhos dos surfistas desde o seu descobrimento, nos anos 60. De lá, são 75km até Port Elizabeth e quase 900km até Durban. Saindo de Port Elizabeth rumo ao norte, a estrada chega a East London, maior cidade antes de Durban. Com seus morros esverdeados, praias intocadas e rios exuberantes, a “Costa Selvagem” apresenta uma face diferente da África do Sul. É o berço do ex-presidente Nelson Mandela, além de centro da cultura Xhosa. Vacas vagam pelas praias enquanto pescadores tentam a sorte nas encostas. O clima é de relax total. Muitos mochileiros se hospedam no Coffee Shack, em Coffee Bay, para passar apenas algumas noites, e emergem depois de duas semanas sem perceber que o tempo passou. Se você pretende acompanhar a Copa do Mundo “in loco”, lembre-se de que pode aproveitar para pegar altas ondas numa viagem de carro alucinante entre Cidade do Cabo, Port Elizabeth e Durban.


Port Elizabeth


ESTÁDIO: Nelson Mandela Bay
JOGOS: 8
CRONOGRAMA:
12 de junho: Coréia do Sul × Grécia
12 de junho: Costa do Marfim × Portugal
18 de junho: Alemanha × Sérvia
21 de junho: Chile × Suíça
23 de junho: Eslovênia × Inglaterra
26 de junho: Oitavas de final
02 de julho: Quartas de final
10 de julho: Disputa pelo terceiro lugar

SURF:
Port Elizabeth não é o melhor lugar para surfar, mas é possível encontrar boas ondas. Seguindo pela rodovia à beira-mar, Marine Drive, você passa pelas praias de fundo de areia mais populares, que funcionam melhor com ventos de Sul. Mais ao Sul do porto, perto do antigo píer, Humewood oferece bons tubos quando está quebrando. The Pipe, em Pollock Beach, é um pico freqüentado pela garotada. Mas o maior atrativo de Port Elizabeth é o fato de estar a apenas 75km de J-Bay. Os intervalos de três dias entre cada jogo da Copa são suficientes para você dar uma esticada até lá, encontrar hospedagem e surfa sessões insanas de seis horas seguidas em Super Tubes. É a melhor onda da África do Sul, sem dúvida, e funciona melhor com swell e ventos de Sudoeste. Uma onda boa no pico vai fazer você se sentir como o Kelly Slater, nem que seja apenas por um dia.
PERIGOS: Quando está bom, J-Bay fica muito crowd. Depois da Copa, com a etapa do ASP World Tour prevista para começar em 15 de julho, deve ficar uma loucura. Se estiver na área nessa época, seja o mais discreto possível, pois os locais podem estar meio paranóicos.
ROUPA DE BORRACHA: A água é mais quente do que na Cidade do Cabo, mas ainda assim é congelante se os ventos estiverem soprando. Um long john de 4/3mm é recomendado. Botinhas podem ajudar a caminhar sobre as pedras infestadas de mariscos.
QUIVER: Traga pranchas entre 6’0” e 7’0” que aturem a força, a velocidade e o surf de linda exigido em J-Bay.
SAFÁRI: Para viver a verdadeira experiência da vida selvagem africana, vá até o Seaview Game and Lion Park, a cerca de 25km a oeste da cidade. Lá é possível ver os leões que vivem no local e até brincar com os filhotes. Mais adiante, o Addo Elephant Park é a casa de mais de 450 elefantes, búfalos e rinocerontes negros. Você pode passar o dia ou ainda acampar para assar a noite.
CULTURA LOCAL: Para conhecer mais a fundo a cultura Xhosa e a vida nas comunidades negras, faça um tour pelo gueto e veja o outro lado da África do Sul. Confira as opções do Calabash Tours ou do Gugu’s Township Tour. Passe um tempo com os nativos e não deixe de beber uma cerveja ou duas. Além de uma boa refeição, nos bares locais, chamados de “shebeen”.


Cidade do Cabo


ESTÁDIO: Greenpoint
JOGOS: 8
CRONOGRAMA:
11 de junho: Uruguai × França
14 de junho: Itália × Paraguai
18 de junho: Inglaterra × Argélia
21 de junho: Portugal × Coréia do Norte
24 de junho: Camarões × Holanda
29 de junho: Oitavas de final
03 de julho: Quartas de final
06 de julho: Semifinais
SURF:
Nos meses de inverno, a península do Cabo é bombardeada por ondulações muito consistentes. Mesmo se você é apenas um longboarder casual ou um ávido e habilidoso caçador de tubos, vai encontrar o que está procurando. Não deixe que o frio te desanime; quando os ventos de Norte sopram, a hipotermia é uma realidade. Vale a pena alugar um carro, uma vez que as melhores ondas ficam distantes do centro da cidade.
PICOS: No lado de False Bay, a cerca de 30km do centro, Muizenberg é indicado para iniciantes, com ondas mais cheias e várias escolas de surf ao redor. As surfshops da região são completas e oferecem tudo. Converse com os surfistas locais sobre as bancadas de coral em lugares como Kalk Bay; tubos pesados estão à sua espera. Funciona melhor com ventos do quadrante Norte. Para um surf de manobras, Long Beach, situada no pequeno vilarejo pesqueiro de Kommetjie, é muito consistente e funciona em qualquer maré, melhor com um leve vento Sudoeste. Se não houver swell, dirija até Cape Point e confira a reserva natural em que babuínos, avestruzes e antílopes correm livremente pela mata nativa. Por toda a extensão da West Coast Road, saindo da cidade e passando por Blouberg, os beach breaks produzem ondas cavadas e triângulos perfeitos quando o vento dá uma trégua.
ONDAS GRANDES: Situada no lado de fora do píer de Hout Bay, a bancada de Dungeons (que significa ‘Calabouço’) merece uma pequena apresentação. Considerada uma das mais desafiadoras ondas do mundo, é um dos picos favoritos do campeão mundial Carlos Burle e de nomes como Greg Long, além de berço de ídolos locais como Grant “Twiggy” Baker e Chris Bertish, entre outros. Mas é indicada apenas para surfistas experientes e treinados, caso contrário pode engolir vivos os desavisados. Simples mortais devem dirigir até a segurança de Chapman’s Peak e observar do alto do morro as ondas explodirem através da baía.
ROUPA DE BORRACHA: A cidade do Cabo possui águas congelantes. Leve um long john 3/4mm, gorro, botinhas e luvas para suportar o frio.
QUIVER: Traga tudo que tiver, desde sua fish até a gunzeira.
PERIGOS: A região da Cidade do Cabo é lar de uma crescente população de tubarões brancos. Um nadador foi pego por um na praia de Fish Hoek em janeiro passado. Procure surfar nas áreas dos “shark spotters”; eles ficam observando o line up com binóculos e sinalizam através de bandeiras ao menor sinal de perigo.
ATIVIDADES: Se você quer ver os ‘dentuços’ de perto, dirija cerca de duas horas até Gansbaai e agende um mergulho dentro da gaiola. Agências de esportes de aventura promovem ainda atividades como rapel, mountain bike e sandboard.
ROTA DO VINHO: Encontre a rota do vinho, em Stellenbosch, e passe o dia nas vinícolas experimentando amostras de alguns dos melhores tintos e brancos do país. Apenas certifique-se de ter um motorista sóbrio para dirigir no caminho de volta.
VIDA NOTURNA: Na Long Street, maior avenida da cidade, as boates bombam até o amanhecer. Se você procura luxo e mulheres bonitas, vá aos restaurantes e bares de Camps Bay. Próximos ao estádio, os bares em Greenpoint devem ficar cheios durante a Copa. Boates como a Chrome e a Fiction são uma boa pedida para quem gosta de drum ‘n bass e música eletrônica. Confira o The Assembly se você gosta de som ao vivo. No campo gastronômico, vale uma visita ao Mzoli’s, em Gugulethu.


Durban

ESTÁDIO: Durban
JOGOS: 7
CRONOGRAMA:
13 de junho: Alemanha × Austrália
16 de junho: Espanha × Suiça
19 de junho: Holanda × Japão
22 de junho: Nigéria × Coréia do Sul
25 de junho: Portugal × Brasil
28 de junho: Oitavas de final
07 de julho: Semifinal
SURF:
As águas quentes e as ondas tubulares de Durban já moldaram alguns dos melhores surfistas sul-africanos. É certamente a capital do surf nacional. É onde Shaun Tomson aprendeu a entubar antes de arrombar as portas de Pipeline e onde prodígios da nova geração como Jordy Smith aprimoraram seu moderno repertório de manobras aéreas. Localizado bem no meio da cidade, New Píer é o pico mais conhecido e quando está bombando oferece tubos largos e profundos. Entre os píers, direitas muito extensas marcham em direção à North Beach. Perto do estádio, Battery Beach pode ser uma boa pedida e segura um pouco mais o swell do que New Píer. As quedas matinais ficam ainda melhores quando um leve terral penteia a crista das ondas. Se na cidade estiver muito caótico por conta da Copa, arrume as coisas e dirija para o Norte ou para o Sul pela beira-mar para encontrar um canto entre os bananais. Com mais de 100km de costa, recheada de bancadas de coral e pedra e fundos de areia menos conhecidos, é possível pegar altas ondas sem crowd.
ROUPA DE BORRACHA: Graças à temperatura agradável da corrente das Agulhas e ao clima subtropical, a água em Durban se mantém quente durante todo o ano. A média é de 19°C no inverno e, quando o sol está presente, é possível surfar de bermuda. Mas leve seu long john 3/2mm para não passar frio nas sessões matinais. Um short john também pode ser bastante útil.
QUIVER: Leve as pranchas que funcionem bem em todas as condições.
PERIGOS: Fique esperto quando estacionar em lugares mais afastados e não deixe pertences de valor dando bobeira na praia. Roubos são uma realidade por lá.
DIVERSÃO GARANTIDA: Se as ondas não aparecerem, arrisque um surf no D-Rex flowrider da Wave House, a apenas 15 minutos de carro da cidade. Com uma esquerda clorada e uma direita tubular sem fim, é um verdadeiro teste de habilidade de surf/skate/wake e snowboard. Cuidado com as quedas, elas podem ser sinistras se a máquina estiver com força total.
SKATE: A Wave House abriga também o maior skatepark do país. Foi desenhado pela lenda do esporte Tony Hawk e possui uma rampa de 4m de altura, além de um snake bowl irado.
CULTURA SURF: O Museu Time Warp Surf (na 190 Lower Marine Parade), em frente à praia, traz a história do esporte, com pranchas e toda sorte de objetos e fotos desde a década de 1930.
CIDADE EM FESTA: Os surfistas de Durban adoram festas (“jol”, na gíria local). Toda noite maneira começa no Joe Cools, ou apenas Joes, um bar/restaurante meio malcuidado, mas muito popular de North Beach, que se transforma numa boate à medida que anoitece. Uma vez que os coquetéis e “shots” fazem efeito e a pista de dança vira uma espécie de “pântano”, os festeiros de plantão migram para o Origin, em Umbilo. Alguns nem conseguem ir tão longe. O Clapham Grand bomba às terças e sextas-feiras, mas não é permitido entrar de camiseta nem de short.