GAROTO PRODÍGIO

Pense rápido.

Qual o nome de um jovem talento de sangue brasileiro que vive nas ilhas havaianas? Se o primeiro que veio na sua mente foi Kiron Jabour, errou feio. Estou falando de Ian Gentil, a mais nova sensação do surf havaiano e, muito em breve, mundial. O garoto de sotaque carregado quando se aventura no português, apresenta leveza e habilidade extraordinárias sobre a prancha. Sua vontade de aprender e realizar grandes feitos é infinita. Determinação para colocar-se em situações desafiadoras, maior ainda.

Na maioria das vezes, previsões se evaporam quando o destino se torna as rédeas. Mas Ian cresceu imerso no melhor ambiente possível para um surfista. Seu pai, João Gentil, é dono do Beach Park de Fortaleza, o maior parque aquático do Brasil. No começo dos anos 90, João foi para o Hawaii pela primeira vez e achou o lugar ótimo para criar a família.

Sob os olhos atentos do pai e os cuidados da mãe Patrícia, Ian te um lifestyle de dar inveja a qualquer surfista e garoto da sua idade: surfa altas ondas em frente de casa, conta com patrocínios sólidos e uma família apoiadora ─ todos os ingredientes necessários para o sucesso.




Seu irmão mais novo, Conan, e a irmã caçula, Joy, já foram fisgados pelo vírus do surf e adoram brincar no mesmo parque de diversão do irmão. A filosofia da família Gentil, amável e apoiadora, reflete-se na frase pendurada na parede. “Pensamentos viram palavras, palavras viram ações, ações viram hábitos, hábitos viram personalidade, personalidade vira destino”.

Ian nasceu no dia 12 de fevereiro de 1996. Ele tem uma natureza quieta e tímida, mas literalmente se expressa na água, surfando. Também gosta de pintar e desenhar ─ muitas vezes em suas pranchas. Surfa há apenas cinco anos e acerta facilmente manobras que incomodam (e muito) os mais velhos. Ele se inspira em atletas como Dane Reynolds, mas ainda vê o surf como diversão ─ mesmo sabendo o que o espera no futuro, para Ian o surf ainda não é uma profissão. Seu estilo solto e fluído é derivado de sua outra paixão, o skate. Ian gosta do estilo de Jordy Smith porque “parece que ele nem tenta”. Atualmente patrocinado pela ...Lost, Nike e Da Kine, tem muitas das facetas que os patrocinadores procuram: boa imagem agregada a surf de primeira qualidade. Estudar pela internet o ajuda a surfar a qualquer hora, mas ele se dedica a conseguir boas notas e se orgulha disso. Seu time de amigos grommets inclui Cody, filho de Buzzy Kerbox, o multi-talentoso Kai Lenny e Matt Meola, aerialista um pouco mais velho de Maui. Ian vem sendo treinado pelo amigo da família, o big rider baiano Yuri Soledade, destaque toda vez que Jaws quebra grande.

Mas onde será que ele se vê em dez anos? A única resposta que conseguiu dar foi: “não casado”. Quando questionado se já tivera medo, consente com a cabeça, de cima para baixo, “num mar em Sunset Beach e numa viagem de avião”. Seu pico preferido fica em frente a sua casa, em Maui, uma baía de areia cercada por rochas, chamada Sugar Cove. O fundo de areia é ideal para deixar o surf afiado para qualquer tipo de condição. O mais importante: Sugar Cove não tem crowd, então Ian e seus amigos podem se divertir à vontade, puxando o nível um do outro. Quando o tema é viagem, ele conta que o seu destino preferido é a Indonésia, onde esteve no ano passado com alguns brothers de Maui: “uma experiência única”, revela. Às vezes, Ian se arrisca em ondas maiores, mas por enquanto segura a confiança na velocidade necessária.

O que o futuro aguarda para Ian Gentil é tão grandioso quanto seu currículo de manobras. Andy Irons já rasgou elogios ao garoto, que já provou suas qualidades no NSSA Nationals (principal circuito amador dos Estados Unidos) do ano passado, em Lower Trestles, onde ganhou com direito a algumas notas máximas no caminho até a final.

Quando lhe perguntei onde pretende estar num futuro próximo, disse apenas: “surfando”. Nada mais comum para alguém da sua idade do que encarar a vida dia após dia, do jeito que deve ser. Se continuar aproveitando as oportunidades tão bem quanto tem feito, é certo que em poucos anos veremos Ian tornar-se um freesurfer incrível, fluído e espontâneo, ou um competidor fantástico, com uma faísca maliciosa de sede de vitória no canto dos olhos. De um jeito ou de outro, o mundo que se prepare.